9 de agosto de 2010

Bambi - Um Alvo a Abater

Se há filmes que recordamos da nossa meninice, então o do "Bambi", de Walt Disney, é um deles.
David Petersen, ao contrário do que pensam e acreditam algumas pessoas, nos vem dizer que este desenho de celuloide não é mais do que um artificio dissimulado, antinatural por natureza, que já devia estar, há muito, bem extinto e soterrado!

Para este autor "a tragédia do Bambi" começou em meados de 1880, quando um jovem húngaro, depois ter assumido o nome de Felix Salten - uma identificação étnicamente muito mais confortável do que o nome judeu original  de Siegmund Salzman, emigrou para Viena. Nessa cidade austríaca, dedicando-se Salten à escrita de peças de teatro, à crítica, à produção de pelo menos uma novela pornográfica (As Memórias de Josephine Mutzenbacher) e à criação de uma enorme porção de livros relacionados com a natureza e destinados às crianças, prosperou.
Entre os seus passatempos, que agora o novo-rico Felix participava com os seus novos amigos aristocráticos, estava a caça, actividade que ele veio a considerar repugnante.
Escrito em 1924, o Bambi de Salten pretendeu, desde o início, instituir sentimentos anti-caça, tanto nas camadas mais jovens, como em todos os outros leitores, embora alguns críticos defendam que se tratava, sobretudo, de uma alegoria anti-facista, em que a pacífica natureza selvagem representava as massas vitimizadas e os caçadores, os odiosos hunos.
Repleto de sofrimento e de morte, tudo isto causado por um inimigo conhecido entre os animais apenas por "Ele" (com a inicial maiúscula, como se de uma referência biblíca se tratasse), este Bambi teve um enorme sucesso junto das classes sociais mais desfavoridas que sempre conceberam a caça praticada ao longo dos séculos por uma minoria privilegiada, uma enorme injustiça.
Entretanto, na América, uma conspiração paralela tomava forma.

Tendo iniciado a sua vida numa quinta, do estado do Missouri, nos E.U.A., Walt Disney caracterizava-se por ser um acérrimo defensor dos "direitos dos animais" e, por conseguinte, frontalmente contra os caçadores, os quais odiava. Narra-nos a história que tudo começou quando o seu irmão, de nome Roy, surpreendeu um coelho com um tiro bem colocado, disparado de uma pressão d'ar, seguido de um  "coup de grâce", torcendo-lhe o pescoço, tendo tudo isto sido presenciado pelo pequeno cineasta. Embora a sua mãe tivesse recebido de bom grado a carne fresca e com ela confeccionado um apetitoso guisado, Walt recusou-se a comê-lo.
O Bambi de Salten foi traduzido para inglês em 1928 e depressa chegou aos Estados Unidos. Entretanto, Walt Disney tornara-se adulto e bastante activo na industria de filmes de animação. Quando leu esse livro foi amor à primeira vista e nele também encontrou uma boa oportunidade para ganhar dinheiro, muito dinheiro. Feito o guião. tiveram as filmagens o seu início em 1937. Apesar do produto da Disney possuir mais vida e cor, transmitir um maior sentimento de esperança do que a novela pardacenta e freudiana de Salten, manteve o conflito primário que a qualificava: a natureza é boa, a humanidade é má.
Em Bambi encontramos figuras benevolentes e conselheiras, como corujas, esquilos, coelhos e codornizes. Apenas bagas selvagens e as flores dos trevos são consumidas, e mesmo assim nem muitas dessas. Na maior parte do tempo essas criaturas ingénuas apenas cantam, brincam, dormem e têm conversas imaturas e infantis entre si.
A misantropia e o sentimento anti-caça não eram os únicos alicerces que suportavam e alumiavam a passagem de Bambi do livro para o filme. Como sempre, para este competente capitalista, o ganho monetário era o objectivo primordial.
Nos seus projectos iniciais, o pai do Rato Mickey, aprendeu rapidamente que o lucro poderia ser bem mais ampliado através da sábia gestão das emoções dos espectadores. Em Bambi, a massiva manipulação da natureza, tendo em vista o efeito emocional e, por conseguinte, o lucro, é projectada para extremos nunca antes explorados.
Cartmill, investigador de História Natural, disse o seguinte: "assim que se compreendeu que o sentimentalismo e o antropomorfismo faziam dinheiro, foi por esse mesmo caminho que seguiram os filmes de Disney ... desinformam deliberadamente a assistência sobre factos biológicos basilares". Acrescentou ainda que "aos animadores foi-lhes dito que poderiam utilizar quaisquer expressões humanas que conseguissem impor na cabeça  inflexível e alongada dum veado. Em consequência dessa directiva as cabeças começaram a ser desenhadas num formato alargado sobre corpos pequenos. Os focinhos foram encurtados para melhor se assemelharem a personagens ameninadas. As pestanas foram desenhadas mais compridas e as pupilas dilatadas... tais como as que podemos encontrar numa cortesã do período renascentista".
Além da sábia condução musical os mágicos da Disney conseguiram alcançar uma irresistível aparência inocente através da introdução de vozes de crianças reais.
Sem deixar pontas soltas, a cena de abertura de Bambi, à qual todas as outras criaturas reverenciavam como sendo o jovem príncipe da floresta, trata-se de uma desavergonhada réplica da Noite de Natal. Mais uma vez Cartmill  observa que, "após os animais venerarem o recém-nascido e terem partido, a imagem focaliza a mãe e a cria aninhadas numa espécie de arbusto - um quadro que Pearce, o editor da história, referiu assemelhar-se "àquele quadro da Madonna" - enquanto o pai contemplava o cenário enternecedor do cimo de um penhasco celestial, tal e qual um deus distante.
David Peterson diz-nos que após ter observado o filme sob a perspectiva de um adulto esclarecido, concordou profundamente com a descrição que o crítico Roger Ebert fez da obra: "uma parábola ao  sexismo, niilismo e desespero, retratando pais ausentes e mães passivas num mundo de morte e violência." Conclui Ebert que não é um produto indicado para jovens, nem para quaisquer mentes impressionáveis.
Mesmo nos dias de hoje, até para adultos sugestionáveis, o filme Bambi transporta aquilo que Cartmill caracteriza como "a força de um malho... apesar da sua penetrante e repelente sedução".

Bambi - o filme para crianças, agora mais facilmente acessível ao público do que alguma vez o foi, é um enorme embuste.
Para David Peterson, se as criaturas da floresta pudessem falar em nome próprio estariam entre os seus maiores críticos, pois sabem bem melhor do que nós quão devastadora tem sido esta farsa, e continua a ser, para o seu modo de vida bravio, através da criação do falso conceito da paz universal e do amor na natureza, que simplesmente não existem.
No âmbito deste filme, se alguns "amigos do Bambi" ou defensores dos direitos dos animais conseguirem levar por diante os seus objectivos, como disseram que fariam, acontecerá uma catástrofe ecológica.
Peterson, na defesa da verdade, realidade e pela dignidade dos processos naturais, afirma que Bambi - essa monstruosidade da propaganda de Hollywood, deve morrer.

Excerto traduzido por mim, retirado do Capítulo XI - The Bambi Syndrome Dismembered: Why Bambi Must Die, da II Parte, do livro intitulado Heartsblood, de David Peterson

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