"A vida que nos é dada tem os seus minutos contados e, além disso, é-nos dada vazia.
Quer queiramos quer não, temos que preenche-la por nossa conta: isso é, temos de ocupa-la, de um ou de outro modo.
Por isso a substância de cada vida reside nas suas ocupações.
Ao animal não somente lhe é dada a sua vida, mas também o reportório invariável da sua conduta. Sem a sua intervenção, os instintos dão-lhe já decidido o que vai fazer e evitar. Por isso, não pode dizer-se do animal que se ocupa muito nisto ou naquilo. A sua vida não esteve nunca vazia, indeterminada.
Mas o homem é um animal que perdeu o sistema dos instintos, ou, o que é igual, deles conserva só resíduos e cotos incapazes de lhe impor um plano de comportamento. Ao encontrar-se existindo, encontra-se perante um pavoroso vazio. Não sabe o que fazer; tem ele mesmo que inventar os seus afazeres ou ocupações.
Se contasse com um tempo infinito diante de si, não importaria grandemente: poderia ir fazendo o que lhe ocorresse, experimentando, uma após outra, as ocupações imagináveis. Mas - aí está! - a vida é breve e urgente; consiste sobretudo em pressa, e não há outro remédio senão escolher um programa de existência, com exclusão dos restantes; renunciar a ser uma coisa para poder ser outra; em suma, preferir umas ocupações às restantes."
- excerto retirado do capítulo "Caça e Felicidade", do livro "Sobre a Caça e os Touros", de Ortega y Gasset
Na fotografia, o meu avô está de óculos escuros e boina e esta retrata a primeira caçada realizada na zona das pistas, no Aeroporto de Santa Maria, nos inícios da década de 60, do séc. XX.
Da esquerda para a direita está o Sr. Soares, atrás dele encontra-se o Sr. João Caraça. De joelhos, à frente, situa-se o Mestre João "dos frigoríficos" e, atrás, com um chapéu de aba larga, o Sr. Sargento Pereira, da Guarda Fiscal. À frente do meu avô, está o Sr. José "Espanhol", faroleiro de profissão. Os restantes não fui capaz de identificar.
Nela, são também visíveis as nossas foices de caça e o produto de uma bonita caçada!
O meu avô soube preencher todos os minutos da sua vida e ocupou-a o melhor que pôde, não deixando nunca que o que quer que fosse lhe controlasse ou tomasse o destino, lhe roubasse a substância ou deixasse de ser quem era.
Viveu-a plenamente e fê-lo sem medo de perder ou ganhar, porque é necessário coragem para assumir tanto a derrota como a responsabilidade da vitória e ele teve dumas e doutras, viveu a vida sem renunciar a nada, nem a ninguém.
Acredito que tenha sido feliz e foi de certeza o Caçador que eu pretendo ser!
31 de dezembro de 2009
Caça e Felicidade
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