1 de agosto de 2010

Separar o Trigo do Joio

Estamos cada vez mais distantes do verdadeiro sentido da caça, e, este é um facto indiscutível.
A caça, por seu turno, encontra-se no centro, entre dois extremos, cada vez mais pronunciados e distantes um do outro. Vivem eles das meias-verdades que debitam vigorosamente e dos argumentos que utilizam para se agredirem mutuamente. Refiro-me aos grupos extremistas pro-caça e anti-caça, respectivamente.

Estes últimos não são os únicos a representarem uma séria ameaça à existência da actividade venatória. Os primeiros também o são! E isso deve-se à incapacidade que temos vindo a demonstrar, hoje em dia, mais do que nunca, de nos organizarmos e estruturarmos à volta dos mesmos objectivos, dos mesmos valores éticos e morais, pelo que há muita coisa a correr muito mal.
A caça furtiva é apenas uma delas e não é só por ser um acto ilegal, pois também persistem actividades venatórias lícitas que não são menos prejudiciais, como por exemplo a caça aos troféus, a caça em terrenos vedados, os concursos de caça, o emprego abusivo das novas tecnologias, a exposição desrespeitosa dos animais abatidos ou mesmo o comportamento altamente reprovável de alguns ditos caçadores quando se pavoneiam  no campo munidos de uma arma de fogo.
Tudo isto contribui para que nos dividamos ainda mais e força alguns Caçadores mais conscienciosos e responsáveis a afastarem-se da Caça, muitos deles convertendo-se em não-caçadores ou mesmo a serem frontalmente anti-caça.
Não é assim que se desperta o interesse nas camadas mais jovens, nem é assim que desarmamos os opositores.

O Verdadeiro Caçador terá que fazer um esforço e reencontrar dentro de si o "fogo sagrado", responder a uma única e simples pergunta: porque é que "eu" caço?

Se chegarmos à conclusão que o fazemos porque somos os mais recentes representantes de uma longa linha de predadores, cuja origem se perde no próprio tempo; que o fazemos em parceria com a natureza, pelo desafio dos nossos próprios limites; para aprendermos sobre a nossa verdadeira identidade e sobre o mundo que nos rodeia, de uma maneira que só a caça nos pode ensinar; para aceitar a responsabilidade pessoal das mortes que provocamos, sabendo que as mesmas nos providenciarão o alimento que necessitamos; para nos integrarmos no mundo natural e sentir essa sensação como se de uma experiência espiritual se tratasse, então estaremos a contribuir para um mundo melhor, a desenvolvermos o nosso próprio ser e, finalmente, estaremos prontos para responde-la, conscientes que essa resposta nos fará ser mais exigentes connosco e com os outros.

Bibliografia consultada: "A Hunter's Heart", de David Petersen

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