No início deste novo século nos deparamos com três desafios
monumentais, sendo eles provenientes das novas tecnologias aplicadas à caça, a
sustentabilidade das espécies e o posicionamento do caçador na sociedade.
Nas linhas que se seguem abordarei precisamente este último, por
considerar depender dele a solução dos restantes.
A tarefa não se nos afigura fácil quando, em face da incompreensão a
que somos votados, nos recolhemos e fechamos em copas perante uma oposição que
se apresenta determinada contra a actividade venatória e nos acusa de egoísmo e
da prática de alegados comportamentos marginais, através duma estratégia que,
na falta de reacção, os faz ganhar adeptos e influência.
Temos a responsabilidade de alterar esta tendência e o devemos fazer participando
activamente na comunidade, pois se hoje nos encontramos em clara desvantagem
foi precisamente porque abdicamos dessa prática algures no percurso.
A verdade é que num determinado momento nos distanciamos da sociedade,
a qual, por via desse fosso e auxílio dos delatores, deixou de nos reconhecer e
acabou por esquecer o mérito da nossa contribuição.
Nestas condições pouco ou nada temos recebido para além da indiferença,
da incompreensão e da rejeição.
Podemos começar por identificar nas forças vivas mais próximas,
sobretudo nas freguesias e nos concelhos onde caçamos, interesses comuns e
procurando executa-los em conjunto, com o objectivo de criar parcerias
duradouras.
Não bastam as boas ideias, que até existem e que se vão praticando um
pouco por todo o país, mas há que enquadra-las nos planos de gestão e de desenvolvimento
dos municípios.
Será no estabelecimento e na administração desses interesses comuns,
que se deve posicionar o novo caçador, para recuperar e reforçar os laços
perdidos.
Relativamente à sustentabilidade da fauna selvagem, receia-se a
contínua deterioração dos habitats e o contínuo decréscimo das populações
animais, porém depositam-se esperanças na descoberta de tratamentos eficazes
para a diversidade das moléstias que afectam as espécies cinegéticas. Por outro lado teremos acesso a tecnologias de elevada precisão,
adaptada aos mecanismos de pontaria e munições, em que o sucesso do disparo
deixará de depender da habilidade ou da destreza do atirador desvirtuando totalmente
a essência da caça.
Os novos tempos estão aí e preparam-se para nos apresentar desafios de
tão grande complexidade que nos farão debater profundamente princípios e
procedimentos que temos agora por imutáveis.
Cabe-nos, enquanto caçadores, a responsabilidade de analisar tudo isto
e de promover uma séria discussão interna, num processo que deverá ser dinâmico
e atento aos constantes desenvolvimentos, mas sempre no firme pressuposto da
defesa e integração do caçador português na sociedade do séc. XXI.
Retrato da autoria de Francisco Charneca
Retrato da autoria de Francisco Charneca