Numa noite, depois de uma
belíssima caçada aos coelhos, na companhia dos meus podengos e cruzados,
estava eu a jantar na Residencial Califórnia, lá na Ilha de São Jorge, com o
Celestino, quando um Senhor, que mais tarde vim saber chamar-se Manuel Capitão,
chegou ao pé de nós e perguntou: “Os Senhores são caçadores?"
Acrescentou de seguida:
"É que hoje aconteceu-me uma coisa que nunca mais me esqueço. Estava a
trabalhar nas infra-estruturas do Cemitério da Beira, quando comecei a ouvir,
lá ao longe, um caçador a cantar e a falar para os cães e eu disse ao meu
colega, aqueles homens ou estão malucos ou bêbados logo de manhã! É que eu
para matar um coelho não faço barulho nenhum. Eles, com toda aquela algazarra, não matam nada!
Perante aquela cantoria
paramos de trabalhar e fomos espreitar aquela maluqueira, mas depois começamos
a verificar que eles cobravam mesmo muitos coelhos e que os cães
quase que os levavam aos canos das espingardas. Os Senhores acham isto
possível ou nós é que estamos apanhados pelo clima desta bonita terra?”
O meu companheiro de caça, o
Celestino, tomou a palavra e respondeu-lhe: “Caro amigo isto é tão possível que
o Senhor até veio falar com os malucos que viu esta manhã, sendo que a berraria
que ouviu, na Ilha de São Miguel, chama-se "falar aos cães" e o autor
da cantoria é o Parceiro aqui do lado (Gualter Furtado).
O Senhor Manuel Capitão
rematou a conversa dizendo : "O Mundo é mesmo pequeno e vivendo e
aprendendo!..."
Texto e foto da autoria de Gualter Furtado