26 de janeiro de 2011

Caçadas aos Javalis

Em 1959, através da Casa Véritas – Guarda, e da autoria do Dr. Francisco Maria Manso, foi publicado “CAÇADAS AOS JAVALIS – Pelo DR. FRAMAR”.
Trata-se de uma obra de referência sobre a caça maior em Portugal que, à semelhança de outras que por aqui venho reproduzindo alguns episódios quando o tempo me sobra, deve fazer parte de qualquer biblioteca cinegética que se preze.
Neste livro também encontramos, além de muitas fotografias, diversas referências ao uso da buzina e da corneta nos diversos momentos das caçadas, que o autor aqui designou por campanhas.
Transcrevo então, para memória futura e deleite dos leitores, o texto da convocatória para a Campanha Sétima, onde acabaram por comparecer duas dezenas de espingardas, e a conclusão da narrativa da Campanha Oitava.

"Para conhecimento geral dos apaixonados destas guerras, se mandou lavrar a presente circular, encerrando os dez mandamentos que constituem o regulamento - lei das nossas caçadas:

Caçada aos javalis na Quinta do Major

1. É preciso considerar que os javalis não vivem em bandos… e para caçar com fidalguia, se devem alvejar com bala única, para matar… ao estribo com punhos de renda.
2. Não se vai caçar em coutada. A região é muito extensa, ondulada, com matos de toda a ordem e, porque é extensa, acidentada e coberta de matos, ali se têm acoutado javalis dos primitivos tempos e os actuais, seus descendentes, consta que vivem orgulhosos do seu puro-sangue.
3. São precisos três dias de batidas e mesmo assim não se bate a décima parte dos terrenos onde se acoitam, motivo porque vivem lá ainda, LOBOS, LINCES e JAVALIS… e como eles são pouco curiosos e não vêem observar-nos de perto… vemo-nos obrigados a procura-los, sem que nos digam onde estão… o que é sempre uma trabalheira dos diabos… e às vezes sem sorte nenhuma para dar com eles.
4. Donde se deduz, que se aparecerem e se alvejarem dois ou quatro daqueles «CATEDRÁTICOS» é já andar com muita sorte e aqui fica a prevenção para os que pensam fazer cintos de javalis, como se fazem de codornizes…
5. O regime da caçada não tem similar na Europa. Quem tudo manda é o director. A ele todos devem pedir e ele a todos servir.
6. O caçador não tem direito a quarto, nem cama, nem roupa, nem talher, nem mesa… Mas há-de ficar debaixo de telha, comer, deitar-se e dormir provavelmente… Deve, pois, fazer-se acompanhar de talher, dois pratos de alumínio ou esmaltados, guardanapo (se não achar supérfluo), um copo, toalha e sabão, se quiser lavar-se, porque não é obrigatório… Trazer cobertores, um ou dois, conforme o frio que quiser passar.
7. O custo da caçada, por «cabeça» com pagamento a 50 batedores, quatro dias, aluguer de montadas «puro-sangue» de Malcata, com vitela abatida à vista do hóspede, diária no «PALACE DAS SELVAS» e o mais que não se imagina… deve dar uma conta aproximada entre 600$00 a 800$00.
8. O caçador que abater, a tiros de espingarda, a peça de caça procurada, LOBO, LINCE ou JAVALI, tem direito à cabeça e à pele da vítima… A carne e os ossos pertencem ao resto do exército, que tudo dividirá em partes iguais.
9. Carregar a espingarda só depois de destinada a porta. Preferir bala de chumbo. As portas são sorteadas dia a dia.
10. O que faltar nesta legislação é resolvido livremente pelo director da caçada e, da sua sentença, não cabe apelação para nenhum tribunal nem mesmo para a O.N.U."


Como referi acima e para concluir, deixo-vos os dois últimos parágrafos da Campanha Oitava:

"Entrada triunfal na freguesia de Quadrazais e Vila do Sabugal com visitas obrigatórias das crianças das escolas, de mistura com adultos, ao belo exemplar abatido… Abraços de despedida e até para o ano.
Como recordação, conservo ainda a cabeça do javali, embalsamada, e a pele cerdosa e escura, é o tapete que piso todos os dias, ao sentar-me à minha secretária… e assim a caçada continua!"

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