24 de outubro de 2010

Abertura na Ilha de Santa Maria - Época 2010/2011

Finalmente, fiz a minha abertura!
Por motivos de serviço cheguei a casa pelas 04H30.
Nas duas últimas madrugadas de Domingo aconteceu-me precisamente o mesmo. Foi por essa razão que falhei a abertura oficial, no passado dia 10 de Outubro, e também a causa de não ter ido no Domingo seguinte.

A manhã estava simplesmente fenomenal - nada que já não soubesse de véspera, pois desde o início da semana que me mantinha a par da previsão meteorológica e estava decidido a quebrar o enguiço que me atormentava. Mesmo assim acabei por me deitar a fim de descansar alguma coisa, não sem antes colocar o despertador para as 08H30. De pouco me serviu porque pelas 07H00 já estava acordado, ansioso e nervoso...
Não valia a pena ir antes, pois os lugares já estavam tomados por outros e sendo o limite de 5 peças por caçador, pelas 09H/09H30 decerto que algum já teria terminado a sua jornada pelo que encontraria espaço livre e foi mesmo isso que aconteceu.

Optei por ir para a mesma zona da época passada e aquela área foi toda para mim.
O Galileu cobrou-me dois coelhos - um saído a ele e outro à Galiza, não eram ainda 10H30. Nessa altura desmuniciei a arma, depositei os cartuchos no bolso e deixe-me ficar a ver os cães e a pequenina. Deram com mais alguns. Houve uma vez que a Galiza abocanhou um outro, mas o Galileu quando ia busca-lo, a Galiza, que também mo queria trazer, deixou-o escapar por entre eles, não sei se propositadamente. Foi uma boa lição para a Garota que se manteve atenta e interessada. Portou-se muito bem a aluna, sempre desenrascada, a acompanhar-nos e sem medo dos tiros.
No percurso de regresso, pelas 11H40, fechei a conta com um coelho saído à Galiza, tendo chegado à viatura vinte minutos mais tarde, ainda com dois cartuchos na cartucheira, mesmo na hora do fecho, cansado, mas muito mais satisfeito e certamente muito mais calmo.

Levei a semiautomática, uma mão cheia de cartuchos de 30grs e fiz-me acompanhar do Galileu, da Galiza e da Garota, esta última de 3 meses. Deixei atrás a Garrida, mais velha 7 meses, não fosse desalvorar a mais nova. Da próxima havemos de encontrar outra solução.
Na ansiedade da saída acabei por trancar mal a porta do canil e quando cheguei a casa a minha mulher disse-me que a Garrida também tinha tido a sua abertura pessoal, tendo regressado pouco antes de mim... Fez ela muito bem!

12 de outubro de 2010

Abertura na Ilha de São Miguel - Época 2010/2011

"No passado dia 10 de Outubro, teve inicio a época de caça ao coelho bravo na Ilha de São Miguel, sendo permitida a caça pelos “processos de salto e de espera” apenas aos Domingos e até às 15h, com o limite máximo de duas peças por dia e por caçador.


Eu, que ainda encaro a caça com o mesmo entusiasmo como quando tinha os 8 anos de idade, confesso que quando se trata de praticar o acto venatório na Ilha do Arcanjo, essa vontade fica-me muito limitada e se não fosse pelos meus cães, que não têm culpa dos meus humores, não caçava mais nesta Ilha. É apenas por respeito a eles que continuo a caçar na Ilha Verde – São Miguel.


Como tenho feito nos últimos anos, rumei ao Nordeste, tendo chegado ao local do costume ainda de noite e visto mesmo alguns coelhos iluminados pelos faróis da carrinha.
Quase de imediato, qual não foi o meu espanto, comecei a ouvir tiros ainda de noite e detectei uns vultos, a transportarem uns tubos, que deduzi serem espingardas, nas pastagens que se estendiam à minha frente.
Foi precisamente nessa altura que perguntei ao meu companheiro de caça se ele estava a perceber uma das razões que me tornavam cada vez mais penoso caçar nesta Ilha.


Não desabafei o mesmo aos meus podengos, porque, repito, eles não têm culpa da falta de civismo que infelizmente alguns "caçadores" teimam em demonstrar, nem da falta de fiscalização por parte dos Serviços Oficiais… E assim vai a «caça» em São Miguel!"

Gualter Furtado, 11 de Outubro de 2010 

5 de outubro de 2010

José Moniz Vence IV Troféu Dr. Gualter Furtado

“Realizou-se no passado fim-de-semana, na Ilha do Pico, o IV Troféu Dr. Gualter Furtado de Santo Huberto com cão de parar sobre perdizes vermelhas.


O Troféu decorreu dentro de uma forte componente social e num enorme espírito desportivo.
O conhecido Caçador Cremildo Marques, da Ilha do Pico, e os seus incansáveis Colaboradores proporcionaram a todos os participantes momentos inesquecíveis, estando já em preparação a V Edição.


As provas foram julgadas pelos juízes José Pedro Leitão e Luís Figueiredo, ficando os primeiros cinco lugares ordenados do seguinte modo:


1º lugar - José Moniz (Ilha de São Miguel), com a Braco Alemã Iris;
2º lugar - Vitor Inácio (Ilha do Pico), com o Epagnuel Bretão Maçarico;
3º lugar - José Teixeira (Ilha de São Miguel), com o Epagnuel Bretão Kikas;
4º lugar - Olívio Ourique (Ilha Terceira), com o Setter Inglês Toy;
5º lugar - Duarte Nuno (Ilha Graciosa), com o Pointer Caju.


De salientar a presença dos dois decanos de Santo Huberto dos Açores e de Portugal continental que são os Senhores Henrique Pacheco e Valquírio Louro.”


Texto e fotografias da autoria de Gualter Furtado

3 de outubro de 2010

Caça Fotográfica

De vez em quando somos confrontados com a proposta da caça fotográfica, da substituição da espingarda pela máquina, a permuta da morte do animal pela fotografia, troca esta que nos vem escoltada por um conjunto de predicados e floreados a favor de tão luminosa alternativa como se nos estivessem a destapar o pretenso engano que, na mente dos ilustres proponentes, nos deve cobrir de negro a razão ou a anunciar a resolução para um dos grandes males do mundo, o da presença e da continuidade da caça.
Isto vem a propósito da apresentação no jornal Correio dos Açores da versão portuguesa de um livro da autoria de Aldo Leopold (1887-1948), intitulado no original de “A Sand County Almanac”, publicado um ano após a sua morte e que nutre no seio daqueles que se proclamam ecologistas, ambientalistas e amigos de tudo e de mais alguma coisa, uma reverência deveras extraordinária.
Enaltecem a beleza das composições, o saber dos textos, a poesia das narrativas, a relação fiel e genuína com a natureza, mas é-lhes impossível esconder o facto de Aldo Leopold ter sido um apaixonado pela caça com cão de parar, de ter sido Caçador!
A tradução portuguesa designa-se de “Pensar Como Uma Montanha”, pelas Edições Sempre-Em-Pé.

Nessa mostra podemos ler o seguinte: “Paradoxalmente, ou talvez não, foi na caça que o autor adquiriu um “saber de experiência feito” que o levou a consolidar a sua paixão e o seu conhecimento da natureza. Aliás, essa experiência e prática, em articulação com o seu saber teórico, levou-o a escrever o livro Gestão da Caça. O próprio Aldo Leopold deu o exemplo ao progredir de formas mais agressivas para formas menos agressivas de caça, até evidenciar a relevância da “caça” fotográfica, um modo inofensivo de apreender o objecto da sua paixão e maravilhamento: a natureza. Daí a importância dada à percepção. É o autor que afirma: “Promover a percepção é a única parte verdadeiramente criativa da indústria da recreação ao ar livre”(Leopold: 165). Daí a importância da fotografia, da observação de animais e plantas. O troféu – que sempre foi o grande objectivo simbólico do caçador – dará lugar a formas mais altruístas de relação com a natureza.” (Emanuel Oilveira Medeiros)

A Sand County Almanac – With Essays on Conservation

Ninguém melhor do que Aldo Leopold para no-lo apresentar: “… Nós abusamos da terra, porque a vemos como um bem sobre o qual exercemos o direito de propriedade.
Quando considerarmos a terra como uma comunidade à qual pertencemos, talvez possamos usufrui-la com amor e respeito.
A terra como uma comunidade é o conceito basilar da ecologia, mas a terra é para ser amada e respeitada numa extensão da própria ética. A terra sustenta um modo cultural de colheita, é um facto sabido, mas muitas das vezes esquecido.
Estes ensaios são uma tentativa de união destes três conceitos.”(Leopold, Aldo: 21)

Opinião

Neste livro desfrutamos de uma leitura fabulosa, ao longo da qual tomamos conhecimento das transformações que afectaram a quinta do Aldo Leopold, situada no Wisconsin – USA, ao longo de um ano, através de uma descrição prodigiosa que o autor fez desde o mês de Janeiro até Dezembro, dando-nos a conhecer as alterações paisagísticas, as variações da flora e as movimentações da fauna. Na versão que possuo os dizeres são acompanhados por simbólicas fotografias de uma beleza excepcional.
Considero ser um tributo à natureza, mas sobretudo uma crítica inegável à mecanização da agricultura e à relação de propriedade com a terra, sem, no entanto, as rejeitar totalmente e propondo uma mudança de valores que irá expor ao longo de todo o volume e do capítulo “The Land Ethic”, em particular.
Apesar de ser considerado um tratado entre os ditos ecologistas, ambientalistas e amigos dos animais, muito adversos ao tema da caça, nada nos transmite que seja contra a actividade venatória, até porque a integra naturalmente e sem preconceitos no tal modo cultural de colheita, que é mencionado acima e que se caracteriza pela estreita relação de comunidade e de amor com a natureza, onde a partilha não dá lugar à posse, afirmando mesmo que a conservação não está a chegar a lado nenhum, porque “it is incompatible with our Abrahamic concept of land”. (Leopold, Aldo: 21).
Pretende dizer o autor com esta expressão que foi a partir de Abraão que começamos a desenvolver as sociedades da actualidade, alicerçadas, precisamente, na posse da terra.
Que é nessa relação que temos com a terra que residem os males dos nossos dias, pois se tivéssemos permanecido caçadores não teríamos necessidade de tomar posse do solo, nem de defende-lo do invasor como o fazemos, não teríamos de inventar uma enormidade de normas e de regras para conseguirmos viver amontoados, nem exerceríamos a pressão demográfica que hoje representamos e que está muito para além dos recursos do próprio planeta, sendo que, na base de toda esta polémica que se gerou, de todos estes graves problemas que nos afectam, está a agricultura e não a caça!
Nos terrenos geridos pelos caçadores a fauna e flora prosperam, ao contrário do que se passa nas culturas intensivas, geneticamente alteradas e altamente mecanizadas que se destinam a alimentar as cidades. As mesmas donde se gerou o movimento que defende o conceito que dá o título a este texto - Caça Fotográfica -, que é perverso e fruto da mais profunda ignorância.

Caça Fotográfica

“O conde de Ybes diz-nos que os ingleses iniciam uma forma de caçar em que todos esses conflitos de consciência são astuciosamente evitados: consiste em que a caçada não termina com a captura ou morte da peça, mas com tirar-lhe uma fotografia. Que requinte! Não é verdade? Que ternura de alma, a de estes anglo-saxões! Ficamos envergonhados porque, há trinta anos, num dia, à hora da sesta, matámos aquela mosca demasiado impertinente! É claro que o império britânico não se forjou com seda e bombons, mas empregando a maior dureza contra o sofrimento dos outros homens que conhece a história do Ocidente. Isto faz-me recordar que na altura mais cruel da nossa guerra civil uma senhora, inglesa ou criada na Inglaterra, se ofereceu para dar dinheiro para ambulâncias que recolhessem os feridos e os tratassem. Aceitou-se a oferta; mas, ao ir-se cumprimenta-la, verificou-se que os feridos para quem a senhora premeditava as ambulâncias não eram homens feridos na guerra, mas os cães maltratados ou doentes. Porque é o que dizia a boa senhora: «Das guerras terríveis têm a culpa os homens que as fazem; mas os cães não são culpados das feridas que recebem.» Mas, como e de onde estava a senhora tão certa que os homens sejam ultimamente culpados das guerras? Porque essa senhora, que maneja o apotegma como um filósofo de Plutarco, tem tanta perspicácia para descobrir a ausência de culpa no cão e é completamente cega para entrever o que no homem há ultimamente de humilde cão, perdido numa existência que não domina e espancado por uma e outra parte pelo mais impenetrável destino? Em vez de preocupar-se tanto com os cães, deveria esta senhora ter-se preocupado um pouco mais em não estar tão certa em assuntos sobre os quais não se pode ter, talvez, certeza. Essa brutal certeza perante o que é – em absoluto e por agora – indiscernível, representa sob fácies de tenaz ultra-sensível uma forma peculiar de barbárie, amamentada na dupla teta da estupidez e da petulância.” (Gasset, Ortega Y: 72 e 73)
“A caça fotogénica é um amaneiramento e não um requinte; é um mandarinismo ético não menos deplorável que o intelectual dos outros mandarins.” (Gasset, Ortega Y: 72 e 73)
“Na preocupação de fazer as coisas como é devido – e isto é a moralidade – há uma linha, ultrapassada a qual começamos a crer que é devido o que é pura vontade ou mania nossa. Caímos, portanto, em nova imoralidade, na pior de todas, que consiste em desconhecer as próprias condições sem as quais as coisas não podem ser. Este é o orgulho supremo e devastador do homem, que propende a não aceitar limites para a sua vontade e supõe que o real carece por completo de estrutura própria que se oponha ao seu alvedrio. Este pecado é o maior de todos, tanto que, perante ele, perde por completo valor a questão de se o conteúdo dessa vontade era, pela sua parte, bom ou mau. Se você crê que pode fazer o que quiser, por exemplo, o sumo bem, é Você já, e sem remédio, um malvado. Somente é estimável a preocupação pelo que deve ser quando esgotou o respeito pelo que é.
Bom exemplo disto, pela própria pequenez da sua matéria, é este ridículo empolamento da caça fotográfica. Pode-se não se querer caçar, mas, se se caça, há que aceitar certos requisitos últimos, sem os quais a realidade «caçar» sofre evaporação. O emposse da peça, o drama táctil da sua captura efectiva e mais normalmente ainda a tragédia da sua morte nutre antecipadamente e proporciona os seus vigorosos e genuínos atributos a toda a tarefa antecedente: o áspero afrontamento com a brutalidade do animal, a resistência com a sua enérgica defesa, a ponta de embriaguez orgiástica que suscita todo o sangue em perspectiva e até a pequena suspeita criminosa que arranha a consciência do caçador. Sem estes ingredientes o espírito da caça volatiliza-se. O comportamento do animal está integramente inspirado pela convicção de que tudo aquilo implica a sua vida; e se resultar que tudo era pura ficção, que se trata de um retrato para um «passe», a caçada torna-se uma farsa e esvazia-se da sua específica tensão. Substituída a peça pela sua imagem fotográfica, que é um fantasma, toda a arte venatória torna-se um espectro. A actividade de uma Kodak compreende-se perante a noiva florescente, a torre gótica, o guarda-redes de futebol ou a pelada de Einstein; mas é demasiado inadequada perante o compadre javali que fossa no matagal.” (Gasset, Ortega Y: 73,74 e 75)

Aldo Leopold e a Caça

“Outubro – O Suave Dourado

Existem dois tipos de caça: caça ordinária, e caça ao ruffed-grouse (Bonasa umbellus).
Existem dois lugares para caça-lo: lugares ordinários e Adams County.
Existem duas épocas para caçar em Adams County: época ordinária e quando os tamaracks (Larix laricina – espécie de conífera) estão esfumados de dourado. Este texto é escrito para aqueles infelizes que nunca experimentaram estar, de arma descarregada, espantados e de boca aberta, a contemplar as agulhas douradas (dos tamaracks) a tombarem do céu, enquanto o foguete de penas que as desprendeu desaparece em direcção aos jackpines (Pinus banksiana).
Os tamaracks trocam o verde pelo dourado quando as primeiras geadas vindas do norte trazem consigo a woodcock (Scolopax minor), fox sparrows (Passerella ilíaca) e juncos (Junco hyemalis). Bandos de robins (Turdus migratorius) extraem as últimas bagas dos espinhos dos dogwoods (cornus) deixando os talos desnudados formarem uma neblina cor-de-rosa que se esboça no monte. Os amieiros que ladeiam o riacho já depuseram as suas folhas e expõem aqui e acolá uma tela sagrada. As amoreiras-pretas ficam incandescentes, iluminando os passos em direcção ao grouse.
O cão conhece esse caminho bem melhor que tu próprio. Farás bem em segui-lo de muito perto, lendo as histórias que a brisa lhe conta através do movimento das orelhas. Quando por fim pára, estaca numa posição firme e diz num ápice, “Prepara-te,” a pergunta que lhe colocas é preparo-me para quê? Para o trautear de uma galinhola, para o ronco de um grouse a descolar, ou apenas para um coelho? Neste momento de incerteza encontra-se condensada muita da virtude da caça ao grouse. Aquele que tem necessidade de saber a que se deve preparar, deverá em alternativa dedicar-se à caça do faisão.
As caçadas diferem de sabor, mas as razões são subtis. As melhores caçadas são as furtadas.
Para furtar uma caçada ou nos embrenhamos na natureza selvagem até onde jamais alguém pisou ou descobrimos um local que não seja reconhecido e que fique mesmo debaixo do nariz dos outros.
Poucos caçadores sabem que o grouse existe em Adams County, pois quando passam por aqui fazem-no sem parar, vislumbrando apenas uns  jackpines e arbustos ressequidos. Isto acontece porque a auto-estrada cruza um conjunto de ribeiros que correm para oeste e desaguam num pântano, que acaba por ser direccionado para o rio através de barreiras de areia seca. A auto-estrada que segue em direcção a norte cruza naturalmente esses troços, mas mesmo por cima dessa via e por detrás do cenário dos arbustos secos as finas linhas de água expandem-se e formam uma larga faixa de pântano, um paraíso seguro para o grouse.
Aqui, em Outubro, na solidão dos meus tamaracks, ouço perfeitamente os caçadores, cujos carros seguem na auto-estrada e que se dirigem para os condados sobrepovoados do norte. Troço deles na medida em que os imagino nas danças dos conta-quilómetros, com as faces estafadas, os olhos impacientes fixos no horizonte, direccionados para norte. Á medida que me surge o som das suas passagens, um grouse macho arrufa em tom de desafio. O meu cão sorri assim que conseguimos identificar o local de origem dessa atrevida provocação. Este companheiro, concordamos, necessita de algum exercício; iremos cuidar dele imediatamente.
Os tamaracks não crescem apenas no pântano, mas também ao pé dos limites das terras que ficam por cima, donde brotam as nascentes que o alimentam. A cada Primavera fica atulhado de musgo, o que lhe dá um aspecto de uma eira alagadiça. Chamo-o de jardins suspensos, porque na orla desse espaço encharcado se erguem gentianas com as suas pérolas azuis. Tal gentiana de Outubro tingida pelo dourado dos tamaracks, merece bem uma paragem e uma demorada contemplação, mesmo quando o cão nos aponta um grouse mais à frente.
Entre cada jardim suspenso e a margem dos riachos podemos encontrar coberto de musgo o trilho de veados, mesmo a modo de ser seguido pelo caçador, e o passadouro do impetuoso grouse que o atravessa numa fracção de segundo. A questão reside se a espingarda e o pássaro concordam no modo como se divide esse segundo. Pois se estes dois não se entenderem, o próximo veado que por ali passar apenas encontrará um par de invólucros para cheirar, mas nenhumas penas.” (Leopold, Aldo: 103,104)

Conclusão

Nas páginas que o autor dedica ao mês de Outubro podemos constatar que o tema da caça é marcante e predominante, pois continua a falar-nos do seu cão, de gansos e de como se deve caçar a perdiz.
No tema intitulado Red Lanterns, podemos encontrar a seguinte expressão: “Por diversas vezes as red lanterns me iluminaram o caminho em agradáveis caçadas...” (Leopold,Aldo: 117)
Aldo Leopold foi Caçador e foi precisamente por ter sido Caçador que escreveu este livro maravilhoso. Não se trata de nenhum paradoxo.
Esta obra demonstra a versatilidade e a adaptação da natureza e também o homem como parte integrante da mesma e sujeito a toda essa mutabilidade, pelo que não pode ser um mero observador, como alguns apregoam, mas um activo participante fiel à sua própria essência, porque a integra e completa.
O que nos veio dizer Leopold não foi que um ano tem doze meses e que neva no inverno, mas sim que devemos agir dentro dos limites daquilo que ele designa de “The Land Ethic”!
Caça é caça e fotografia é fotografia, pelo que não devem ser estas duas confundidas. Nem substituir uma pela outra. Poderão sim complementar-se, mas serão sempre desiguais e inconfundíveis.
Entende-se perfeitamente a existência de quem faça a escolha pela máquina fotográfica, mas não é admissível que dessa preferência possa resultar a imposição de um comportamento, negando aos outros, que pensam de modo diferente, o exercício da mesma liberdade de decisão, como também não é aceitável que se expresse que a caça seja agressiva e egoísta na sua relação com a natureza, porque se o fosse, para começar, jamais teria sido escrito A Sand County Almanac e, para finalizar, esse tipo de sentimentos ofensivos e comodistas são bem mais perceptíveis naqueles que consideram que a captura fotográfica do “troféu” dará lugar a formas mais altruístas de relação com a natureza, como nos explica Ortega Y Gasset, aliás também foi outro grande Caçador, naturalista e cidadão americano que disse: “All hunters should be nature lovers” (Roosevelt, Theodore – 26.º Presidente dos E.U.A.) e acredito que o sejam verdadeiramente, de alma e coração, ao contrário de outros que, sem serem caçadores, o proclamam por tudo e por nada!

Bibliografia:

Leopold, Aldo (2001). A Sand County Almanac – With Essays on Conservation. Oxford University Press.
Gasset, Ortega Y (1989). Sobre a Caça e os Touros – Ensaio. Edições Cotovia Lda.
Medeiros, Emanuel Oliveira (14JAN2010). Suplemento Educação: Pensar como uma Montanha, de Aldo Leopold: Um Caminho de Educação e Ética Ambiental. www.correiodosacores.net.
Traduções do Sand County Almanac da minha autoria.

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