É sempre um prazer enorme
responder a um desafio do amigo Vítor Palmilha.
Participar mais uma vez com um
testemunho de caça em mais uma edição da Feira de Caça, Pesca e do Mundo Rural
do Algarve é um privilégio. Uma iniciativa deste género merece todo o nosso
apoio e carinho, já que envolve uma componente cultural, social e económica,
muito importante. É também com eventos como este que se teima em manter vivo o
Mundo da caça no nosso País.
A caça desde sempre faz parte da vida
da humanidade neste Planeta. É verdade que as suas funções tem evoluído e mesmo
se transformado, mas mesmo nos dias de hoje quando praticada com ética, com
segurança, com desportivismo, com amizade, respeito pela natureza e dos
animais, mantém intacta a sua génese e é um ato de cultura.
Numa fase da vida e da história
muito complicada e pautada por múltiplas dificuldades vale a pena fazermos
todos os esforços e até mesmo sacrifícios para não deixarmos morrer esta nossa
paixão por tudo o que envolve a cinegética. Os cães, os furões, as armas, os
amigos, as espécies cinegéticas, as provas de Santo Huberto, a gastronomia, a partilha
de lances e emoções, a descoberta do meio ambiente, as recordações e as feiras de
caça, são elementos complementares da arte de saber e viver a caça. De todos
estes aspetos relevo hoje a gastronomia cinegética como elemento aglutinador da
componente social da caça. A gastronomia cinegética é amiga da Paz.
Quando me é apresentado um
caçador “novo”, com o objetivo de caçarmos juntos, uma das primeiras perguntas
que lhe faço, é se tem ou não tem navalha, porque a resposta quase sempre é bem
definidora se estou na presença de um caçador que valoriza a componente social
da caça ou não. Razão porque faço-me sempre acompanhar pelo menos de duas
navalhas, na esperança de converter mesmo aqueles que nunca pensaram que este
simples gesto de ter ou não ter navalha pode significar uma linha que separa um
caçador de um “ caçador “ de ocasião . Nunca é tarde para nos convertermos.
Antes e durante o ato cinegético
devemos preparar e exercer estes dois momentos com a maior sobriedade, paixão e
rigor, mas uma jornada de caça nunca atinge o seu expoente máximo se não for
seguida de um momento de descontração,confraternização e degustação de parte do
produto da nossa caçaria, e isto, é verdade na Ilha do Pico, em Beja ou nos
longínquos terrenos do Departamento de Flores no Uruguai. Este ritual tão
simples de partilharmos uma perna de coelho ou de perdiz grelhada, temperada
apenas com sal e regada com um fio de azeite no meio do campo à sombra de um
cedro do mato ou de uma azinheira é um património que perpetua a caça e a
amizade. Mas os que não tem possibilidade de viver este momento alto da caça,
resta-lhes sempre a alternativa de comungar com os familiares e amigos o
produto da caça no seu Clube, num Restaurante, ou, mesmo na sua casa. E que
maravilhas de pratos de gastronomia de caça menor ou caça maior se podem fazer
hoje com as diferentes espécies cinegéticas. Desde o pequeno tordo ou a narceja
até ao javali podem-se confeccionar pratos dos mais simples até aos mais
sofisticados e dignos da alta cozinha mundial e dos mais reputados cozinheiros
(Chefs).
Tenho tido a felicidade e sempre
acompanhado dos meus amigos cães, de ter cobrado as mais variadas espécies
cinegéticas e em todas elas descubro um potencial gastronómico fantástico , a
sua degustação é invariavelmente um momento alto e complementar do ato da caça.
Recentemente disponibilizei um conjunto variado de espécies cinegéticas para um
jantar de amigos. A organização esteve a cargo do Gastrónomo Mor dos Açores que
é o António Cavaco, que por sua vez desafiou alguns dos mais conhecidos Chefs
dos Açores para confeccionarem pratos originais tendo como elemento principal a
caça e o resultado foi deveras extraordinário e revelador de um elevado
potencial económico.
Termino publicando a receita de
um arroz de Pomba-da-Rocha que também pode ser confeccionado com pombos bravos,
como forma de incentivo aos amigos caçadores e suas companheiras a descobrirem este
Mundo fantástico da gastronomia cinegética.
ARROZ DE POMBA DA ROCHA ( 2
pessoas )
Duas pombas
Chouriço
Bacon
Cebola
Alho
Ramo de cheiros
Sal e pimenta
Chávena e meia de arroz carolino
Depois de amanhadas e lavadas
cozem-se as pombas juntamente com o chouriço, bacon, meia cebola, dente de
alho, pimenta em grão, dois cravinhos, ramo de cheiros e meia pimenta da terra
salgada.
Depois de cozidas desossam-se as
pombas e corta-se o chouriço em rodelas e o bacon em fatias e reserva-se.
Entretanto num tacho coloca-se uma colher de azeite e um dente de alho e assim
que o azeite está quente adicionam-se os miúdos das pombas deixando cozinhar
por um bocado, adicionando depois a cebola picada, que se deixa refogar,
juntando a seguir o arroz, que se envolve no refogado, o caldo quente, de cozer
as pombas, a carne das mesmas desfiada e deixa-se cozer.
Quando está quase pronto deita-se
numa travessa de ir ao forno, decora-se com o chouriço, o bacon e azeitonas e
vai corar ao forno acabando de cozer.
Gualter Furtado, Caçador Açoriano
Julho de 2014
Texto e foto da autoria de Gualter Furtado
Artigo que escrito a pedido do Vítor
Palmilha para ser publicado na Revista integrada na edição deste ano da Feira
de Caça, Pesca e do Mundo Rural do Algarve.