7 de julho de 2012

Quem é bárbaro afinal

Leonel Moura, Senhor é uma condição que se adquire consequentemente não aplicável perante as suas afirmações e maneiras, terá outras habilitações ou títulos mas não este, sinto-me na obrigação de responder ao seu texto “Os bárbaros entre nós” porquanto naquele se permite argumentar em nome dos Caçadores, para além dos adjectivar a seu prazer.
Acontece que eu faço parte do grupo de pessoas que, legalmente, praticam essa actividade. A Caça está legislada e regulamentada e para a prática desta paga-se aos Estados onde se pratica, revertendo esta verba para os serviços da administração central, condição que se não verifica para a prática da escrita sobre o desconhecido, que Leonel Moura pratica graciosamente ou até (não sei, por isso não afirmo), sabe-se lá, mediante remuneração.
Do que se permitiu, independentemente das inexactidões e erros, opinar sobre as acções de S.A.R D. Juan Carlos, Rei de Espanha, não me cabe comentar, mas quando se permite afirmar “…A caça, toda ela, de coelhos a elefantes, é uma actividade sem qualquer justificação na sociedade contemporânea. É um crime praticado por gente incivilizada…”, aí já está a entrar no meu espaço e liberdade, classificando-me de criminoso. Acontece que não lho permito porque é falso!
Conforme acima indiquei a Caça é uma actividade legal. Assim, a sua liberdade de opinião acaba quando mente e mentindo atinge e viola (conscientemente) os direitos que, ainda que não concorde, aos caçadores assistem por condição e porque legais.
Da justificação para a existência da Caça na sociedade contemporânea, fique sabendo que a mesma (sociedade contemporânea) pode não se rever no formato e escolhas que Leonel Moura perfilha. Por incrível que lhe possa parecer, também os outros podem ter as suas concepções para essa sociedade, defendê-las e publicitá-las, mas não podem mentir e desinformar para a sua defesa ou estarão, então sim, a cometer o crime de difamação, entre outros.
Permite-se também nesse seu texto adjectivar S.A.R. de “…bárbaro,… primitivo, um delinquente…” que só não comento porque o colou à prática de chacinas de indefesas criaturas, assim sendo não se enquadra na prática da Caça e, portanto, não me merece o comentário ainda que duvide que tenha a capacidade de, em sede própria, fazer prova das suas afirmações, mas essa matéria, por agora, não me compete.
A classificação da caça, como actividade proscrita, ao nível da escravatura, do xenofobismo e racismo, dá uma boa imagem da sua própria concepção da tal “sociedade contemporânea”, onde, como se vê, as práticas dissonantes da sua opinião devem ser combatidas e banidas porque Leonel Moura as não compreende, bravo! Afinal quem é o bárbaro? Deixe-me aplaudir a sua “abertura de espirito”, ou será que o espirito aberto é “modal” e decorrente do interesse comercial e da sua própria promoção de imagem.
Ainda no mesmo parágrafo afirma que os praticantes da Caça “…têm os seus argumentos. Nâo são muitos, reduzem-se a dois….”, poderá Leonel Moura, em nome dos Caçadores, falar? reduzindo-nos a pobres de espirito sem capacidade de argumentação? Não! Leonel Moura mais uma vez crê-se detentor da informação mas erra, muito mais argumentos existem, o que acontece é que os desconhece, até porque não lhe interessará conhecê-los, a matéria “não vende”, o que vende é o ataque despudorado a um colectivo que, até agora, mais não reivindicou que o direito a exercer a sua actividade em sossego e longe das multidões, pagando, regular e sistematicamente, para poder fruir da sua actividade. Se calhar é hora de “chamarmos as vacas pelos nomes” e sairmos em defesa daquilo porque pugnamos, desde já com uma substancial diferença, sem ofender ninguém! 
Um argumento que Leonel Moura desconhece (ou omite) é que, de facto, comprovado cientificamente e com estudos vários a suportá-lo, muitas espécies não existiriam se não se caçasse e não apenas as que são objecto directo da Caça (ditas espécies cinegéticas), mas muitas que apenas controlando as que se caçam permite subsistirem.
Leonel Moura usou, habilmente diga-se, de alguns dados, pena omitir outros, por exemplo, um elefante custa 40.000 euros, segundo o próprio Leonel Moura, efectivamente custará, poderá até custar mais como também menos, mas será que Leonel Moura não saberá que destes 40.000 euros uma percentagem substancial vai, directamente, para as populações locais, bem como a carne dos animais abatidos (e não pensem que aquelas populações têm acesso a carne normalmente),não saberá que o turismo de Caça representa um dos maiores encaixes financeiros daqueles estados (maiores, por vezes, que o do turismo comum), que só o Botswana tem uma população estimada (com monotorização e estudo em que se envolvem as Organizações de Defesa da Natureza e Vida Selvagem) de 140 a 160 MIL elefantes e que apenas cerca de 400 são caçados (legalmente) por ano e estes segundo quotas definidas pelos organismos responsáveis em articulação directa com as Organizações de Defesa e Conservação da Natureza do País e Internacionais.
Será que Leonel Moura desconhece estes factos ou será que os omite voluntariamente, desinformando quem julga estar a ser informado, recolhendo para si os louros do defensor da natureza e sociedade que afinal só conhecerá parcialmente ou desconhece de todo, mas, garantidamente, não se pode permitir representar?
Não saberá que o próprio Quénia equaciona o retomar da prática da caça (exactamente, o Quénia, o primeiro a aboli-la) pois apenas a atribuição directa de um valor aos animais, revertendo total ou parcialmente para as populações locais, permite a conservação das mesmas espécies? Sem este, o seu valor para a população é nulo, tornando-se permeáveis, estimulando até o comércio ilegal e o furtivismo, estes sim crimes. É este valor/espécimen que a Caça permite às populações incutindo nestas a vontade de defesa de um património que, assim, também lhes pertence e que compreendem.
Não saberia também que a destruição do habitat causada pelo excesso de população de elefantes (as causas humanas independentes da Caça, têm também efeitos na Natureza e habitats, a sobrepopulação humana, o desenvolvimento agrícola, a protecção de uma determinada espécie em deterimento de outras, são disso exemplo) está a pôr em causa a sobrevivência de outras espécies, quer animais quer vegetais, nomeadamente no Botswana. 
A visão antropomórfica de algumas espécies, selvagens ou domésticas, leva, em muitos casos, a uma visão deformada e que pode fazer perigar umas espécies em detrimento de outras que são menos apelativas para a generalidade dos humanos. O ursinho “Teddy”, dos contos para criança, transforma-se num monstro quando entra pela nossa própria casa e mata alguém, isto acontece Leonel Moura, então recorrem aos “ignaros e bárbaros” caçadores para o deter, acontece que, se estes puderem manter as populações estabilizadas e o medo dos humanos prevalecer, se evitam estes acidentes em grande número. O desconhecimento destes factos não pode permitir no entanto, que apelidemos aqueles que lhes são alheios de “ignaros”, como alguns tendem a fazer sempre que as escolhas daqueles diferem das suas próprias escolhas.
Quantas vezes Leonel Moura alimentou a fauna selvagem em tempo de escassez? Será que pelo menos conhece a dinâmica das populações de elefantes ou de outras espécies, ou conhece mesmo as próprias espécies, suas deslocações e impacto sobre os habitats? Ou apenas aproveitou um episódio que, porque Real, veio para os meios de comunicação, dando-lhe assim a oportunidade de brilhar? Poderia tê-lo feito sem acusar mais ninguém mas não resistiu à oportunidade de criminalizar a Caça no geral, fez mal, errou, retrate-se ou explique-me porque sou um criminoso, ensine-me e informe-me sobre o campo onde sempre e para quem vivo! Porque será que os que mais distantes estão dela são quem mais comenta sobre a ruralidade? Porque será que querem vir para o campo mas não resistem a querer alterar a sua forma (a mesma que permitiu e permite que ele seja como é e que tanto os atrai), não será arrogância? Será só mesmo ignorância? 
Num ponto concordo com Leonel Moura, concordo quando diz “…O topo da nossa sociedade está repleta de bárbaros. …”, os que têm acesso regular aos média são disso exemplo Leonel Moura ou supõe que todos têm o direito de opinião nos média? Recordo-vos que a Santa Inquisição também se supunha com a razão e também preconizava uma sociedade melhor, lamentavelmente os que foram queimados, por hereges, não podem ser recuperados em acto de contrição.

Leonel Moura usou da disponibilidade que o Jornal de negócios lhe faculta para, teoricamente, ao abrigo do percalço de S.A.R. denegrir, insultar e criminalizar uma actividade e todos os seus praticantes. Espero, sinceramente, que agora o mesmo órgão de informação, permita a este colectivo, que não represento mas no qual me incluo, use do direito de resposta que creio assiste a quem é acusado em espaço público.

Póvoa da Isenta, 26 de Abril de 2012

Paulo Farinha Pereira

Texto e foto da autoria de Paulo Farinha Pereira

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