Nas caçadas
solitárias é aprazível não ter qualquer obrigatoriedade de seguir por aqui ou
por ali, no decurso da jornada; progredir a nosso bel-prazer, parar ou andar,
falar em voz alta com os cães, com as peças de caça, ou com as fragas e as
árvores. Não ter que interromper o acto, alimentarmo-nos frugalmente com o que
a Natureza dá: azedas, amoras e medronhos silvestres; amêndoas, figos, uvas,
maçãs, pêras, marmelos, nabos, tomates e outros frutos esquecidos;
castanhas, laranjas, tangerinas, honestamente roubadas, mas sem exageros e sem desrespeitar
a propriedade alheia. Tudo isto complementado com um indispensável naco de pão,
queijo duro e uma fatia de presunto ou uma linguiça.
Caçar
sozinho permite ainda seguir os bandos de perdizes com grande eficiência, dar
as voltas de modo a surpreendê-las em silêncio, quando supõem estar
resguardadas, sem ter que manter a regularidade de andamento e a equidistância
numa linha de caçadores. O caçador solitário precisa, porém, de caminhar muito
mais, passar numa encosta e noutra, ziguezaguear, ir a todos os cantinhos...
elas podem estar em qualquer um... mas tendo sempre em atenção que de manhã
estarão, provavelmente, na cara do Sol.
É certo que
também tem os seus inconvenientes. À medida que avança a idade do caçador,
reduzem a sua resistência física, os reflexos, o espírito temerário e a
ousadia, sendo então necessário e mais conveniente o trabalho de equipa. Pode
até ocorrer um qualquer e indesejável acidente, um mal-estar ou quebranto
físico que deixe o caçador vulnerável e em situação difícil.
Apesar dos
riscos, não deixa de ser interessante, vez por outra, a sensação de liberdade e
evasão, o privilégio destes sublimes momentos, quase ascéticos, em paz com o
mundo e em harmonia com o nosso íntimo, sentindo-nos parte integrante do
território em que nos movimentamos e tendo presente a eloquência das opiniões
de alguns grandes pensadores:
(...) «Tudo
isto é especialmente verdade na que, a meu juízo, constitui a forma não mais
elevada e gloriosa mas mais íntima e clave superior da caça: a caça
solitária com cão e espingarda. Nela o homem descansa dos homens, em conviver
com os quais consiste o seu habitual viver. Dizia Nietzsche que, se não nos
sentimos tão à vontade no meio da natureza, é porque esta não tem opinião sobre
nós. E, com efeito, um dos ingredientes deliciosos da caça solitária é que
ela interrompe a constante pressão que sobre nós exercem as opiniões e os
preconceitos acerca da nossa pessoa.» (...)
Ortega y
Gasset - “Sobre a Caça e os Touros”
Naquele
Domingo de Dezembro, o gelo na estrada e o nevoeiro não aconselhavam a que
viajasse sozinho muito cedo. Os quatro graus negativos obrigaram-no a ser
despachado nas operações de meter a tralha e as cadelas no carro. Com todos os
cuidados na condução, demorou mais de uma hora a chegar. A camada de gelo,
nalguns pontos dos caminhos de terra batida, parecia neve.
Estacionou
no largo de uma curva do caminho, num lugar abrigado, com o interessante e
sugestivo nome de CÉU...!
Olhou em
volta e, respirando fundo o ar frio, pensou no fascínio de tanta luz… aquele
azul intenso… o bem que faz ao corpo e ao espírito. Mentalmente, delineou os
primeiros passos da caçada, o resto lá se haveria de ver!
Como
normalmente faz, em caçadas solitárias, num pequeno saco de pano, pendurado na
cartucheira para não estorvar muito, juntou o necessário e suficiente para
aguentar a jornada: três “sandochas”, meia-dúzia de figos secos e uns pedaços
de marmelada caseira cortada em cubos, embrulhados em prata, infalíveis quando
a fraqueza começa a fazer tremer as pernas e a provocar as temidas cãibras.
Água pura e límpida está à disposição nalguns ribeiros ou nascentes e há também
imensas amendoeiras com os saborosos e nutritivos frutos abandonados, em
ladeiras de tal modo íngremes que deixou de ser compensadora a sua colheita,
mas que teimosamente permanecem lá, até que um dia o mato as abafe por
completo…
− Vamos!
Disse para as duas perdigueiras, que reagiram cabriolando entusiasmadas e
soprando pelas narinas, em sinal de plena concordância. É a sua maneira de
falar!
Atacou a
encosta, com calma, subindo em ziguezague, no terreno lavrado de uma jovem
plantação com sobreiros e cedros, esperando que “elas” estivessem próximas do
topo, depenicando no chão aquecido pelo sol. Lá estavam, de facto! Numa dobra
mais abrigada, um bando de oito perdizes mostrou o cor-de-laranja da parte
inferior das asas e do abdómen, brilhando em todo o seu esplendor com aquela
luz. Divinal! Das duas que voaram para a direita, uma embrulhou ao primeiro e
único tiro. Ainda poderia ter tentado o “doble”, mas da forma como levantaram,
rasteiras e de baixo para cima, seria pouco aconselhável.
− Lira,
busca lá…
Não tinha
ficado no ponto da queda, andara uns bons vinte metros e quando as cadelas lhe
pegaram no rasto bateu ligeiramente a asa despertando-lhes a atenção. A Lira
cobrou-a à vista, vindo trazê-la com o típico orgulho que os perdigueiros
exibem nestas situações. Afagou-lhe a cabeça e agradeceu, murmurando palavras
que só os caçadores e os seus cães conhecem. Depois de ver que se tratava de um
belíssimo perdigão, mostrou-o à mais nova, a Rola, Perdigueiro Português, com
“pergaminhos” de raça, oferecida por um amigo caçador havia pouco tempo. Não deixou
que o abocanhasse. Seria perda de tempo, uma vez que já tinha demonstrado, logo
no primeiro dia, as suas capacidades para o “ofício”, cobrando com grande
competência antes da Lira ter tempo de se aproximar.
Ficou sem
perceber para onde tinha ido o resto do bando, por se terem ocultado na dobra
do terreno, portanto havia que bater bem todos aqueles cantinhos e cabeços.
Assim fez durante mais de uma hora, mas sem as voltar a ver.
Esquecendo
de vez aquele bando, mudando de sítio, passou a Ribeira de St.ª Marinha,
procurando pôr os pés nos pedregulhos que parecem ali colocados para esse
efeito, mas não conseguindo evitar molhar ligeiramente as botas. Porra! …as
cadelas parece que escolhem sempre os pontos a montante propositadamente para
sujar a água. Afugentou-as e pousou a espingarda, com o cartucho da câmara
atravessado na janela (não fosse o diabo tecê-las!), aliviando-se da
cartucheira e da camisola. Deixou que a corrente devolvesse a limpidez, para se
debruçar e sorver, com prazer, uns bons golos de água fria, repondo assim a
quantidade perdida… é que já tinha suado bem!
Contemplou a
imensidão dos lombos daqueles montes, imóveis e imutáveis… aquilo assusta e não
é fácil vencer semelhantes desníveis, mas as perdizes estão lá certamente!
Conhece bem os nomes dos lugares, dos ribeiros, dos marcos geodésicos e as
curvas de nível, de tanto consultar a carta militar da zona.
Antes de
avançar, enquanto olhava e pensava que iria mesmo “imergir na paisagem”,
mastigou alguns figos secos e um cubo de marmelada para ganhar energia.
Optou por
subir pelo caminho que contorna o olival plantado em pequenos patamares no
“canado”, onde na Quinta-feira passada as tinha falhado com três tiros. A
geada virgem, entranhada na terra, revelava ruidosamente a sua presença,
tornando impossível passar despercebido naquele profundo e absoluto silêncio.
Naturalmente,
reagindo ao ruído, salta uma do meio do olival, sorrateira e quase sem deixar
perceber o bater das asas. Uns passos mais e levanta o bando, com cerca de
meia-dúzia. Viu-as meterem-se ribeiro acima e pareceu-lhe que teriam pousado
próximo, junto à linha de água. Procurando fazer o mínimo barulho possível,
seguiu na mesma pelo caminho até chegar ao fim. Já sabia que terminava ali e
depois era mato denso, impenetrável. De relance, admirou as altas paredes de
xisto, construídas noutros tempos para segurar a terra que sustenta as pequenas
oliveiras e amendoeiras, passando, no único ponto onde era possível, o
estreito ribeiro, encaixado também ele entre paredes altas. Subindo um pouco,
do outro lado, mais limpo, com amendoeiras sem folhas, seria possível vê-las
melhor. Segurava a espingarda com as duas mãos e seguia, ganhando altura, à
espera de ouvir o levante. Sempre eram seis ou sete perdizes! Podiam saltar a
todo o momento… mas não saltaram…! Apesar de as cadelas sinalizarem nitidamente
que tinham estado ali, nada se mexeu nem quebrou o silêncio, a não ser a água
saltitante do ribeiro.
Deduzindo
que poderiam ter ido “a pés” ladeira acima, decidiu enfrentar a subida com
determinação – que é como quem diz “com a faca nos dentes” – e começou a
caminhar em ziguezagues longos, de modo a aproveitar a vantagem das curvas de
nível e fazendo pausas de onde em onde, para controlar a respiração. Estava a
subir da cota de 300 metros para cerca de 600 m. Parou no bico de uma fraga que
permitia ver para os dois lados, fez barulho e atirou pedras para o mato
rasteiro e ralo. Nada…! Apenas alguns tordos levantaram ruidosamente. onde se
teriam metido? Devem ter ficado lá em baixo, no matagal mais cerrado, pensou.
Era
meio-dia. Sentou-se e, comendo algo mais para recuperar forças, admirava a
beleza esmagadora da paisagem, a imensidão de montes e vales que se seguem e
sobrepõem... Sentindo-se invadido por uma suave sensação de paz e tranquilidade,
naquela atitude puramente contemplativa, evocou o bom sabor das reflexões de
Ortega y Gasset:
(…) «Não é,
pois, andar e andar, subir penhascos, descer valas e barrancos, silenciar os
passos, ter paciência nas esperas, ter pontaria, o que mais essencialmente tem
que fazer o caçador, senão – quem o diria! – a menos musculosa das operações:
olhar!» (…)
Caminhando,
sempre a subir, pelo quase imperceptível carreiro de pé-posto, estrategicamente
implantado na linha de festo, não se sabe bem por quem, nem há quanto tempo,
nem por quanto tempo…, ia observando as típicas fezes verde-e-branco, frescas e
de dimensão considerável, revelando a passagem recente de aves grandes. É a
querença delas! Na cumeada podem observar todos os inimigos, para um lado e
para o outro, sem serem facilmente surpreendidas.
A Lira
inicia um périplo de avanços, paragens e viragens à esquerda e à direita, até
que, decidida, apontando, começa a “guiar”, mantendo-se mais ou menos na mesma
cota numa mancha de troviscos, estevas e arçãs. Procurou acompanhá-la, mas ia
em passo um pouco rápido e foi-se distanciando mais do que deveria, seguida de
perto pela Rola.
Como era de
esperar, fora do alcance de tiro, um pequeno bando, voando a rasar as pontas
dos arbustos, escapou para cima.
− Já lá
vamos…! É o terceiro bando, disse em voz alta.
Retomou o
trajecto inicial, para mais rapidamente chegar até ao sítio onde um secreto
palpite lhe dizia que teriam pousado e apanhá-las por cima; sozinho seria
inútil tentar segui-las a direito.
Na beira do
caminho de terra batida que faz o limite da zona de caça, cinco espojadouros
recentes, bem marcados.
Vieram-lhe à
memória alguns bons lances ali vividos quando, há mais de quinze anos, aqueles
eucaliptos estavam a ser plantados. Num dia, duas perdizes abatidas quase de
seguida, no limpo da plantação, agora com árvores desta altura, que permitem às
perdizes escaparem sem lhes podermos pôr a vista em cima, quanto mais o chumbo!
Depois de
uns momentos de hesitação, decide avançar pelo aceiro que contorna a mancha de
eucaliptos, continuando a reparar nos indícios de presença das ariscas e
bravias galiformes.
Subia, agora
numa parte de inclinação bastante acentuada, zona sombria onde a geada não
tinha derretido e era difícil caminhar por estar sempre a escorregar. Um bando
de pombos-torcazes levanta, com estrondo, saindo de uma carrasqueira onde
certamente se estavam a empanturrar de bolota. Encarou a arma, mas preferiu não
disparar na expectativa das perdizes … e ainda bem! Saltam duas… um único tiro,
rápido e instintivo, à que se lançava ladeira abaixo com toda a velocidade. Cai
rebolando desamparada para o fundo do canado, do lado oposto, perdendo-se no
meio do matagal. Não houve tempo para o segundo tiro, a outra ficou logo
encoberta pelas giestas e estevas mais altas. Em simultâneo, o bando de
torcazes estava de regresso voando na sua direcção, perfeitamente ao alcance de
tiro e baralhando as cadelas que se fixaram naqueles vultos esvoaçantes, sem
perceberem ainda o que tinha acontecido. Preocupado em cobrar rapidamente a
perdiz tombada nem sequer disparou, mas podia tê-lo feito… − Busca Lira! Vai
lá, Rola…
Como doidas,
corriam em círculos e olhavam para todo o lado, aguardando ordens mais
precisas. Viu que tinha de as levar ao sítio e avançou na direcção da queda,
vencendo um pequeno silvado na linha de água. Atirou uma pedra para o local onde
lhe parecia que deveria ter caído e as cadelas, prontamente, dirigiram-se para
lá. Pegando no rasto, a Lira começou a descer seguida da Rola até que deixou de
as ver. Em algum tempo (nestas situações nunca se sabe exactamente quanto, mas
parece sempre muito…!) regressavam e trazia a perdiz a cadela mais velha,
claro!
Entregou-lha,
abanando-se toda de contentamento e disputando afagos com a Rola pelo meio de pouco
sérias rosnadelas.
− Lindas, é
assim mesmo…!
Havia que
continuar a jornada. Seguiu a corta-mato até apanhar novamente o aceiro e
chegar ao ponto mais alto, com cerca de 600 metros, no lugar chamado Albreves.
Ao longe, do lado Norte, via o carro e, a Noroeste, a Capa Longa onde, tanto
nesta época, como em muitas outras, até já é difícil lembrar os incontáveis
lances extraordinários! Rodando o corpo, podia ver as Centeeiras, a Quinta da
Boavista e quase que o mundo todo…
O instinto
dizia-lhe que o resto do bando devia estar mais à frente e o melhor era
continuar pelo aceiro que contornava os eucaliptos.
Não tinham
decorrido dez minutos quando a Lira “marra” demoradamente, apontando para o
lado de baixo. Estava de tal modo “pregada” que o deixou passar para a frente
sem se mexer. A Rola dava também sinais de sentir a peça de caça. O ponto onde
se encontrava era o ideal; dali via bem para baixo, só que, do lado esquerdo,
havia um grande maciço de carrasqueiras. Parou, passando a vista pelos poucos
pedaços de terreno visíveis no matagal denso e pôs-se em guarda, com a
espingarda bem segura, os sentidos totalmente alerta, esperando o levante,
quase deixando de respirar e olhando para todos os pontos possíveis, não
esquecendo que, por vezes, os cães apontam numa direcção e as perdizes escapam
silenciosas, peonando sorrateiramente no sentido oposto.
Impossível
avaliar quanto tempo durou aquilo! Certo é que, com a ordem apenas sussurrada,
a Lira dá uma fiada e mete-se no matagal fazendo saltar uma única perdiz, com
enorme estardalhaço, “picada” de perto, mas que ficou de imediato encoberta
pelas carrasqueiras. Até parece que planeiam bem para que lados hão-de levantar
antes de o fazerem!!! De facto, o mais lógico seria ter voado em frente, para
baixo, mas não, a “lógica” delas é outra…
Com a arma
bem encarada, esperou-a à esquerda, depois de passar as carrasqueiras e o tiro,
pouco certeiro, fê-la baixar, mas não cair à vista. Percebendo bem que ia d’asa
e poderia ter pousado no meio dos eucaliptos que, por sorte, ali eram mais
ralos e com menos folhagem, chamou as cadelas e procurou conduzi-las
rapidamente até ao caminho da linha de cumeada, esperando que pegassem no
rasto. Não pegaram, apesar de as ter entusiasmado bem com as palavras do
costume. Voltou atrás, ao sítio onde tinha disparado, para referenciar melhor
a direcção da trajectória, marcando as extremidades da moita de carrasqueiras
mais altas do outro lado do caminho e avançou para lá rapidamente. Viu a Lira
fazer dois rodopios no chão limpo do caminho e, decidida, entrar naquele “mar”
de estevas e giestas. Procurando segui-la para lhe dar ânimo, caso fosse
necessário, embrenhou-se também pelo matagal até ser humanamente impossível
romper e deixou de a ver ou ouvir…
No meio das
altas estevas, que impediam a visibilidade para qualquer lado, com a Rola aos
pés, permaneceu imóvel, tentando ouvir a cadela. Sem resultado… Ficou assim, em
silêncio, porque chamá-la poderia estragar tudo, durante dez minutos, quinze,
meia-hora…? Não se sabe! Mais uma vez foi muito tempo, uma eternidade!
Por fim,
começou a sentir o marulhar da vegetação seca e a respiração ofegante da
cadela. Pensou: se vem a arfar, não traz a perdiz…!? Ei-la… sem nada!?!
− Então,
Lira? Onde está…? Será possível…?
Os anos de
experiência nestas andanças levaram-no a observar melhor a língua-de-palmo que
trazia fora da boca e vendo que tinha uma pena no canto dos lábios, outra na
língua, vociferando, dirigiu-lhe os melhores impropérios que conhece para estas
situações, ordenando-lhe com firmeza:
− Lira,
deixaste-a, vai lá buscá-la…!
Desapareceu
novamente e ficou sem a ouvir mais uns intermináveis minutos, até que… aí vem
ela, desta vez sem arfar, silenciosa, com a perdiz toda molhada da saliva e o
dorso depenado.
− Dá cá,
linda… então isto faz-se!?
Pareceu-lhe
que se ria, quando lha entregou, gozando com a situação e como se dissesse:
− Então,
pensavas que não a tinha cobrado? Era só p’ra brincar…!
Cismando no
episódio, deduziu que teria regressado ao sítio onde iniciou a busca e, não o
vendo lá, terá ido procurá-lo deixando a peça no caminho. Seria…??? Nunca
poderá sabê-lo, até porque nem viu exactamente para onde foi quando retomou a
busca.
Tinha
atingido o limite de perdizes estabelecido na Zona de Caça. Regressou, em passo
rápido, descendo a direito pelo mato rasteiro até ao Vale das Talvas, em
direcção à ribeira, nem sequer dando importância às repetidas paragens das
cadelas, que certamente sentiam emanações de alguma perdiz pregada.
Na vida de
um caçador de perdizes, há dias assim, atípicos… três tiros, três perdizes, das
autênticas; lances fantásticos que ficarão gravados na memória, daqueles que
hão-de assaltar o pensamento, quando menos se esperar, recorrentes, ao longo de
muitos anos…
Texto de
Agostinho Beça
Perdizes
(aguarela), de Francisco Charneca