22 de novembro de 2010

Largueza

Da autoria de António Luiz Pacheco, Largueza, editado pela Chiado Editora, é um romance de aventuras e exploração, dividido em dois volumes e escrito numa perspectiva muito pessoal mas portuguesa, com o cunho ribatejano e rural que se poderia esperar.
Passa-se na segunda metade do século XIX, época conturbada, plena de grandes acontecimentos, quando se desenhou o que hoje vivemos!

No primeiro tomo, de 800 páginas, explica-se e apresenta-se o que se vai passar. A acção desenrola-se no Portugal rural do século XIX, parte no Ribatejo e parte em Lisboa, cosmopolita, com referências a outras regiões. Depois, passa para Goa, mais espiritual mas ainda palco de acção. Prossegue em Angola, dura e desmedida, em plena época de desbravamento e conquista. Duas terras que tanto nos marcaram quanto nós as elas. Nesta termina um ciclo e fica aberta a porta para o outro.
No segundo, de 530 páginas, há um compasso de espera em Portugal e sobretudo no Alto Alentejo onde acontecem coisas importantes e de onde se parte para a grande aventura da migração para os EUA, que também os portugueses marcaram!

Ambos nos falam de bons e maus sentimentos; prémio e castigo; amizade sem fronteiras; gastronomia e caça; touros e fado!
Guerra, lutas e morte; amor e burlesco.


O António Luiz Pacheco é Caçador, e dos rijos, mas que ele próprio se apresente:

Nasci em Janeiro de 1956, de famílias tradicionais, muito antigas, ricas em cultura, ligações, histórias e tradições. Fiz-me homem buscando ver e aprender coisas, sem perder de vista de onde vim nem esquecer as histórias que ouvi e aquilo a que fui assistindo nas muitas voltas e andanças da vida.
Compreendi que nos compete mais tarde ou mais cedo, fazer a ligação entre o passado e o presente como elos de uma cadeia: - A da vida!
Tendo crescido num período de grandes convulsões sociais, políticas e económicas, vivi sob a égide da mudança, sobretudo no campo e meio rural, quer por laços de família, como pelos estudos universitários e percurso profissional, tendo assistido ao fim de uma época e ao nascer de outra que aprendi na sebenta da cadeira de sociologia rural, ser a chamada moderna agricultura de especulação comercial que se seguiu à agricultura tradicional. Esta era a que faziam os nossos avós, sustentada e integrada, amiga do ambiente que na altura não tinha “inimigos”… estes uma invenção moderna!
Esta transição provocou mais do que mudanças económicas grandes alterações na forma de estar e de fazer, das pessoas do campo que eu ainda ouvi em histórias ou mesmo assisti. Li à luz do petróleo e da vela; andei de carro de bois e vi lavrar com eles! Pisei uvas nos patamares; vi varejar azeitona, gadanhar e fazer cestos; assisti aos trabalhos da eira, ás descamisadas, a malhar e ao joeirar. Lembro com saudade os ranchos! Paralelamente, cacei no terreno livre e em África, tremi com o levantar das perdizes como de elefantes; mergulhei atrás dos peixes em três oceanos, em sítios virgens! Dormi no chão e ao relento, húmido de cacimbo, com o zumbido dos mosquitos e o rugir do leão; comi farinha e peixe ou carne seca, bebi água de charcas, poços e rios. Tive cães, muitos e de toda a qualidade! Conheci gente dura de vidas muito duras, privei com selvagens e senhores; sofri carga de búfalo, fui empurrado por tubarão, tive o queixo cozido com 11 pontos na praça de toiros de Évora. Fui até emigrante… mas voltei sempre à minha casa, onde nasci e à minha gente.
Digo que sou um caçador e viajante, trabalhando apenas para o poder fazer.
Tenho sentido orgulho em ser Português: da Universidade de Cornell às praias do Índico; das reuniões internacionais às inóspitas ilhas das Caraíbas; pelas feiras profissionais do Mundo; das costas desérticas da América do Sul às angras do Brasil; do sertão de Angola às matas frondosas de Moçambique; Nas pescarias perdidas no Atlântico Sul como nas sofisticadas ilhas do Mediterrâneo!
Tive o privilégio de percorrer o meu país! Negociei, cacei e pesquei por todo o Portugal, de lés a lés! Vi as paisagens, aspirei os ares das serras, das planícies, das ilhas e do mar, bebi vinhos e comi de tudo! Ouvi histórias e vi coisas por toda a parte…
Gosto de ser português, gosto do meu país e do meu povo! Concluí ao fim de mais de 50 anos… Aprendi que ser português, mais do que ter uma nacionalidade e falar uma língua é uma forma de estar no Mundo e entre os homens.
Sou hoje e face aos que me sucedem, filhos, sobrinhos e já sobrinho-netos, uma espécie de guardião das coisas que vi e aprendi, que não podemos esquecer nem deixar perder, porque saber viver no campo foi uma ciência que levou milénios a compor, que de repente os académicos e cientistas - que se enganam muitas vezes e mudam de opinião constantemente -, vieram ensinar nas universidades era o contrário! Por quatro décadas implementaram outras ciências que deram políticas do ambiente e agrícolas, de que se fizeram extensão rural e criaram “cadernos de encargos”, e afinal… viver no campo é o que era e nunca devia ter sido mudado pelas modernas políticas, insensatas, apressadas e imaturas, ditadas por uma ânsia de modernismo de um fascismo urbano-consumista que tudo pretende controlar e moldar à sua imagem e necessidades.
A quem assistiu ao fim daquilo que foram os tempos antigos e tradicionais, compete contar como era, ainda memória viva daquilo que nos identifica e fez de nós um povo, com história, língua e hábitos próprios.
Hoje pretendem-se retomar algumas das coisas perdidas, porque afinal o liberalismo faliu e deixou a todos que o seguiram sem referências, perdidos a humanidade e o bom-viver, afinal a felicidade que a tradição preserva. Fala-se em agricultura “biològica” (acaso ela foi mineral ou metálica?) quando se deveria reaprender sim a tradicional, a dos nossos avós, sustentável, feita com a infinita sabedoria de milénios de vida campesina, sã e integrada na Natureza que aos poucos se foi moldando e pondo a favor, adaptada a ela e não contra ela.
É-se anti-caça, anti-festa brava, pelos direitos dos animais e “ecologista”, afinal mais provas da imensa ignorância e da intolerância que se instalou e foi o verdadeiro flagelo do século XX, fazendo dele o século das maiores devastações da história e dos mais clamorosos crimes, contra a humanidade ou a Terra, em nome da modernidade e do desenvolvimento ou de ideais!
Somos republicanos por imposição e pela força, assentes num assassínio e em falsos pressupostos de igualdades e liberdade. Apenas a canalha política continua a mesma!
A nossa identidade para ser preservada, não pode ser guardada nos meios multimédia e sim na plenitude dos sentidos, como herança humana. E tem de ser praticada!
Este livro pretende exaltar a condição de ser Português, recordar pessoas, costumes e tempos passados mas recentes, heróicos, e deixá-los para os meus. Mas é sobretudo, dedicado e uma homenagem ao nosso povo, à gente brava, valente e corajosa, sacrificada e empreendedora… numa palavra: generosa, que se estendeu pelo Mundo, estabeleceu a Pátria da Língua Portuguesa e a quem os políticos sempre atraiçoaram!
Aos Portugueses, à minha gente, que reencontremos o orgulho e a alegria de ser aquilo que somos e não nos deixemos cair na tristeza de ser aquilo que querem fazer de nós!

O livro pode ser adquirido directamente ao autor, através do seu endereço pessoal: alpacheco.quinta@iol.pt

13 de novembro de 2010

Coruja-do-Nabal

Observação extraordinária!
Foi assim que Carlos Pereira, autor do maravilhoso livro "Aves dos Açores" descreveu o avistamento da Coruja-do-nabal na Ilha de Santa Maria.

Foi anteontem, no final da tarde, em local que não irei mencionar - da Ilha de Santa Maria, na companhia do Victor Carreiro - Caçador, e do Jaime Bairos - Vigilante da Natureza, que consegui tirar a fotografia que ilustra este texto, tendo sido precisamente o Victor Carreiro que detectou a presença desta misteriosa ave, no Domingo passado, quando regressava de mais uma jornada de caça.

Assim que obtive a fotografia, enviei-a imediatamente ao Carlos Pereira para que a pudesse identificar.
Na realidade, para além desta, foram avistadas mais seis, e trata-se, como mencionado, duma Coruja-do-nabal (Asio flammeus), ave - rara - invernante nos Açores.
Já foi observada na Ilha de São Miguel, no Faial, no Pico e, no mês passado, na Ilha Terceira.
São relativamente parecidos com os Mochos dos Açores (Asio otus), mas mais claros, mais corpulentos e com os olhos amarelos (o Asio otus tem os olhos alaranjados).

Dado o interesse da notícia foi informado o Staffan Rodebrand, do BirdingAzores.

A título de curiosidade, duas semanas antes desta observação, o Víctor Carreiro detectou e conseguiu capturar uma coruja da mesma espécie que estava ferida, tendo-a entregue, no mesmo dia, ao Jaime Bairos, que a enviou para a Ilha das Flores a fim de receber tratamento para, depois de recuperada, poder ser devolvida à liberdade. Porém, devido ao adiantado estado da infecção a ave acabou por sucumbir nesse percurso.
Apesar do resultado, não deixou de configurar este acto, por parte do Víctor Carreiro - um Caçador, um comportamento muito nobre, que deve ser enaltecido e seguido por todos.
E mencionou o actual presidente de uma associação dita ecológica, de nome Sérgio Diogo Caetano, em 10/12/2009, que não entende a caça como sendo "filosoficamente compatível com a conservação da natureza"!...

Notas:
- Toda a informação aqui exposta, relativa à ave, foi cedida pelo Carlos Pereira.
- Um agradecimento especial ao Victor Carreiro pela partilha de informação e pela extrema amabilidade em guiar-nos ao local.

8 de novembro de 2010

Caça - Memento Venator

Aqui vos venho apresentar um excerto, intitulado "Lebres e Coelhos", retirado do livro “Caça – Memento, Venator”, de 315 páginas, da autoria de Eduardo Montufar Barreiros, editado pel’ A Liberal – Officina typographica, obra esta datada do distante ano de 1900.
Fala-nos todo este extracto sobre a caça às lebres e aos coelhos, sem deixar de ser uma crónica, mas acima de tudo uma recordação muito pessoal deste nobre homem.
Optei por transcrever somente as partes que dizem respeito ao coelho em detrimento das restantes, pelo que vos suplico o perdão. Umas das razões que a isso me levou foi por ser esta, a par da caça aos patos, a que mais me fascina, enquanto o outro motivo adveio do cansaço que me provocou reproduzir vocábulos desusados.
Convém relembrar-vos que se trata de um texto com cento e dez anos de idade, pelo que irão, por certo, admirar a virtuosa forma de expressão e também estranhar a envelhecida arte da escrita.



"Lebres e Coelhos

Não posso – na qualidade de caçador, se entende – fallar com sympathia d’estes bichos, que na caça, nunca tomei a sério, apesar de não os considerar indignos de um tiro – honra que elles, de certo, dispensariam receber de mim.
Bem sei que entram no numero dos animaes bravios que, perante a lei, dão fóros de caçador a quem os persegue e apprehende; como sei também não ser desprovido de arte o modo de os apanhar.
E não são de poucos os recursos e artificios com que a natureza dotou esses animaesinhos, para se defenderem dos meios de ataque de que ella propria armou os que os perseguem. Contradicção, apparente de certo, e necessaria para a harmonia eterna, com que ella realmente vae ceifando a vida a todos.
Fel’os de ardende sangue, para que o amor – essa felicidade principal dos infimos – os tornasse prolificos; mas aos doze e quinze filhos, que permitiu á lebre ter, por anno (obrigando-a a ser mãe em cada um dos mezes que decorrem de fevereiro a novembro), oppôz, por inimigos todos os animaes carnivoros das florestas e dos ares, e, a mais, o homem; inimigos a que deu o prazer de os caçar – sem distincção de serem filhos ou pães – e a necessidade de os comer – tenrinhos ou durazios. Até os coelhos, que o homem classifica da mesma familia da lebre, perseguem e expulsa esta da sua companhia, e a força a uma vida toda de sustos, errante, em que tem por único abrigo a cama ao ar livre, onde se acoita de dia, vagueando, para o sustento e para os amores, só de noite.
Dos coelhos, fez ainda a natureza, com a fecundidade de que os dotou para conservação da especie, o flagello da humanidade a destruir-lhe as searas: e, dando esta para alimento commum de ambas as especies, obrigou o homem a usar contra elles de todos os meios que lhe suggere ainda para os destruir!
Deu a natureza, á lebre e aos coelhos, côr egual á da terra, para assim melhor se esconderem dos perigos; mas não impediu que o fumegar do corpo, vendo-se sobre as moitas, facilmente os denuncie deitados; e deixou-lhes na pellagem um ponto branco, que serve de guia, quando fugidos, aos que os perseguem.
(...)
Aos coelhos, na cultura do tal instincto, permitiu que se acobertassem em tocas sob a terra, para – melhor do que a lebre – se defenderem, a si e aos seus, mas, nas regiões em que os faz nascer, egualmente nasce a gineta, que ali os mata, e tambem o furão, que n’essas tocas, para si e para o homem, os colhe.
Que resta, pois, para se defenderem, a esses brutinhos, a quem a natureza negou até alcance na vista, concedendo-lhes apenas a vantagem de vêr melhor de noite que de dia? Umas compridas orelhas, movediças, e que, semelhantes as cornetas acusticas, ouvem – para seu martyrio – os mais imperceptiveis sons; e um fino olfacto com que nas movediças ventas haurem os mais tenues cheiros; sentidos que os armam… só para a fuga.
(...)
Os coelhos, sem recursos eguaes aos da lebre para a fuga na carreira, mas mais atilados, esquivam-se em enoveladas e rapidas furtas, muitas vezes com vantagem, aos podengos e aos tiros; e, philosophos, recebem, quando colhidos, mais resignados do que ella, o chumbo ou o golpe fatal atraz das orelhas, que, apesar de brando, tão rapidamente lhes extingue a vida.
Tem arte, na realidade, o caçador que, sabendo das forças e fraquezas d’estes bichos, e dos seus usos e costumes, os procura na estação ou no sitio proprios para a caçada lhe ser propicia.
(...)
E, aos coelhos, não será tambem arte o dirigir a matilha dos esfomeados podengos, a conterem os impetos da paixão e do estomago, e a obedecerem ao caçador, que, ao aceno e á voz, ora os retem na moderada e cuidadosa busca, ora os arrebata na vertiginosa corrida atraz da victima?
E não é arte, senão astucia, descobrir o bicheiro entre a espessa moita o coelho na cama, onde nem os raios X o fariam vêr, e despedir-lhe, na rapida furta, o pau que o deixa morto, ou o chumbo que, a corta-matto, o põe inerte, sem ele vêr o bicho?
E as bem dirigidas batidas, a salto, em cordão com as pontas avançadas, silenciosas, fuzilando mechanicamente e disciplinadas os orelhudos de qualquer especie que levantam? e as de espera com vozearia trazendo ás caladas e immoveis portas as incautas lebres? e as feitas aos coelhos, com gritos, batendo as moitas de que fogem, sorrateiros, para traz indo lançar-se nas portas falsas? todas estas batidas não revelam saber, dextreza e arte?
E é arte ainda, mas de outra especie, esperar silencioso e quieto, nas clareiras, á luz da lua ou pelo alvor da manhã, as lebres e os coelhos no seu pasto; ou durante escura noite, se ao candeio accodem, fuzilar – aquellas ou estes – de peito, quando, sentados, com as patas dianteiras levantadas, olham, curiosos, para o facho, sem nos verem. Nem deixa de ser tambem arte o imitar a voz dos coelhos, com o chio que os faz parar ou attrae á boca do covil para os matar a tiro; ou metter o furão ás covas, acompanhando, á escuta, o guiso que leva ao pescoço para saber da subterranea lucta, que deve trazer á rêde a perseguida victima.
Assim é; (...)
Mais outra vez o relembrar decorridos tempos me vem mostrar o meu estado de alma de hoje em relação ao de então; e a maior piedade, agora, pelas victimas, e o espectaculo mais vivo das bellezas do passado, invadem-me tão doce e intensamente o coração, e o espirito, que, não mais longe do que os momentos que tenho gasto em narrar este conto, já se me apresenta a caça das lebres e dos coelhos mais sympathica."

De referir que os podengos eram utilizados na caça ao coelho e à lebre, sobretudo, pela classe popular, desprovida dos bens e do conforto das mais abastadas, pelo que é por essa razão que o autor a eles se refere como esfomeados.

Trata-se este de um dos mais belos livros que tenho a felicidade de desfrutar, a par de outros que tenho vindo, por aqui e convosco, compartilhando.

24 de outubro de 2010

Abertura na Ilha de Santa Maria - Época 2010/2011

Finalmente, fiz a minha abertura!
Por motivos de serviço cheguei a casa pelas 04H30.
Nas duas últimas madrugadas de Domingo aconteceu-me precisamente o mesmo. Foi por essa razão que falhei a abertura oficial, no passado dia 10 de Outubro, e também a causa de não ter ido no Domingo seguinte.

A manhã estava simplesmente fenomenal - nada que já não soubesse de véspera, pois desde o início da semana que me mantinha a par da previsão meteorológica e estava decidido a quebrar o enguiço que me atormentava. Mesmo assim acabei por me deitar a fim de descansar alguma coisa, não sem antes colocar o despertador para as 08H30. De pouco me serviu porque pelas 07H00 já estava acordado, ansioso e nervoso...
Não valia a pena ir antes, pois os lugares já estavam tomados por outros e sendo o limite de 5 peças por caçador, pelas 09H/09H30 decerto que algum já teria terminado a sua jornada pelo que encontraria espaço livre e foi mesmo isso que aconteceu.

Optei por ir para a mesma zona da época passada e aquela área foi toda para mim.
O Galileu cobrou-me dois coelhos - um saído a ele e outro à Galiza, não eram ainda 10H30. Nessa altura desmuniciei a arma, depositei os cartuchos no bolso e deixe-me ficar a ver os cães e a pequenina. Deram com mais alguns. Houve uma vez que a Galiza abocanhou um outro, mas o Galileu quando ia busca-lo, a Galiza, que também mo queria trazer, deixou-o escapar por entre eles, não sei se propositadamente. Foi uma boa lição para a Garota que se manteve atenta e interessada. Portou-se muito bem a aluna, sempre desenrascada, a acompanhar-nos e sem medo dos tiros.
No percurso de regresso, pelas 11H40, fechei a conta com um coelho saído à Galiza, tendo chegado à viatura vinte minutos mais tarde, ainda com dois cartuchos na cartucheira, mesmo na hora do fecho, cansado, mas muito mais satisfeito e certamente muito mais calmo.

Levei a semiautomática, uma mão cheia de cartuchos de 30grs e fiz-me acompanhar do Galileu, da Galiza e da Garota, esta última de 3 meses. Deixei atrás a Garrida, mais velha 7 meses, não fosse desalvorar a mais nova. Da próxima havemos de encontrar outra solução.
Na ansiedade da saída acabei por trancar mal a porta do canil e quando cheguei a casa a minha mulher disse-me que a Garrida também tinha tido a sua abertura pessoal, tendo regressado pouco antes de mim... Fez ela muito bem!

12 de outubro de 2010

Abertura na Ilha de São Miguel - Época 2010/2011

"No passado dia 10 de Outubro, teve inicio a época de caça ao coelho bravo na Ilha de São Miguel, sendo permitida a caça pelos “processos de salto e de espera” apenas aos Domingos e até às 15h, com o limite máximo de duas peças por dia e por caçador.


Eu, que ainda encaro a caça com o mesmo entusiasmo como quando tinha os 8 anos de idade, confesso que quando se trata de praticar o acto venatório na Ilha do Arcanjo, essa vontade fica-me muito limitada e se não fosse pelos meus cães, que não têm culpa dos meus humores, não caçava mais nesta Ilha. É apenas por respeito a eles que continuo a caçar na Ilha Verde – São Miguel.


Como tenho feito nos últimos anos, rumei ao Nordeste, tendo chegado ao local do costume ainda de noite e visto mesmo alguns coelhos iluminados pelos faróis da carrinha.
Quase de imediato, qual não foi o meu espanto, comecei a ouvir tiros ainda de noite e detectei uns vultos, a transportarem uns tubos, que deduzi serem espingardas, nas pastagens que se estendiam à minha frente.
Foi precisamente nessa altura que perguntei ao meu companheiro de caça se ele estava a perceber uma das razões que me tornavam cada vez mais penoso caçar nesta Ilha.


Não desabafei o mesmo aos meus podengos, porque, repito, eles não têm culpa da falta de civismo que infelizmente alguns "caçadores" teimam em demonstrar, nem da falta de fiscalização por parte dos Serviços Oficiais… E assim vai a «caça» em São Miguel!"

Gualter Furtado, 11 de Outubro de 2010 

5 de outubro de 2010

José Moniz Vence IV Troféu Dr. Gualter Furtado

“Realizou-se no passado fim-de-semana, na Ilha do Pico, o IV Troféu Dr. Gualter Furtado de Santo Huberto com cão de parar sobre perdizes vermelhas.


O Troféu decorreu dentro de uma forte componente social e num enorme espírito desportivo.
O conhecido Caçador Cremildo Marques, da Ilha do Pico, e os seus incansáveis Colaboradores proporcionaram a todos os participantes momentos inesquecíveis, estando já em preparação a V Edição.


As provas foram julgadas pelos juízes José Pedro Leitão e Luís Figueiredo, ficando os primeiros cinco lugares ordenados do seguinte modo:


1º lugar - José Moniz (Ilha de São Miguel), com a Braco Alemã Iris;
2º lugar - Vitor Inácio (Ilha do Pico), com o Epagnuel Bretão Maçarico;
3º lugar - José Teixeira (Ilha de São Miguel), com o Epagnuel Bretão Kikas;
4º lugar - Olívio Ourique (Ilha Terceira), com o Setter Inglês Toy;
5º lugar - Duarte Nuno (Ilha Graciosa), com o Pointer Caju.


De salientar a presença dos dois decanos de Santo Huberto dos Açores e de Portugal continental que são os Senhores Henrique Pacheco e Valquírio Louro.”


Texto e fotografias da autoria de Gualter Furtado

3 de outubro de 2010

Caça Fotográfica

De vez em quando somos confrontados com a proposta da caça fotográfica, da substituição da espingarda pela máquina, a permuta da morte do animal pela fotografia, troca esta que nos vem escoltada por um conjunto de predicados e floreados a favor de tão luminosa alternativa como se nos estivessem a destapar o pretenso engano que, na mente dos ilustres proponentes, nos deve cobrir de negro a razão ou a anunciar a resolução para um dos grandes males do mundo, o da presença e da continuidade da caça.
Isto vem a propósito da apresentação no jornal Correio dos Açores da versão portuguesa de um livro da autoria de Aldo Leopold (1887-1948), intitulado no original de “A Sand County Almanac”, publicado um ano após a sua morte e que nutre no seio daqueles que se proclamam ecologistas, ambientalistas e amigos de tudo e de mais alguma coisa, uma reverência deveras extraordinária.
Enaltecem a beleza das composições, o saber dos textos, a poesia das narrativas, a relação fiel e genuína com a natureza, mas é-lhes impossível esconder o facto de Aldo Leopold ter sido um apaixonado pela caça com cão de parar, de ter sido Caçador!
A tradução portuguesa designa-se de “Pensar Como Uma Montanha”, pelas Edições Sempre-Em-Pé.

Nessa mostra podemos ler o seguinte: “Paradoxalmente, ou talvez não, foi na caça que o autor adquiriu um “saber de experiência feito” que o levou a consolidar a sua paixão e o seu conhecimento da natureza. Aliás, essa experiência e prática, em articulação com o seu saber teórico, levou-o a escrever o livro Gestão da Caça. O próprio Aldo Leopold deu o exemplo ao progredir de formas mais agressivas para formas menos agressivas de caça, até evidenciar a relevância da “caça” fotográfica, um modo inofensivo de apreender o objecto da sua paixão e maravilhamento: a natureza. Daí a importância dada à percepção. É o autor que afirma: “Promover a percepção é a única parte verdadeiramente criativa da indústria da recreação ao ar livre”(Leopold: 165). Daí a importância da fotografia, da observação de animais e plantas. O troféu – que sempre foi o grande objectivo simbólico do caçador – dará lugar a formas mais altruístas de relação com a natureza.” (Emanuel Oilveira Medeiros)

A Sand County Almanac – With Essays on Conservation

Ninguém melhor do que Aldo Leopold para no-lo apresentar: “… Nós abusamos da terra, porque a vemos como um bem sobre o qual exercemos o direito de propriedade.
Quando considerarmos a terra como uma comunidade à qual pertencemos, talvez possamos usufrui-la com amor e respeito.
A terra como uma comunidade é o conceito basilar da ecologia, mas a terra é para ser amada e respeitada numa extensão da própria ética. A terra sustenta um modo cultural de colheita, é um facto sabido, mas muitas das vezes esquecido.
Estes ensaios são uma tentativa de união destes três conceitos.”(Leopold, Aldo: 21)

Opinião

Neste livro desfrutamos de uma leitura fabulosa, ao longo da qual tomamos conhecimento das transformações que afectaram a quinta do Aldo Leopold, situada no Wisconsin – USA, ao longo de um ano, através de uma descrição prodigiosa que o autor fez desde o mês de Janeiro até Dezembro, dando-nos a conhecer as alterações paisagísticas, as variações da flora e as movimentações da fauna. Na versão que possuo os dizeres são acompanhados por simbólicas fotografias de uma beleza excepcional.
Considero ser um tributo à natureza, mas sobretudo uma crítica inegável à mecanização da agricultura e à relação de propriedade com a terra, sem, no entanto, as rejeitar totalmente e propondo uma mudança de valores que irá expor ao longo de todo o volume e do capítulo “The Land Ethic”, em particular.
Apesar de ser considerado um tratado entre os ditos ecologistas, ambientalistas e amigos dos animais, muito adversos ao tema da caça, nada nos transmite que seja contra a actividade venatória, até porque a integra naturalmente e sem preconceitos no tal modo cultural de colheita, que é mencionado acima e que se caracteriza pela estreita relação de comunidade e de amor com a natureza, onde a partilha não dá lugar à posse, afirmando mesmo que a conservação não está a chegar a lado nenhum, porque “it is incompatible with our Abrahamic concept of land”. (Leopold, Aldo: 21).
Pretende dizer o autor com esta expressão que foi a partir de Abraão que começamos a desenvolver as sociedades da actualidade, alicerçadas, precisamente, na posse da terra.
Que é nessa relação que temos com a terra que residem os males dos nossos dias, pois se tivéssemos permanecido caçadores não teríamos necessidade de tomar posse do solo, nem de defende-lo do invasor como o fazemos, não teríamos de inventar uma enormidade de normas e de regras para conseguirmos viver amontoados, nem exerceríamos a pressão demográfica que hoje representamos e que está muito para além dos recursos do próprio planeta, sendo que, na base de toda esta polémica que se gerou, de todos estes graves problemas que nos afectam, está a agricultura e não a caça!
Nos terrenos geridos pelos caçadores a fauna e flora prosperam, ao contrário do que se passa nas culturas intensivas, geneticamente alteradas e altamente mecanizadas que se destinam a alimentar as cidades. As mesmas donde se gerou o movimento que defende o conceito que dá o título a este texto - Caça Fotográfica -, que é perverso e fruto da mais profunda ignorância.

Caça Fotográfica

“O conde de Ybes diz-nos que os ingleses iniciam uma forma de caçar em que todos esses conflitos de consciência são astuciosamente evitados: consiste em que a caçada não termina com a captura ou morte da peça, mas com tirar-lhe uma fotografia. Que requinte! Não é verdade? Que ternura de alma, a de estes anglo-saxões! Ficamos envergonhados porque, há trinta anos, num dia, à hora da sesta, matámos aquela mosca demasiado impertinente! É claro que o império britânico não se forjou com seda e bombons, mas empregando a maior dureza contra o sofrimento dos outros homens que conhece a história do Ocidente. Isto faz-me recordar que na altura mais cruel da nossa guerra civil uma senhora, inglesa ou criada na Inglaterra, se ofereceu para dar dinheiro para ambulâncias que recolhessem os feridos e os tratassem. Aceitou-se a oferta; mas, ao ir-se cumprimenta-la, verificou-se que os feridos para quem a senhora premeditava as ambulâncias não eram homens feridos na guerra, mas os cães maltratados ou doentes. Porque é o que dizia a boa senhora: «Das guerras terríveis têm a culpa os homens que as fazem; mas os cães não são culpados das feridas que recebem.» Mas, como e de onde estava a senhora tão certa que os homens sejam ultimamente culpados das guerras? Porque essa senhora, que maneja o apotegma como um filósofo de Plutarco, tem tanta perspicácia para descobrir a ausência de culpa no cão e é completamente cega para entrever o que no homem há ultimamente de humilde cão, perdido numa existência que não domina e espancado por uma e outra parte pelo mais impenetrável destino? Em vez de preocupar-se tanto com os cães, deveria esta senhora ter-se preocupado um pouco mais em não estar tão certa em assuntos sobre os quais não se pode ter, talvez, certeza. Essa brutal certeza perante o que é – em absoluto e por agora – indiscernível, representa sob fácies de tenaz ultra-sensível uma forma peculiar de barbárie, amamentada na dupla teta da estupidez e da petulância.” (Gasset, Ortega Y: 72 e 73)
“A caça fotogénica é um amaneiramento e não um requinte; é um mandarinismo ético não menos deplorável que o intelectual dos outros mandarins.” (Gasset, Ortega Y: 72 e 73)
“Na preocupação de fazer as coisas como é devido – e isto é a moralidade – há uma linha, ultrapassada a qual começamos a crer que é devido o que é pura vontade ou mania nossa. Caímos, portanto, em nova imoralidade, na pior de todas, que consiste em desconhecer as próprias condições sem as quais as coisas não podem ser. Este é o orgulho supremo e devastador do homem, que propende a não aceitar limites para a sua vontade e supõe que o real carece por completo de estrutura própria que se oponha ao seu alvedrio. Este pecado é o maior de todos, tanto que, perante ele, perde por completo valor a questão de se o conteúdo dessa vontade era, pela sua parte, bom ou mau. Se você crê que pode fazer o que quiser, por exemplo, o sumo bem, é Você já, e sem remédio, um malvado. Somente é estimável a preocupação pelo que deve ser quando esgotou o respeito pelo que é.
Bom exemplo disto, pela própria pequenez da sua matéria, é este ridículo empolamento da caça fotográfica. Pode-se não se querer caçar, mas, se se caça, há que aceitar certos requisitos últimos, sem os quais a realidade «caçar» sofre evaporação. O emposse da peça, o drama táctil da sua captura efectiva e mais normalmente ainda a tragédia da sua morte nutre antecipadamente e proporciona os seus vigorosos e genuínos atributos a toda a tarefa antecedente: o áspero afrontamento com a brutalidade do animal, a resistência com a sua enérgica defesa, a ponta de embriaguez orgiástica que suscita todo o sangue em perspectiva e até a pequena suspeita criminosa que arranha a consciência do caçador. Sem estes ingredientes o espírito da caça volatiliza-se. O comportamento do animal está integramente inspirado pela convicção de que tudo aquilo implica a sua vida; e se resultar que tudo era pura ficção, que se trata de um retrato para um «passe», a caçada torna-se uma farsa e esvazia-se da sua específica tensão. Substituída a peça pela sua imagem fotográfica, que é um fantasma, toda a arte venatória torna-se um espectro. A actividade de uma Kodak compreende-se perante a noiva florescente, a torre gótica, o guarda-redes de futebol ou a pelada de Einstein; mas é demasiado inadequada perante o compadre javali que fossa no matagal.” (Gasset, Ortega Y: 73,74 e 75)

Aldo Leopold e a Caça

“Outubro – O Suave Dourado

Existem dois tipos de caça: caça ordinária, e caça ao ruffed-grouse (Bonasa umbellus).
Existem dois lugares para caça-lo: lugares ordinários e Adams County.
Existem duas épocas para caçar em Adams County: época ordinária e quando os tamaracks (Larix laricina – espécie de conífera) estão esfumados de dourado. Este texto é escrito para aqueles infelizes que nunca experimentaram estar, de arma descarregada, espantados e de boca aberta, a contemplar as agulhas douradas (dos tamaracks) a tombarem do céu, enquanto o foguete de penas que as desprendeu desaparece em direcção aos jackpines (Pinus banksiana).
Os tamaracks trocam o verde pelo dourado quando as primeiras geadas vindas do norte trazem consigo a woodcock (Scolopax minor), fox sparrows (Passerella ilíaca) e juncos (Junco hyemalis). Bandos de robins (Turdus migratorius) extraem as últimas bagas dos espinhos dos dogwoods (cornus) deixando os talos desnudados formarem uma neblina cor-de-rosa que se esboça no monte. Os amieiros que ladeiam o riacho já depuseram as suas folhas e expõem aqui e acolá uma tela sagrada. As amoreiras-pretas ficam incandescentes, iluminando os passos em direcção ao grouse.
O cão conhece esse caminho bem melhor que tu próprio. Farás bem em segui-lo de muito perto, lendo as histórias que a brisa lhe conta através do movimento das orelhas. Quando por fim pára, estaca numa posição firme e diz num ápice, “Prepara-te,” a pergunta que lhe colocas é preparo-me para quê? Para o trautear de uma galinhola, para o ronco de um grouse a descolar, ou apenas para um coelho? Neste momento de incerteza encontra-se condensada muita da virtude da caça ao grouse. Aquele que tem necessidade de saber a que se deve preparar, deverá em alternativa dedicar-se à caça do faisão.
As caçadas diferem de sabor, mas as razões são subtis. As melhores caçadas são as furtadas.
Para furtar uma caçada ou nos embrenhamos na natureza selvagem até onde jamais alguém pisou ou descobrimos um local que não seja reconhecido e que fique mesmo debaixo do nariz dos outros.
Poucos caçadores sabem que o grouse existe em Adams County, pois quando passam por aqui fazem-no sem parar, vislumbrando apenas uns  jackpines e arbustos ressequidos. Isto acontece porque a auto-estrada cruza um conjunto de ribeiros que correm para oeste e desaguam num pântano, que acaba por ser direccionado para o rio através de barreiras de areia seca. A auto-estrada que segue em direcção a norte cruza naturalmente esses troços, mas mesmo por cima dessa via e por detrás do cenário dos arbustos secos as finas linhas de água expandem-se e formam uma larga faixa de pântano, um paraíso seguro para o grouse.
Aqui, em Outubro, na solidão dos meus tamaracks, ouço perfeitamente os caçadores, cujos carros seguem na auto-estrada e que se dirigem para os condados sobrepovoados do norte. Troço deles na medida em que os imagino nas danças dos conta-quilómetros, com as faces estafadas, os olhos impacientes fixos no horizonte, direccionados para norte. Á medida que me surge o som das suas passagens, um grouse macho arrufa em tom de desafio. O meu cão sorri assim que conseguimos identificar o local de origem dessa atrevida provocação. Este companheiro, concordamos, necessita de algum exercício; iremos cuidar dele imediatamente.
Os tamaracks não crescem apenas no pântano, mas também ao pé dos limites das terras que ficam por cima, donde brotam as nascentes que o alimentam. A cada Primavera fica atulhado de musgo, o que lhe dá um aspecto de uma eira alagadiça. Chamo-o de jardins suspensos, porque na orla desse espaço encharcado se erguem gentianas com as suas pérolas azuis. Tal gentiana de Outubro tingida pelo dourado dos tamaracks, merece bem uma paragem e uma demorada contemplação, mesmo quando o cão nos aponta um grouse mais à frente.
Entre cada jardim suspenso e a margem dos riachos podemos encontrar coberto de musgo o trilho de veados, mesmo a modo de ser seguido pelo caçador, e o passadouro do impetuoso grouse que o atravessa numa fracção de segundo. A questão reside se a espingarda e o pássaro concordam no modo como se divide esse segundo. Pois se estes dois não se entenderem, o próximo veado que por ali passar apenas encontrará um par de invólucros para cheirar, mas nenhumas penas.” (Leopold, Aldo: 103,104)

Conclusão

Nas páginas que o autor dedica ao mês de Outubro podemos constatar que o tema da caça é marcante e predominante, pois continua a falar-nos do seu cão, de gansos e de como se deve caçar a perdiz.
No tema intitulado Red Lanterns, podemos encontrar a seguinte expressão: “Por diversas vezes as red lanterns me iluminaram o caminho em agradáveis caçadas...” (Leopold,Aldo: 117)
Aldo Leopold foi Caçador e foi precisamente por ter sido Caçador que escreveu este livro maravilhoso. Não se trata de nenhum paradoxo.
Esta obra demonstra a versatilidade e a adaptação da natureza e também o homem como parte integrante da mesma e sujeito a toda essa mutabilidade, pelo que não pode ser um mero observador, como alguns apregoam, mas um activo participante fiel à sua própria essência, porque a integra e completa.
O que nos veio dizer Leopold não foi que um ano tem doze meses e que neva no inverno, mas sim que devemos agir dentro dos limites daquilo que ele designa de “The Land Ethic”!
Caça é caça e fotografia é fotografia, pelo que não devem ser estas duas confundidas. Nem substituir uma pela outra. Poderão sim complementar-se, mas serão sempre desiguais e inconfundíveis.
Entende-se perfeitamente a existência de quem faça a escolha pela máquina fotográfica, mas não é admissível que dessa preferência possa resultar a imposição de um comportamento, negando aos outros, que pensam de modo diferente, o exercício da mesma liberdade de decisão, como também não é aceitável que se expresse que a caça seja agressiva e egoísta na sua relação com a natureza, porque se o fosse, para começar, jamais teria sido escrito A Sand County Almanac e, para finalizar, esse tipo de sentimentos ofensivos e comodistas são bem mais perceptíveis naqueles que consideram que a captura fotográfica do “troféu” dará lugar a formas mais altruístas de relação com a natureza, como nos explica Ortega Y Gasset, aliás também foi outro grande Caçador, naturalista e cidadão americano que disse: “All hunters should be nature lovers” (Roosevelt, Theodore – 26.º Presidente dos E.U.A.) e acredito que o sejam verdadeiramente, de alma e coração, ao contrário de outros que, sem serem caçadores, o proclamam por tudo e por nada!

Bibliografia:

Leopold, Aldo (2001). A Sand County Almanac – With Essays on Conservation. Oxford University Press.
Gasset, Ortega Y (1989). Sobre a Caça e os Touros – Ensaio. Edições Cotovia Lda.
Medeiros, Emanuel Oliveira (14JAN2010). Suplemento Educação: Pensar como uma Montanha, de Aldo Leopold: Um Caminho de Educação e Ética Ambiental. www.correiodosacores.net.
Traduções do Sand County Almanac da minha autoria.

28 de setembro de 2010

IV Troféu de Santo Huberto – Dr. Gualter Furtado

Realizar-se-á no próximo dia 2 de Outubro uma prova de Santo Huberto com cão de parar sobre perdizes vermelhas na Ilha do Pico, que pretende ser uma homenagem ao homem e ao caçador que é Gualter Furtado e que possui como grande impulsionador o conhecido confrade Cremildo Marques, além de constituir um momento alto na componente social e de gastronomia cinegética e regional, factores imprescindíveis para a defesa e sustentabilidade da caça.

As Provas terão como Juízes o Internacional José Pedro Leitão e o Luis Figueiredo.
Este acontecimento é já um marco no Santo Huberto e constitui uma verdadeira escola para os caçadores com cão de parar.
Normalmente é realizado em terrenos que apresentam a vegetação típica da Ilha do Pico e os participantes presenteados com vistas deslumbrantes sobre as outras Ilhas que compõem o Grupo Central do Arquipélago.

Acresce mencionar que a vinha do Pico é Património Mundial ao qual se junta a imponente Montanha da Ilha - o ponto mais alto de Portugal, paisagens que emprestam àquela maravilhosa Ilha Açoriana características e belezas deslumbrantes e inigualáveis, o que constitui sempre um forte atractivo para quem anseia ali se deslocar e que estamos na presença de um evento singular que se irá desenrolar numa das sete Maravilhas de Portugal, galardão justamente conquistado e por voto popular, que os caçadores no decurso deste acontecimento irão ter também a oportunidade de usufruir e homenagear.

Texto e Fotografia da autoria de Gualter Furtado

27 de setembro de 2010

Placa de Reconhecimento a Paulo Cruz

Nos passados dias de 25 e 26 do corrente mês de Setembro, na Ilha de São Miguel, realizaram-se as duas últimas Provas de Santo Huberto do Calendário de 2010 com cães de parar sobre perdizes vermelhas, previstas para aquela ilha açoriana.

Neste ano realizaram-se 14 provas, tendo-se classificado no conjunto destes dois dias de competição o José Moniz com a Braco Alemã Íris em 1º Lugar, em 2º Lugar o Filipe Carreiro com a Pointer Mira e em 3º Lugar Gualter Furtado com o Epagneul Breton de nome Pico.

De salientar que estas duas provas finais foram julgadas pelo Juiz Paulo Cruz, da Confederação Nacional dos Caçadores Portugueses, ao qual, na cerimónia de encerramento, foi oferecida uma placa de reconhecimento pelo elevado contributo pessoal que tem dado aos caçadores de Santo Huberto com cão parar nos domínios da segurança, do tiro, espírito desportivo e na condução dos cães de parar.

Texto e fotografia da autoria de Gualter Furtado

12 de setembro de 2010

Os Coelhos de São Jorge

Desconhece-se se alguma das actuais espécies cinegéticas açorianas eram já existentes no arquipélago à data da chegada dos primeiros navegadores, o certo é que antes do povoamento foram lançadas nas diferentes ilhas, perdizes e codornizes, entre outras aves e diversos animais como as ovelhas, cabras, porcos e também alguns coelhos que acabaram por encontrar nestas ilhas condições favoráveis e muito benéficas para o seu estabelecimento e desenvolvimento.
São Jorge é o nome de uma das nove ilhas que compõem o Arquipélago dos Açores e localiza-se no Grupo Central, também constituído pela Terceira, Graciosa, Faial e Pico, distanciando-se desta última por apenas 15 km e caracteriza-se por ser estreita e comprida, possuindo em 2001 uma população de 10500 habitantes.
Uma das actividades económicas mais importantes da ilha reside na exploração agro-pecuária, sobretudo na produção de carne e de leite que depois é transformado no afamado e muito apreciado Queijo de São Jorge, detentor de Denominação de Origem Protegida.
Para salvaguardar este valioso recurso o Governo dos Açores, através do *Calendário Venatório da Ilha de São Jorge, para a época venatória de 2010 e 2011, que se iniciou a 01 de Julho de 2010 e terminará a 30 de Junho de 2011, veio permitir a caça ao coelho todos os dias, sem limite de peças por caçador, acrescida do facto de também estar a criar legislação para licenciar e comercializar a carne de coelho bravo de modo a poder diminuir a densidade populacional desta espécie cinegética no arquipélago, feitos que suscitaram nesta região insular uma ampla e acesa discussão que ainda hoje tem lugar.

Por um lado podemos localizar os agricultores e os lavradores que alegam ter os seus rendimentos diminuídos em virtude dos estragos de que dizem ser vítimas, provocados pelos coelhos nas pastagens e nas plantações.
Por outro temos duas facções de caçadores, uma prudente no acolhimento e outra contra a instituição de tais medidas e ainda temos acima de todos estes intervenientes a Secretaria Regional da Agricultura e Florestas a criar legislação de modo a tentar gerir toda esta conjuntura e o inerente conflito de interesses que acabou por se instalar.
Os agricultores jorgenses de tão lesados que se declaram, já solicitaram até ao passado mês de Julho de 2010, mais de 40 pedidos de correcção de densidades do coelho bravo, os quais resultaram em mais de 5000 abates.
Alguns caçadores, preocupados com esta realidade e conscientes das fraquezas que caracterizam o novel regime de caça associativo açoriano, por se encontrar a dar os primeiros passos, e por temerem que a contínua perda de rendimentos dos agricultores os leve a decidir pela introdução do vírus hemorrágico, consideram ser preferível a caça nos moldes do actual calendário venatório, enquanto a situação o justificar, ao mesmo tempo que se esforçam pela interdição da caça à noite, pela necessidade da existência de uma forte fiscalização e por transmitirem um comportamento adequado do caçador.
Outros, por outro lado, são frontalmente contra, afirmando que o que se passa em São Jorge não é mais do que uma selvajaria, uma matança sem sentido e criticam tanto o que lá se faz, como os que ali vão caçar.
Temos duas correntes de opinião dentro da caça e para melhor compreende-las é necessário ter conhecimento que nos Açores, apesar de existir legislação que permita a criação de Zonas de Caça de Interesse Associativo, a mesma é muito recente, decorrendo ainda a caça neste território insular naquele que é vulgarmente designado por “terreno livre”.
Acontece que não existem dados palpáveis e consistentes sobre a real situação dos efectivos cinegéticos, nem possuem os caçadores, neste quadro, um leque de alternativas que lhes permitam participar num modelo mais elevado, em associação com outras entidades, na resolução desta e de outras dificuldades.
Se por um lado é possível considerar que, na falta de dados consistentes, a decisão da caça ao coelho sem limite, levada a cabo na Ilha de São Jorge, seja fruto de uma enorme pressão e que possa degenerar em actos de selvajaria e de matança gratuita, nas mesmas circunstâncias também é lícito pensar o contrário e afirmar que a medida possa ser razoável e apropriada, até porque todos os que, entre nós, se dedicam à observação e ao estudo das espécies cinegéticas, neste caso do coelho bravo, imaginam o quanto este animal pode ser destrutivo, se se encontrar numa exploração agrícola em números exagerados.
A certeza que subsiste é que, neste momento da História da Caça nos Açores, os Caçadores Açorianos estão completamente limitados nas suas opções e acções.

Sobre a comercialização do coelho bravo açoriano, se nada for alterado e tudo permanecer como está é fácil conceber, no actual contexto, quão dramáticas e nefastas serão as consequências desta actividade para a existência do coelho bravo enquanto espécie cinegética e animal, se a legislação não tiver em conta, nem for adequada à realidade do arquipélago e devidamente assistida no terreno pelos apropriados e necessários meios humanos e materiais para a monitorizar convenientemente e para proceder não só a uma eficaz fiscalização, mas também a uma célere e ajustada autuação das infracções.

É sabido que os Caçadores possuem um papel insubstituível e de primordial importância na gestão dos recursos cinegéticos, responsabilidade da qual não devem ser arredados, porque se interessam e preocupam, porque são activos e diligentes, porque estão no terreno e recolhem informação variada, válida e actual, porque são imprescindíveis para o saudável equilíbrio ambiental e para a segurança das pessoas no controlo das pragas e dos grandes predadores.
Os Caçadores são parte integrante da sociedade moderna, constituem e representam um sector económico importante, pelo que não podem, nem devem refugiar-se em interesses egoístas, por muito apelativos que os mesmos se apresentem, nem permanecerem indiferentes aos acontecimentos que se desenrolam e que tomam, todos os novos dias, as mais diversas formas, sob pena de serem excluídos do debate, de perderem importância e influência e de ser-lhes denegado o poder de decisão.
Situações existirão em que se imporá a manutenção e a inflexibilidade das posições. Apela-se, por isso, a que saibam identifica-las.

*Os calendários venatórios em vigor nas diferentes ilhas poderão ser consultados no seguinte endereço:
Deles apenas constam oito, porque não é permitida a caça na Ilha do Corvo.

5 de setembro de 2010

Faial da Terra - Do Salto do Prego e do Sanguinho

O meio ambiente, a natureza e o mar constituem uma das mais importantes vantagens comparativas absolutas e relativas do Arquipélago dos Açores.
Nesta oferta ímpar da nossa Região encontram-se os percursos pedestres.
São cada vez em maior número os estrangeiros que nos visitam tendo como objectivo principal, exactamente o de poderem desfrutar da paisagem e das belezas naturais dos Açores, através dos trilhos proporcionados pelos percursos pedestres devidamente assinalados que existem em várias Ilhas desta maravilhosa Região Insular.
Noto com enorme satisfação o facto de alguns residentes também já começarem a percorre-los.
Muitos destes trilhos são testemunho real de uma fase da nossa história, já que eram utilizados originalmente pelos nossos antepassados para se deslocarem entre as diferentes localidades existentes em cada uma das nossas Ilhas, servindo por isso multiplas funções das quais se destacam a distribuição de diversos bens e serviços importantes e essenciais.

Com a construção das novas e modernas vias de comunicação estes trilhos foram abandonados e desprezados, tendo mesmo alguns ficado irremediavelmente esquecidos e perdidos entre plantas invasoras e às vezes também do betão.
Felizmente que nos últimos anos alguns dos antigos percursos pedestres têm vindo a ser recuperados constituindo estas acções de restauração excelentes medidas de política económica com recurso a uma despesa pública modesta, quando comparada com outros investimentos da mesma natureza, mesmo no âmbito municipal.
Evidentemente que não basta reabrir estes trilhos, é preciso cuidar da sua manutenção, garantir a sua segurança e adequada sinalização, tratar da sua limpeza e recolha do lixo que algumas "pessoas" teimam em abandonar, ainda que felizmente num número cada vez mais reduzido, e proceder à sua divulgação.
Estamos pois num campo em que as parcerias entre o Governo dos Açores, as Câmaras Municipais e o sector privado devem ser incentivadas.
Sempre que tenho disponibilidade e companhia gosto de subir o Pico da Vara, a Montanha do Pico (a minha preferida maravilha de Portugal) e fazer alguns percursos pedestres.
Nesta actividade salutar e de estreito contacto com a natureza tenho me cruzado com muitos estrangeiros que por esta via se tornam, sem quaisquer dúvidas, nos melhores embaixadores que os Açores alguma vez tiveram.

Refiro-me em concreto ao percurso pedestre que se inicia junto da Ribeira do Faial da Terra até ao Salto do Prego, onde é possível observar e desfrutar de uma magnífica cascata, e regresso pelo Sanguinho (nome de uma planta endémica dos arquipélagos dos Açores e da Madeira) e pela pequena aldeia constituída por um conjunto de pequenas casas muito bonitas e típicas, que se encontram em fase de reconstrução por uns investidores privados a quem desejo sinceramente os maiores sucessos, embora saiba não ser uma tarefa fácil.
Do Sanguinho temos uma vista deslumbrante do Faial da Terra.
Todo o trilho é ladeado por matas de acácias e incensos e infelizmente também de muitas plantas invasoras, que constituem nos Açores uma autêntica praga (espero que as entidades públicas estejam atentas à turfeira dos Graminhais).
Para terminar, aqui fica pois uma excelente sugestão de percurso pedestre na Ilha de São Miguel, bem assinalado, de dificuldade média e de aproximadamente 5 Km, a realizar sempre em grupo. Sendo que este trilho é bem o exemplo da necessidade da parceria do Governo com a Câmara Municipal, já que alguns troços do percurso necessitam de melhoramentos, embora salvaguardando e sem nunca colocar em causa a sua rusticidade e originalidade.

Texto e fotografias da autoria de Gualter Furtado

28 de agosto de 2010

A Corneta de Caça em Portugal

A corneta é, essencialmente, um instrumento de sopro, que tanto poderá ser constituída por um chifre, um búzio, como por metal, sobretudo latão e cobre.
Inicialmente o bocal, lugar por onde se sopra, era formado apenas por um orifício simples, como ainda se verifica nos búzios e nos chifres, sendo então o som produzido fruto da passagem do ar expelido em conjunção com a vibração da língua e dos lábios. Trata-se de uma técnica que requer alguma prática, embora não seja de difícil realização.
Mais tarde foi desenvolvido um sistema mais simples, através da introdução de uma palheta no próprio bocal, substituindo, deste modo, a necessidade de executar o procedimento supracitado com a língua e os lábios
Utilizamos diferentes tipos de sons para comunicarmos, quer produzidos através da voz ou de instrumentos.
Exemplificativo deste último, temos, por exemplo, o cornetim utilizado nas forças armadas durante a ordem unida.
O uso do chifre, do búzio, da corneta na caça em Portugal é actualmente, apesar de se tratar de uma prática ancestral, um costume em desuso.
Pretendo, na elaboração deste texto, embora de modo elementar e muito modestamente, contribuir para a inversão desta realidade e ajudar a recuperar este uso.

Tais instrumentos foram utilizados nas mais diversas caçadas em que se perseguiam as presas com cães e eram empregados para sinalizar procedimentos ou indicar o que se estava a suceder. 
Ainda se encontram bem presentes na tradição venatória de alguns países europeus, como a Alemanha, a França ou a Inglaterra, entre outros. Possuem toques para cada situação, à semelhança do cornetim na ordem unida que mencionei acima, e melodias próprias como a francesa “Le Chateau de Passin” ou a alemã "Aufbruch zur Jagd", a título exemplificativo.
Quanto aos toques, os ingleses dividem-nos em três grupos: os “signal calls”, utilizados para transmitir informações aos acompanhantes e aos cães; os “disappointed” ou “sad calls”, empregados, por exemplo, para dar conta da perda da presa ou do final da caçada e os “doubled calls”, usados em contraste com os “disappointed” ou “sad calls” para demonstrar grande entusiasmo, encorajamento ou excitação. Dentro destes conjuntos, há então diversos toques que os preenchem, atribuindo à caçada sonoridade e modulação excepcionais. O toque de “blowing for home”, que se insere no segundo grupo, é o único que me parece desobedecer às normas inflexíveis dos restantes, permitindo ao tocador acrescentar alguma da sua originalidade, mas apenas no final da última jornada de caça da época venatória.

Regressando a Portugal, podemos encontrar registos do uso da corneta de caça gravados na arca tumular do Conde D. Pedro, sita na Igreja de Tarouca, que data do séc XIV, e também na arca tumular do falcoeiro-mor de Vasco Estevão de Gatos, do séc XV, localizada no Convento de São Francisco, em Estremoz.
Na página 65.ª, do livro “A Propósito de Caça”, da autoria de João Maria Bravo, encontra-se a fotografia de um caçador português a fazer uso de uma corneta, no decurso de uma batida em Novembro de 1952, em território nacional.
Até à revolução, ocorrida a 25 de Abril de 1974, era utilizada com frequência nas batidas aos lobos e às raposas.
De tudo isto se infere que a utilização da corneta de caça em Portugal tem tradição e era comum!

Francisco Duarte, n’ “Uma caçada em Arraiolos”, narrativa inserta no seu livro “Caça e Caçadores”, descreve-nos como se processa uma linha de caçadores: “No Alentejo, em 1931, as linhas ainda eram de dez caçadores. E, em terreno plano, é muito difícil caçar com linha reduzida, pois as perdizes fogem para fora, logo no primeiro levanto, deixando-se perseguir muito dificilmente se ela é constituída por poucos caçadores.
Em grande parte do distrito de Évora o terreno é quase plano. Por isso as linhas são em caldeirão, isto é, formando um arco de círculo.
Os caçadores que fazem as pontas vão mais adiantados, os contrapontas um pouco mais atrasados, e os do meio ainda mais recuados de modo a formarem o caldeirão.
Nestes terrenos quase planos, os caçadores distanciam-se uns dos outros, por vezes deixando um espaço superior a cento e cinquenta metros entre cada dois caçadores.
Ora, quando eram permitidas linhas de dez, cada uma chegava a apanhar uma extensão de mais de um quilómetro.
Os caçadores que fazem as pontas têm a missão de meter as perdizes para dentro da linha, enquanto os contrapontas marcam, por assim dizer, a trajectória, são o ponto de referência dos companheiros, para manterem a linha em boa ordem e com o arco de círculo sempre constituído.
Esta é a maneira das perdizes não saírem para fora dela.
Mas se os bandos, ainda assim, dão de asa para um dos lados, então o ponta desse lado pára (ou faz peão) e dá o grito: vá de enrola.
A este sinal, o ponta contrário corre imediatamente para o lado solicitado, bem como toda a linha, indo no entanto mais devagar os do lado da ponta que faz peão.
Esta manobra tem de ser feita conservando continuamente o caldeirão.
E aqui é que se pode verificar se uma linha é constituída por caçadores de categoria ou não, visto que o enrolamento deve ser feito com toda a rapidez. Isto porque as perdizes que já voaram, que são as que tentam sair da linha, é que devem ser perseguidas, pois, se o não forem imediatamente, descansam e dificilmente esperam gatilho.
No Alentejo, para conservar a linha sempre bem, é costume cada caçador olhar para o da sua esquerda. Isto significa que o caçador que faz a ponta esquerda tem que conhecer muito bem o terreno e ser verdadeiro técnico da caça à perdiz. “
Mais à frente, sobre a indicação dos lugares que cada caçador deve ocupar, acrescenta: “Devo dizer que a numeração, no Alentejo, é feita da esquerda para a direita e não como há anos vi na Beira Baixa, o que me surpreendeu.”
E ainda a seguir esclarece-nos que: “A bicada dá-se quando um caçador se adianta e se vai postar na frente da linha, esperando aí as perdizes. Isto em terreno plano, dá um resultadão para quem faz a bicada, mas redunda em prejuízo para os companheiros, especialmente para os que estão perto, que deixam de ter perdizes na sua frente.”
Apesar deste autor não referir a corneta, na margem esquerda do Guadiana, as pontas das linhas dos batedores também utilizavam búzios para sinalizar a volta, recolher os cães ou indicar o levantamento de uma peça de caça, pelo que seria perfeitamente natural substituir o grito de “vá de enrola” pelo som proveniente de uma corneta ou de um búzio, sobretudo nas tais linhas com mais de um quilómetro.

Um dos factores que poderá ter sido determinante para a diminuição do uso de tais instrumentos na nossa caça relaciona-se com o decréscimo da floresta portuguesa e a consequente diminuição da diversidade das espécies de caça maior, sendo talvez devido a estas que ainda persista tal conduta nos países que citei acima, pois desenrolando-se a caçada em tais lugares, será muito mais adequado comunicar por toques de corneta.
Outra das causas residirá na eventual falta de conhecimentos do caçador neófito, muitas vezes sem qualquer tradição familiar recente nesta arte e, por fim, no declínio dos mestres fabricantes de tais utensílios.

Salvar esta prática é perpetuar uma identidade, assente em usos e costumes próprios e profundos que nos identificam e distinguem dos demais, pelo que devemos pugnar pela sua recuperação e dela cuidar para que não se perca no esquecimento, certo de que, com este texto, ainda muito ficou por abordar e referir sobre a corneta de caça em Portugal.

*Um agradecimento especial aos Confrades António Luiz Pacheco, João Acabado, Pedro Almeida Alves e Ricardo de Sousa pela valiosa contribuição que prestaram à minha solicitação no portal Santo Huberto, através da enorme partilha de conhecimento e da muita experiência pessoal!

26 de agosto de 2010

Do Caçador-recolector ao Coleccionador do Séc. XXI

As colecções particulares podem ser de tudo e de alguma coisa. As mais conhecidas são as de selos, as de moedas, mas há outras, como por exemplo as de conchas, de borboletas, de troféus de caça para não fugir ao tema em epígrafe, entre muitas outras.

Iniciei, bem no início da década de 1980, uma colecção de fivelas e começou naturalmente com uma que me fora oferecida, seguindo-se as restantes, umas compradas e outras trocadas - a esmagadora maioria.
Na viragem do século arrumei-a e acabei por recupera-la do fundo do caixote de papelão onde jaziam, há cerca de 2 semanas.
Caracteriza-se por datarem as peças das décadas de 70 e  de 80 do século passado, versarem o tema da caça, por serem fabricadas em bronze, latão dourado maciço ou mesmo em  osso.
Estão todas, apesar dos muitos anos que transportam, em excelente estado de conservação e de funcionamento, o que me dá uma enorme satisfação pessoal, até porque, algumas destas, são, hoje em dia - atrevo-me a referir, exemplares raros.

Principiei-a, porque se tratavam de objectos bonitos, práticos, úteis, porque me reavivavam agradáveis recordações e alimentavam a imaginação. 

Sem me aperceber também comecei a aprender algo sobre as mesmas e, por conseguinte, a enriquecer-me pessoalmente.
Certos estudos também explicam a existência das colecções particulares como sendo resultado da nossa ascendência, proveniente dos caçadores-recolectores, esses primeiros hominídeos que na caça de animais bravios e na recolha de alimentos sustentavam a sua existência, o seu desenvolvimento e a sua evolução.

16 de agosto de 2010

Açorianos nas Finais Nacionais de Santo Huberto

Nos próximos dias 11 e 12 de Setembro, realiza-se em Monfortinho, no Concelho de Idanha-a-Nova, junto da fronteira espanhola, a final nacional da Taça da Confederação Nacional dos Caçadores Portugueses de Santo Huberto com cão de parar sobre perdizes vermelhas, estando os Açores representados por Cremildo Marques, Gualter Furtado e Olivio Ourique.

Nos dias 18 e 19 seguintes, tem lugar a final nacional do campeonato nacional de Santo Huberto, que dará acesso à final do campeonato do Mundo de Santo Huberto e que terá lugar no norte alentejano, mais precisamente no concelho de Gavião.

Os Açores irão participar com a maior delegação nacional, resultante dos apuramentos que se realizaram nas diferentes Ilhas e do elevado número de participantes que existem neste arquipélago, sendo a mesma constituída por Pedro Moniz e José Moniz - da ilha de São Miguel; José Nascimento e José Luis - da ilha Graciosa; José Soares, Miguel Parreira e Olívio Ourique - da ilha Terceira, e Cremildo Marques - da ilha do Pico.

Na edição de 2009, os Açores foram campeões de Portugal e campeões do Mundo, por equipas, através do Alberto Cantineiro.


Texto e foto da autoria de Gualter Furtado

9 de agosto de 2010

Bambi - Um Alvo a Abater

Se há filmes que recordamos da nossa meninice, então o do "Bambi", de Walt Disney, é um deles.
David Petersen, ao contrário do que pensam e acreditam algumas pessoas, nos vem dizer que este desenho de celuloide não é mais do que um artificio dissimulado, antinatural por natureza, que já devia estar, há muito, bem extinto e soterrado!

Para este autor "a tragédia do Bambi" começou em meados de 1880, quando um jovem húngaro, depois ter assumido o nome de Felix Salten - uma identificação étnicamente muito mais confortável do que o nome judeu original  de Siegmund Salzman, emigrou para Viena. Nessa cidade austríaca, dedicando-se Salten à escrita de peças de teatro, à crítica, à produção de pelo menos uma novela pornográfica (As Memórias de Josephine Mutzenbacher) e à criação de uma enorme porção de livros relacionados com a natureza e destinados às crianças, prosperou.
Entre os seus passatempos, que agora o novo-rico Felix participava com os seus novos amigos aristocráticos, estava a caça, actividade que ele veio a considerar repugnante.
Escrito em 1924, o Bambi de Salten pretendeu, desde o início, instituir sentimentos anti-caça, tanto nas camadas mais jovens, como em todos os outros leitores, embora alguns críticos defendam que se tratava, sobretudo, de uma alegoria anti-facista, em que a pacífica natureza selvagem representava as massas vitimizadas e os caçadores, os odiosos hunos.
Repleto de sofrimento e de morte, tudo isto causado por um inimigo conhecido entre os animais apenas por "Ele" (com a inicial maiúscula, como se de uma referência biblíca se tratasse), este Bambi teve um enorme sucesso junto das classes sociais mais desfavoridas que sempre conceberam a caça praticada ao longo dos séculos por uma minoria privilegiada, uma enorme injustiça.
Entretanto, na América, uma conspiração paralela tomava forma.

Tendo iniciado a sua vida numa quinta, do estado do Missouri, nos E.U.A., Walt Disney caracterizava-se por ser um acérrimo defensor dos "direitos dos animais" e, por conseguinte, frontalmente contra os caçadores, os quais odiava. Narra-nos a história que tudo começou quando o seu irmão, de nome Roy, surpreendeu um coelho com um tiro bem colocado, disparado de uma pressão d'ar, seguido de um  "coup de grâce", torcendo-lhe o pescoço, tendo tudo isto sido presenciado pelo pequeno cineasta. Embora a sua mãe tivesse recebido de bom grado a carne fresca e com ela confeccionado um apetitoso guisado, Walt recusou-se a comê-lo.
O Bambi de Salten foi traduzido para inglês em 1928 e depressa chegou aos Estados Unidos. Entretanto, Walt Disney tornara-se adulto e bastante activo na industria de filmes de animação. Quando leu esse livro foi amor à primeira vista e nele também encontrou uma boa oportunidade para ganhar dinheiro, muito dinheiro. Feito o guião. tiveram as filmagens o seu início em 1937. Apesar do produto da Disney possuir mais vida e cor, transmitir um maior sentimento de esperança do que a novela pardacenta e freudiana de Salten, manteve o conflito primário que a qualificava: a natureza é boa, a humanidade é má.
Em Bambi encontramos figuras benevolentes e conselheiras, como corujas, esquilos, coelhos e codornizes. Apenas bagas selvagens e as flores dos trevos são consumidas, e mesmo assim nem muitas dessas. Na maior parte do tempo essas criaturas ingénuas apenas cantam, brincam, dormem e têm conversas imaturas e infantis entre si.
A misantropia e o sentimento anti-caça não eram os únicos alicerces que suportavam e alumiavam a passagem de Bambi do livro para o filme. Como sempre, para este competente capitalista, o ganho monetário era o objectivo primordial.
Nos seus projectos iniciais, o pai do Rato Mickey, aprendeu rapidamente que o lucro poderia ser bem mais ampliado através da sábia gestão das emoções dos espectadores. Em Bambi, a massiva manipulação da natureza, tendo em vista o efeito emocional e, por conseguinte, o lucro, é projectada para extremos nunca antes explorados.
Cartmill, investigador de História Natural, disse o seguinte: "assim que se compreendeu que o sentimentalismo e o antropomorfismo faziam dinheiro, foi por esse mesmo caminho que seguiram os filmes de Disney ... desinformam deliberadamente a assistência sobre factos biológicos basilares". Acrescentou ainda que "aos animadores foi-lhes dito que poderiam utilizar quaisquer expressões humanas que conseguissem impor na cabeça  inflexível e alongada dum veado. Em consequência dessa directiva as cabeças começaram a ser desenhadas num formato alargado sobre corpos pequenos. Os focinhos foram encurtados para melhor se assemelharem a personagens ameninadas. As pestanas foram desenhadas mais compridas e as pupilas dilatadas... tais como as que podemos encontrar numa cortesã do período renascentista".
Além da sábia condução musical os mágicos da Disney conseguiram alcançar uma irresistível aparência inocente através da introdução de vozes de crianças reais.
Sem deixar pontas soltas, a cena de abertura de Bambi, à qual todas as outras criaturas reverenciavam como sendo o jovem príncipe da floresta, trata-se de uma desavergonhada réplica da Noite de Natal. Mais uma vez Cartmill  observa que, "após os animais venerarem o recém-nascido e terem partido, a imagem focaliza a mãe e a cria aninhadas numa espécie de arbusto - um quadro que Pearce, o editor da história, referiu assemelhar-se "àquele quadro da Madonna" - enquanto o pai contemplava o cenário enternecedor do cimo de um penhasco celestial, tal e qual um deus distante.
David Peterson diz-nos que após ter observado o filme sob a perspectiva de um adulto esclarecido, concordou profundamente com a descrição que o crítico Roger Ebert fez da obra: "uma parábola ao  sexismo, niilismo e desespero, retratando pais ausentes e mães passivas num mundo de morte e violência." Conclui Ebert que não é um produto indicado para jovens, nem para quaisquer mentes impressionáveis.
Mesmo nos dias de hoje, até para adultos sugestionáveis, o filme Bambi transporta aquilo que Cartmill caracteriza como "a força de um malho... apesar da sua penetrante e repelente sedução".

Bambi - o filme para crianças, agora mais facilmente acessível ao público do que alguma vez o foi, é um enorme embuste.
Para David Peterson, se as criaturas da floresta pudessem falar em nome próprio estariam entre os seus maiores críticos, pois sabem bem melhor do que nós quão devastadora tem sido esta farsa, e continua a ser, para o seu modo de vida bravio, através da criação do falso conceito da paz universal e do amor na natureza, que simplesmente não existem.
No âmbito deste filme, se alguns "amigos do Bambi" ou defensores dos direitos dos animais conseguirem levar por diante os seus objectivos, como disseram que fariam, acontecerá uma catástrofe ecológica.
Peterson, na defesa da verdade, realidade e pela dignidade dos processos naturais, afirma que Bambi - essa monstruosidade da propaganda de Hollywood, deve morrer.

Excerto traduzido por mim, retirado do Capítulo XI - The Bambi Syndrome Dismembered: Why Bambi Must Die, da II Parte, do livro intitulado Heartsblood, de David Peterson

5 de agosto de 2010

O Veado das Dez Pontas

Reza a história que, tanto Plácido, um soldado romano do exército de Trajano, como Huberto, filho do duque da Aquitania, se converteram ao cristianismo após se terem deparado com um veado que apresentava o crucifixo de Cristo.
O primeiro ficou conhecido como Santo Eustáquio e o segundo como Santo Huberto - o Padroeiro dos Caçadores!

Santo Eustáquio, cuja conversão ao  catolicismo se deveu a uma visão que teve de um veado  com a cruz entre os esgalhos, também é considerado Padroeiro dos Caçadores, porém tratou-se essencialmente de um culto romano, que teve o seu apogeu no séc. XI.
Por sua vez, Santo Huberto, que também era um ávido caçador, deparou-se, numa Sexta-feira Santa e no decurso de uma caçada, com um magnífico veado de dez pontas, por sinal o mais majestoso que alguma vez vira, e moveu-lhe uma impetuosa perseguição com o intuito de caça-lo. O cervídeo, em vez de correr e de procurar refugio, encarou-o ostentando um crucifixo entre as hastes ao mesmo tempo que uma voz misteriosa lhe disse para se voltar para Deus. Huberto assim o fez, despojando-se dos bens materiais, dedicando-se à oração, à leitura de textos sagrados e à meditação.
Mais tarde, já consagrado bispo da igreja católica, converteu muitos pagãos e realizou diversos milagres, tendo sido canonizado no ano de 743.

Existe uma enorme similitude entre estes veneráveis, porém Santo Huberto substituiu Santo Eustáquio, como Padroeiro dos Caçadores, no séc. XIV e celebra-se Santo Eustáquio no mês de Setembro, por altura das vindimas, enquanto Santo Huberto é no mês de Novembro.
Ambos foram grandes aficionados da actividade venatória, que a renunciaram, precisamente, para venerarem a ordem celeste e aqui encerram um grande paradoxo, pois não deixa de ser curioso que, em nome desta recusa, tenham sido aclamados patronos da caça.
O veado das dez pontas, que também se encontra representado na iconografia cristã,  é, na verdade, o glorificado em toda esta narrativa, pois foi diante dele que o caçador se curvou e humildemente se ajoelhou.

3 de agosto de 2010

Representante da República para os Açores Entronizado pela C.G.C.

No dia 01 de Agosto de 2010, nas instalações do Clube Cinegético e Cinófilo (CCC), sitas no bonito e aprazível Lugar das Fontinhas, na ilha Terceira, a Confraria de Gastronomia Cinegética dos Açores procedeu a mais uma cerimónia de entronização de novos Confrades, cabendo a vez ao Senhor Eduardo Ávila (Camarão) e ao Juiz Conselheiro Dr. José Mesquita, actual Representante da República na Região Autónoma dos Açores e um Verdadeiro Caçador.

O evento, onde também estiveram presentes os representantes da Confraria do Vinho Verdelho, muitos caçadores e familiares, oriundos de diversas Ilhas deste arquipélago açoriano, foi precedido por um merecido repasto - como não podia deixar de ser, constituído exclusivamente por pratos de caça, cozinhados no CCC, entre os quais se destacaram a canja de pomba da rocha, as alcatras de coelho, perdiz e javali, codornizes à caçador, pombas da rocha assadas, galinhola à nossa moda e coelho frito, por todos muito apreciados e degustados, a que se seguiu uma saborosa sobremesa com meloas de Santa Maria.

A Confraria de Gastronomia Cinegética dos Açores é a primeira do género, de Portugal, e tem como Objectivos, entre muitos outros, valorizar a componente social da caça, preservar e divulgar o património gastronómico confeccionado a partir de espécies cinegéticas dos Açores e do País.

Texto e foto da autoria de Gualter Furtado

1 de agosto de 2010

Separar o Trigo do Joio

Estamos cada vez mais distantes do verdadeiro sentido da caça, e, este é um facto indiscutível.
A caça, por seu turno, encontra-se no centro, entre dois extremos, cada vez mais pronunciados e distantes um do outro. Vivem eles das meias-verdades que debitam vigorosamente e dos argumentos que utilizam para se agredirem mutuamente. Refiro-me aos grupos extremistas pro-caça e anti-caça, respectivamente.

Estes últimos não são os únicos a representarem uma séria ameaça à existência da actividade venatória. Os primeiros também o são! E isso deve-se à incapacidade que temos vindo a demonstrar, hoje em dia, mais do que nunca, de nos organizarmos e estruturarmos à volta dos mesmos objectivos, dos mesmos valores éticos e morais, pelo que há muita coisa a correr muito mal.
A caça furtiva é apenas uma delas e não é só por ser um acto ilegal, pois também persistem actividades venatórias lícitas que não são menos prejudiciais, como por exemplo a caça aos troféus, a caça em terrenos vedados, os concursos de caça, o emprego abusivo das novas tecnologias, a exposição desrespeitosa dos animais abatidos ou mesmo o comportamento altamente reprovável de alguns ditos caçadores quando se pavoneiam  no campo munidos de uma arma de fogo.
Tudo isto contribui para que nos dividamos ainda mais e força alguns Caçadores mais conscienciosos e responsáveis a afastarem-se da Caça, muitos deles convertendo-se em não-caçadores ou mesmo a serem frontalmente anti-caça.
Não é assim que se desperta o interesse nas camadas mais jovens, nem é assim que desarmamos os opositores.

O Verdadeiro Caçador terá que fazer um esforço e reencontrar dentro de si o "fogo sagrado", responder a uma única e simples pergunta: porque é que "eu" caço?

Se chegarmos à conclusão que o fazemos porque somos os mais recentes representantes de uma longa linha de predadores, cuja origem se perde no próprio tempo; que o fazemos em parceria com a natureza, pelo desafio dos nossos próprios limites; para aprendermos sobre a nossa verdadeira identidade e sobre o mundo que nos rodeia, de uma maneira que só a caça nos pode ensinar; para aceitar a responsabilidade pessoal das mortes que provocamos, sabendo que as mesmas nos providenciarão o alimento que necessitamos; para nos integrarmos no mundo natural e sentir essa sensação como se de uma experiência espiritual se tratasse, então estaremos a contribuir para um mundo melhor, a desenvolvermos o nosso próprio ser e, finalmente, estaremos prontos para responde-la, conscientes que essa resposta nos fará ser mais exigentes connosco e com os outros.

Bibliografia consultada: "A Hunter's Heart", de David Petersen

14 de maio de 2010

Os Amigos da Onça

É com relativa facilidade que se encontram diversos pontos em comum e mesmo convergentes, defendidos por caçadores como pelos ditos “ambientalistas” e “amigos dos animais”.
A título de exemplo evoco apenas o da preservação das espécies e do meio ambiente; o do combate à caça furtiva ou o anseio de prevenir e reduzir o desnecessário sofrimento dos animais.
Todos esses objectivos são abraçados tanto por uns, como pelos outros. Porém, enquanto os caçadores assumem a existência dessa associação de interesses de forma livre e espontânea, já o mesmo não se passa com os ditos “ambientalistas” e os tais “amigos dos animais” que a recusam e negam veementemente, i.e., pura e simplesmente não aceitam que possa existir esse tipo de ligação ou qualquer tipo de convergência com os caçadores, que consideram ser um grupo marginal constituído por bárbaros, criminosos, violentos e de assassinos, adjectivos esses que fazem por repetir incessantemente.


Naquilo a que Freud designou por “grupos primitivos”, podemos encontrar uma explicação para esse comportamento e, de certo modo, tentar perceber a necessidade desses grupos anti-caça agirem deste modo tão peculiar.
De acordo com esse psicanalista austríaco a intensificação dos efeitos e a inibição do intelecto são as características basilares dos “grupos primitivos”.
Nesses grupos, ao mesmo tempo que lhes é solicitado que analisem os problemas, pedem-lhes também que desistam do seu pensamento crítico individual e que sigam, sem questionar, os seus líderes carismáticos. Podemos encontrar nos comícios políticos ou nas manifestações violentas dois destes exemplos.


Os “grupos primitivos”, baseiam-se assim - toda a sua existência, na manutenção de emoções fortes e de paixões exacerbadas, daí a necessidade de manterem um agente catalisador e um alvo para onde possam direccionar e arremessar alguns dos sentimentos que os alimentam, como o da frustração, o da inveja ou mesmo o do ódio. O objectivo é manter o caldeirão em permanente ebulição.
Os caçadores parecem ser um alvo favorável, não só pelo que sentimos e constatamos diariamente, mas também pelo que é publicitado e transmitido através dos media, o que resulta numa tentativa constante e doentia de estigmatizar a caça.
Constata-se assim que alguns dos ditos “ambientalistas” e “amigos dos animais” mais extremistas, elegeram a caça como o elo mais fraco dos seus alegados oponentes e também se compreende a razão de não aceitarem sequer a hipótese de poder existir algum tipo de ligação ou de convergência com os caçadores, por mais evidente que esta se possa apresentar, pois se a considerassem, acabavam por se extinguir mais depressa do que as espécies animais que tanto alegam querer proteger da destruição!


Há muito dinheiro a rolar e a alimentar estes tipos de conflitos. Não há nada melhor do que uma boa controvérsia para se declarar uma crise e quanto maior, melhor. Os advogados sabem-no e alguns ditos “activistas sociais” também. Alguns chegam mesmo a fazer dessas disputas um modo de vida, de projecção social e política, mais uma maneira de pagar as contas, pelo que tratam de engendrar organizações e de financia-las, para finalmente poderem enfrentar e combater os bodes expiatórios,… os tais que eles próprios criaram!


Bibliografia consultada: "In Defense of Hunting", de James A. Swan, "Maquiavel em Democracia", de Edouard Balladur e "O Príncipe - Maquiavel", tradução, introdução e notas de Diogo Pires Aurélio.

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