29 de janeiro de 2011

Gualter Furtado - A Caça Açoriana na Escrita

No passado dia 27 de Janeiro de 2011, o Correio dos Açores publicou um artigo, da autoria do jornalista Afonso Quental, intitulado "Tertúlia Açoriana - Gualter Furtado e a literatura: A caça açoriana na escrita".
Trata-se de uma entrevista ao Caçador Açoriano Gualter Furtado, sobre a publicação do seu novo livro "UM CONTRIBUTO PARA A DEFESA DA CAÇA", que tomei a liberdade de transcrever:

"Livro «UM CONTRIBUTO PARA A DEFESA DA CAÇA», de Gualter Furtado, na impressão: «Defendo que a caça, quando praticada com desportivismo, amizade, lealdade, segurança, respeito pelos nossos amigos cães, respeito pela natureza e pelas espécies cinegéticas e numa aliança com a ciência e a investigação, é um verdadeiro acto de cultura».

Correio dos Açores - Nome, naturalidade, cidade e país onde reside?
Gualter José Andrade Furtado, natural do Vale das Furnas, resido presentemente nos Arrifes, concelho de Ponta Delgada, nos Açores.

O Primeiro livro que leu?
História do Vale das Furnas do Urbano de Mendonça Dias.

Quando começou a sentir a paixão pela leitura e pela caça?
Comecei a ler desde muito novo, os livros de aventuras foram sempre uma presença constante na minha juventude, depois conheci na Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada dois Professores que nos incentivavam a ler e a escrever que foram o Dias de Melo e o Jacinto Soares Albergaria. O primeiro artigo que escrevi com cerca de 12 anos foi um pequeno trabalho que publiquei no Açoriano Oriental a defender a constituição de uma casa museu do Armando Cortes Rodrigues, e muito influenciado pelo Dr Jacinto Soares de Albergaria que para além de ser meu professor era também meu vizinho durante as férias grandes no Vale das Furnas. Acresce que convivi intensamente com amigos Furnenses que estudavam no Seminário e durante as férias quase se sentiam na obrigação de nos transmitir conhecimentos. Depois a nossa família era muito amiga do saudoso padre Afonso Quental, com quem também aprendi muito e fui um grande amigo. Quanto à caça esta é uma Paixão que tenho desde que me conheço, muito influenciada pelo meio ambiente, pelo meu avô, por alguns dos meus companheiros de escola primária como seja o António Manuel Galante e por um pescador da Ribeira Quente que foi o Manuel Caranguejo.

Qual é o seu género literário preferido?
Didáctico.

Na escola primária era habitual ter boas classificações nas redacções?
Sim, sem falsas modéstias fui um BOM aluno. Quando fui para a escola primária com 5 anos já levava a lição bem estudada, as minhas vizinhas, muito cultas para a época, tinham autênticas escolas nas suas casas, e entretinham-se a ensinar alguns dos miúdos da nossa rua, eu fui um deles. Quando fui para a primeira classe não tinha a idade oficial para frequentar a escola, a minha professora, aceitou-me na escola correndo alguns riscos, de tal forma que sempre que batiam à porta da sala de aulas eu corria logo para debaixo da secretária de madeira, o que se revelou muito útil num grande sismo que danificou seriamente a nossa escola, na ocasião eu não sofri nada graças ao meu treino intensivo de me esconder sempre que sentia qualquer barulho. Esta situação fez que eu para fazer a quarta classe tivesse de vir realizar o exame a Ponta Delgada. Enfim outros tempos.

Quais os livros que mais o marcaram?
Os livros que mais me marcaram foram “Os bichos” de Miguel Torga e o “Cão como nós” do Manuel Alegre.

Indique-me um livro de um escritor açoriano de que gostaria de ter sido o autor?
Gostaria de ter escrito muitos e de diversos escritores, mas refiro o “Pastor das Casas Mortas” do Daniel de Sá.

Convive normalmente com escritores, poetas, e cantadores açorianos. Que é que mais admira nessas expressões de cultura?
Tenho amigos escritores que muito prezo como são o Daniel de Sá e o Onésimo de Almeida, como também conheci Poetas Açorianos, mas foram os Cantadores ao Desafio que mais me marcaram. Em todos eles o que mais admiro sãos os seus conhecimentos e o seu carácter genuíno. A afirmação dos Açores sem nunca perder a universalidade é o que mais admiro na cultura.

Já escreveu um livro sobre caça. Sabemos que em breve irá lançar outro. Que espaço geográfico e social caracteriza nesse livro.
A parte substancial do Livro «UM CONTRIBUTO PARA A DEFESA DA CAÇA» é dedicada aos Açores, mas a minha reflexão ultrapassa a nossa Região, até porque a Caça não tem fronteiras e é hoje um problema global. Defendo que a caça, quando praticada com desportivismo, amizade, lealdade, segurança, respeito pelos nossos amigos cães, respeito pela natureza e pelas espécies cinegéticas e numa aliança com a ciência e a investigação, é um verdadeiro acto de cultura.
Não fora a acção de protecção e recuperação de habitats feita por muitos caçadores por este mundo fora e muitas espécies consideradas cinegéticas já tinham visto a sua dimensão demográfica ter sido reduzida substancialmente, ou estariam extintas, refiro-me por exemplo às aquáticas.
A mudança dos habitats, as doenças e os vírus, a mudança do clima, a utilização de químicos e pesticidas, os furtivos, matam muito mais do que os Caçadores. Por conseguinte, este livro é um contributo para a sustentabilidade da caça e um elogio à componente social e gastronómica que deve presidir ao acto da caça.

É um apaixonado pela Caça. Como tem sido a sua actividade nesse desporto.
A minha participação no Mundo da Caça tem sido constante, naturalmente com alguns erros que procuro corrigir, mas sempre de uma forma activa e transparente.
A caça sem cães e sem os outros amigos não faz sentido. Sou, presentemente, o presidente da Assembleia Geral da Confraria de Gastronomia Cinegética dos Açores, a primeira do país nesta vertente, o que muito me honra.
Escrevo em revistas nacionais de caça e procuro ter uma presença regular na imprensa escrita açoriana. Sempre que tenho oportunidade faço passeios pedestres em locais em que as espécies cinegéticas estão presentes, e visito museus de história natural.
Em síntese, a caça não é só matar, cada vez mais isto é o que me interessa menos."

26 de janeiro de 2011

Caçadas aos Javalis

Em 1959, através da Casa Véritas – Guarda, e da autoria do Dr. Francisco Maria Manso, foi publicado “CAÇADAS AOS JAVALIS – Pelo DR. FRAMAR”.
Trata-se de uma obra de referência sobre a caça maior em Portugal que, à semelhança de outras que por aqui venho reproduzindo alguns episódios quando o tempo me sobra, deve fazer parte de qualquer biblioteca cinegética que se preze.
Neste livro também encontramos, além de muitas fotografias, diversas referências ao uso da buzina e da corneta nos diversos momentos das caçadas, que o autor aqui designou por campanhas.
Transcrevo então, para memória futura e deleite dos leitores, o texto da convocatória para a Campanha Sétima, onde acabaram por comparecer duas dezenas de espingardas, e a conclusão da narrativa da Campanha Oitava.

"Para conhecimento geral dos apaixonados destas guerras, se mandou lavrar a presente circular, encerrando os dez mandamentos que constituem o regulamento - lei das nossas caçadas:

Caçada aos javalis na Quinta do Major

1. É preciso considerar que os javalis não vivem em bandos… e para caçar com fidalguia, se devem alvejar com bala única, para matar… ao estribo com punhos de renda.
2. Não se vai caçar em coutada. A região é muito extensa, ondulada, com matos de toda a ordem e, porque é extensa, acidentada e coberta de matos, ali se têm acoutado javalis dos primitivos tempos e os actuais, seus descendentes, consta que vivem orgulhosos do seu puro-sangue.
3. São precisos três dias de batidas e mesmo assim não se bate a décima parte dos terrenos onde se acoitam, motivo porque vivem lá ainda, LOBOS, LINCES e JAVALIS… e como eles são pouco curiosos e não vêem observar-nos de perto… vemo-nos obrigados a procura-los, sem que nos digam onde estão… o que é sempre uma trabalheira dos diabos… e às vezes sem sorte nenhuma para dar com eles.
4. Donde se deduz, que se aparecerem e se alvejarem dois ou quatro daqueles «CATEDRÁTICOS» é já andar com muita sorte e aqui fica a prevenção para os que pensam fazer cintos de javalis, como se fazem de codornizes…
5. O regime da caçada não tem similar na Europa. Quem tudo manda é o director. A ele todos devem pedir e ele a todos servir.
6. O caçador não tem direito a quarto, nem cama, nem roupa, nem talher, nem mesa… Mas há-de ficar debaixo de telha, comer, deitar-se e dormir provavelmente… Deve, pois, fazer-se acompanhar de talher, dois pratos de alumínio ou esmaltados, guardanapo (se não achar supérfluo), um copo, toalha e sabão, se quiser lavar-se, porque não é obrigatório… Trazer cobertores, um ou dois, conforme o frio que quiser passar.
7. O custo da caçada, por «cabeça» com pagamento a 50 batedores, quatro dias, aluguer de montadas «puro-sangue» de Malcata, com vitela abatida à vista do hóspede, diária no «PALACE DAS SELVAS» e o mais que não se imagina… deve dar uma conta aproximada entre 600$00 a 800$00.
8. O caçador que abater, a tiros de espingarda, a peça de caça procurada, LOBO, LINCE ou JAVALI, tem direito à cabeça e à pele da vítima… A carne e os ossos pertencem ao resto do exército, que tudo dividirá em partes iguais.
9. Carregar a espingarda só depois de destinada a porta. Preferir bala de chumbo. As portas são sorteadas dia a dia.
10. O que faltar nesta legislação é resolvido livremente pelo director da caçada e, da sua sentença, não cabe apelação para nenhum tribunal nem mesmo para a O.N.U."


Como referi acima e para concluir, deixo-vos os dois últimos parágrafos da Campanha Oitava:

"Entrada triunfal na freguesia de Quadrazais e Vila do Sabugal com visitas obrigatórias das crianças das escolas, de mistura com adultos, ao belo exemplar abatido… Abraços de despedida e até para o ano.
Como recordação, conservo ainda a cabeça do javali, embalsamada, e a pele cerdosa e escura, é o tapete que piso todos os dias, ao sentar-me à minha secretária… e assim a caçada continua!"

25 de janeiro de 2011

Um Contributo Para a Defesa da Caça

"Um Contributo para a Defesa da Caça" é o título do mais recente livro da autoria de Gualter Furtado.
Embora seja o fruto de uma enorme paixão, nas 215 páginas ilustradas pelas mais de 150 fotos que o compõem constata-se a realização de uma análise bastante objectiva sobre o estado da caça nos Açores, no continente e em alguns países do Mundo onde o autor teve a oportunidade de exercer o acto venatório.

Transmite-nos a mensagem que a caça, quando praticada com desportivismo, amizade, espírito de entreajuda, respeito pelo próximo, pela natureza e pelos animais é um acto social valioso, de cultura e muito importante.
Demonstra-nos que o caçador é um defensor da natureza, que respeita as espécies cinegéticas e que possui uma grande relação de cumplicidade com os seus cães, os quais trata muito bem e não abandona, razão porque, neste quadro aqui exposto, defender a caça é uma atitude muito positiva que a ninguém deve envergonhar.
Diz-nos ainda que o caçador colabora e promove a recuperação dos habitats de tal forma que, por este mundo fora, se não fosse a actividade venatória e este intenso empenhamento que só os caçadores conseguem demonstrar, muitas espécies animais, cinegéticas e não cinegéticas, com particular destaque para algumas aquáticas, já estariam extintas.
Numa altura em que a actividade venatória foi novamente escolhida como alvo a abater por alguns grupos radicais e extremistas ditos amigos dos animais e ambientalistas sedentos de protagonismo fácil, a publicação deste livro, do que ele contém e transmite é um apelo aos homens de boa vontade e um contributo para a afirmação dos valores e da cultura que só a caça e a sua envolvência social e cultural poderão proporcionar.

O lançamento desta obra impar da literatura cinegética insular e nacional, cuja capa foi pintada pela reconhecida artista plástica Maria José Cardoso de Souza, terá lugar no próximo dia 26 de Fevereiro, pelas 17H00, na Academia da Juventude da Ilha Terceira, numa sessão presidida pelo Senhor Juiz Conselheiro Dr. José António Mesquita.

15 de janeiro de 2011

Outono - Elogio da Caça

"Dantes, aos primeiros sinais de Outono, eu entrava em depressão. Mais do que a chegada do Outono, o que me deprimia era o fim do Verão, pois que sempre fui devoto dessa verdade enunciada por Rilke: "só o Verão vale a pena". Imaginar um longo ano pela frente sem as praias e os banhos de mar, sem as noites quentes nos terraços e pátios, as noites em que o luar atravessa a sombra dos pinheiros e vem pousar no chão do quarto onde dormimos de janela aberta, a maresia trazida pelo vento de sueste nas manhãs marítimas, as frutas de Verão nos mercados, o peixe fresco brilhando ainda com luminosidades de prata, as vozes que se transmitem ao longe, dobrando esquinas e ruelas do que resta dos nossos souks em aldeias ou até em Lisboa, tudo isso, imaginar um ano inteiro sem tudo isso, deixava-me irremediavelmente triste e desamparado, como se as marés de equinócio tivessem varrido todas as possibilidades de alegria, todos os dias felizes. Se o Verão morria assim, eu morria também com ele, de cada vez.

Mas, há uns anos, tudo mudou. Alguns amigos começaram a levar-me à caça e eu descobri que, além do mar, também havia a terra, e depois do Verão havia o Outono: foi uma descoberta tardia, mas decisiva, como se tivesse descoberto uma quinta estação do ano e, mais do que isso, um novo pretexto para a felicidade. Rapidamente tomei a minha decisão e resolvi tornar-me caçador. Comecei pelo princípio, passo por passo, e são muitos: as aulas e o exame para obtenção da carta de caçador, aprendendo coisas para mim inteiramente desconhecidas, como o ciclo de vida e hábitos dos animais, modalidades de caça, princípios de balística, como criar e treinar cães de caça, etc.; depois, atravessei todo o imenso processo burocrático para a concessão de licença de porte de arma, escolhi as armas (que ainda hoje são as mesmas), experimentei vários tipos e marcas de cartuchos até perceber com quais me dava melhor e fiz um mínimo de aulas de tiro; finalmente, experimentei dois cães - um tão bom, que mo roubaram, o outro tão mau que foi dispensado e hoje é um urbano-depressivo, cheio de doenças e tiques de personalidade.

Muito embora o campo não me fosse propriamente estranho, eu não sabia como eram os campos de caça. Não fazia ideia do mundo novo, primordial e deslumbrante, que iria encontrar. Não imaginava as manhãs de geada ou de orvalho suspenso nos arbustos e nos ramos das árvores, as manhãs de frio polar ou as de chuva e lama, onde nos enterramos até à alma e maldizemos a decisão de ter saído da cama - que logo depois bendizemos, assim que os primeiros raios de sol rompem as nuvens e o frio ou que a primeira peça de caça tomba no chão. Não imaginava as longas caminhadas por cabeços ou planícies, por leitos secos de rios ou através da água, o cheiro a esteva e a giesta, ou as longas emboscadas, atento a todos os ruídos, ao simples agitar de uma folha, adivinhando a presença próxima dos animais antes de os ver. As esperas silenciosas à beira de um riacho, molhando a cara na água cristalina, aproveitando para colher poejos ou beldroegas tardias, aproveitando para pensar na vida, no essencial, no que verdadeiramente importa. A sós, com os três maiores luxos que um homem pode ter: espaço, tempo e silêncio. Porque aqui não há multidões nem urbanizações turísticas, não há pressa nem vozearia de conversas inúteis.

E não sabia que os 'selvagens dos caçadores' (que os há, como em tudo o resto), também conseguem, outras vezes, reunir um grupo de amigos que tudo pode separar à partida, mas que finalmente se encontram unidos por essa paixão primitiva e talvez inexplicável da caça. Gosto especialmente dos jantares que antecedem as manhãs de caça, das conversas soltas e sem pressa, das anedotas que dão a volta e regressam no final da época. Há quem imagine que as conversas dos caçadores são sobre futebol, mulheres e política. Pois lamento desiludi-los: são sobre armas, cartuchos, cães, viagens, o estado dos campos e das culturas e as memórias antigas de 'lances' de caça, umas vezes inventadas, outras reais, que cada um guarda consigo e a que só a um outro caçador vale a pena contar. E gosto muito das pequenas pensões ou hotéizinhos manhosos de província, onde se joga cartas à lareira do salão (a inevitável 'sueca') e onde os quartos têm pesados armários antigos de madeira e uma casa de banho 'moderna' enxertada no meio do quarto, com o polibã para poupar espaço. Gosto de passar em revista e preparar todo o 'material' de véspera: verificar se as armas estão bem limpas, se os cartuchos escolhidos são os melhores para o que se vai caçar, se a roupa e tudo o resto estão preparados para não perder tempo de manhã, em que cada minuto conta. E depois é tentar adormecer cedo - o que nem sempre é fácil, porque a adrenalina e a excitação já começam a fazer-se sentir. E, se o sono vier cedo, hei-de adormecer feliz, pensando que no dia seguinte vou à caça, enquanto tantos outros, lá na cidade, vão gastar a noite e a madrugada em bares, discotecas, festas e concertos onde se atropelam para atrair as atenções dos fotógrafos das revistas sociais. E,quando eles, se calhar, ainda nem vão no primeiro sono, já eu estou sentado à mesa (trôpego de sono, é verdade) para algum extraordinário pequeno-almoço, como, por exemplo, açorda alentejana com ovo e bacalhau.

"Ah", dirão vocês agora, "e o prazer sádico em matar animais - disso não fala?". Falo sim, para dizer que não existe tal coisa como o prazer de matar. Existe, sim, o prazer de acertar, que é uma consequência lógica do prazer de atirar. Nenhum caçador gosta de errar o tiro ou, pior ainda, de errar parcialmente e deixar um animal ferido, em vez de morto redondo. É por isso que a ética exige que, no caso da caça grossa, que pode resistir muito tempo a um ferimento, o caçador vá atrás da peça ferida até lhe poder dar o chamado tiro de misericórdia. E é por isso, também, que nenhum caçador que se preze atira a uma ave que não esteja em voo ou a um coelho ou uma lebre que não esteja em corrida. Claro que há caçadores que o fazem, mas eu não caço com eles e os meus amigos também não. Também não caçamos o que não comemos e fazemos questão de saber cozinhar uma canja de pombo, uma perdiz de escabeche ou um arroz de tordos. E de nos sentarmos todos à mesa, terminada a 'jornada', e ficarmos à conversa pela noite adentro, moídos de cansaço e de felicidade tranquila, de bem com a consciência, de bem com a natureza e as suas leis, em paz contra as imperfeições do mundo, as suas falsidades e fúteis aparências.

E se me deu para escrever este texto é, não só porque abriu a época de caça, mas também por outras duas razões. Uma, porque amanhã, diz a lei, é 'período de reflexão' e eu mantenho a tradição de não falar de política antes de eleições. Outra, porque a caça é um grande tema de reflexão e uma grande escola de vida e de valores - de companheirismo, de fairplay, de conhecimento e respeito pela natureza, de paciência, persistência, de reaprendizagem de coisas primordiais e evidentes por si mesmas. E, por isso, antes que a multidão politicamente correcta da nova doutrina urbana e 'civilizacional' queira julgar como selvagens a caça e os caçadores, ou mesmo bani-los face à lei, convinha que a sua arrogante ignorância ficasse a saber que falam do que não sabem e não percebem, e que, para infelicidade sua, jamais entenderão."


Texto da autoria de Miguel Sousa Tavares, publicado na edição do Expresso de 9 de Outubro de 2009, aqui transcrito com a devida vénia.
Fotografia retirada da internet, sem autor identificado.

9 de janeiro de 2011

Apelo Contra a Caça - Resposta

No passado dia 01 de Janeiro de 2011, alegados defensores e amigos dos animais, como o Teófilo José Chaves de Braga e o Sérgio Diogo Caetano, entre outros, lançaram um apelo público contra a caça às aves migratórias neste arquipélago açoriano, mais concretamente contra a caça às galinholas, narcejas e patos, de modo a pressionarem e condicionarem o desempenho do Governo dos Açores na elaboração do Regime Jurídico da Protecção da Biodiversidade.
Alegam que “em todo o mundo a caça está a sofrer uma enorme pressão por parte de uma nova geração mais sensibilizada para a defesa do património natural, sendo cada vez maior o número de caçadores desportivos que têm trocado a caça pela observação de aves, pela “caça” fotográfica ou pela realização de filmagens. Que, de igual modo, em todo mundo, em substituição da caça as pessoas optam pelo pedestrianismo, que tem mais de 15 milhões de participantes, e pelo Birdwatching ou Observação de Aves com mais de 80 milhões praticantes”.
Apesar do abundante chorrilho de afirmações que compõem contra a caça, não indicam qualquer fonte fidedigna que as possam sustentar como reais e verídicas. Pelo que aqui fica o desafio para que o façam, para que nos demonstrem que o que afirmam é verdade e que são sinceros.

Os nomes dos subscritores desse documento constam do Correio dos Açores, de 05/01/2011, e o segundo dos signatários chama-se José de Andrade Melo.

Em Santa Maria também temos um José de Andrade Melo conotado com grupos ditos ambientalistas, que se diz coordenador do Clube dos Amigos e Defensores do Património Cultural e Natural de Santa Maria, membro dos Amigos dos Açores e é um activo escrevinhador na coluna ambiental d’O Baluarte de Santa Maria.
Esse senhor, no passado dia 20/11/2009, n’O Baluarte, e através do artigo intitulado “Os Cagarros estão de partida – salvemos os nossos primeiros habitantes”, da sua autoria, chamou todos os caçadores de criminosos, porque, na sua concepção, eram os caçadores que apanhavam essas aves e que depois as vendiam à margem da lei a quem as quisesse comer.
Cerca de um ano depois, no passado dia 13/11/2010, na estação de rádio do Clube Asas do Atlântico, no decurso de um programa que teve como tema a Caça e onde participei, o mesmo José de Andrade Melo já teve o cuidado de fazer a distinção entre o caçador com o “C”, o “c” e o furtivo, afirmou que não era contra a caça e que não a abominava, nem a hostilizava. Que reconhecia inclusivamente, vantagens e benefícios no campo do lazer, económico e ecológico.
Mais, que a caça promovia a saúde, o convívio e auxiliava as famílias menos favorecidas e tudo isso depois de afirmar, no dia 11/10/2010, pelo dia mundial do animal, n'O Baluarte, que "os animais são seres sencientes e que sentem como gente"!
Referiu ainda nesse programa de rádio, de 13/11/2010, que, no ano de 2001, num encontro que teve lugar no mesmo clube, sob a temática da diversificação económica da ilha, tinha versado sobre o turismo na perspectiva ambiental e referido que a caça poderia ser uma alternativa económica e que era importante que isso fosse para diante.
Com base nisto tudo enviei-lhe um correio electrónico a solicitar que me indicasse se era ele o segundo subscritor desse apelo, porque não fazia qualquer sentido mudar de opinião tantas vezes, tão radicalmente e em tão pouco tempo; dizer que se defende uma coisa num dia e fazer outra, completamente oposta, noutra altura, mas optou por não me responder. Lá saberá o porquê ou então não saberá!...

O Teófilo Braga, assim que nos fizer o favor de informar onde foi buscar a informação que utiliza para fundamentar o seu apelo, cuja veracidade urge corroborar com urgência, sob pena de tudo parecer um falso motivo para se declarar mais uma crise onde ela não existe, que nos indique também quem são, concretamente, os seus apoiantes, se é que o pode fazer...
Até um melhor esclarecimento por parte dos visados, decidirá o leitor a qualidade e o valor a atribuir a este "apelo".

Relacionado:
O Novo Terrorismo Ecológico, de Victor Pires

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