Em jeito de homenagem ao João Gago da Câmara, falecido
ontem, aos 86 anos, na sua Ilha de São Miguel, transcrevo um excerto da carta
que escreveu e remeteu a João Maria Bravo e parte da resposta deste último.
Consta do seu livro Recordações.
“(...) Concordando ou não, ninguém duvida que o Dr. João
Maria Bravo, naquilo que escreveu ou disse, fez pensar e agir em benefício da
caça, responsáveis ou meros manifestantes. Sempre fui assim também, e, embora
as coisas nunca corram a cem por cento naquilo que achamos ser o ideal, temos
aquela voz audível pelo respeito que a conduta pessoal sublinha em termos de
credibilidade. Isso entusiasmou-me a escrever um livro em que relato como era
esta ilha há mais de cinquenta anos, como é que o homem milenário foi caçador,
para contar algumas passagens interessantes (pelo menos assim o julgo) do que
foi uma vida a pensar na caça, em companheiros inesquecíveis, nos cães, furões,
espingardas e historietas, deixando porém um conceito vivido e pedagógico do
que deve ser um caçador, diferente do que por aí prolifera, que são, como
costumo dizer, caçarretas que atiram para cima de tudo o que mexe.
Não terei a possibilidade de como tu tão bem o soubeste
comunicar, relatar caçadas de grande envergadura e que viveste por este mundo de
Deus, mas isto, meu velho, andar aos assustados coelhos ou às incautas
galinholas, ou perseguir pacassas, leões ou elefantes, nas savanas que também
conheci, embora os perigos e a novidade da paisagem, do clima e até das pessoas
seja diferente, bate com a mesma força no coração de quem tem por este desporto
um indestrutível entusiasmo. (...)”
Resposta do João Maria Bravo:
“(...) Tu e eu, temos da caça, o mesmo conceito.
É uma prática altamente desportiva em que, seja perdiz,
elefante ou urso merece sempre o nosso respeito para a merecermos.
Fomos sempre assim e há-de ser sempre assim, até ao último
tiro! (...)”
Câmara, João Gago da (2002). Recordações. Gráfica Açoriana,
Lda.