"Páginas de Caça"
Teve a sua primeira edição em Janeiro de 2009 e tem por base uma rica selecção de textos e organização da responsabilidade de A. M. Pires, que a Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros publicou em associação com a Âncora Editora.
Poderá ler-se na apresentação efectuada pelo Eng. Beraldino Pinto, Presidente da Câmara de Macedo de Cavaleiros, o seguinte:
"A caça tornou-se uma marca indelével da identidade do concelho de Macedo de Cavaleiros. Inspirados pela beleza das paisagens, por uma boa jornada de caça e pelo saber receber dos macedenses, são muitos os caçadores que desde tempos longínquos aqui acorrem. A Festa dos Caçadores do Norte e a Feira da Caça são igualmente testemunhos dessa marca que se vai transmitindo entre gerações.
A caça, mais do que o simples acto venatório, pelo contacto que proporciona com a natureza e as peripécias dos caçadores, é também fonte de inspiração literária. A obra de Miguel Torga é um notável exemplo de momentos de caça vertidos em literatura. Como Torga, muitos foram e são os autores transmontanos, uns reconhecidos, outros desconhecidos da maioria, que escreveram em prosa ou verso, sobre a ancestral actividade que é a caça. A produção literária é imensa, mas por vezes publicada em edições de difícil acesso à maioria dos leitores, e daí a necessidade de a compilar.
O epíteto de concelho da caça confere ao Município de Macedo de Cavaleiros condições de excelência para ser o percursor da primeira antologia sobre caça na literatura transmontana.
Acrescentou-se ainda o privilégio de Macedo de Cavaleiros ter um homem desta terra, o Dr. Pires Cabral, escritor de reconhecido valor e exímio organizador de antologias. A conjugação germinou na antologia que tem entre mãos, obra que reflecte um trabalho exaustivo de levantamento e compilação de textos por parte do Dr. Pires Cabral, a quem o Município de Macedo de Cavaleiros agradece ter aceite o convite para organizar esta ontologia e o incondicional empenho que nela depositou.
O Município de Macedo de Cavaleiros orgulha-se de promover esta publicação que vem suprimir uma lacuna na literatura transmontana e nacional e de ter o seu nome inscrito nessa antologia de textos sobre caça escritos por autores transmontanos."
A caça, mais do que o simples acto venatório, pelo contacto que proporciona com a natureza e as peripécias dos caçadores, é também fonte de inspiração literária. A obra de Miguel Torga é um notável exemplo de momentos de caça vertidos em literatura. Como Torga, muitos foram e são os autores transmontanos, uns reconhecidos, outros desconhecidos da maioria, que escreveram em prosa ou verso, sobre a ancestral actividade que é a caça. A produção literária é imensa, mas por vezes publicada em edições de difícil acesso à maioria dos leitores, e daí a necessidade de a compilar.
O epíteto de concelho da caça confere ao Município de Macedo de Cavaleiros condições de excelência para ser o percursor da primeira antologia sobre caça na literatura transmontana.
Acrescentou-se ainda o privilégio de Macedo de Cavaleiros ter um homem desta terra, o Dr. Pires Cabral, escritor de reconhecido valor e exímio organizador de antologias. A conjugação germinou na antologia que tem entre mãos, obra que reflecte um trabalho exaustivo de levantamento e compilação de textos por parte do Dr. Pires Cabral, a quem o Município de Macedo de Cavaleiros agradece ter aceite o convite para organizar esta ontologia e o incondicional empenho que nela depositou.
O Município de Macedo de Cavaleiros orgulha-se de promover esta publicação que vem suprimir uma lacuna na literatura transmontana e nacional e de ter o seu nome inscrito nessa antologia de textos sobre caça escritos por autores transmontanos."
Deixo-vos um pouco do que poderão encontrar, neste excerto de Miguel Torga:
"Vamos, irmã de Apolo!
Ladram de impaciência os cães à nossa espera.
de espingarda traçada a tiracolo.
Não há fera
Que nos resista...
Somos o instinto, a força e a quimera.
Na sua eterna e lúcida conquista!
Como não obtinha resposta, procurava na caça a libertação desse e doutros pesadelos. No regresso às primárias leis da vida, à virgindade nativa do instinto, o pensamento cessava, e a lancinante dor de o possuir amortecia.
- Ferido, Nilo! Busca lá...
Uma perdiz levantara voo no planalto, abrira-se inteira à pontaria, recebera no peito o relâmpago do tiro, e continuara como uma seta.
de repente, lá longe, num último arranco, erguera-se a pino, de bico ao céu, e subira, até se lhe acabar o alento. Só então caíra maciça e perpendicular sobre o abismo.
Desde a roupa que vestia, delida como um velho paramento e afeiçoada aos movimentos do corpo como uma segunda epiderme, á frugalidade sã da merenda, sempre igual, ao vinho bebido excepcionalmente, tudo fazia parte de uma secreta comunhão com a sacralidade da natureza. O dia raiava na emoção do primeiro disparo. Antes que a vontade hesitasse, o estalão das passadas tornava próxima qualquer distância.
Alheia ao suor da fadiga, a atenção ia acompanhando, por relances, objectiva e deslumbradamente, a consumação circular do tempo e a variação ondulada dos horizontes. Quando as forças decaíam, a tarde declinava também. A última perdiz morta era o sol posto."
Ladram de impaciência os cães à nossa espera.
de espingarda traçada a tiracolo.
Não há fera
Que nos resista...
Somos o instinto, a força e a quimera.
Na sua eterna e lúcida conquista!
Como não obtinha resposta, procurava na caça a libertação desse e doutros pesadelos. No regresso às primárias leis da vida, à virgindade nativa do instinto, o pensamento cessava, e a lancinante dor de o possuir amortecia.
- Ferido, Nilo! Busca lá...
Uma perdiz levantara voo no planalto, abrira-se inteira à pontaria, recebera no peito o relâmpago do tiro, e continuara como uma seta.
de repente, lá longe, num último arranco, erguera-se a pino, de bico ao céu, e subira, até se lhe acabar o alento. Só então caíra maciça e perpendicular sobre o abismo.
Desde a roupa que vestia, delida como um velho paramento e afeiçoada aos movimentos do corpo como uma segunda epiderme, á frugalidade sã da merenda, sempre igual, ao vinho bebido excepcionalmente, tudo fazia parte de uma secreta comunhão com a sacralidade da natureza. O dia raiava na emoção do primeiro disparo. Antes que a vontade hesitasse, o estalão das passadas tornava próxima qualquer distância.
Alheia ao suor da fadiga, a atenção ia acompanhando, por relances, objectiva e deslumbradamente, a consumação circular do tempo e a variação ondulada dos horizontes. Quando as forças decaíam, a tarde declinava também. A última perdiz morta era o sol posto."
Além do citado Miguel Torga, encontrarão também Fausto José, António Cabral, Sousa Costa, P.e Domingos Barroso, Camilo Castelo Branco, João de Araújo Correia, Ângelo Sequeira, Salvador Parente, A. M. Pires Cabral, Vaz de Carvalho, João de Deus Rodrigues, Manuel Vaz de Carvalho, Dr. Ferreira Deusdado, Mello Júnior, Montalvão Machado, Cristiano de Morais, Bento da Cruz, Guedes de Amorim, Fernando de Mascarenhas, António Fortuna, Gil Monteiro e Pina de Morais.
São 277 páginas de caça, do melhor que existe na literatura transmontana e do País, uma excelente oferta de Natal.