Há muitos anos, quando a
idade era outra e o entusiasmo maior, havia cá neste cantinho do Alentejo um
grupo que gostava de caçar javardos, mas gostavam mesmo de
caçar porcos esta gente!
Gostavam tanto que
aproveitavam estes dias assim mais quentes, para cima dos 40º, e juntavam-se
dois ou três, por vezes com um canito daqueles escolhidos, bem rijos, e iam-se
aos porcos...
Caçar
com estes calores é duro, muito duro, mas esta rapaziada malina fazia ainda
questão de esperar que o dia aquecesse mais, que o chão e as sombras ficassem
abrasando e depois lá iam pé ante pé bater barrancos com silvados ou nos
acamadoiros do mato, onde poderiam estar os porcos. É claro que era uma
temeridade, mas um cantil com água, um chapéu largo e umas polainas chegavam para se sentirem estes jovens caçadores preparados
para enfrentar até o inferno... o que faz a juventude!
Os
bichos, amagados, esmagados com o calor tremendo, nem acreditavam que ali
viesse nada nem ninguém apoquentá-los e saiam mesmo pelas últimas, de mau
humor, olhando e escutando tão inusitadas visitas. Saiam-nos debaixo dos pés,
de contra vontade, andavam um bocado e paravam na barreira incrédulos. Até as
raposas e gatos monteses quase se deixavam apanhar à mão!
Que
saudades! Que saudades do meu valente Dom Brás e dos pequenos Pantufas, que
saudades do Rufia e do Farrusco!
Que
saudades de após termos um ou dois porcos, cansados, exaustos, nos pormos a
pensar então como os iríamos carregar e tirar daqueles infernos...
Que
saudades de tais tempos e de tais companheiros!
Texto e foto de João Acabado
Texto e foto de João Acabado