Quando se é editor de uma revista de caça em Manhattan,
passa-se a ter uma noção da verdadeira dimensão da ignorância em relação ao
mundo selvagem e constata-se que é da moda, mesmo um conceito moral, nos
círculos mais sofisticados, menosprezar hipocritamente as realidades da
natureza.
Ficarás perplexo ao verificar que muitos destes urbanos
elitistas se opõem ao corte de árvores, mas que optam por viver confortavelmente
em casas de madeira, equipadas por lareiras onde as queimam; que conduzem SUV’s
de elevadas cilindradas, mas que apoiam restrições cegas ao uso de gaz e
combustível fóssil; que clamam por energia limpa, mas que se manifestam
ruidosamente quando se vêem confrontados com ventoinhas nas proximidades das
suas casas de praia; e que se opõem à caça, mas que beneficiam dela de toda a
vez que viajam de avião, uma vez que se previne o embate de gansos nas
aeronaves.
E que, por vezes, te encontras mesmo numa troca de palavras
sem qualquer sentido e totalmente inconcebível com uma dessas pessoas. Por isso
é que me vi na contingência de criar um modelo, constituído por cinco etapas, de
como se deve falar para um anti-caça. Por exemplo, há alguns anos, numa
aprazível noite de Verão, em Nova Iorque, fui convidado a estar presente num
jantar que teve lugar num restaurante da moda daquela cidade. Sentei-me
defronte de uma mulher que me pareceu ser, pela forma como se vestia e agia,
uma pedante. Disse-me que era advogada e perguntou-me o que fazia. Respondi-lhe
que editava uma revista de caça.
A mulher, momentos depois, enquanto espetava o garfo numa das
cenouras que tinha no prato, olhou-me nos olhos e disparou: “Sou vegetariana;
oponho-me a tudo o que é caça.”
O primeiro passo a respeitar num debate com anti-caças é ser
cordial, mesmo quando verborreiam. Ajuda a manter a conversação, a temperar as
emoções e dá-lhes motivação; afinal de contas ignoram a verdade politicamente
incorrecta que assiste à caça, por isso sorri-lhe.
O segundo passo é confrontar o anti-caça com as suas convicções,
contradições e tudo o resto. Força-los a explicar a base das suas conclusões
contra a caça. É a aplicação do Método Socrático e resulta maravilhosamente
perante estes utópicos troca-casacas, pessoas que baseiam o seu conhecimento da
natureza nas animações de Walt Disney.
Respondi-lhe: “Nesse caso, presumo que só coma vegetais?”
- Sim, claro.
- Porquê?
- “Lamento a existência da morte, do assassínio dos
animais”, declarou.
- Presumo então que os vegetais que consome devem vir de
quintas certificadas «Não-Morte»?
- Isso o que é? Perguntou-me sustendo a garfada defronte da
boca.
- Certamente que confirma a existência da certificação
quando adquire os seus vegetais. Não o faz?
- Não. Onde é que...? e pousou o garfo.
- Não será melhor questionar o restaurante sobre a
proveniência dos vegetais que está a consumir?
Assim que o empregado passou por perto, abordou-o: “Poderá
informar-me se adquirem os vossos produtos vegetais numa quinta certificada de
«Não-Morte»?”
Atónito, o funcionário arregalou os olhos e retorquiu:
“Eu... eu... Terei de verificar. Um momento.”
Regressou apresentando um semblante preocupado. “Queira
desculpar-me, mas na cozinha ninguém tem conhecimento de tal designação ou
origem. Asseguro-vos que os vegetais são de qualidade. Recebemo-los de quintas
orgânicas e nos chegam frescos todos os dias.”
Olhou a mulher para a sua salada. Não sabia o que fazer.
Depois viu-me esboçar um sorriso e focou-me venenosamente. Nessa altura senti
que teria ultrapassado alguns limites e solicitei que me perdoasse.
“Preguei-vos uma partida. Não existe esse tipo de certificação.”
- Bem, eu nunca! Exclamou.
O terceiro passo na fala com um anti-caça é identificar-lhe
as contradições, o que lhe fiz secamente, ignorando totalmente a primeira
etapa. Antes que me agredisse, saltei para o passo quarto: Deixem-nos saber que
estão a falar com uma pessoa esclarecida, conhecedora das coisas, dos factos
reais.
- Tenho caçado desde os campos de Montana ao Maine e os
agricultores apreciam e reconhecem a importância do que faço.”
- E?
- Todos eles necessitam de defender as suas colheitas. Ainda
não conheci nenhum agricultor que não mate gansos, coelhos ou mesmo os veados
que lhes vão comer as novidades.
- Onde pretende chegar?
- Cada uma das cenouras ou hortaliças que consome foram
produzidas por agricultores que matam veados e coelhos, tal como qualquer
animal que lhes comprometa a safra.
Começou a ficar conturbada e sem saber o que dizer.
Era chegado o momento do quinto passo: Abater a
irracionalidade e apresentar uma alternativa. É a etapa mais importante, porém
a mais negligenciada. Confrontar um anti-caça com os factos reais nunca é
suficiente. Ficam confusos perante as próprias contradições. Geralmente as pessoas
com escolaridade detestam assumir que defendem teses sem credibilidade ou
constatar a cegueira do seu fanatismo. Se os deixarmos nesta fase, perder-se-ão
nas suas emoções, na sua irracionalidade e não aprenderão absolutamente nada.
Por isso continuei.
- Não deverá sentir-se culpada pelo facto dos agricultores
necessitarem de proteger as suas colheitas. É natural que o façam. As espécies
animais também o fazem em relação às suas fontes de alimento. Os lobos matarão
o intruso, tal como os leões e os pumas. Até mesmo o esquilo perseguirá outro
esquilo que ousar penetrar no seu território. Todos necessitam de proteger o
local onde vivem. Se não o fizerem morrerão. Isso faz parte da vida, da ordem
natural das coisas.
- Bem, suponho que seja verdade. Disse ela concordando.
Se uma pessoa debater este tema frontalmente, sem se deixar
enredar nas contradições que lhe são apresentadas, estes cinco passos
resultarão.
A maior parte das pessoas ignora a verdade sobre a
existência da caça. As emoções toldam a visão lógica. Mas a culpa não é
totalmente delas. A poderosa corrente dos media não lhes está a contar a
história toda. A não ser que tenham uma experiência pessoal, jamais aprenderão
a importância da caça. De facto, falar com verdade sobre caça na América tornou-se
de tal modo supérfluo que os meios de comunicação para definirem um político em
termos ambientais, recorrem a uma listagem publicada pela Liga de Eleitores
Conservacionistas, movida pelos temas do aquecimento global e da oposição à
exploração e uso de combustíveis fosseis, cujo objectivo é pressionar os
legisladores a apresentarem medidas restritivas da emissão de gases poluentes.
Se o político passa o teste, então é “verde”, se chumbar está condenado à liga
dos poluentes, dos destruidores ambientais e, claro, dos caçadores.
Não consideram importante a gestão da vida selvagem ou a
angariação de fundos para esses tipos de programas, a preservação das áreas
húmidas, a restauração dos habitats ou outros esforços quantitativos. Nada
disso é digno de registo na tal escala ambiental.
Isso é um ultraje aos caçadores, porque são estes que
implementam e pagam os projectos conservacionistas do mundo real.
Em resultado, um congressista apesar de ter votado a
expansão de um programa de preservação, apoiado a cedência de fundos adicionais
a um sistema de refúgio da vida selvagem ou lutado por águas límpidas, pode
muito bem ser catalogado por essa liga e pelos media como anti-ambientalista
por um dia ter considerado inviável restringir totalmente a extracção de combustíveis fosseis em plataformas marítimas.
Esta disparidade não é apresentada pelos mass media. Resulta
daqui uma coluna vertebral tão defeituosa que mesmo nos tempos actuais, em que
a consciência ambiental está tão desperta, a maioria dos americanos ignora que, das taxas obtidas através do comércio das armas e munições, bem como de outro
equipamento de caça, contribuíram os caçadores em 2005 com $294.691.282 USD
para programas estaduais de conservação ou mesmo que os montanhistas, os
ciclistas e ambientalistas não pagam uma pequena fracção desses valores. A maior parte das pessoas
não tem mesmo consciência que o dinheiro dos caçadores compra habitats e gera
fundos importantes para investigação em todos os estados. Ignora inclusivamente que a caça
reduz o risco de sermos perseguidos pelos predadores.
Foi para combater isto que escrevi este livro. Nestas páginas
encontrarás factos concretos que atravessam a retórica, a propaganda anti-caça
e a versão dos media. Lerás biólogos, caçadores, agricultores,
anti-caças, vítimas de ataques de animais e muitos outros. Acederás a estudos
da vida selvagem, estatísticas de ataques, notícias e opiniões de peritos de caça. E compreenderás como a proibição da caça afecta as populações de animais
selvagens e a sua conservação. Deste modo, assim que falares com um anti-caça ou quando o teu coração te questionar sobre a prática da caça, saberás
encontrar uma resposta concreta e real, mesmo que seja do tipo politicamente
incorrecta. (pp. 1-5.) Tradução por Pedro Miguel Silveira
Frank Miniter (2007). The Politically Incorrect Guide to Hunting. Regnery Publishing, Inc.