28 de agosto de 2010

A Corneta de Caça em Portugal

A corneta é, essencialmente, um instrumento de sopro, que tanto poderá ser constituída por um chifre, um búzio, como por metal, sobretudo latão e cobre.
Inicialmente o bocal, lugar por onde se sopra, era formado apenas por um orifício simples, como ainda se verifica nos búzios e nos chifres, sendo então o som produzido fruto da passagem do ar expelido em conjunção com a vibração da língua e dos lábios. Trata-se de uma técnica que requer alguma prática, embora não seja de difícil realização.
Mais tarde foi desenvolvido um sistema mais simples, através da introdução de uma palheta no próprio bocal, substituindo, deste modo, a necessidade de executar o procedimento supracitado com a língua e os lábios
Utilizamos diferentes tipos de sons para comunicarmos, quer produzidos através da voz ou de instrumentos.
Exemplificativo deste último, temos, por exemplo, o cornetim utilizado nas forças armadas durante a ordem unida.
O uso do chifre, do búzio, da corneta na caça em Portugal é actualmente, apesar de se tratar de uma prática ancestral, um costume em desuso.
Pretendo, na elaboração deste texto, embora de modo elementar e muito modestamente, contribuir para a inversão desta realidade e ajudar a recuperar este uso.

Tais instrumentos foram utilizados nas mais diversas caçadas em que se perseguiam as presas com cães e eram empregados para sinalizar procedimentos ou indicar o que se estava a suceder. 
Ainda se encontram bem presentes na tradição venatória de alguns países europeus, como a Alemanha, a França ou a Inglaterra, entre outros. Possuem toques para cada situação, à semelhança do cornetim na ordem unida que mencionei acima, e melodias próprias como a francesa “Le Chateau de Passin” ou a alemã "Aufbruch zur Jagd", a título exemplificativo.
Quanto aos toques, os ingleses dividem-nos em três grupos: os “signal calls”, utilizados para transmitir informações aos acompanhantes e aos cães; os “disappointed” ou “sad calls”, empregados, por exemplo, para dar conta da perda da presa ou do final da caçada e os “doubled calls”, usados em contraste com os “disappointed” ou “sad calls” para demonstrar grande entusiasmo, encorajamento ou excitação. Dentro destes conjuntos, há então diversos toques que os preenchem, atribuindo à caçada sonoridade e modulação excepcionais. O toque de “blowing for home”, que se insere no segundo grupo, é o único que me parece desobedecer às normas inflexíveis dos restantes, permitindo ao tocador acrescentar alguma da sua originalidade, mas apenas no final da última jornada de caça da época venatória.

Regressando a Portugal, podemos encontrar registos do uso da corneta de caça gravados na arca tumular do Conde D. Pedro, sita na Igreja de Tarouca, que data do séc XIV, e também na arca tumular do falcoeiro-mor de Vasco Estevão de Gatos, do séc XV, localizada no Convento de São Francisco, em Estremoz.
Na página 65.ª, do livro “A Propósito de Caça”, da autoria de João Maria Bravo, encontra-se a fotografia de um caçador português a fazer uso de uma corneta, no decurso de uma batida em Novembro de 1952, em território nacional.
Até à revolução, ocorrida a 25 de Abril de 1974, era utilizada com frequência nas batidas aos lobos e às raposas.
De tudo isto se infere que a utilização da corneta de caça em Portugal tem tradição e era comum!

Francisco Duarte, n’ “Uma caçada em Arraiolos”, narrativa inserta no seu livro “Caça e Caçadores”, descreve-nos como se processa uma linha de caçadores: “No Alentejo, em 1931, as linhas ainda eram de dez caçadores. E, em terreno plano, é muito difícil caçar com linha reduzida, pois as perdizes fogem para fora, logo no primeiro levanto, deixando-se perseguir muito dificilmente se ela é constituída por poucos caçadores.
Em grande parte do distrito de Évora o terreno é quase plano. Por isso as linhas são em caldeirão, isto é, formando um arco de círculo.
Os caçadores que fazem as pontas vão mais adiantados, os contrapontas um pouco mais atrasados, e os do meio ainda mais recuados de modo a formarem o caldeirão.
Nestes terrenos quase planos, os caçadores distanciam-se uns dos outros, por vezes deixando um espaço superior a cento e cinquenta metros entre cada dois caçadores.
Ora, quando eram permitidas linhas de dez, cada uma chegava a apanhar uma extensão de mais de um quilómetro.
Os caçadores que fazem as pontas têm a missão de meter as perdizes para dentro da linha, enquanto os contrapontas marcam, por assim dizer, a trajectória, são o ponto de referência dos companheiros, para manterem a linha em boa ordem e com o arco de círculo sempre constituído.
Esta é a maneira das perdizes não saírem para fora dela.
Mas se os bandos, ainda assim, dão de asa para um dos lados, então o ponta desse lado pára (ou faz peão) e dá o grito: vá de enrola.
A este sinal, o ponta contrário corre imediatamente para o lado solicitado, bem como toda a linha, indo no entanto mais devagar os do lado da ponta que faz peão.
Esta manobra tem de ser feita conservando continuamente o caldeirão.
E aqui é que se pode verificar se uma linha é constituída por caçadores de categoria ou não, visto que o enrolamento deve ser feito com toda a rapidez. Isto porque as perdizes que já voaram, que são as que tentam sair da linha, é que devem ser perseguidas, pois, se o não forem imediatamente, descansam e dificilmente esperam gatilho.
No Alentejo, para conservar a linha sempre bem, é costume cada caçador olhar para o da sua esquerda. Isto significa que o caçador que faz a ponta esquerda tem que conhecer muito bem o terreno e ser verdadeiro técnico da caça à perdiz. “
Mais à frente, sobre a indicação dos lugares que cada caçador deve ocupar, acrescenta: “Devo dizer que a numeração, no Alentejo, é feita da esquerda para a direita e não como há anos vi na Beira Baixa, o que me surpreendeu.”
E ainda a seguir esclarece-nos que: “A bicada dá-se quando um caçador se adianta e se vai postar na frente da linha, esperando aí as perdizes. Isto em terreno plano, dá um resultadão para quem faz a bicada, mas redunda em prejuízo para os companheiros, especialmente para os que estão perto, que deixam de ter perdizes na sua frente.”
Apesar deste autor não referir a corneta, na margem esquerda do Guadiana, as pontas das linhas dos batedores também utilizavam búzios para sinalizar a volta, recolher os cães ou indicar o levantamento de uma peça de caça, pelo que seria perfeitamente natural substituir o grito de “vá de enrola” pelo som proveniente de uma corneta ou de um búzio, sobretudo nas tais linhas com mais de um quilómetro.

Um dos factores que poderá ter sido determinante para a diminuição do uso de tais instrumentos na nossa caça relaciona-se com o decréscimo da floresta portuguesa e a consequente diminuição da diversidade das espécies de caça maior, sendo talvez devido a estas que ainda persista tal conduta nos países que citei acima, pois desenrolando-se a caçada em tais lugares, será muito mais adequado comunicar por toques de corneta.
Outra das causas residirá na eventual falta de conhecimentos do caçador neófito, muitas vezes sem qualquer tradição familiar recente nesta arte e, por fim, no declínio dos mestres fabricantes de tais utensílios.

Salvar esta prática é perpetuar uma identidade, assente em usos e costumes próprios e profundos que nos identificam e distinguem dos demais, pelo que devemos pugnar pela sua recuperação e dela cuidar para que não se perca no esquecimento, certo de que, com este texto, ainda muito ficou por abordar e referir sobre a corneta de caça em Portugal.

*Um agradecimento especial aos Confrades António Luiz Pacheco, João Acabado, Pedro Almeida Alves e Ricardo de Sousa pela valiosa contribuição que prestaram à minha solicitação no portal Santo Huberto, através da enorme partilha de conhecimento e da muita experiência pessoal!

26 de agosto de 2010

Do Caçador-recolector ao Coleccionador do Séc. XXI

As colecções particulares podem ser de tudo e de alguma coisa. As mais conhecidas são as de selos, as de moedas, mas há outras, como por exemplo as de conchas, de borboletas, de troféus de caça para não fugir ao tema em epígrafe, entre muitas outras.

Iniciei, bem no início da década de 1980, uma colecção de fivelas e começou naturalmente com uma que me fora oferecida, seguindo-se as restantes, umas compradas e outras trocadas - a esmagadora maioria.
Na viragem do século arrumei-a e acabei por recupera-la do fundo do caixote de papelão onde jaziam, há cerca de 2 semanas.
Caracteriza-se por datarem as peças das décadas de 70 e  de 80 do século passado, versarem o tema da caça, por serem fabricadas em bronze, latão dourado maciço ou mesmo em  osso.
Estão todas, apesar dos muitos anos que transportam, em excelente estado de conservação e de funcionamento, o que me dá uma enorme satisfação pessoal, até porque, algumas destas, são, hoje em dia - atrevo-me a referir, exemplares raros.

Principiei-a, porque se tratavam de objectos bonitos, práticos, úteis, porque me reavivavam agradáveis recordações e alimentavam a imaginação. 

Sem me aperceber também comecei a aprender algo sobre as mesmas e, por conseguinte, a enriquecer-me pessoalmente.
Certos estudos também explicam a existência das colecções particulares como sendo resultado da nossa ascendência, proveniente dos caçadores-recolectores, esses primeiros hominídeos que na caça de animais bravios e na recolha de alimentos sustentavam a sua existência, o seu desenvolvimento e a sua evolução.

16 de agosto de 2010

Açorianos nas Finais Nacionais de Santo Huberto

Nos próximos dias 11 e 12 de Setembro, realiza-se em Monfortinho, no Concelho de Idanha-a-Nova, junto da fronteira espanhola, a final nacional da Taça da Confederação Nacional dos Caçadores Portugueses de Santo Huberto com cão de parar sobre perdizes vermelhas, estando os Açores representados por Cremildo Marques, Gualter Furtado e Olivio Ourique.

Nos dias 18 e 19 seguintes, tem lugar a final nacional do campeonato nacional de Santo Huberto, que dará acesso à final do campeonato do Mundo de Santo Huberto e que terá lugar no norte alentejano, mais precisamente no concelho de Gavião.

Os Açores irão participar com a maior delegação nacional, resultante dos apuramentos que se realizaram nas diferentes Ilhas e do elevado número de participantes que existem neste arquipélago, sendo a mesma constituída por Pedro Moniz e José Moniz - da ilha de São Miguel; José Nascimento e José Luis - da ilha Graciosa; José Soares, Miguel Parreira e Olívio Ourique - da ilha Terceira, e Cremildo Marques - da ilha do Pico.

Na edição de 2009, os Açores foram campeões de Portugal e campeões do Mundo, por equipas, através do Alberto Cantineiro.


Texto e foto da autoria de Gualter Furtado

9 de agosto de 2010

Bambi - Um Alvo a Abater

Se há filmes que recordamos da nossa meninice, então o do "Bambi", de Walt Disney, é um deles.
David Petersen, ao contrário do que pensam e acreditam algumas pessoas, nos vem dizer que este desenho de celuloide não é mais do que um artificio dissimulado, antinatural por natureza, que já devia estar, há muito, bem extinto e soterrado!

Para este autor "a tragédia do Bambi" começou em meados de 1880, quando um jovem húngaro, depois ter assumido o nome de Felix Salten - uma identificação étnicamente muito mais confortável do que o nome judeu original  de Siegmund Salzman, emigrou para Viena. Nessa cidade austríaca, dedicando-se Salten à escrita de peças de teatro, à crítica, à produção de pelo menos uma novela pornográfica (As Memórias de Josephine Mutzenbacher) e à criação de uma enorme porção de livros relacionados com a natureza e destinados às crianças, prosperou.
Entre os seus passatempos, que agora o novo-rico Felix participava com os seus novos amigos aristocráticos, estava a caça, actividade que ele veio a considerar repugnante.
Escrito em 1924, o Bambi de Salten pretendeu, desde o início, instituir sentimentos anti-caça, tanto nas camadas mais jovens, como em todos os outros leitores, embora alguns críticos defendam que se tratava, sobretudo, de uma alegoria anti-facista, em que a pacífica natureza selvagem representava as massas vitimizadas e os caçadores, os odiosos hunos.
Repleto de sofrimento e de morte, tudo isto causado por um inimigo conhecido entre os animais apenas por "Ele" (com a inicial maiúscula, como se de uma referência biblíca se tratasse), este Bambi teve um enorme sucesso junto das classes sociais mais desfavoridas que sempre conceberam a caça praticada ao longo dos séculos por uma minoria privilegiada, uma enorme injustiça.
Entretanto, na América, uma conspiração paralela tomava forma.

Tendo iniciado a sua vida numa quinta, do estado do Missouri, nos E.U.A., Walt Disney caracterizava-se por ser um acérrimo defensor dos "direitos dos animais" e, por conseguinte, frontalmente contra os caçadores, os quais odiava. Narra-nos a história que tudo começou quando o seu irmão, de nome Roy, surpreendeu um coelho com um tiro bem colocado, disparado de uma pressão d'ar, seguido de um  "coup de grâce", torcendo-lhe o pescoço, tendo tudo isto sido presenciado pelo pequeno cineasta. Embora a sua mãe tivesse recebido de bom grado a carne fresca e com ela confeccionado um apetitoso guisado, Walt recusou-se a comê-lo.
O Bambi de Salten foi traduzido para inglês em 1928 e depressa chegou aos Estados Unidos. Entretanto, Walt Disney tornara-se adulto e bastante activo na industria de filmes de animação. Quando leu esse livro foi amor à primeira vista e nele também encontrou uma boa oportunidade para ganhar dinheiro, muito dinheiro. Feito o guião. tiveram as filmagens o seu início em 1937. Apesar do produto da Disney possuir mais vida e cor, transmitir um maior sentimento de esperança do que a novela pardacenta e freudiana de Salten, manteve o conflito primário que a qualificava: a natureza é boa, a humanidade é má.
Em Bambi encontramos figuras benevolentes e conselheiras, como corujas, esquilos, coelhos e codornizes. Apenas bagas selvagens e as flores dos trevos são consumidas, e mesmo assim nem muitas dessas. Na maior parte do tempo essas criaturas ingénuas apenas cantam, brincam, dormem e têm conversas imaturas e infantis entre si.
A misantropia e o sentimento anti-caça não eram os únicos alicerces que suportavam e alumiavam a passagem de Bambi do livro para o filme. Como sempre, para este competente capitalista, o ganho monetário era o objectivo primordial.
Nos seus projectos iniciais, o pai do Rato Mickey, aprendeu rapidamente que o lucro poderia ser bem mais ampliado através da sábia gestão das emoções dos espectadores. Em Bambi, a massiva manipulação da natureza, tendo em vista o efeito emocional e, por conseguinte, o lucro, é projectada para extremos nunca antes explorados.
Cartmill, investigador de História Natural, disse o seguinte: "assim que se compreendeu que o sentimentalismo e o antropomorfismo faziam dinheiro, foi por esse mesmo caminho que seguiram os filmes de Disney ... desinformam deliberadamente a assistência sobre factos biológicos basilares". Acrescentou ainda que "aos animadores foi-lhes dito que poderiam utilizar quaisquer expressões humanas que conseguissem impor na cabeça  inflexível e alongada dum veado. Em consequência dessa directiva as cabeças começaram a ser desenhadas num formato alargado sobre corpos pequenos. Os focinhos foram encurtados para melhor se assemelharem a personagens ameninadas. As pestanas foram desenhadas mais compridas e as pupilas dilatadas... tais como as que podemos encontrar numa cortesã do período renascentista".
Além da sábia condução musical os mágicos da Disney conseguiram alcançar uma irresistível aparência inocente através da introdução de vozes de crianças reais.
Sem deixar pontas soltas, a cena de abertura de Bambi, à qual todas as outras criaturas reverenciavam como sendo o jovem príncipe da floresta, trata-se de uma desavergonhada réplica da Noite de Natal. Mais uma vez Cartmill  observa que, "após os animais venerarem o recém-nascido e terem partido, a imagem focaliza a mãe e a cria aninhadas numa espécie de arbusto - um quadro que Pearce, o editor da história, referiu assemelhar-se "àquele quadro da Madonna" - enquanto o pai contemplava o cenário enternecedor do cimo de um penhasco celestial, tal e qual um deus distante.
David Peterson diz-nos que após ter observado o filme sob a perspectiva de um adulto esclarecido, concordou profundamente com a descrição que o crítico Roger Ebert fez da obra: "uma parábola ao  sexismo, niilismo e desespero, retratando pais ausentes e mães passivas num mundo de morte e violência." Conclui Ebert que não é um produto indicado para jovens, nem para quaisquer mentes impressionáveis.
Mesmo nos dias de hoje, até para adultos sugestionáveis, o filme Bambi transporta aquilo que Cartmill caracteriza como "a força de um malho... apesar da sua penetrante e repelente sedução".

Bambi - o filme para crianças, agora mais facilmente acessível ao público do que alguma vez o foi, é um enorme embuste.
Para David Peterson, se as criaturas da floresta pudessem falar em nome próprio estariam entre os seus maiores críticos, pois sabem bem melhor do que nós quão devastadora tem sido esta farsa, e continua a ser, para o seu modo de vida bravio, através da criação do falso conceito da paz universal e do amor na natureza, que simplesmente não existem.
No âmbito deste filme, se alguns "amigos do Bambi" ou defensores dos direitos dos animais conseguirem levar por diante os seus objectivos, como disseram que fariam, acontecerá uma catástrofe ecológica.
Peterson, na defesa da verdade, realidade e pela dignidade dos processos naturais, afirma que Bambi - essa monstruosidade da propaganda de Hollywood, deve morrer.

Excerto traduzido por mim, retirado do Capítulo XI - The Bambi Syndrome Dismembered: Why Bambi Must Die, da II Parte, do livro intitulado Heartsblood, de David Peterson

5 de agosto de 2010

O Veado das Dez Pontas

Reza a história que, tanto Plácido, um soldado romano do exército de Trajano, como Huberto, filho do duque da Aquitania, se converteram ao cristianismo após se terem deparado com um veado que apresentava o crucifixo de Cristo.
O primeiro ficou conhecido como Santo Eustáquio e o segundo como Santo Huberto - o Padroeiro dos Caçadores!

Santo Eustáquio, cuja conversão ao  catolicismo se deveu a uma visão que teve de um veado  com a cruz entre os esgalhos, também é considerado Padroeiro dos Caçadores, porém tratou-se essencialmente de um culto romano, que teve o seu apogeu no séc. XI.
Por sua vez, Santo Huberto, que também era um ávido caçador, deparou-se, numa Sexta-feira Santa e no decurso de uma caçada, com um magnífico veado de dez pontas, por sinal o mais majestoso que alguma vez vira, e moveu-lhe uma impetuosa perseguição com o intuito de caça-lo. O cervídeo, em vez de correr e de procurar refugio, encarou-o ostentando um crucifixo entre as hastes ao mesmo tempo que uma voz misteriosa lhe disse para se voltar para Deus. Huberto assim o fez, despojando-se dos bens materiais, dedicando-se à oração, à leitura de textos sagrados e à meditação.
Mais tarde, já consagrado bispo da igreja católica, converteu muitos pagãos e realizou diversos milagres, tendo sido canonizado no ano de 743.

Existe uma enorme similitude entre estes veneráveis, porém Santo Huberto substituiu Santo Eustáquio, como Padroeiro dos Caçadores, no séc. XIV e celebra-se Santo Eustáquio no mês de Setembro, por altura das vindimas, enquanto Santo Huberto é no mês de Novembro.
Ambos foram grandes aficionados da actividade venatória, que a renunciaram, precisamente, para venerarem a ordem celeste e aqui encerram um grande paradoxo, pois não deixa de ser curioso que, em nome desta recusa, tenham sido aclamados patronos da caça.
O veado das dez pontas, que também se encontra representado na iconografia cristã,  é, na verdade, o glorificado em toda esta narrativa, pois foi diante dele que o caçador se curvou e humildemente se ajoelhou.

3 de agosto de 2010

Representante da República para os Açores Entronizado pela C.G.C.

No dia 01 de Agosto de 2010, nas instalações do Clube Cinegético e Cinófilo (CCC), sitas no bonito e aprazível Lugar das Fontinhas, na ilha Terceira, a Confraria de Gastronomia Cinegética dos Açores procedeu a mais uma cerimónia de entronização de novos Confrades, cabendo a vez ao Senhor Eduardo Ávila (Camarão) e ao Juiz Conselheiro Dr. José Mesquita, actual Representante da República na Região Autónoma dos Açores e um Verdadeiro Caçador.

O evento, onde também estiveram presentes os representantes da Confraria do Vinho Verdelho, muitos caçadores e familiares, oriundos de diversas Ilhas deste arquipélago açoriano, foi precedido por um merecido repasto - como não podia deixar de ser, constituído exclusivamente por pratos de caça, cozinhados no CCC, entre os quais se destacaram a canja de pomba da rocha, as alcatras de coelho, perdiz e javali, codornizes à caçador, pombas da rocha assadas, galinhola à nossa moda e coelho frito, por todos muito apreciados e degustados, a que se seguiu uma saborosa sobremesa com meloas de Santa Maria.

A Confraria de Gastronomia Cinegética dos Açores é a primeira do género, de Portugal, e tem como Objectivos, entre muitos outros, valorizar a componente social da caça, preservar e divulgar o património gastronómico confeccionado a partir de espécies cinegéticas dos Açores e do País.

Texto e foto da autoria de Gualter Furtado

1 de agosto de 2010

Separar o Trigo do Joio

Estamos cada vez mais distantes do verdadeiro sentido da caça, e, este é um facto indiscutível.
A caça, por seu turno, encontra-se no centro, entre dois extremos, cada vez mais pronunciados e distantes um do outro. Vivem eles das meias-verdades que debitam vigorosamente e dos argumentos que utilizam para se agredirem mutuamente. Refiro-me aos grupos extremistas pro-caça e anti-caça, respectivamente.

Estes últimos não são os únicos a representarem uma séria ameaça à existência da actividade venatória. Os primeiros também o são! E isso deve-se à incapacidade que temos vindo a demonstrar, hoje em dia, mais do que nunca, de nos organizarmos e estruturarmos à volta dos mesmos objectivos, dos mesmos valores éticos e morais, pelo que há muita coisa a correr muito mal.
A caça furtiva é apenas uma delas e não é só por ser um acto ilegal, pois também persistem actividades venatórias lícitas que não são menos prejudiciais, como por exemplo a caça aos troféus, a caça em terrenos vedados, os concursos de caça, o emprego abusivo das novas tecnologias, a exposição desrespeitosa dos animais abatidos ou mesmo o comportamento altamente reprovável de alguns ditos caçadores quando se pavoneiam  no campo munidos de uma arma de fogo.
Tudo isto contribui para que nos dividamos ainda mais e força alguns Caçadores mais conscienciosos e responsáveis a afastarem-se da Caça, muitos deles convertendo-se em não-caçadores ou mesmo a serem frontalmente anti-caça.
Não é assim que se desperta o interesse nas camadas mais jovens, nem é assim que desarmamos os opositores.

O Verdadeiro Caçador terá que fazer um esforço e reencontrar dentro de si o "fogo sagrado", responder a uma única e simples pergunta: porque é que "eu" caço?

Se chegarmos à conclusão que o fazemos porque somos os mais recentes representantes de uma longa linha de predadores, cuja origem se perde no próprio tempo; que o fazemos em parceria com a natureza, pelo desafio dos nossos próprios limites; para aprendermos sobre a nossa verdadeira identidade e sobre o mundo que nos rodeia, de uma maneira que só a caça nos pode ensinar; para aceitar a responsabilidade pessoal das mortes que provocamos, sabendo que as mesmas nos providenciarão o alimento que necessitamos; para nos integrarmos no mundo natural e sentir essa sensação como se de uma experiência espiritual se tratasse, então estaremos a contribuir para um mundo melhor, a desenvolvermos o nosso próprio ser e, finalmente, estaremos prontos para responde-la, conscientes que essa resposta nos fará ser mais exigentes connosco e com os outros.

Bibliografia consultada: "A Hunter's Heart", de David Petersen

Sobre o blogue

Contacto: ribeira-seca@sapo.pt
número de visitas

1 - Pertence-me e não possui fins comerciais;

2 - Transmite a minha opinião;

3 - Os trabalhos publicados são da minha autoria;

4 - Poderei publicar textos de outros autores, mas se o fizer é com autorização;

5 - Desde que se enquadrem também reproduzirei artigos de imprensa;

6 - Pela Caça e Verdadeiros Caçadores;

7 - Em caso de dúvidas ou questões, poderão contactar-me através do e-mail acima;

8 - Detectada alguma imprecisão, agradeço que ma assinalem;

9 - Não é permitido o uso do conteúdo deste espaço sem autorização;

10 - Existe desde o dia 21 de Outubro de 2006.

© Pedro Miguel Silveira

Arquivo