22 de fevereiro de 2012

Prenúncio de Morte

No passado dia 19 de Fevereiro de 2012, no decurso da manhã, desloquei-me à costa Oeste da ilha de Santa Maria, com o objectivo de averiguar as informações que me transmitiam e que, infelizmente, acabei por confirmar.
Desde o final do ano passado que sou confrontado com notícias do ressurgimento da doença nos coelhos e que, em face disso, esses animais estavam a morrer em numerosa quantidade, situação que pude constatar pois, numa área inferior a 10 000 m2, detectei várias carcaças, em diversos estádios de decomposição, sendo de tal ordem a devastação que algumas se encontravam aos pares.

A Mixomatose e a Doença Hemorrágica Viral (DHV), cujos vírus foram produzidos pelo Homem, são as moléstias que mais destruição provocam nos coelhos.
A Mixomatose causa a morte entre 4 a 8 dias e é extraordinariamente contagiosa. A sua transmissão realiza-se através dos mosquitos e das pulgas.  
Por sua vez a DHV, que é excessivamente contagiante, transmite-se por contacto directo e indirecto, significa isto que até se propaga através de objectos contaminados, de roedores e insectos. Os sintomas manifestam-se 48h após o contágio e muitas das vezes os coelhos morrem sem apresentar quaisquer indícios, enquanto noutras poderão expor hemorragias pelos orifícios naturais. Este vírus, que é o mais diabólico dos dois, pode conduzir uma população inteira de coelhos à extinção!
Neste preciso momento até os coelhos domésticos estão a morrer em catadupa.

De acordo com informação cedida pela Directora dos Recursos Florestais, Eng.ª Anabela  Isidoro, a doença manifesta-se em toda a Ilha de Santa Maria e têm-se avistado coelhos mortos também por toda a Ilha.
Os primeiros avistamentos datam da última semana de Dezembro de 2011 e verificaram-se na zona alta, mais propriamente na freguesia de Santo Espírito, tendo depois passado para as freguesias de São Pedro e de Almagreira e posteriormente para a zona baixa, principalmente  para os lugares de Ribeira Seca, Cabrestantes e Mobil, tendo sido o último avistamento ontem (21/02/2012).
Na 1.ª e na 3.ª semana de Janeiro de 2012, foram recolhidos 12 exemplares por elementos do corpo de Polícia Florestal e entregues no Serviço de Desenvolvimento Agrário de Santa Maria que os enviou para o Laboratório Regional de Veterinária, o qual procedeu à recolha dos órgãos e os remeteu, entre finais de Janeiro e princípios de Fevereiro, para o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária que procedeu às análises e cujos resultados foram positivos para a DHV,  que se deve à acção de um vírus (Calcivírus) que provoca uma hepatite muito severa e uma ruptura do sistema de coagulação do sangue, pelo que os coelhos sofrem hemorragias internas até morrerem. A doença é extremamente contagiosa para as populações de coelhos selvagens e domésticos.
Acrescentou que os elementos do Corpo de Polícia Florestal têm vindo a recolher coelhos mortos e que até ao momento já procederam à recolha de mais de 500 coelhos, que foram cobertos com cal e enterrados.
Parece que o número de coelhos afectados se encontra em decréscimo pois, segundo a mesma responsável, depois de ter havido um pico de mortes, o número de avistamentos de mortes recentes estabilizou e agora são encontrados um número menor de coelhos mortos recentemente, porém não é fácil identificar a fase de desenvolvimento em que se encontra a doença, porque implicaria um acompanhamento extremamente exaustivo, ao nível do número de animais mortos por dia e por zona, para além de requerer a realização de exames laboratoriais quase diários.
Sendo compreensível a preocupação dos caçadores em acompanhar a situação, através da sua deslocação ao terreno, deixa o alerta que será prudente evitar este tipo de procedimento, uma vez que o mesmo se pode revelar como mais um factor de disseminação da doença para zonas de menor incidência.
Já se encontra assinada uma portaria a alterar o actual Calendário Venatório para a ilha de Santa Maria, através da proibição da caça ao coelho-bravo até ao final da decorrente época venatória que, neste momento, se encontra aberta até ao final de Junho próximo, apenas na zona alta da ilha, no primeiro e no terceiro domingo de cada mês, pelo processo de caça "de corricão" e, aos sábados, pelo processo de caça "de cetraria". Estes processos de caça, embora de menor pressão cinegética, constituem fortes meios de disseminação da DHV, pelo que será desaconselhável a sua permissão.
Disse-nos ainda que qualquer pessoa que encontre um coelho morto, com suspeita de DHV, deverá proceder ao seu enterramento no local onde o encontrou e, em seguida, desinfectar as mãos, vestuário e calçado, ou então colocar o animal num saco de plástico bem fechado e entrega-lo no serviço florestal, para destruição.
Que não se trata de uma doença transmissível ao homem, nem a animais de outras espécies, no entanto não será aconselhável o consumo de carne de coelho bravo.
Conclui a Eng.ª Anabela Isidoro que, em comparação ao anterior surto de DHV na Ilha de Santa Maria, que teve lugar no final da década de 90, este está a ser mais virulento e com mais coelhos mortos.

Perante este cenário muito preocupante e sendo a caça um importante produto da terra, carece a mesma de inúmeros cuidados e de um modelo de gestão racional e adequado, tal e qual como aquele que rege o agricultor que monda as ervas daninhas que surgem nos seus terrenos, sob o risco de, não o fazendo, perder a colheita.  
Nesta perspectiva urge repensar, não só a existência dos calendários venatórios que temos tido na Ilha de Santa Maria, como a própria gestão da caça mariense.  
O resultado das medidas actuais, conjugadas com um clima completamente atípico e muito favorável à reprodução das espécies, traduziu-se no aumento exponencial da população de coelhos bravos e no consequente dispêndio de avultadas quantias monetárias para protecção dos terrenos cultivados, tudo condições geradoras de intranquilidade e insegurança.
O coelho bravo é um factor de conflito e continuará a sê-lo, sempre que for ignorada a sua importância como espécie cinegética e a necessidade de gestão racional dos seus números.
Em Santa Maria é a caça ao coelho bravo aquela que mais se pratica, pelo que qualquer foco de instabilidade, como a mortandade que se verifica actualmente, causa imediatamente um profundo mal-estar.  
Para que se possa minimizar esse efeito deve considerar-se o urgente desenvolvimento de alternativas naturais, como a introdução da perdiz cinzenta, a reintrodução da perdiz vermelha ou repovoamentos de codorniz, modalidades de caça que não devem substituir a caça ao coelho, mas sim complementa-la.

Em face da devastação que podemos constatar, temo estarmos perante uma situação de efeitos deveras catastróficos que, pelos motivos aqui expostos, nos deve levar a repensar, de uma vez por todas e quanto antes, a organização e a gestão da caça neste arquipélago e na Ilha de Santa Maria em particular.


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O Baluarte - 24/02/2012 
Correio dos Açores - 24/02/2012 

12 de fevereiro de 2012

Aves Observadas

Algumas aves que consegui observar e fotografar ontem, das quais saliento as de um dos três falcões que sobrevoam os campos de caça desta bonita Ilha de Santa Maria.
Nestas, em particular, fotografei-o após ele ter capturado um lagarto que acabou por matar em voo, enquanto as restantes fotos foram obtidas na orla costeira.

8 de fevereiro de 2012

Montaria em Mós-do-Douro 2012

A Associação de Caçadores das Encostas do Douro, em colaboração com a Junta de Freguesia de Mós-do-Douro e uma vasta equipa de bons amigos, realizou no dia 4 de Fevereiro de 2012, a XIII Montaria ao Javali de Mós-do-Douro.
O evento, que reúne caçadores de todo o País e de amigos de Mós-do-Douro, já faz parte do património humano, da cinegética nacional e é uma autêntica romaria a um dos locais mais típicos do País onde somos sempre muito bem recebidos e acarinhados pelo Ricardo, Ramiro, Rui, Luís Polido, Presidente da Junta de Freguesia, entre outros.
É claro que a caçada é também um bom pretexto para este reencontro, para saborearmos a fabulosa gastronomia local e encantarmos a vista com a beleza extraordinária que o Douro proporciona a quem com ele se depara.

Este ano fiz-me acompanhar do meu companheiro de sempre o Cremildo Marques, mais conhecido por “Barbas”, e do grande caçador Dr. António Tomás (industrial da famosa fábrica Santana que ao longo dos anos vem produzindo belíssimos azulejos e painéis que muito valorizam o património nacional - mandou fazer um azulejo comemorativo desta Montaria).
O Cremildo com a sua boa disposição e no desempenho de leiloeiro dos javalis cobrados tem constituído uma forte mais valia para a Organização já que os porcos leiloados por ele rendem sempre mais.
Á nossa parte arrematamos 2 porcos (1 pequeno e outro médio) para ajudarmos a Organização e para fazermos um almoço de Javali, que levamos a cabo no dia seguinte, magistralmente cozinhado pelo Luís Polido e sua esposa, que também acabamos por partilhar com o Sr. que teve a amabilidade de nos alojar no anexo das antigas instalações do caminho de ferro de Mós-do-Douro. Ainda sobraram uns pedaços para serem confeccionados em futuros encontros de amigos caçadores.
O dia esteve magnifico, isto depois de um “frio de rachar pedras”, e os cerca de 116 Monteiros, acompanhados por 16 Matilhas, cobraram 16 Javalis, com alguns bons exemplares como o que foi cobrado por um Monteiro sénior (julgo que o seu nome é Marinho) e que se não for uma medalha de ouro fica por lá bem próximo.
A presença de Mulheres Monteiras fez-se também notar, o que enriquece sempre um evento desta natureza, tendo destaque especial a Andreia Catarina.
Figura de relevo foi também a do “Eng.º das navalhas” que este ano nos acompanhou na visita à casa do Sr. Luís Polido e no desmanchar dos javalis. Ele e mais o amigo João Ramiro “fartaram-se de trabalhar”. Esforço altamente apreciado e reconhecido pelo nosso Grupo.
A montaria foi precedida por um esclarecedor discurso do seu Director Pedro Delgado que em breves palavras apelou para o cumprimento das normas fixadas, da segurança, para o espírito desportivo e pela ética. No regresso o almoço foi servido numa sala repleta de gente da caça.
Enquanto observava aqueles caçadores, que ali conviviam em franca amizade, questionava-me sobre o futuro da actividade cinegética a breve prazo, com todas as dificuldades económicas e financeiras porque passa o País e perante as exigências da nova Lei das Armas. Antevejo um futuro muito negro para um sector que quando vivido com ética e segurança é muito enriquecedor.

No dia que se seguiu, e na mesma zona, eu e o Cremildo fomos caçar aos tordos com os “profissionais” Ricardo, João Ramiro, Salgueiro e António Tomás. Segundo estes especialistas o ano está a ser fraco e a culpa é do clima, que está a mudar em todo o mundo, da pressão a que estas aves são sujeitas nos Países onde iniciam a Migração e por onde vão passando antes de chegarem a Portugal, obrigando os tordos a alterar rotas e comportamentos.
Confesso que este tipo de caçada nunca me atraiu muito, já que, para mim, caça que não meta cães é meia caçada, isto não significa que não tivesse apreciado a mestria e a arte de caçar destes nossos amigos e anfitriões.
É impressionante como, com um assobio, trazem eles o tordo lá do alto quase até aos canos da espingarda.
Não era ainda bem meio-dia e para desespero do amigo Tomás já estávamos a abalar para o magnifico almoço de javali que referi. O Tomás bem pregava que estávamos a ir-nos embora na melhor hora - e o Salgueiro bem os derrubava, mas trocar aquele “melrinho”, por um almoço de javali não foi uma decisão difícil, que me perdoe o amigo Tomás (um companheiro formidável).

No fim do almoço ainda tivemos tempo para visitar a igreja de Mós-do-Douro (com um altar em talha de madeira muito bem trabalhada) e tomar um café no estabelecimento local (que o Cremildo muito gosta de visitar) que nos manteve bem acordados até Mação e depois até Lisboa de onde regressamos aos nossos Açores.
Até para o ano Mós-do-Douro e amigos romeiros desta caçaria, isto se a Troika nos deixar regressar para o ano. Se não até um dia qualquer!

Açores 6 de Fevereiro de 2012

Gualter Furtado

Texto e foto da autoria de Gualter Furtado

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