14 de novembro de 2007

Licença Para Caçar do Ano de 1964

Trata-se da licença para caçar, que a Câmara Municipal de Vila do Porto cedeu a meu pai em 1964.

Hoje, é concedida pelos serviços florestais deste concelho e note-se que era válida em todo o país, sendo actualmente organizada em "Ilha","Regional" e "Nacional", não podendo a de "Ilha" caçar noutra ilha do arquipélago, que não a de emissão, e à "Regional" caçar no continente ou na madeira, sendo apenas válida para os Açores.

12 de novembro de 2007

Dois Cães

Relembro dois cães que, nas décadas de 50 e 60, do século XX, palmilharam os terrenos de caça de Santa Maria, dando a tiro muitas perdizes, codornizes e coelhos que o meu avô e o meu pai umas vezes faziam o favor de acertar e outras falhar...

Da perdigueira, acima, adquirida a um oficial da força aérea dos Estados Unidos, em serviço na base, aqui existente à data dos factos, recordo uma multa, de 480$00, que meu pai teve que pagar na Esquadra da PSP do Aeroporto - isto em 1962 -, por ter parado algumas perdizes destinadas ao director do aeroporto.

Sobre esta "aventura", há cerca de 10 anos, tive a oportunidade de ler o auto de transgressão, manuscrito ainda, e com muita pena minha não me lembrei de solicitar uma cópia, afinal também faz parte destas recordações.

11 de novembro de 2007

Álbum de Fotografias

O meio de transporte tem sofrido enormes alterações desde a invenção da roda, mas nenhuma foi tão significativa como a que ocorreu no séc. XX e o mesmo aconteceu com as idas e vindas das jornadas de caça ao longo da história.

As fotografias retratam o MG TC Midget, de 1947, e o motociclo do fabricante BSA, de 500cc, que conduziram o meu pai nas suas expedições venatórias por esta ilha de Gonçalo Velho, até aos inícios da década de 70, da última centúria.



Ao lado, e abaixo, está retratado o meu avô com o Morris e o Ford, respectivamente.











Actualmente estão em voga os veículos todo-terreno, de vários modelos e feitios, mas certamente, e concordará o leitor comigo, sem a classe e o estilo doutros tempos.

5 de novembro de 2007

Abertura Novembro de 2007

Ontem, finalmente, celebrou-se a abertura geral da caça que nos permite exercer o acto venatório em toda a ilha. Assim ditou o calendário para o dia de ontem.

Escusado será dizer que a noite de véspera foi muito mal dormida e que, apesar de saber de antemão com que condições climatéricas nos iamos deparar, a chuva que caia pelas 22H00, não me deixava sossegar e apesar de ter colocado o despertador para as 05H15, muito antes já me encontrava a pé e reforçado o quebra jejum.
Quando saí, o céu encontrava-se escuro, coberto e carregado, quase a sufocar não fosse o vento moderado, de leste, que se fazia sentir, por vezes com rajadas. O panorama não era animador, pois havia chovido durante a noite e o vento era novo.

No dia anterior estacionei o atrelado em frente ao canil, pelo que os cães, adivinhando uma data especial, também me esperavam com ansiedade. Não levei a Giesta nem a filhota, que fará no dia 7 três meses, porque esta última desenvolveu uma técnica que lhe permite transpor a rede do canil sem muita dificuldade, bastando-lhe meter a cabeça e rodar as patas traseiras. Pensei que se levasse a mãe, teria vontade de nos perseguir, o que não seria do meu agrado, nem tão pouco prende-la. A minha mulher, no regresso, disse-me que a Giesta havia uivado o que lhe tinha parecido estranho, pois nunca o tinha feito...

Chegados ao local pré-estabelecido, ainda escuro e frio, ameaçando chuva, procurámos por coelhos e acabámos por confirmar os nossos receios, que já eram certos, mas, mesmo assim, esperamos convictos e esperançosos, pelas 08H00.
Ouvimos um tiro 5 min antes e o primeiro cerca de 10 minutos depois.
A estouraria que caracteriza o dia não se realizou e os disparos eram poucos, dispersos e espaçados. Em duas horas não ouvimos nenhum e dois caçadores de espreita passaram por nós, de regresso, a zero!
Quem diz que há coelhos é tolo ou mentiroso, apesar de sabermos que naquelas condições vêem-se poucos, mas nunca tão poucos!

Apesar de termos atingido o limite -10/2-, sabemos de grupos que não conseguiram e dos que se dedicam á espreita foram menos ainda.

Fomos devidamente fiscalizados a meio da manhã e com agrado verificamos o detector de chips em funcionamento. Uma mais valia!

Satisfeitos, arrumámos as escopetas por volta das 12H00, com a conta feita e muito cansaço, mas não se iluda o leitor, porque nem por isso deixamos de sentir preocupação e apreensão com a falta de coelhos, que já é muito grave e com o pouco, ou mesmo nenhum esforço realizado para evitar ou minorar esta situação degradante. É revoltante!

Á Polícia Florestal desejamos um bom trabalho e a todos os caçadores responsáveis e cumpridores votos de uma excelente abertura!

21 de outubro de 2007

9 de setembro de 2007

Ave Migratória

Esta ave, forasteira, na companhia de mais duas da mesma espécie, foi avistada hoje, no lugar de Acácias. Muito provavelmente foram desviadas da sua rota de migração por ventos fortes.

30 de agosto de 2007

Óculos de Protecção

Todos os anos tomamos conhecimento de acidentes com armas de caça, seja através de contactos inter-pessoais, quando nos relatam situações na primeira pessoa ou através dos meios de comunicação.

Não menos grave, nem de menor importância são as consequências que poderão advir para a integridade física da vítima. Sabemos, dadas as características das armas de caça, daquelas vulgarmente denominadas "caçadeiras", desde que nenhum órgão vital seja danificado, haverão sempre probabilidades de sobrevivência. Porém, mesmo a distâncias muito largas, quando os olhos são atingidos pelos pequenos bagos de chumbo, a cegueira será tão certa como a deterioração posterior da qualidade de vida do acidentado, pelo que a adopção de comportamentos de segurança deverá ser uma realidade em cada caçador, que deve incorporar, a par de vestuário e calçado adequados, óculos fabricados propositadamente para utilização na caça, com capacidade para proteger a vista de projectéis directos ou de ricochetes tão comuns nos terrenos rochosos.

São vários os modelos colocados à venda, sobretudo nas espingardarias e também diversas as soluções, mesmo para lentes graduadas.
A armação é usualmente de plástico e as lentes são fabricadas numa resina extremamente durável e resistente, denominada EPOXY, proveniente da tecnologia espacial, como testemunha a imagem do lado, resultado de um teste que efectuei numas lentes com as características mencionadas, disparando uma carga de 32grs, de chumbo n.º5, a dez passos de distância.
Dada a violência do impacto só consegui recuperar as peças que constam, por ter perdido rasto das restantes, porém permanece bem visível a capacidade do material.

Precavendo-nos e diminuindo o risco de acidentes evitaremos acusações e críticas negativas que, nos tempos actuais, nos são bastante prejudiciais e pugnamos pelo desenvolvimento desta actividade que acarinhamos.
Não esqueçam os óculos de protecção!

24 de agosto de 2007

Gestão da Codorniz em São Miguel

Em 2006, na Ilha de São Miguel, efectuou-se um repovoamento de 2738 codornizes, produzidas no Posto Cinegético das Furnas, e que 10% das aves caçadas naquela ilha foram provenientes do projecto de reprodução de codornizes em cativeiro, que os Serviços Florestais dos Açores têm vindo a desenvolver neste arquipélago.

Informação retirada do portal Santo Huberto

18 de junho de 2007

II Prova de Santo Huberto

Nos dias 6, 7 e 8 de Julho terá lugar a segunda edição da prova de Santo Huberto, nesta ilha, levada a cabo pela associação de caçadores local, com o apoio de diversas entidades públicas e privadas.

PROGRAMA

6 de Julho

21H00, Hotel Santa Maria
- Sorteio das Séries
- Jantar* de recepção aos concorrentes

7 de Julho

07H30, Caminho Velho de Santana/Risco
- Concentração dos concorrentes no local da prova
08H00
- Início
13H30
- Almoço*, Copeira de São Pedro
18H30, Hotel Santa Maria (Entrada Livre)
- Conferência sobre a nova lei da caça nos Açores, pelas oradoras Dr.ª Lurdes Lindo, Adj.ª do Gabinete do Secretário Regional da Agricultura e Florestas e Eng.ª Helena Lima, Chf. Divisão Caça, Pesca e Parques da Direcção Regional dos Recursos Florestais
- Conferência sobre o novo regime de uso e porte de arma de caça, pelo orador Dr. Carlos Ferreira, Comissário da PSP

8 de Julho

07H30
- Concentração dos concorrentes no local da prova
08H00
- Início da prova
14H00, Hotel Santa Maria
- Almoço*
- Entrega dos troféus

*O valor da inscrição, que inclui o jantar de recepção aos concorrentes, a participação na prova, o almoço e a cerimónia de entrega de troféus, é de €80, acrescidos de €30 se houver acompanhante.

Quem desejar apresentar-se somente nas refeições, paga o mesmo e dá-se como desistente da prova, o que não possui qualquer nexo, afastando deste modo o caçador mariense do convívio, que o vê cada vez mais como uma actividade elitista e desinteressante, contrária á mensagem que deveria transmitir, que seria de sensibilização para a perdiz vermelha, aprendizagem, convívio e sã camaradagem.

Se no ano passado falhou gravemente a divulgação e este apresenta-se assim é porque deve ser mesmo só para alguns,... Será?

25 de maio de 2007

Aprovado Regime Jurídico

O Parlamento açoriano aprovou hoje, na especialidade, o diploma que estabelece nos Açores o regime jurídico da gestão dos recursos cinegéticos.

Proposto pelo Governo Regional, este novo regime jurídico, que vem substituir legislação de 1994, dispõe, igualmente, sobre a conservação e fomento dos recursos cinegéticos e os princípios reguladores da actividade e da administração da caça nos Açores.

Com esta iniciativa, o executivo pretende, antes de mais, adequar a legislação às “necessidades emergentes da realidade cinegética da Região, potenciando uma actuação mais eficaz por parte de todos os agentes intervenientes no mundo cinegético”.

Segundo o diploma, os terrenos de caça no arquipélago podem ser sujeitos quer ao regime ordenado quer ao regime não ordenado, sendo também reconhecido nas ilhas o “direito à não caça” nos termos a definir em regulamentação posterior.

O texto determina, também, que no ordenamento dos recursos cinegéticos deverá observar-se os “princípios da sustentabilidade e da conservação da diversidade biológica e genética”, sendo certo que a sua exploração ordenada, por constituir um factor de riqueza regional e de valorização do mundo rural, “deve ser estimulada em toda a Região”.

Este Decreto Legislativo Regional consagra, igualmente, o princípio de que os recursos cinegéticos, enquanto património natural renovável, “estão sujeitos a uma gestão optimizada e ao uso racional com vista a assegurar uma produção sustentada”, no respeito pela conservação da natureza e do equilíbrio biológico.

Notícia retirada do Portal Santo Huberto

18 de maio de 2007

Cães Selvagens

*

É assim que a população mariense denomina os vários cães, não menos de sete, que habitam, vivem e reproduzem na orla costeira ocidental da ilha, desde os Cabrestantes, a Norte, até ao Campo Pequeno, a Sul, passando pelo Campo Grande, a Oeste.

São rafeiros, traçados, cruzados provenientes de várias raças, pintados de várias cores e feitios diferentes, que deambulam numa área geográfica perfeitamente definida, que engloba igualmente a pista e a placa do aeroporto da ilha, alimentando-se de restos de comida, ouriços cacheiros e doutros animais de pequeno porte, como o Coelho Bravo - peça cinegética base da caça em Santa Maria, e, importante recurso económico - que caçam em matilha e com elevada habilidade, sem desprezarem os ovos do Cagarro e os juvenis desta espécie, quando não assaltam ovinos e bovinos, originando graves prejuízos, ou mesmo pessoas, como já aconteceu por diversas vezes.

A existência destes canídeos, há mais de duas décadas, advém daqueles que Gualter Furtado refere no seu livro "Um Caçador Açoriano" e apelida de "vadios", desresponsabilizando os cães do seu destino e culpabilizando os "donos" e alguns ditos "caçadores", sobretudo de fora, que os trazem com 4 a 6 meses e aqui ficam "esquecidos" por falta de aproveitamento.

Embora de raça indefenida, apuraram um conjunto de características que os tornaram predadores invulgares e temidos, tomando um território e tudo o que nele se encontra como seu.
A capacidade de adaptação que demonstram não me deixam indiferente.

Ainda está bem viva na memória a contestação que sofreu a medida da A.N.A. em promover uma sessão de tiro ao Milhafre(Buteo buteo) na área do Aeroporto João Paulo II em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, apesar de ser uma espécie protegida, como medida preventiva de acidentes aéreos, pelo que urge encontrar um consenso com todas as partes interessadas, e onde os caçadores devem fazer-se representar, para que não aconteça o mesmo neste.

Em Santa Maria os cães selvagens depredam a fauna, como o Cagarro, que é uma espécie protegida e nos Açores representa cerca de 74% da população mundial da subespécie Calonectris diomedea borealis e 52% da espécie Calonectris diomedea, o coelho bravo, que é uma espécie cinegética importante, que urge preservar e proteger, a propriedade privada e representa um perigo para a livre circulação de pessoas que se aventuram nos seus domínios, bem como para o tráfego aéreo, na aterragem e descolagem das aeronaves, pelo que existe a necessidade em encontrar uma solução que passe pela sua captura, quanto antes e antes que seja tarde.

*Fotografia recente, cedida por autor que deseja preservar a sua identidade

10 de abril de 2007

Reforço de Espécies Cinegéticas

O GaCS/AP, em nota informativa de 04ABR07, informou que o Governo Regional vai enviar ao Parlamento açoriano uma proposta de diploma que pretende reforçar o povoamento da Região em espécies cinegéticas e aperfeiçoar e clarificar a regulamentação sobre o exercício da caça nas ilhas.

De igual modo, referiu que a iniciativa legislativa do executivo de Carlos César foi aprovada no Conselho do Governo de terça-feira e tem em vista a criação de condições para a dinamização da caça e para o aparecimento de novas oportunidades de organização associativa e de exploração dos recursos cinegéticos regionais.

Na elaboração da proposta que remeteu ao Parlamento, o Governo ouviu os vários parceiros do sector, terminou salientando o referido comunicado.

Veremos o que irá acontecer, no futuro imediato, com a norma que permite a caça ao coelho na Ilha do Pico e na ilha das Flores, ao candeio e sem limite, porque não fará qualquer sentido, por um lado, apresentar medidas no papel, para reforçar as populações cinegéticas, enquanto, na realidade, por outro, pratica-se o seu extermínio.

4 de abril de 2007

Atribuição de Terreno

Na edição mensal d"0 Baluarte", datado de 3 de Abril, vem publicado um artigo intitulado "Caçadores Marienses Satisfeitos Com Governo Regional".

O contentamento, e não é para menos, advém da atribuição, por parte do executivo açoriano, à Associação de Caçadores da Ilha de Santa Maria, de um terreno com 1290m2, sito no lugar de Salvaterra - Vila do Porto, para a construção da nossa sede social, conforme refere o comunicado do Conselho do Governo.
É uma excelente novidade proveniente do G.R., que aguardamos com ansiedade a sua realização fisíca!

No texto mencionado, vem ainda referido que será efectuada a segunda edição da Prova de Santo Huberto, bem como a execução de um festival de caça genuína e uma vontade expressa de levar as coisas avante: "vamos fazer como as outras associações e clubes, vamos pedir apoios e patrocínios", afirmou o presidente da associação, que caracteriza o momento como "este novo ciclo, esta nova viragem".

Aves Migratórias

São fotos, obtidas na zona do Aeroporto, ao longo de 15 dias, no mês passado, de algumas aves - não de todas - que, devido a razões de ordem variada, sobretudo ventos fortes e contrários, demandam esta terra de Gonçalo Velho ao longo de todo o ano, embora se registe uma maior afluência na estação de Inverno.

25 de fevereiro de 2007

Piedade 2005

No seguimento do "post" abaixo, em que venho recuperando alguns textos passados, deixo este também, produto de uma jornada ocorrida há dois anos atrás, em meados do mês de Setembro.

Pus-me a caminho por volta das 05H45. Era ainda noite e o céu apresentava-se encoberto, enquanto a temperatura permanecia amena. A humidade do ar era sufocante, característica daquela época.

Cheguei ao terreno passados 45 min., depois de percorrer, no final do percurso, uma estrada de terra batida, em muito mau estado, numa extensão aproximada de 1km.
A última vez que tinha caçado no sopé do Pico da Piedade foi há 3 anos, pelo que esperei que amanhecesse para observar melhor o espaço circundante e, daí, poder partir à procura de indícios que me ajudassem a compreender, de algum modo, os hábitos da população de coelhos lá residente.
Sentado numa encosta, aguardei pelo testemunho do novo dia.

Os cartuchos que levei, tinha-os há um bom par de anos e eram destinados aos patos que fazem a sua aparição anual nos poços da costa Oeste de Outubro a Dezembro. Ainda me sobravam duas caixas deles e pensei usa-los, pois alguns já apresentavam focos de ferrugem na copela, que limpei de véspera com um pouco de óleo e palha d'aço. Ficaram a brilhar, melhor do quando novos!
Nascido o dia e depois do cão dar umas corridas, esticar as patas e mudar a água às azeitonas, fomos procurar vestígios da presença de coelhos e sinais dos seus comportamentos. Num barreiro de terra vermelha, tivemos a sorte de encontrar alguns indícios que nos proporcionaram bons rastos e, depois de seguidos, bons tiros.

O vento era velho, de três dias, e fraco. Então, com calma e sem pressa, acabámos por bater toda a área com alguns sucessos e outros nem por isso.

Arrumámos a trouxa por volta das 11h30, com o sol a pino e regressámos cansados, mas satisfeitos por mais uma jornada!

24 de fevereiro de 2007

Coelho Trepador

Passou-se numa distante Quinta-feira, do mês de Agosto de 2005.
Acordei pelas 05h30. Já tinha o material todo preparado de véspera, pelo que, da cama para o terreno de caça, pouco demorei.
No local, cheguei a tempo de vislumbrar os primeiros raios de sol, que acabavam de despontar.

Esperei que passassem mais alguns minutos e assim que entendi, montei a espingarda, engatei o cinturão, soltei o Roquete e libertei o espírito ao mesmo tempo que me deixei envolver na imensidão de montes e vales, repletos de cores, de cheiros e sons que o Roquete investigou minuciosamente, esquadrinhando todos os recantos da paisagem.

Num silvado, situado num canto duma pastagem, bem protegido dos elementos por muros de pedra seca e bem exposto ao calor dos primeiros raios de sol, o cão ladrou, ganiu, saltou e por fim decidiu-se a mergulhar no emanharado de folhas, ramos e espinhos, que balançaram para todos os lados, devido ao drama do predador e da presa que se desenrolava no interior. Coloquei-me em posição, que até era boa, e esperei inquieto e suspenso.

Tratava-se de um terreno, numa encosta, que descia em escada até chegar a um precipício, de basalto negro e de terra vermelha, que caía na vertical em direcção ao mar. Era também rasgado por um ribeiro, mas não lhe perdia a vista sobre toda a sua extenção do lugar onde estava. Só não vislumbrava para lá da parede de pedra, que era alta e bem fechada, que protegia a moita, mas que o coelho não conseguiria, jamais, transpor. Asseverava eu!
Só poderia correr para mim ou para baixo e, em ambas as situações, conseguiria atirar bem e com êxito, disto me convencia, pelo que me deixei permanecer e aguardei inquieto e suspenso.

Finalmente saiu do silvado, sustendo tão desalmada correria a um metro da sarça e bem à minha frente, a cerca de 10 metros. Por detrás estavam as silvas e nelas o Roquete que lhe seguia o rasto frenética e ruidosamente. De imediato e sem pensar alinhei-o com 30gr de chumbo, mas optei por não arremessa-las. Não seria justo, nem seguro para o podengo, que não tardaria em aparecer e é de bom sangue fuzilar o coelho daquela maneira.

O tempo parou e, nesse instante, que se fosse transposto para o tempo dos relógios, duraria, bem à vontade, uma hora, o coelho olhou para mim e com um salto apoiou-se numa pedra, depois noutra e assim foi subindo o muro até transpor completamente tal obstáculo de pedra, que tinha bem mais de um metro de altura, embora não fosse exemplo do melhor prumo, e que pensei ser suficiente para desencorajá-lo a seguir naquele sentido.
Tão surpreso fiquei que acabei por não disparar e pelo receio que tive da chumbada poder fazer ricochete naquela parede velha e lá se foi o coelho, que também era velho, e que naquela manhã foi mais sabido do que eu!

Mais à frente, na margem do ribeiro, rebentou outro levantado pelo Roquete que o seguiu. Decidi atirar. Se acertasse, segurava-o com o segundo, mas falhei e acabei por conservar um cartucho. Foi uma boa decisão, porque a espoleta acabou por ter melhor destino, mais tarde, nessa mesma manhã.

Levei da Browning Cinergy, que me cativou desde o lançamento, mas por muita qualidade e boniteza que exibisse, nunca me permitiu o gozo e as alegrias que tive com a Beretta 686, anterior, e que tanto me arrependi de tê-la vendido. Acabei por ceder a Cinergy, porque detestei a assistência da marca e nunca me avezei àquela coronha (tipo lombo de javali), que me surpreendia toda a vez que disparava, pois desconhecia sempre a direcção e o desfecho da chumbada.

Já não recordo a espingarda nem possuo o cão que me acompanhou, mas esse coelho ainda vive e é bem real na minha memória, devido ao lance e à qualidade da lição que me deixou!

21 de fevereiro de 2007

Coelho vs Horta

O agricultor que, depois de muito esforço e investimento na realização da sua cultura, vê-a danificada ou destruída devido aos coelhos, concerteza que não ficará satisfeito, pelo que devemos compreender e desenvolver energias para evitar esse prejuízo, em vez de olhar para o lado e fazer de conta que não nos diz respeito.
É em virtude deste comportamento ou de outros semelhantes que, de há cerca de 2 anos, somos pressionados e prejudicados nos nossos interesses.

Dirão alguns, e com razão, que parte importante da responsabilidade dos danos, advêm dos próprios lavradores que, desleixados, não limpam a vegetação e os entulhos das orlas, das cercas, gerando condições propícias para o estabelecimento e desenvolvimento dos coelhos.
A outra parte surge do facto das batidas serem solicitadas aos serviços competentes quando as culturas estão a emergir do solo, apresentando os rebentos suculentos que os coelhos tanto adoram. Autorizadas as batidas, estas são quase ou tão nefastas para as plantas e para os vegetais quanto os coelhos, em razão da acção dos cães e dos caçadores, que acabam por esmagar, espezinhar e partir o que se encontra à superfície.

Porque parece que persistem os actos e os seus efeitos, acima descritos, foi introduzido, o n.º1, do Art.º 3º, no actual calendário venatório, que permite caçar o coelho nas Quintas-Feiras, Domingos e Feriados Nacionais e Regionais, desde o nascer do sol até ao pôr do sol, com o limite de 15 (quinze) peças por dia e por caçador.
O raciocíno subjacente foi: se matar 7 não resultou, matar 15 já deve resultar e para a nova época tudo parece indicar que será: se 15 não resultou, veremos se com 30 e assim por diante, enquanto, muitas das vezes, a perca que se verificou numa horta foi provocada por apenas uma coelha, que ali encontrou as condições ideais para construir a sua lura e alimentar a prole.
O pior é que só se chega a essa conclusão, como já se chegou muitas vezes, depois de autorizada e realizada uma autêntica carnificina!

20 de fevereiro de 2007

Os Coelhos da Ilha

Nesta tarde aproveitei para verificar a veracidade do que me têm contado sobre a inexistência de coelhos na zona de Cabrestantes, o que infelizmente acabei por verificar no local. Só tive a oportunidade de avistar um coelho ao longe o qual, em virtude de manifestar um comportamento nervoso, denotou não desfrutar de uma vida tranquila, apesar do local estar interdito à caça desde o fim do ano passado.

Parece que há alguém que caça entre o lugar do Polígono e dos Anjos com alguma regularidade e suspeita-se que a jantarada recentemente realizada, para os lados do Aeroporto, foi feita com coelhos caçados furtivamente na área da Mobil.
Se souberem alguma informação relativa a esses bandidos, por favor enviem-ma para o e-mail.

Em contraste com o panorama desolador da ilha, e a título de curiosidade, este grupo, com cerca de uma dúzia (+/-) de indivíduos, vive em paz e prospera bem próximo de uma urbanização, onde os furtivos não se atrevem.

Desta simples comparação poderíamos facilmente concluir que a caça furtiva se apresenta como uma das principais causas da diminuição, desaparecimento e mortandade da comunidade de coelhos bravos desta terra. O problema é que não se consegue quantificar e qualificar o prejuízo que os furtivos provocam!

30 de janeiro de 2007

Uma Espécie de Balanço

A Abertura Geral teve o seu início no primeiro domingo de Outubro, que coincidiu com o primeiro dia daquele mês.
Os diversos grupos espalharam-se pela parte oriental de norte a sul, desde os Cabrestantes ao Campo Pequeno. Aos poucos, e debaixo da intensa chuva que caracterizou toda amanhã, foi se fazendo o cinto, mas cedo se constatou uma menor densidade de coelhos, se compararmos com a época anterior, a qual já foi preocupante.

Lamentável também foi constatar a existência de comportamentos inadequados, à semelhança dos anos transactos.
A falta de educação e de civismo que ainda caracterizam muitos daqueles que para aqui se deslocam, sobretudo na destruição das paredes de pedra solta, danos nas propriedades e lixo que deixam ficar abandonado nos lugares por onde passam é, de todo, censurável! É escumalha que não interessa a ninguém!

As jornadas seguiram-se umas às outras e a cada dia de caça foi notório a redução do número de peças encontradas e abatidas.
É o furtivismo dizem uns, são as doenças dizem outros, o facto é que não há dúvidas que a população de coelhos é cada vez menor e que os que subsistiram aparentam já não possuir capacidade de repor os que foram cobrados.
A culpa não é outra senão do furtivismo, das doenças e, sobretudo desta, da falta de gestão.

O que se fez até agora foi reduzir e impôr limitações.
Foram no número de peças, no horário de caça, foram na área de caça disponível.
Está à vista de todos, daqueles que têm olhos na cara e querem ver, que não está a resultar e não está, porque as medidas não foram complementadas por outras igualmente importantes, como a criação de habitats, fornecimento de alimentação, criação de zonas protegidas, reintrodução da perdiz, reforço populacional da codorniz, entre outras e todas elas venho defendendo há já bom tempo.

Esta realidade não pode nem deve perdurar ou a caça do coelho desaparece em Santa Maria, como já desapareceu a perdiz vermelha.

27 de janeiro de 2007

Relato da Abertura Geral 2004/2005

A Abertura Geral ocorreu a 10 de Outubro, em resultado da proposta formulada pela Associação de Caçadores da Ilha de Santa Maria, que incluiu a diminuição de 10 para 7 peças* e a redução do horário de caça até ao meio-dia* como medidas urgentes, necessárias e temporárias para fazer face a uma época anterior caracterizada por intempéries, doenças e furtivismo que reduziram significativamente a população de coelhos bravos.

Apesar das limitações, 120, menos 10 do que na época anterior, dos 177 caçadores residentes, mais 9 do que no ano transacto, renovaram as suas licenças.
Aderiram representantes de todo o país, principalmente a partir de 08 de Outubro, aquando do desembarque de 140 devotos, acompanhados pelos seus cães, do “Golfinho Azul”, navio que estabelece as ligações marítimas inter-ilhas.
Na mesma data, menos de três dezenas escolheram a via aérea.

O Sr. Alfredo Leitão, reformado, 80 anos, proveniente de Cinfães do Douro, Viseu, regressou pela segunda vez, porque nas suas palavras “adoro a caça e o ambiente que a envolve”. Fez-se acompanhar do seu filho, Osvaldo, de 43 anos, que exclamou, ao mesmo tempo que soltava uma gargalhada: “esta é a segunda vez que venho, mas não há-de ser a última. Em Santa Maria, por o terreno ser plano, os coelhos correm muito depressa!”. Por sua vez, o Sr. Silvino, reformado, de 69 anos, morador na ilha de São Miguel, operado às cataratas por 2 vezes e mesmo assim uma das melhores espingardas do seu grupo, concluiu: “esta é a décima ou décima segunda abertura que faço aqui e para o ano voltarei!”.

A jornada ocorreu sem acidentes, para o que contribuiu a acção dos agentes da Polícia Florestal, cuja presença fez-se notar desde o cais de desembarque e da aerogare, facultando conselhos e indicações úteis a todos os interessados e aos mais distraídos.
Efectuaram 152 fiscalizações, sem registar qualquer infracção e contabilizaram 1028 coelhos cobrados.
Menos 1 contra-ordenação e menos 872 coelhos do que na abertura anterior.

Constatei maior responsabilidade no cumprimento das normas de segurança, o uso crescente de vestuário fluorescente, de protectores auriculares, bem como harmonia entre caçadores e os seus cães, momentos de amizade, companheirismo e gentileza, que por serem menos comuns merecem destaque, como a oferta de 1 cartucho, por vezes “esquecidos” sobre o solo, depois de detonados, a quem segurou uma peça ferida atirada por outro.

Não posso deixar de expressar apreensão em relação ao futuro, quando verifico que o número de caçadores supera anualmente todas as medidas locais no sentido de tornar a caça o elemento de gestão, conservação, estabelecimento da biodiversidade e desenvolvimento que deve ser, sob pena de perder-se este importante recurso natural e económico.

Santo Huberto, mesmo assim, proporcionou-nos uma manhã nublada, com vento fraco, de sul e uma temperatura amena, repleta de peripécias que recordarei e para as quais contribuíram todos os caçadores praticantes da boa ética venatória, das normas legais em vigor e do respeito que a natureza reclama.

*Acções propostas e difundidas por mim, numa crónica semanal que tive na estação radiofónica do Clube Asas do Atlântico.

Uma parte deste texto foi publicado na revista Caça & Cães de Caça em finais de 2005

21 de janeiro de 2007

A Foice de Caça

Como referido anteriormente a foice de caça de Santa Maria possui características próprias e diferentes das construídas nas outras ilhas do arquipélago e mesmo no continente português, nomeadamente quanto às dimensões, peso, comprimento do cabo, formato, entre outras, mas estas serão as mais importantes.

A que irei descrever foi-me fabricada neste concelho de Vila do Porto pelo Senhor Hélio Rebelo, pessoa bastante afável, educada e atenciosa, cuja vida profissional nao é a de ferreiro, embora realize alguns trabalhos sempre que solicitado. Foi instruído nesta arte pelo seu pai, desde os tempos de meninice e cuja actividade desenvolveu até ser chamado para o serviço militar, no então ultramar português. Quando regressou optou por seguir outra ocupação que o mantém afastado da forja por largos períodos de tempo.

Quando finalmente teve oportunidade contactou-me, aliás como estava combinado, para poder acompanhar o fabrico da minha foice, que a ele havia encomendado e que aqui irei descrever.

Inicia-se a construção da foice por acender a forja e depois do aço estar em brasa, para melhor ser moldado, inicia-se por encalcar, ou seja tornar plana a face do Alvado, secção onde irá encaixar o cabo.

Assim a foice é composta por 4 partes:

-Alvado
-Corte
-Volta
-Espigão

A Volta, devido à sua configuração, é a mais trabalhosa de efectuar, mas dizia eu que se começa por encalcar...



De seguida procede-se à formação do alvado, o local onde se irá encaixar o cabo...




Poderão ser encontradas peças destas montadas em cabos de madeira de dois tamanhos difrentes.
Um com cerca de 50cm e outro de 150cm.
O primeiro é utilizado com mais frequência pelo caçador que faz uso da espingarda, em virtude da facilidade no seu maneio, enquanto o mais comprido é preferido pelos batedores.

Decorrida a fase do Alvado, inicia-se a do Corte, a parte da lâmina propriamente dita, aquela que o caçador usa para abrir caminho por entre a vegetação agreste.



Só depois dá-se forma à Volta, que foi a tarefa mais longa e esforçada depois da construção do Alvado.




O Espigão é a parte seguinte...





... que depois de formado é dimensionado.


Terminada esta acção temos a foice em bruto, pois falta tempera-la adequadamente e fazer a folha de corte, e só aí sim, o trabalho estará completo. Esta tarefa exige aqueles conhecimentos que se passam de pais para filho e que com toda a certeza o Sr. Rebelo possui dada a qualidade do trabalho final. Interessa salientar que o aço da foice não deve dificultar o seu amolamento, para que o utilizador possa, no campo, com uma pequena lima, manter o gume afiado sem esforço. Daí a importância da têmpera a fim de tornar a foice numa peça de trabalho muito resistente, mas de fácil manutenção.



Finalmente terminada, depois de muito esforço, e pronta a ser montada e utilizada.

O objectivo da foice na caça é o de coadjuvar o caçador na ultrapassagem de obstáculos, alcançar zonas de dificil acesso, prender a peça para ser cobrada e muito raramente como arma de arremesso na caça ao coelho, mas isto só realizado pelos mais habilidosos!

Como são ferramentas típicas e de fabrico artesanal, não existem duas iguais, o que as valoriza ainda mais.

Em Santa Maria e 600 anos depois, ainda se caça ao coelho com foice.
Apesar do seu uso não ocupar a posição de destaque inicial, persiste em proporcionar-nos muita alegria e orgulho por possuirmos um utensílio precioso ao mesmo tempo que nos permite reviver e participar numa manifestação centenária de cultura e de tradição que é a Caça e as suas envolventes.

17 de janeiro de 2007

Um Caçador Açoriano

Finalmente tenho o livro "Um Caçador Açoriano", de Gualter Furtado.

"Ontem, como hoje, para se ser caçador não basta ser-se homem nem gostar de perseguir as presas e abatê-las. Para se ser caçador é preciso nascer com esse dom. Sim, porque o verdadeiro caçador, para se desenvolver, necessita de um meio ambiente propício, mas se não tiver esse dom, nunca mais será um caçador".

Trata-se de um parágrafo, dos muitos que compõem os textos que se desenrolam ao longo das 236 páginas que nos oferece o livro, numa tiragem de 500 exemplares.

Fala-nos o autor do "nosso" saudoso Chefe Lima, da Caçada do Aeroporto, dos irmãos Bragas e fotografias há muitas.

É um livro escrito por um Caçador Açoriano que vale a pena adquirir e ler.

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