31 de dezembro de 2012

A Caça à Codorniz na Ilha de São Miguel

"Na presente época venatória a caça à Codorniz na Ilha de São Miguel por processo de caça "de salto" com cão de parar, começou no 2º Domingo de Dezembro e terminou no último Domingo do mesmo mês. 
A caça a esta espécie cinegética só foi autorizada aos Domingos, das 9h às 12h, e com um limite máximo de 5 Codornizes por jornada.

São cada vez menos as Codornizes que se reproduzem no seu meio ambiente, devido, sobretudo, à alteração dramática do seu habitat, sendo também vitimas da utilização de químicos, de pesticidas nas culturas e do forte recurso às máquinas agrícolas com resultados devastadores para a população destas aves, sobretudo na época da reprodução.  As codornizes têm um comportamento muito gregário, mas mesmo assim ainda temos algumas verdadeiramente bravas e  autênticas heroínas. Paralelamente e bem a Direcção dos Recursos Florestais tem vindo a produzir em cativeiro algumas codornizes a partir, suponho que, de ovos geneticamente bravios e da mesma variedade da nossa Codorniz Açoriana. 
Para compor o efectivo bravo existente na Ilha de São Miguel estas "codornizes de aviário" são posteriormente lançadas no campo, principalmente nas vésperas da abertura da caça (tanto quanto julgo saber), em locais que só os mais bem informados, os que têm tempo suficiente para andar no campo a fazer prospecção e os sortudos conhecem. Nesta vertente em especial existem algumas semelhanças com o que se passava há uns anos atrás com as trutas criadas nos viveiros e lançadas nas ribeiras também nas vésperas das aberturas!

Em síntese , o resultado deste tipo de caçaria depende cada vez menos da destreza do caçador ou da qualidade do seu cão, mas cada vez mais de factores aleatórios, do tipo "lotaria" ou do "chico espertismo" (já que não acredito nos factores do tipo "siciliano").
Não obstante este pormenor, ainda é possível se passar uns momentos extraordinários a praticar este tipo de caça na companhia dos nossos cães de parar e cobrar algumas das Codornizes Açorianas, sempre, mas sempre, paradas pelos cães, porque "matar" Codornizes sem serem amarradas pelos nossos fiéis companheiros é tudo menos caçar."

Texto e foto da autoria de Gualter Furtado

26 de novembro de 2012

Coelho Bravo do Nordeste - A caminho do deserto cinegético

Domingo, dia 25 de Novembro de 2012,  eram seis horas manhã, escuro como breu, preparava-me para, com os meus podengos e cruzados, rumar ao Nordeste, quando ouvi dois tiros para os lados da Castanheira. Perguntei-me quem seriam tais alminhas de Deus e o que estariam a “caçar” àquela hora?! Voltei a questionar-me, o que é que iria fazer para o Nordeste, se o coelho bravo naquele concelho estava à beira da extinção? Evidentemente que só o facto de poder ir ao Nordeste passear (este é o termo correcto)  com os meus cães já me proporciona momentos de grande felicidade, pelo que lá decidi ir.  

Estes Domingos de caça ao coelho bravo com cães, sem espingarda  e as Scuts, conduziram a uma grande concentração de matilhas no concelho de Nordeste, em zonas  fracas de silvados, barreiras e de pequenas grotas, levando a população de coelhos que lá existia à beira da extinção.
Em locais onde caçava com 3 a 5 cães, assisti agora à presença de 10 e mais cães com 4 a 5  “caçadores “. O resultado está à vista de todos!
Nos últimos 30 anos nunca fui caçar ao Nordeste que não visse coelhos bravos (no plural). Nestes dois Domingos que faltam, se eu e outros caçadores virmos 1 ou 2 coelhos seremos, na verdade, uns felizardos e isto com poucos cães, mas que sabem o que estão a fazer!
Acresce a tudo isto que nestes últimos anos o Nordeste tem sido um paraíso para o furtivismo.
Naquele concelho a caça com espingarda está interdita para os caçadores que respeitam as normas e cumprem a lei, mas para  aqueles que, dissimulados e pela calada da noite continuam a matar coelhos, para estes a "caça" continua e não existem limites ou quaisquer restrições! 
Evidentemente que, nos dias e nas noites de hoje,  ir para o mato prevenir e combater o furtivismo não será tarefa fácil, sobretudo com os incentivos e os meios que se encontram à disposição dos Guardas Florestais e da P.S.P., mas alguma coisa tem de ser feita, já que esta política de fechar a caça a quem está legal, na esperança de que as espécies cinegéticas irão recuperar e multiplicar-se, por si só, não está a dar bons resultados, antes pelo contrário. Está sim a ter efeitos perversos.

Com tudo isto, na Ilha de São Miguel uma parte importante e muito significativa do nosso património cinegético mais emblemático (que é o coelho bravo) foi-se com a última epidemia de hemorrágica, uma outra é continuamente assaltada pelos furtivos e a restante está a ser desbaratada por políticas cinegéticas erradas!

Gualter Furtado, Novembro de 2012

Texto e foto da autoria de Gualter Furtado

16 de novembro de 2012

Um Rebeco nas Astúrias - O relato que faltava

Parece-me que está tudo pronto…
… a minha “menina”, que era para não ir, mas afinal vai, as respectivas munições e os binóculos e o bordão que já ali estão…
... umas botas de borracha e
outras que não são…
… roupa para o que der e vier, penso eu…

… pão bom, pão com linguiça, bolos de torresmos, queijo, uma salada de ovas, umas bolachas manhosas, vinho, fruta e água … e uns pêros…

A minha cara-metade nem reclamou para me emprestar a sua viatura, que diz que tem combustível para 600 km, vou ter que lhe dar mais ainda…

Às 6h30 de amanhã vou rumar a norte e pôr-me a caminho de mais uma grande aventura…
Antes das 6h30, estava a caminho das Astúrias. Como é costume, sempre a pensar na caça e fiz uma excelente viagem. Nunca fui caçador de pombos, mas chamou-me à atenção umas gafas de torcazes que vi entre Alvalade e Alcácer do Sal.
Fiz uma paragem na área de serviço de Leiria para beber um cafezinho e não chegar demasiado cedo á Mealhada.
Ainda não eram 10 horas … estava á porta do Nelson, cheguei um pouco antes dele.
Não demorando nada, estávamos na estrada para o percurso final. Fizemos uma paragem já em Espanha, depois de Chaves, para meter gasóleo e continuamos falando de caça. Fomos mastigando uns biscoitos que o Nelson se lembrou de comprar e que me souberam lindamente e acabaram por adiar o almoço mais um pouco.
Quando encontrámos uma área de serviço que nos agradou (em Espanha não é fácil), fizemos mais uma pausa para comer um bucha, que os biscoitos, já eram.
Nova viagem até ao destino final, Campo de Caso.
Após um pequeno túnel, eis que surge uma rotunda e lá está a povoação de Campo de Caso.
Parei e fiz questão de tirar as primeiras fotos….
Não demorando nada estávamos no hotel, muito bom por sinal.
Bagagens arrumadas e viemos para o bar, que funcionou um pouco como quartel-general.
Antes do jantar apareceu o Guarda. Falámos de armas e agrupamentos. Tínhamos os “alvos” e os agrupamentos que a menina do Nelson tinha feito, a ele não lhe agradavam e ao guarda também não… a mim pareciam-me bonzinhos…
O agrupamento da minha menina estava na minha memória e tinha sido feito havia cerca de um mês.
Estava na dúvida se caçava com a minha ou com a do Nelson….
Essa dúvida manter-se-ia até bem mais tarde.
Fomos buscar os petiscos que constavam de Broa da Mealhada, Pão caseiro de Milfontes, leitão do Nelson e salada de ovas da minha casa, o vinho foi de lá e bebia-se bem.
Belo jantar.
Após umas bebidas manhosas (por lá não há medronhos nem bagaços), fui “estagiar” para o quarto.
Perguntei ao meu filho que arma deveria de levar…
Após a sua resposta decidi que iria levar a minha menina, uma BRNO 300 WM.
Nos intervalos dos sonos, lá andavam os Rebecos empoleirados nos rochedos. Antes do despertador tocar já eu estava a tomar um duche e a preparar-me para a grande caçada.
Na hora combinada e ainda bem antes do sol nascer lá partimos no Suzuki a caminho da montanha.
Muito lentamente e por um carreiro cimentado, sempre em primeira e baixas, lá fomos subindo, até que a estrada se acabou.
O dia começou a nascer, prepará-mo-nos. No meu caso, coloquei na mochila a bucha para o almoço, uma garrafinha de tinto Alentejano e agua.
Os binóculos foram pendurados ao pescoço, o porta balas no cinto, a minha menina ao ombro e o bordão na mão.
O Bordão revelou-se fundamental, principalmente nas descidas.
Começámos a subir por uns carreiros feitos pelas vacas e onde o gelo ia estalando debaixo dos nosso pés...
Não demorando, uma paragem para observar um rebeco que nos observava lá das alturas, binóculos nos olhos, não me parecia nada que valesse a pena, mas esperei que os "experts" se manifestassem.
O guarda montou o Telescópio e confirmou o que eu tinha pensado, era bonito, mas….
O Nelson informou-nos que estava a cerca de 250 metros.
Continuamos a subir. Subida inclinada. Comecei a notar alguma dificuldade em inspirar pelo nariz e expirar calmamente pela boca. Uma vez por outra tinha que inspirar pela boca.
Nos cabeços mais altos de Milfontes, consigo controlar facilmente a respiração….
Alguma diferença havia.
O Nelson vinha um pouco mais atrás. De vez em quando o guarda parava, provavelmente também se cansava. Eu aproveitava e descansava e reparei que nas pausas ficava como novo, o que me alegrava.
Só via subidas …
Continuámos e vimos uma fêmea, com uma cria, relativamente próxima… até deu para a fotografia. 
Continuámos a subir, parámos num local já mais alto, tipo planalto, que estava coberto de neve, lindo de ver , estava frio, mas um frio que até sabia bem.
Continuámos a subir, mas agora mais gradualmente e pisando neve. A sensação de pisar era fofa.
Sempre que se parava, era caçar com os binóculos…
Chegámos a uma zona em que pensei que teríamos que tomar outro rumo, pois a montanha que estava á frente parecia-me demasiado inclinada para subir.
Estava enganado, pois o guarda continuou em frente, lá fui atrás dele, olhava para trás e… o Nelson lá vinha.
Chegámos a uma zona com alguma vegetação, mas que vista ao longe parecia que não existia devido a estar coberta de neve, entre essa vegetação havia uns carreiros, penso que feitos pelas vacas. Foi por lá que seguimos…
Parámos, observámos e o guarda descobriu um Rebeco que poderia ser interessante, também o vi lá muito alto e longe.
Montou o “catalejo”, observou e disse que era bonzinho, observei-o, mas não me pareceu nada por ai alem.
Estava a esgravatar, o guarda disse que estava a fazer a cama e que se ia deitar, assim foi.
Estava a cerca de 370 metros.
Pensei cá para comigo, que alem de ser demasiado longe, seria difícil aproximar mais… e que nem seria grande troféu.
O guarda resolveu abandonar a ideia, pelo menos por enquanto, desmontou a aparelhagem e seguimos.
Não demorando muito ali na mesma encosta e vindo não sei de onde começaram a aparecer bichos, fêmeas, machos… houve uma ocasião que me mandou preparar, retirei a mochila das costas coloquei-a numa pedra e quando me aprontava, disse-me que não valia a pena, que ainda não era aquele…
Levantámos arraial e seguimos. À nossa frente apresentavam-se uns rochedos altaneiros. O trilho por onde caminhávamos localizava-se entre eles, o Nelson lá vinha…
O guarda disse-me para ir preparado pois ao chegarmos lá acima, do outro lado poderia haver algum bom animal, mas que o vento não era bom.
Continuámos a subir. Ele parava e espreitava, eu aguardava, ele avançava e eu avançava, chegámos ao topo. Havia por lá machos e fêmeas, mas nada que entusiasmasse, continuámos...
Nesta fase já me tinha esquecido da questão da respiração e não sei se respirava ou não.
Continuámos, repentinamente o guarda atirou-se ao chão e disse para disparar….
Diiiisparar???????
Baixei-me. Indicou-me para usar o bordão como apoio. Lá ao longe via um rebeco num rochedo, tentei abrir o bordão mas vi que aquilo não tinha jeito…
Dei-lhe a entender que havia uma pedra por cima dele e que queria ir para lá. Anuiu. Desviou-se um pouco e fui para lá. Coloquei a minha mochila por cima da rocha e quando encarei a minha menina só via gelo e neve na mira. Fiz-lhe indicação desse pormenor. Descalcei uma luva para limpar a mira e entretanto ele ofereceu-me um lenço com o qual a limpei.
Tentei encarar novamente a minha menina, mas não conseguia, o guarda já nervoso e perguntou o que se passava. Disse-lhe que o apoio era demasiado baixo. Deu-me também a sua mochila, que coloquei por cima da minha.
O guarda apressava-me, mas eu fazia ouvidos de mercador e não tinha pressa nenhuma…
Assim já dava. Estorvava-me a luva da mão esquerda e com os dentes retirei-a. Apercebi-me que era um tiro com muita inclinação, talvez uns 45º. Estava mal apoiado, mas via bem o animal. Coloquei a mira nos 12 aumentos, esperei que ficasse bem de atravessado, accionei o gatilho de cabelo, e quando o centro do retículo passou pelo ombro, toquei no gatilho e BUM…
O rebeco colocou-se literalmente de pé, uma mão a abanar, cai, não cai, não cai…
O Nelson gritou que estava morto, o guarda dizia para disparar. Sentia algo quente a escorrer pelo nariz, levei a mão ao sobrolho e confirmei que a mira me tinha acertado…
O bicho veio na nossa direcção lentamente, apontei, disparei segundo tiro, (parvoíce) não acertei…
A minha menina só leva duas munições, retirei do porta balas mais duas, recarreguei, apontei, disparei e falhei.
Fogo…
O animal deslocava-se muito devagar mas não caía, apontei novamente, disparei, caiu redondo.
Uff.
Gritava o Nelson… que já estava morto com o primeiro tiro, gritava o guarda que agora é que estava, eu ouvia-os…


Texto e foto da autoria de António Afonso Inácio

12 de novembro de 2012

As Galinholas dos Açores

1 . A prática da caça às galinholas nos Açores é muito antiga. Nos  finais do Séc. XIX,  por volta de 1885, existe uma  foto de dois membros da família Dabney (o Ralph e o Charles) a caçar na Ilha do Faial às galinholas. Ainda até há pouco tempo a caça à galinhola (Scolopax rusticola ) com cão de parar era exercida por um grupo restrito de caçadores açorianos. Mais recentemente e principalmente nas ilhas do Pico e da Terceira o número de caçadores de galinholas tem vindo a aumentar, embora não se dediquem exclusivamente a este tipo de caça. 

Nos  Açores e nos últimos 40 anos foi exercida  uma  pressão  extraordinária na caça à galinhola por alguns  Franceses que se encontravam destacados na Base Francesa para rastreio de mísseis balísticos existente na Ilha das Flores. Com o encerramento daquela unidade militar no último quartel do Séc. passado este problema foi ultrapassado.
A galinhola açoriana é uma espécie que vive e reproduz  todo o ano em algumas ilhas dos Açores. É pois uma ave autóctone e bem adaptada às condições edafo-climáticas de algumas ilhas açorianas como é o caso do Pico, São Jorge, Faial, Flores ou mesmo de São Miguel. Sendo assim, compete aos caçadores e aos serviços oficiais da caça desenvolverem um esforço redobrado na sua gestão e sustentabilidade, sob pena de, a prazo, a sua existência ficar fortemente ameaçada, até porque elas habitam num território muito limitado e frágil.
 Diz-se que, há uns anos atrás, foi cobrada uma galinhola em França que teria sido anilhada na Ilha de São Miguel. É possível, mas  a ter acontecido, é um fenómeno muito raro.

2. A minha experiência de caça nas mais variadas Ilhas açorianas, na companhia de excelentes caçadores de galinholas e de magníficos cães de parar, sobretudo das raças Setter inglês e Epagneul bretão, permite-me constatar que a população de galinholas se encontra estável, isto é, podemos ainda caçar, mas muitos perigos espreitam a população de galinholas dos Açores e o principal e mais devastador é a alteração dos habitats com a construção de novas vias de comunicação por todo o lado, caminhos agrícolas, arroteamentos para a criação de prados para o gado bovino, destruição dos fetos, musgos e zonas húmidas são estas as verdadeiras ameaças à sustentabilidade e existência das galinholas açorianas, e este perigo é real e existe.  Em segundo lugar se destacam os furtivos, sobretudo os que se movimentam e matam na calada da noite e designadamente no período de reprodução da espécie que, com a alteração climatérica que estamos a assistir, é cada vez mais longo.
Para contrapor os aspectos negativos aqui referenciados, algumas medidas positivas têm sido implementadas nos Açores e que importa referir. A primeira foi a proibição de “caçar” na passagem da  galinhola, ao anoitecer e no período forte do acasalamento. Este tipo de prática venatória tinha alguma tradição nos Açores, mas provocava muitos estragos e  muitas das galinholas abatidas não chegavam a ser cobradas, já que a maioria destes caçadores não utilizava cão de caça e muito menos cão de parar. Hoje, só é legalmente possível caçar a galinhola com cão de parar e no máximo de dois caçadores e dois cães, das 08h00 às 17h00. A caça nos Açores, da nossa dama dos bosques e das turfeiras só é exercida nos meses de Outubro, Novembro e, excepcionalmente, até meados  de Dezembro.  Uma outra medida importante para a sustentabilidade das galinholas  reside no facto de, na Ilha do Pico,  existir a  alternância das zonas de caça, embora esta medida acabe por ser parcialmente anulada pelo facto de ser permitida a caça ao coelho precisamente nos mesmos lugares que estão interditos à caça da galinhola e pela antecipação da abertura da caça ao coelho nas zonas em que é permitida posteriormente a caça à galinhola.

3. A caça à galinhola nos Açores desenvolve-se em terrenos muito bonitos, com paisagens deslumbrantes, mas  também difíceis de progredir e muitas vezes debaixo de um clima bastante exigente (nevoeiro denso, fortes chuvadas e vento forte). Uma boa preparação física dos caçadores e dos seus cães são imprescindíveis para o sucesso da jornada. Paralelamente, quem não conhecer a biologia das galinholas e o seu comportamento nunca será um caçador a sério de galinholas. O clima e o habitat são determinantes para a vida e o desenvolvimento da galinhola.  Na caça à galinhola cada dia é um dia diferente, ou porque o tempo mudou, ou porque o nosso companheiro cão de parar mudou de humor, ou porque as cargas que utilizamos ou a arma deixaram de ser as mais adequadas, ou ainda, porque pura e simplesmente a galinhola nos fintou. Costumo  dizer à minha mulher “ainda bem que só nestes últimos 20 anos despertei para a arte e para a paixão que é a caça à galinhola”, e isto,  para bem da preservação da espécie. Quanto mais aprendo neste tipo de caça mais difícil se torna fisicamente colocar os conhecimentos em prática.

4. Um outro aspecto importante para a sustentabilidade da galinhola nos Açores e em todo o Mundo advém do acompanhamento científico da sua dinâmica populacional. Fica aqui uma referência muito especial  ao papel  desempenhado  nos Açores pela Dr.ª Ana Luísa e pelo Carlos Pereira, por saberem aliar a componente científica ao imprescindível papel dos caçadores no estudo desta espécie mítica e maravilhosa que é a galinhola. Espero que nestes próximos tempos o papel da ciência prossiga sem “ politiquices”,  pois  trata-se de um trabalho cientifico absolutamente  imprescindível para a perenidade da espécie.

5. Finalmente uma nota muito positiva para a componente social e gastronómica que, no meu caso, envolve sempre a caça às galinholas. Só com amigos a fundo se consegue caçar às galinholas como eu as caço verdadeiramente nos Açores. Existem segredos que não partilhamos com mais ninguém. Por outro lado, temos que nos conhecer bem e confiar uns nos outros, pois os terrenos e o clima em que caçamos exigem que a componente da segurança seja muito valorizada.  Só desfrutamos dos lances em pleno e da maravilha que é a caça à galinhola fazendo uma equipa perfeita.
O convívio que antecede a caçada e o que se segue são sempre momentos altos de confraternização e memoráveis, bem vividos, comentados,  com umas refeições extraordinárias,  para além de sermos sempre bem recebidos pelos nossos amigos.
A raridade e a qualidade gastronómica das galinholas são únicas,  como é ímpar o quadro que retrata a beleza e o mistério  em que se desenvolve a sua caçada. 



Texto da autoria de Gualter Furtado
Fotos da autoria de Carlos Pereira, José Correia e Gualter Furtado

17 de outubro de 2012

O Caçador do Futuro

No n.º 180.º, da edição de Outubro de 2012, da conceituada revista Caça & Cães de Caça, vislumbramos um artigo que nos chamou a atenção, da autoria de Mário do Carmo, intitulado “O Caçador do Futuro”.
Mário do Carmo pratica a actividade venatória há 42 anos. É licendiado em História, Mestre em História Regional e Local, Doutorado em História Contemporânea, cuja dissertação versou a Cinegética, tendo sido adaptada em título “A Caça Através do Tempo”; é quadro superior da Presidência do Conselho de Ministros, actualmente cedido por interesse público à Universidade Aberta como professor coordenador de toda a formação no mundo rural ministrada por esta instituição de ensino. Foi membro convidado do Conselho Nacional da Caça e da Conservação da Fauna, autor de diversos artigos científicos sobre a cinegética e filmes sobre gestão de caça, participou e organizou em congressos, seminários e eventos sobre a caça e o mundo rural.
Poderá ser contactado através do e-mail: marifcarmo@gmail.com

“O verdadeiro caçador é um sabedor dos elementos da natureza, como a fauna e flora, montes e vales, cursos de água, chuva e vento, mas sobretudo é um profundo conhecedor dos animais. Para se ser caçador exige-se ao praticante qualidades fisicas, atributos intelectuais e morais”

O Caçador do Futuro

"O problema venatório insere-se na vida pública de forma subalterna e local com diferentes motivações regionais. Ao mesmo tempo, revela-se como um dos factores mais difíceis de conhecer, para efeitos de estabelecer um pacto social entre proprietários e caçadores. Também é verdade que os políticos (e os Governos) portugueses nunca analisaram, a sério e com espírito de sacrifício, essa pretensão desigual, num país politicamente unificado. No caso da cinegética portuguesa, defende-se, contra isto, o poder político de diferentes formas. Uma delas faz-se personalizando constantemente as ocorrências. São afinal as pessoas que, na política concretizam o significado social dos termos abstractos.
O caçador português, durante várias gerações, foi rotulado como aproveitador de um capital cinegético, em cuja produção não participava minimamente, a não ser exigindo, em cada época e em cada momento, que a ordem natural repusesse os recursos bravios, omitindo o facto dos agricultores, em todo o processo produtivo, terem uma função essencial. Evidentemente, não era com comportamentos negativos que se podia alterar o universo da caça, quando os próprios interessados não colaboravam naquilo que era do interesse mútuo.  
Sabe-se também que à luz de uma certa crítica social têm sido os caçadores portugueses vistos como uma mera massa abúlica, arrastada por influências e motivações alheias. Tal visão unilateral, imediatista, sobre o envolvimento político da sua natureza e comportamento em sociedade, ignora a influência das mediações ideológicas, tendendo a promover agrupamentos em torno das principais opções de regime, não pode ser avaliada em termos grosseiros e absolutos, mas no entrelaçamento com as aspirações e lutas sociais específicas, as situações concretas, as conjunturas económicas e políticas, como expusemos, tão frequentemente.
A actividade cinegética, associada ao meio rural, envolve um profundo sentido antropológico, social, político, ecológico que o caçador do futuro terá que assumir. Contudo, o comportamento contraproducente de alguns caçadores contribuiu para a degradação da sua imagem e da diminuição  do número de praticantes, cada vez mais urbano e menos rural.
Acresce que muitos caçadores se limitam a colher uma quota-parte do capital que não ajudaram a criar, facto que, no seu conjunto, tem transformado a caça em algumas regiões do território nacional  numa actividade egoísta, de costas viradas para os habitantes do mundo rural, quando deviam ser aliados imprescindíveis. Este paradoxo - que radicalizou o clima de contestação - foi inteligentemente aproveitado pelos movimentos urbanos para combaterem a actividade cinegética. 
Também sabemos que a gestão dos recursos cinegéticos é matéria complexa quando briga com os interesses dos proprietários, designadamente quando procura, sem contrapartidas, extrair benefícios cinegéticos, como acontece actualmente com algumas Zonas de Caça Municipais. Portugal é um dos únicos países da comunidade europeia onde a caça não é considerado um fruto. Daí a raiz do problema que, por similitude, justifica os fundamentos pelos quais foi criada a figura do direito à não caça como forma de proteger o património rural.
O futuro da caça e dos caçadores, para lá da atitude que cada um possa ter em relação a esta prática, deverá residir num compromisso harmonioso entre as exigências diversas da sociedade moderna e uma gestão ordenada das populações de espécies cinegéticas, equilíbrio que deverá assegurar uma plena satisfação ao praticante, cada vez mais urbano e parente longínquo do homem-caçador.
Pode-se mudar de retórica, de leis, até de espírito reivindicativo de direitos de caça, mas a caça terá de ser gerida de forma sustentável e racional, de acordo com as condições de reprodução e repovoamento em cada época venatória. Estude-se, da melhor forma, como deve ser alargado o direito de caçar, mas não se termine com o direito de todos o poderem exercer.
O caçador do futuro, face aos desafios que se avizinham, terá de dialogar com os proprietários e todos os intervenientes do mundo rural, criando um compromisso com a conservação do património rural. Para manter viva a actividade cinegética, o caçador-produtor-gestor tem uma missão complicada no quadro rural que se avizinha: compete-lhe administrar os recursos cinegéticos no pressuposto iniludível de os aumentar; deve garantir para as gerações futuras a sustentabilidade da actividade cinegética. É neste compromisso que reside o futuro da caça."

Mário do Carmo (Outubro de 2012). Caça & Cães de Caça, O Caçador do Futuro (pág. 25)

9 de outubro de 2012

Abertura Geral da Época de Caça 2012/2013

No passado dia 07 de Outubro de 2012, os caçadores da Ilha de Santa Maria, a mais oriental das terras Açorianas, celebraram a abertura geral de mais uma época de caça, desta feita a de 2012/2013.
As duras condições climatéricas que se fizeram sentir ao amanhecer, caracterizadas pelo forte vento e por um céu bastante carregado, ameaçando chuva pesada, nem por isso foram suficientes para desmotivar os verdadeiros devotos de Santo Huberto.
Sendo o coelho bravo a espécie cinegética mais desejada, no final da esforçada jornada os caçadores por nós contactados, foram unânimes em afirmar que os números eram bem menores do que os observados em igual período da época transacta, facto que foram justificando com a devastação provocada pela Doença Hemorrágica Viral nas populações de coelho, verificada que foi em finais de Dezembro passado e nos inícios do presente ano; com a passagem do Furacão Gordon pela Ilha, ocorrida no final do mês de Agosto transacto, com os efeitos da Tempestade Tropical Nadine e com a prática constante da caça furtiva.
Apercebemo-nos, por tudo isto, da existência de um profundo receio e de uma enorme ansiedade no seio dos caçadores marienses, quanto à viabilidade e desenvolvimento da actividade cinegética nesta Ilha.

Comparando o Calendário Venatório da época anterior com o actual, constata-se que este último estende a caça a terrenos que antes se encontravam interditos à prática venatória e que reduz de 5 para 4 o número permitido de capturas de coelhos.
Por outro lado, e sempre na caça ao coelho, proíbe agora o uso de quaisquer instrumentos cortantes e afins.
Se o aumento da área de caça e a redução do número de peças nos parece uma medida aparentemente contraditória e que nos levanta algumas dúvidas, a interdição do uso de foices já causa um enorme desagrado, sobretudo nos caçadores de corricão, até porque se trata de um instrumento ancestral e com forte tradição na Ilha de Santa Maria.

No terreno contactamos Victor Carreiro, de 46 anos, titular de carta de caçador deste os 17 anos, que nos disse ter optado pelo Lugar de Abegoaria para fazer a sua abertura.
Ao contrário das épocas anteriores, fê-la sem os seus companheiros habituais, devido a impedimentos de última hora e a desistências da caça no seio do grupo.
Foi então por si e pelos seus cães, tendo começado pelas 08H00 e terminado cerca de duas horas depois, assim que alcançou a conta.
Viu menos caça do que na abertura passada e justificou-o com as intempéries supra-mencionadas e com a necessidade de se olhar a caça não como um dado adquirido,  que se renova automaticamente todos os anos, mas como um bem insubstituível e de inestimável valor que é necessário saber cuidar e gerir com mais atenção.

Para José Cabral, também de 46 anos e caçador com arma de fogo desde os 18, esta foi a pior abertura de sempre.
Tendo começado igualmente às 08H00, escolheu por levar os seus quatro cães pelo Lugar de Cabrestantes.
Terminou pelas 12H00, sem ter alcançado o limite estabelecido de peças.
Observou poucos coelhos e realçou o facto de também se ter deparado com menos caçadores.
Se a doença, o mau tempo e o furtivismo provocaram uma menor densidade de caça, também as actuais condições económicas e financeiras por que passa o País vieram afastar muitos caçadores, concluiu.

Jorge Santos, de 47 anos e caçador encartado desde os 16 anos, é da opinião que a doença, o mau tempo e a caça furtiva são as principais causas da menor densidade de coelhos verificada. Por outro lado, constatou igualmente uma redução significativa do número de caçadores, situação que muito o preocupava, embora adiantasse que, talvez fosse esta uma oportunidade para se apurar uma melhor relação na pressão a que se sujeita a caça.
Disse-nos, em tom de desabafo, que, a manter-se esta realidade, a tendência seria a redução gradual das populações cinegéticas em grave prejuízo dos caçadores.
Que, nesse sentido, a gestão da caça assumia-se como uma necessidade cada vez mais urgente, mesmo de primordial importância, e que devia de ser repensada, pelo que os serviços oficiais da caça e os próprios caçadores deviam assumir as suas responsabilidades quanto antes, sob pena de se agravar uma situação que já muito o preocupava.

Daniel Cabral, de 51 anos de idade e caçador desde sempre, traçou o rumo da Ribeira dos Furados. Para ele também foi uma abertura difícil e esforçada.
Com a conta feita, lamentou-nos, mesmo assim, os dois coelhos que não conseguiu cobrar, porque, sem poder fazer uso da sua foice pelas razões já citadas, foi-lhe impossível penetrar no silvado onde tombaram.
Disse-nos que era muito triste constatar uma tão fraca densidade de coelhos e que as sucessivas exigências  para se continuar a caçar têm sido desgastantes e muito frustrantes, situação que tem vindo a afastar da caça um número considerável de praticantes, mas garante que não desistirá e que tudo fará para continuar a exercer uma  actividade que pratica e desenvolve desde os seus tempos de criança.

Acompanhamos também uma equipa da Polícia Florestal de Santa Maria que, para além das funções de fiscalização habituais e da demonstração de uma enorme competência e profissionalismo, procediam igualmente à recolha de um conjunto de informações, tais como: se, em relação à época passada, o número da espécie abatida tinha aumentado, reduzido ou mantido; se o período de caça devia ser aumentado, reduzido ou mantido; se o número de peças estabelecido para cada dia devia ser aumentado, reduzido ou mantido. Na mesma altura quantificavam o número de animais cobrados e os qualificavam de acordo com o sexo e a maturidade de cada um (ver: Estudos ajudam a regular a população do coelho-bravo nos Açores) - sem dúvida um trabalho de recolha muito importante e que tem merecido de todos os caçadores a mais elevada contribuição.

A abertura da presente época de caça na Ilha de Santa Maria foi, assim, marcada pela Doença Hemorrágica Viral, pelas diversas intempéries e pelos nefastos efeitos da caça furtiva, na realidade a maior das preocupações que nos foi transmitida. Por outro lado, e embora seja reconhecido o meritório esforço que tem vindo a ser realizado pelos serviços oficiais da caça, a verdade é que pouco do que tem sido feito e apresentado se tem traduzido numa evolução positiva no terreno, pelo que persiste um elevado sentimento de insatisfação e de ansiedade, que a actual situação por que passa o País só vem agravar ainda mais.
De muito positivo é que agora nos apercebemos, sem dúvidas, da extensão e da vontade dos devotos de Santo Huberto na alteração deste estado de coisas e que, quando assim é, a esperança de novos e melhores tempos subsistirá, pelo que, no final, prevaleceremos!

7 de outubro de 2012

Estudos ajudam a regular a população do coelho-bravo nos Açores

O Secretário Regional da Agricultura e Florestas presidiu, na noite de 13 de Setembro de 2012, ao lançamento do livro “Gestão de recursos cinegéticos no arquipélago dos Açores – O Coelho-bravo”.


Trata-se da edição das conclusões de um estudo sobre as espécies cinegéticas do arquipélago, neste caso dedicado ao coelho-bravo, elaborado pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e recursos Genéticos da Universidade do Porto, em cooperação com a Direção Regional dos Recursos Florestais (DRSF) da Secretaria que tutela.

Falando aos jornalistas, Noé Rodrigues sublinhou a importância deste trabalho, tal como de outros estudos anteriores realizados na Região pelos serviços oficiais, em colaboração com os caçadores e agricultores locais, para a melhor gestão das populações daquela espécie, nas várias ilhas.

“Na sequência da alteração do edifício jurídico regulamentador da caça e das espécies cinegéticas na Região, tivemos a oportunidade de desenvolver um conjunto de ações, do ponto de vista de melhorar o conhecimento das espécies cinegéticas da Região, associando universidades, quadros técnicos da DRSF e guardas florestais”, no sentido de recolher e divulgar essa informação, junto dos caçadores e agricultores, disse o governante.

Essa informação destina-se, segundo acrescentou, a “determinar melhor os calendários venatórios, os processos de caça a utilizar, a criar novas oportunidades de caça e a melhorar a gestão das várias espécies, fazendo repovoamentos naquelas que tenham níveis de densidade muito baixos e fazendo correções de densidade naquelas com densidade elevada, de forma a acautelar os interesses de caçadores, por um lado, e de caçadores, por outro”.

Noé Rodrigues anunciou, ainda outras medidas, relativas à identificação electrónica e sanidade animal dos cães de caça na Região, bem como a criação de campos de treino para estes animais auxiliares da caça, como forma de obviar à aprendizagem dos mais jovens em matilha.

Fonte: GaCS/FA

28 de julho de 2012

Em jeito de reflexão

Aquilo que vou postar não é para os detractores da tauromaquia, e sim para nós outros, os aficcionados ou aqueles que sem o serem estejam todavia na fronteira da tolerância e do respeito! 
É uma reflexão que só pode interessar a quem reflicta, a quem pense, não a energúmenos eivados de todas as raivas contra o que não entendem e contra quem não pensa como eles. Essa gente que não se assume como gente, antes como animais humanos, como os mesmos animais só sabe urrar, reagindo por mero instinto, irreflectidamente como os animais e não em consequência daquilo que é apanágio da espécie humana, que são as funções de selecção e síntese ou seja, a inteligência! Essa sim, em vez de sons e actos instintivos, irreflectidos, produz idéias e actos inteligentes.
Eu não lhes ligo… também não lhes perdôo lá porque não sabem o que dizem, mas ignoro-os como aos cães que ladram de dentro dos quintais. A única coisa que podem fazer é isso mesmo, ladrar! E, fazem-no para nos perturbar, tentando aliviar assim a sua frustração de não mais conseguirem que de facto aborrecerem-nos! Não acabarão com a tauromaquia, nem nos farão mudar de idéias… e eles sabem-no! Daí a sua irritação, e tanto maior quanto menos conseguirem, ou seja, é um excelente indicador, a actividade e a raiva que manifestam contra nós! Porque resulta da impotência.
Ignorem-nos… eles hão-de concluir que até nisso falharam! 
Sempre houve gente como eles. Que só entendem aquilo que acham como a sua verdade. Que não conseguem nem querem perceber que há outras idéias, outras sensibilidades e maneiras de ver e de sentir, de pensar. Gente que nunca percebeu nem vai perceber que a diversidade das idéias é justamente a maior maravilha da Humanidade! Aquilo que faz do Mundo e da sociedade uma manta de retalhos fabulosa, de criação e diversidade, pelas diferenças que possibilitam haver lugares para todos e para tudo. Nós o sabemos, e por isso daremos exemplo de tolerância! Aceitando e respeitando que haja quem não aprecie, até não seja capaz de ver… 
Os “anti”, são gente de baixa moral, que só vê tudo pelo seu prisma e não entende nem aceita que outros existam, tendo por princípio que todos devem pensar, sentir e agir como eles, e só! Impõem-no e prevêem a destruição física de quem assim não seja, a proibição de tudo o que não seja deles e como eles… ao longo da história eles perpetraram os maiores crimes contra a humanidade, em nome desses seus ideais – tidos por únicos e derradeiros, superiores… 
Esta gente que anda por aí a apodar-nos e a insultar, estariam a assistir vociferantes e alegremente aos autos de fé no Rossio, alguns deles de bom grado sentados nas cadeiras dos inquisidores! Foram quem mandou tanta gente para os campos de concentração, fornos e câmaras de gás nazis, para os Gulag e internamentos soviéticos, quem levantou o muro de Berlim, construiu Guantánamo, tudo em nome dos seus elevados princípios superiores e dos seus ideais absolutos, mas apenas porque outros eram diferentes e pensavam diferente. Temiam-nos e tinham de os destruir.
É bom que nós aficcionados e os outros que não são mas respeitam, percebam isto, e quem é esta gente! Não me refiro a todos os não-aficcionados, pois repito que os há por simples questões culturais e de sensibilidade, como eu não gosto de lieder ou de pintura abstracta, dos filmes de Manoel de Oliveira… esses limitam-se a não gostar! O que de acordo com a minha maneira de ver é legítimo e enriquecedor, pois mau seria se todos gostássemos do mesmo e pensássemos como um só! Era o pensamento único…
Estes são a maioria, felizmente, ou o Mundo seria impossível de nele se viver… 
Os que mais se acirram, os “anti”, são os que se acham donos da verdade e pretendem impor o pensamento único (o deles!). Que usam de falaciosos argumentos, de meias-verdades hábilmente compostas, manipulam imagens, tudo no sentido de impressionar e chamar para a sua causa os que não gostam, os bem-intencionados. 
É preciso desmascarar e fazer entender aos que não gostam, que a finalidade dos anti-taurinos não é apenas acabar com a tauromaquia e sim impor a sua filosofia, formas de estar e de pensar! Quando um dia acordassem e já não houvesse touradas nem toiros de lide, caça, pesca, circo, criação de animais, consumo de carne na alimentação e vestuário ou outras, o Mundo seria o deles, e viver-se-ia e se pensaria como eles determinassem! Só se teria acesso ao que eles deixassem e entendessem de acordo com as suas idéias! As crianças educadas como eles mandassem… as artes, espectáculos, segundo os seus cânones e destruído tudo o resto como as estátuas de Buda, os livros e as pinturas queimadas pela inquisição ou os nazis, etc. 
Convém que se perceba! Que se desmascarem, e, que quem não aprecia touradas continue a não apreciar, pois isso será um excelente e saudável sinal de que as touradas continuam e que não se impôs o pensamento único!
Tudo afinal em nome do desconhecimento e da intolerância por ele gerada… porque os homens tendem a tomar os restantes por si mesmos. Como alguns são incapazes de perceber a tauromaquia, e nem sequer tentam fazê-lo para buscar o conhecimento e entendimento, limitam-se a avaliar segundo o seu limitado pensar, e a concluir erradamente pelas impressões distorcidas que colhem.
Quem de uma lide apenas veja e a reduza a cravar ferros num animal, que interpreta apressada e pouco avisadamente como sendo o que atrai a multidão, está ao mesmo nível de embrutecimento daquele que perante o quadro Guernica, de Picasso, apenas veja e o reduza a um monte de borrões e figuras distorcidas, incapaz de perceber por insensibilidade aquilo que traduz, ou de um modo mais simples, assistindo a um jogo de futebol, o reduza a um grupo de homens em calções a correr de um lado para o outro empurrando uma bola, caindo e levantando-se… 
Porém, se retirada a capa da incompreensão e do preconceito, analisarem toda a cultura e o culto que compõem a tauromaquia, indo mesmo às suas raízes que a determinaram mediterrânica e ibérica, não chinesa nem islandesa, mesmo não passando a gostar – o que repito é uma questão de sensibilidade pessoal – pelo menos cumprem o preceito humanista da busca do saber, pois só o conhecimento conduz à compreensão e esta à tolerância que permite aos homens viverem em sociedade e em paz… do contrário resultam as agressões e a guerra, afinal maioritáriamente causadas por essa incompreensão e intolerância, canalizadas pelo sentimento da agressão de que os nossos detractores (e não os aficcionados) dão tantas provas! 
Lembrem-se de que enquanto eu aficcionado apenas defendo o direito às minhas idéias, os anti-taurinos pretendem impor-nos as deles!
Aos que se julgam “anti”, aos indecisos, aos tolerantes e aficcionados, como forma de esclarecimento, aconselho a leitura de um pequeno mas esclarecedor livro do grande filósofo contemporâneo, espanhol, José Ortega y Gasset, “Da caça e dos touros”, quem reflectiu como homem e filósofo, numa questão profunda e tão característica da nossa cultura. Acreditem que será útil, e todos ganharemos com isso e com a pacificação, sobretudo os animais, afinal em nome de quem se erguem as espadas contra nós! 

Texto e foto da autoria de António Luiz Pacheco

15 de julho de 2012

Crónica de Miguel Sousa Tavares

“Prossigamos na destruição do património público do país. Já vendemos o idioma e o cimento aos brasileiros, a electricidade aos chineses, os combustíveis, parte da banca, do Douro e da comunicação social aos angolanos, vamos vender a TAP aos colombianos ou espanhóis, o espaço aéreo a quem se verá, as minas aos canadianos, a construção naval a quem quiser, e até a água (a agua, meus senhores!) está na agenda.
Mas até o pouco que resta, como património histórico, cultural, social e económico, está ameaçado — agora, não por excesso de liberalismo, mas por excesso de estupidez. Na semana que agora entra, o Bloco de Esquerda propõe-se fazer votar na Assembleia da República uma lei que, redigida de forma sibilina e cobarde, visa abrir caminho para a posterior proibição de touradas, circos com animais, caça e pesca desportiva. Para já, o projecto de lei diz pretender apenas “condicionar” o “apoio institucional ou a cedência de recursos públicos” à “não existência de actos que inflijam sofrimento físico ou psíquico, lesionem ou provoquem a morte do animal”.
Parece pouco, mas é imenso: “condiciona” (ou seja, proíbe) desde logo a cobertura televisiva da RTP às corridas de touros, as reportagens sobre caça ou pesca desportiva; proíbe a cedência de terrenos camarários para a instalação de circos com animais ou criação de zonas de caça ou de pesca municipais (a Câmara Municipal de Mora, por exemplo, já não poderá voltar a organizar o Campeonato do Mundo de Pesca Desportiva, onde os peixes da Ribeira do Raia, coitadinhos, às vezes moncos; a de Benavente não poderá ceder terrenos para as corridas de lebres com galgos, onde, embora não morrendo, o “sofrimento psíquico” das lebres é, infelizmente, bem presumível; a de Mértola, cuja principal fonte de receita turística é a caça, vai ter de cessar todos os seus apoios à actividade que ainda mantém o concelho vivo uns quatro meses por ano); e etc., não há limites para a imaginação persecutória dos “amigos dos animais”. Mas isto, como é evidente, é apenas um primeiro passo, ciclicamente ensaiado, e cujo fim é chegar à proibição, pura e simples, de tudo o que não entendem nem querem entender e que acham que lhes fica bem defender.
Vou, portanto, repetir também a minha cíclica resposta: este lado padreco, Bairro Alto e urbano-esquerdista do Bloco de Esquerda é intragável. A fatal companhia dessa anémona política chamada “Os Verdes” (sempre a oeste das ordens do PCP e a leste de tudo o que interessa na política de Ambiente), é enjoativa. E a inevitável participação do grupelho ‘fracturante’ do PS, estremecendo de emoção de cada vez que se fala de mulheres, gays ou animais, sendo estágio obrigatório de ascensão política lá na agremiação, é desprezível. Todos irão fatalmente votar a favor de um projecto de lei que é verdadeiramente fascista na sua essência, culturalmente ignorante e ditatorial, centralizador e arrogante. Já sei: vou ser uma vez mais esmagado nos vossos blogues e Facebooks (Twitters, perdão), onde, à falta de melhores causas ou de coragem para outras, a vossa grande liberdade é perseguir a liberdade alheia.
Mas, sabem que mais? Estou-me nas tintas para a vossa opinião. Tenho pena, apenas. Tenho pena de quem não entende a beleza de uma tourada ou o “silêncio poético e misterioso, um silêncio que estremece” do toureio de José Tomas (“El País”), de quem nunca cheirou a esteva e o orvalho de uma manhã de caça, de quem nunca perdeu horas sentado na margens de rio à espera que o peixe morda o anzol, de quem vai ao circo e não quer ver os leões do Paquito Cardinslli. Tenho pena, mas não posso fazer nada, que não isto: lutar para que não passem."
Expresso, 06/07/2012

7 de julho de 2012

Quem é bárbaro afinal

Leonel Moura, Senhor é uma condição que se adquire consequentemente não aplicável perante as suas afirmações e maneiras, terá outras habilitações ou títulos mas não este, sinto-me na obrigação de responder ao seu texto “Os bárbaros entre nós” porquanto naquele se permite argumentar em nome dos Caçadores, para além dos adjectivar a seu prazer.
Acontece que eu faço parte do grupo de pessoas que, legalmente, praticam essa actividade. A Caça está legislada e regulamentada e para a prática desta paga-se aos Estados onde se pratica, revertendo esta verba para os serviços da administração central, condição que se não verifica para a prática da escrita sobre o desconhecido, que Leonel Moura pratica graciosamente ou até (não sei, por isso não afirmo), sabe-se lá, mediante remuneração.
Do que se permitiu, independentemente das inexactidões e erros, opinar sobre as acções de S.A.R D. Juan Carlos, Rei de Espanha, não me cabe comentar, mas quando se permite afirmar “…A caça, toda ela, de coelhos a elefantes, é uma actividade sem qualquer justificação na sociedade contemporânea. É um crime praticado por gente incivilizada…”, aí já está a entrar no meu espaço e liberdade, classificando-me de criminoso. Acontece que não lho permito porque é falso!
Conforme acima indiquei a Caça é uma actividade legal. Assim, a sua liberdade de opinião acaba quando mente e mentindo atinge e viola (conscientemente) os direitos que, ainda que não concorde, aos caçadores assistem por condição e porque legais.
Da justificação para a existência da Caça na sociedade contemporânea, fique sabendo que a mesma (sociedade contemporânea) pode não se rever no formato e escolhas que Leonel Moura perfilha. Por incrível que lhe possa parecer, também os outros podem ter as suas concepções para essa sociedade, defendê-las e publicitá-las, mas não podem mentir e desinformar para a sua defesa ou estarão, então sim, a cometer o crime de difamação, entre outros.
Permite-se também nesse seu texto adjectivar S.A.R. de “…bárbaro,… primitivo, um delinquente…” que só não comento porque o colou à prática de chacinas de indefesas criaturas, assim sendo não se enquadra na prática da Caça e, portanto, não me merece o comentário ainda que duvide que tenha a capacidade de, em sede própria, fazer prova das suas afirmações, mas essa matéria, por agora, não me compete.
A classificação da caça, como actividade proscrita, ao nível da escravatura, do xenofobismo e racismo, dá uma boa imagem da sua própria concepção da tal “sociedade contemporânea”, onde, como se vê, as práticas dissonantes da sua opinião devem ser combatidas e banidas porque Leonel Moura as não compreende, bravo! Afinal quem é o bárbaro? Deixe-me aplaudir a sua “abertura de espirito”, ou será que o espirito aberto é “modal” e decorrente do interesse comercial e da sua própria promoção de imagem.
Ainda no mesmo parágrafo afirma que os praticantes da Caça “…têm os seus argumentos. Nâo são muitos, reduzem-se a dois….”, poderá Leonel Moura, em nome dos Caçadores, falar? reduzindo-nos a pobres de espirito sem capacidade de argumentação? Não! Leonel Moura mais uma vez crê-se detentor da informação mas erra, muito mais argumentos existem, o que acontece é que os desconhece, até porque não lhe interessará conhecê-los, a matéria “não vende”, o que vende é o ataque despudorado a um colectivo que, até agora, mais não reivindicou que o direito a exercer a sua actividade em sossego e longe das multidões, pagando, regular e sistematicamente, para poder fruir da sua actividade. Se calhar é hora de “chamarmos as vacas pelos nomes” e sairmos em defesa daquilo porque pugnamos, desde já com uma substancial diferença, sem ofender ninguém! 
Um argumento que Leonel Moura desconhece (ou omite) é que, de facto, comprovado cientificamente e com estudos vários a suportá-lo, muitas espécies não existiriam se não se caçasse e não apenas as que são objecto directo da Caça (ditas espécies cinegéticas), mas muitas que apenas controlando as que se caçam permite subsistirem.
Leonel Moura usou, habilmente diga-se, de alguns dados, pena omitir outros, por exemplo, um elefante custa 40.000 euros, segundo o próprio Leonel Moura, efectivamente custará, poderá até custar mais como também menos, mas será que Leonel Moura não saberá que destes 40.000 euros uma percentagem substancial vai, directamente, para as populações locais, bem como a carne dos animais abatidos (e não pensem que aquelas populações têm acesso a carne normalmente),não saberá que o turismo de Caça representa um dos maiores encaixes financeiros daqueles estados (maiores, por vezes, que o do turismo comum), que só o Botswana tem uma população estimada (com monotorização e estudo em que se envolvem as Organizações de Defesa da Natureza e Vida Selvagem) de 140 a 160 MIL elefantes e que apenas cerca de 400 são caçados (legalmente) por ano e estes segundo quotas definidas pelos organismos responsáveis em articulação directa com as Organizações de Defesa e Conservação da Natureza do País e Internacionais.
Será que Leonel Moura desconhece estes factos ou será que os omite voluntariamente, desinformando quem julga estar a ser informado, recolhendo para si os louros do defensor da natureza e sociedade que afinal só conhecerá parcialmente ou desconhece de todo, mas, garantidamente, não se pode permitir representar?
Não saberá que o próprio Quénia equaciona o retomar da prática da caça (exactamente, o Quénia, o primeiro a aboli-la) pois apenas a atribuição directa de um valor aos animais, revertendo total ou parcialmente para as populações locais, permite a conservação das mesmas espécies? Sem este, o seu valor para a população é nulo, tornando-se permeáveis, estimulando até o comércio ilegal e o furtivismo, estes sim crimes. É este valor/espécimen que a Caça permite às populações incutindo nestas a vontade de defesa de um património que, assim, também lhes pertence e que compreendem.
Não saberia também que a destruição do habitat causada pelo excesso de população de elefantes (as causas humanas independentes da Caça, têm também efeitos na Natureza e habitats, a sobrepopulação humana, o desenvolvimento agrícola, a protecção de uma determinada espécie em deterimento de outras, são disso exemplo) está a pôr em causa a sobrevivência de outras espécies, quer animais quer vegetais, nomeadamente no Botswana. 
A visão antropomórfica de algumas espécies, selvagens ou domésticas, leva, em muitos casos, a uma visão deformada e que pode fazer perigar umas espécies em detrimento de outras que são menos apelativas para a generalidade dos humanos. O ursinho “Teddy”, dos contos para criança, transforma-se num monstro quando entra pela nossa própria casa e mata alguém, isto acontece Leonel Moura, então recorrem aos “ignaros e bárbaros” caçadores para o deter, acontece que, se estes puderem manter as populações estabilizadas e o medo dos humanos prevalecer, se evitam estes acidentes em grande número. O desconhecimento destes factos não pode permitir no entanto, que apelidemos aqueles que lhes são alheios de “ignaros”, como alguns tendem a fazer sempre que as escolhas daqueles diferem das suas próprias escolhas.
Quantas vezes Leonel Moura alimentou a fauna selvagem em tempo de escassez? Será que pelo menos conhece a dinâmica das populações de elefantes ou de outras espécies, ou conhece mesmo as próprias espécies, suas deslocações e impacto sobre os habitats? Ou apenas aproveitou um episódio que, porque Real, veio para os meios de comunicação, dando-lhe assim a oportunidade de brilhar? Poderia tê-lo feito sem acusar mais ninguém mas não resistiu à oportunidade de criminalizar a Caça no geral, fez mal, errou, retrate-se ou explique-me porque sou um criminoso, ensine-me e informe-me sobre o campo onde sempre e para quem vivo! Porque será que os que mais distantes estão dela são quem mais comenta sobre a ruralidade? Porque será que querem vir para o campo mas não resistem a querer alterar a sua forma (a mesma que permitiu e permite que ele seja como é e que tanto os atrai), não será arrogância? Será só mesmo ignorância? 
Num ponto concordo com Leonel Moura, concordo quando diz “…O topo da nossa sociedade está repleta de bárbaros. …”, os que têm acesso regular aos média são disso exemplo Leonel Moura ou supõe que todos têm o direito de opinião nos média? Recordo-vos que a Santa Inquisição também se supunha com a razão e também preconizava uma sociedade melhor, lamentavelmente os que foram queimados, por hereges, não podem ser recuperados em acto de contrição.

Leonel Moura usou da disponibilidade que o Jornal de negócios lhe faculta para, teoricamente, ao abrigo do percalço de S.A.R. denegrir, insultar e criminalizar uma actividade e todos os seus praticantes. Espero, sinceramente, que agora o mesmo órgão de informação, permita a este colectivo, que não represento mas no qual me incluo, use do direito de resposta que creio assiste a quem é acusado em espaço público.

Póvoa da Isenta, 26 de Abril de 2012

Paulo Farinha Pereira

Texto e foto da autoria de Paulo Farinha Pereira

6 de julho de 2012

Vale a pena ser Caçador

O amigo e Presidente da CNCP Vítor Palmilha desafiou-me a escrever umas palavras nesta notável publicação, que se insere no prestigiante evento que é a XVII Edição da  Feira de Caça, Pesca e do Mundo Rural do Algarve, que muito valoriza esta Região em particular e o Mundo da Caça em geral, pelo que não pude recusar e aqui estou.

Conto 59 anos de uma vida activa e bem preenchida, dos quais passei 53 anos a viver intensamente uma paixão e um acto de cultura que é a caça.

Aos que tiverem paciência para ler estas minhas linhas, principalmente aos mais novos e em jeito de balanço digo-lhes que  continua a valer a pena ser Caçador.
Pratiquei andebol, joguei futebol, fui aluno do quadro de honra de Económicas, na Universidade Técnica de Lisboa, docente de duas universidades a sério, responsável máximo da pasta das Finanças do Governo dos Açores, ajudei a criar  e ainda sou o responsável número um de uma Instituição de Crédito que dignifica o nome que ostenta.
Privei com muita gente, desde a mais humilde à mais distinta e se tivesse que nomear as três palavras que estiveram sempre presentes  na minha vida indicaria a ética, o trabalho e a caça.
Nunca tive vergonha de afirmar, em nenhuma situação e em nenhum lugar, que era Caçador, muito antes pelo contrário.  
Numa fase bastante amarga da nossa vida individual e colectiva, como a que vivemos actualmente e que é por todos conhecida, com uma lei das armas desajustada a afastar cada vez mais caçadores, com o associativismo a passar por enormes dificuldades,  com as pessoas a agredirem-se  mutuamente ao invés de se aproximarem e de se unirem, com uma presença cada vez mais forte e não menos fanática dos movimentos anti-caça, entre tantos outros aspectos negativos, tudo isto contribui decisivamente para afastar da caça os mais jovens, os mais antigos e muitos  dos praticantes que até há pouco tempo eram bastante activos.
 Apesar de tudo isto, destes fortes constrangimentos à prática cinegética, reafirmo que vale a pena ser Caçador, porque mesmo que tenhamos de fazer sacrifícios, continua sempre a valer a pena!
Para comprar a minha primeira espingarda de caça,  uma Baikal, de um cano, na altura por 10 mil escudos,  deixei pura e simplesmente de fumar e acreditem que na altura custou-me bastante fazê-lo. Ainda hoje continuo a preferir a caça e quando tenho de optar entre a caça e outra coisa qualquer, por muito duro que se torne, escolho sempre a caça.
Ainda recentemente  custou-me imenso ter  de denunciar ao Senhor Provedor de Justiça o comportamento da Secretaria Regional da Agricultura dos  Açores, mais concretamente da Direcção Regional dos Recursos Florestais, entidade que tutela a caça na Região Autónoma dos Açores,  por obrigarem os Caçadores Açorianos e residentes nestas ilhas, titulares de carta de caçador nacional e de licença de caça nacional, a terem de  tirar uma licença de caça de Ilha (8 licenças para 8 Ilhas, já que no Corvo não se caça) com o argumento de que o produto  financeiro proveniente das licenças nacionais  ficava para o Orçamento de Estado e não para o Orçamento Regional.
Ora, tendo sido eu um dos autores da proposta da primeira Lei de Finanças das Regiões Autónomas, sei perfeitamente que este argumento não tem fundamento nenhum e que pode facilmente ser ultrapassado e ainda argumentam que um caçador Açoriano, com uma carta de caçador regional, não pode caçar no Continente!
Estamos pois perante um grave atropelo e quem o diz é quem, sem falsas modéstias o afirmo, já deu muito de si, da sua energia e do seu trabalho aos Açores. Poderia ter optado pelo silêncio, que neste caso seria bem mais cómodo, mas a defesa da caça obriga-nos a tomar uma posição clara quando se torna necessário e impõe-nos sérios deveres, um dos quais o combate às injustiças.
Sinto possuir esta obrigação, já que devo à caça parte da minha saúde e da minha alegria. Na caça fiz amigos extraordinários, conheci lugares e Países que nunca previ lá chegar que não fosse doutro modo. Provei sabores e gastronomia cinegética de excelência, sendo que alguns dos pratos confeccionados e a matéria-prima utilizada só se consegue mesmo sendo caçador.
Na caça desenvolvi e apurei o espírito de equipa e de liderança que me ajudaram a ser o homem que sou.
Finalmente por ter tido a honra de partilhar momentos únicos com os meus cães de caça, podengos e perdigueiros que tudo fizeram e fazem para me agradar e tornar num Caçador completo. Ainda hoje, nestes tempos conturbados que vivemos e fora do período da caça, poder usufruir da companhia dos meus cães de caça, nem que seja uma hora por dia, para além de ser um privilégio é um suplemento vitamínico extraordinário para me ajudar a enfrentar os desafios da vida e só por isto já vale a pena ser Caçador!
Com a idade a avançar, comecei a valorizar ainda mais a componente social da caça, a descobrir o desportivismo que a mesma encerra, a desfrutar da natureza e a preocupar-me com o meio ambiente e a sua sustentabilidade. Valorizo mais a qualidade do lance em detrimento da quantidade dos abates, outrora bem mais aliciantes.
Um coelho bravo bem trabalhado pelos meus podengos ou uma galinhola bem amarrada por uma das minhas Setters ou por um dos meus Bretões não tem preço e vale a pena todos os sacrifícios. Aquele que me ler, sendo caçador, decerto que me compreenderá.
Por tudo isto reafirmo a necessidade de nos unirmos em torno dos valores que estimamos e que nos são comuns, de nos empenharmos na defesa da caça e a darmos o nosso válido contributo para o seu desenvolvimento, porque continua valer a pena ser Caçador, mesmo nos dias que correm.

Gualter Furtado

Presidente em exercício da Assembleia Geral da Federação dos Caçadores dos Açores  e Presidente da Assembleia Geral da Associação Nacional de Caçadores de Galinholas

Texto e foto da autoria de Gualter Furtado

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