1 de dezembro de 2009

O Coelho Amarelo

Para quem vai caçar na manhã seguinte, nada melhor existe do que uma noite bem dormida e descansada, mas eu deitei-me tarde, demasiado tarde para quem necessitava de ter todos os sentidos despertos e alerta.

No dia anterior já havia verificado o material, preparado a espingarda, os cartuchos, a documentação, o vestuário. Aos cães, servi-lhes uma refeição reforçada e tratei de consultar a previsão meteorológica, sobretudo em relação à direcção do vento, temperaturas e pluviosidade, pelo que tudo tinha preparado de véspera.

Nesta manhã acordei com o ladrar do Galileu, faltavam cinco minutos para o despertador tocar. Este cão tem destas coisas extraordinárias. Ele possui noção das horas e sabe em que dias é que vou caçar.
Já em pequeno, quando ainda dormia dentro de um caixote de papelão na garagem e o agasalhava com uma manta durante a noite, ele deitava-se e esperava que o fosse aconchegar, depois ajeitava-a com a boca até ficar com a cabeça totalmente coberta, e, assim se deixava permanecer.

Geralmente coloco o despertador para as seis horas da manhã. Isso dá-me tempo, mais do que o necessário para fazer tudo nas calmas e sem agitação. Ele sabe disso. A Galiza também, mas é mais madura e mais paciente do que o Galileu.
Acontece que quando desactivei o despertador, acabei por adormecer novamente.

Faltavam 10 minutos para as oito da manhã e acordo, desta vez, em sobressalto. O Galileu ladrava e, ao longe, conseguia aperceber-me da existência de disparos. Apesar de cansado, ensonado, sabendo do frio que fazia no exterior, da ameaça de chuva, toda a vez que ouvia um tiro, sentia um desespero tal, que nem dormia, nem deixava dormir. Ora rebolava para um lado, ora rebolava para o outro. A única solução era mesmo levantar-me.

Espreito pela janela do quarto e tinha os dois cães a olharem para mim, em pé, de orelhas afitadas, cauda levantada e estáticos, ambos mudos.
A previsão falava em aguaceiros durante a manhã, mas o céu estava limpo. Abri a janela, falei com os cães, que já corriam, já saltavam, já abanavam as caudas. O reboliço era total dentro do canil e decido ir por eles, que bem merecem todas as atenções.

A Galiza é sempre a primeira a entrar no atrelado, seguida pelo Galileu e lá fomos.

No local já se encontrava uma viatura estacionada e estavam na caça, pelo que optei pelo trajecto onde seria menos provável encontra-los, o qual era o mais difícil também. Quem chega tarde tem que se contentar com o que lhe resta, pelo que a minha preocupação era tomar um rumo que não os prejudicasse, e, assim procedi.

Segui pela linha da costa, entre um muro de pedra seca e o mar.
O terreno era pedregoso, recortado por ribeiras, babosas, muitos juncos e pouco silvado.

Nunca tinha caçado um coelho amarelo.
Foi no regresso. Estava ameijoado atrás de uma pedra, sobre um terreno de cascalho, onde essa pedra que o encobria era pouco maior do que o seu tamanho e era a única daquelas dimensões, não havendo outra semelhante, nem maior, num raio de cinco metros.
Saiu ao Galileu e deixei-o alargar-se o suficiente. A Galiza trouxe-o e ficamos os três, cada um à sua maneira, a admira-lo.

Foi um dia de caça diferente, aliás, não há nenhum dia de caça igual e este não foi excepção,... pois será para sempre o dia do coelho amarelo!

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