A República Oriental do Uruguai é um País da
América do Sul que faz fronteira com o Brasil e com a Argentina.
Apresenta uma população com cerca de 3,3 milhões de habitantes e um
território com uma área de 176 mil Km2.
A capital é Montevideo e tem um regime político republicano
presidencialista e pluripartidário.
A segurança no País é aceitável e positiva,
embora se recomende muita cautela com os locais que se frequenta e com os
"desvios". Infelizmente, no mundo, já não existem
países nem locais totalmente seguros.
A moeda no Uruguai é o peso e, presentemente, com 1
euro se podem comprar 25 pesos uruguaios. Nos anos mais recentes o peso tem
vindo a revalorizar-se face ao euro e ao dólar norte-americano (moeda de
referência no Uruguai).
O Uruguai é um País essencialmente agrícola, assente
em grandes propriedades que produzem para exportação.
Há quem diga ser, embora exageradamente, uma
pequena Suíça da América do Sul.
Montevideo está a cerca de 11 horas de avião de Madrid,
a que se deve acrescentar mais umas 3 ou 4 horas até Trinidad (Departamento de
Flores), a pequena cidade que escolhemos para servir de base, já que se
encontra próxima dos vastos campos de soja, sorgo, trigo, girassol e pastagens
naturais para o gado bovino e ovino com muitos charcos de água.
A caça é dos proprietários (muitos deles Argentinos e
Brasileiros) e só se pode caçar com autorização destes, mediante o pagamento de
uma "propina" (cerca de 20 a 30 euros).
Em boa parte, o sucesso de um programa de caça resulta
da seriedade ou não dos organizadores locais. Este ponto é fundamental,
pois as opções infelizmente não são muitas, mas existem lá
pessoas muito capazes como é o caso do Nelson Gutierrez (Organizacion
Charrua). Em alternativa uma consulta à Top Atlântico e ao experiente
Pedro Lencastre será sempre uma opção válida.
A grande ameaça à caça no Uruguai é a crescente utilização
dos pesticidas na agricultura, designadamente na soja, o que coloca em risco a
sustentabilidade de diversas espécies e das perdizes em particular.
No entanto, e ainda por enquanto, o Uruguai
continua a ser um paraíso para quem gosta de caçar perdizes com cão de parar
como é o meu caso.
Este ano fiz-me acompanhar do Epagneul bretão Pico,
de 5 anos de idade, filho do famoso Scotch, pertença do meu amigo
Cremildo, da Ilha Montanha (Ilha do Pico) e que é uma referência de primeira
ordem na canicultura cinegética Açoriana.
Existem no Uruguai três tipos de perdizes, a perdiz
Márron, a Martineta e a perdiz comum. O meu objectivo principal era caçar
a perdiz comum, que é praticamente uma codorniz em ponto grande, mas com um
comportamento e um voo que se assemelha em muito à nossa perdiz
vermelha. Um outro desejo era o de ver o Pico parar a umas Martinetas,
embora sem proceder ao abate já que se encontra presentemente proibida a sua
caça (junto umas fotos do tempo em que a sua caça era permitida), trata-se
esta da maior perdiz uruguaia e realmente é uma ave magnífica que
mete respeito.
Tendo em conta os objectivos fixados, o Pico
portou-se à altura das responsabilidades e das exigências parando magistralmente
algumas Martinetas, cujas imagens retenho na memória e que jamais esquecerei.
Não é fácil viajar dos Açores com um cão para um
país tão distante e proporcionar-lhe o melhor conforto possível nesse
percurso. Isso implica desistir dos prazeres que este tipo de viagens
proporciona para que se possa garantir um acompanhamento quase permanente
ao nosso companheiro de quatro patas. É preciso sentir uma grande paixão pela
caça e pelos cães de parar e neste caso sou afortunado, porque os meus cães acabam
sempre por me recompensar por todos estes “sacrifícios”.
No primeiro dia de caça as perdizes uruguaias eram uma
novidade para o Pico, já que se furtavam a patas numa velocidade
impressionante. No segundo dia o Pico já não se deixou enganar e
proporcionou-me lances extraordinários.
Cacei sozinho e também na companhia alternada do
Carlos (um verdadeiro cavalheiro), do Ferreira, do Nuno e do Sr. Henrique,
todos eles bons atiradores, caçadores, cumpridores escrupulosos das
regras de segurança e praticantes da boa ética na caça, condições imprescindíveis
para serem meus companheiros de jornada.
Como já referi, embora os meus objectivos nesta
deslocação, que foi quase de certeza a última devido à
distância, à idade que não perdoa e à Troika, fossem as perdizes, o Pico,
para além das Martinetas, parou igualmente lebres, narcejas e cobrou centenas
de rolas.
Quanto a estas últimas, refiro que os outros membros
do grupo, incluindo o Victor, atiraram e cobraram milhares de rolas,
espécie que continua a proliferar com milhões de exemplares para desespero dos
produtores agrícolas e sem nenhum aproveitamento económico. Há muito que
se justifica uma indústria de produtos derivados da carne de rola. Nesse
sentido fizemos algumas refeições no campo à base da carne desta ave e
tentamos demonstrar aos nossos amigos locais o potencial gastronómico da rola,
mas sem grande sucesso, já que inevitavelmente preferiam os assados da carne de
bovino e chouriços, que constituem as iguarias da gastronomia uruguaia.
Por outro lado, no hotel em que ficamos hospedados, os
pratos que confeccionamos à base da carne de perdiz e de rola foram altamente
apreciados pelos caçadores franceses e espanhóis que lá se encontravam e
que se juntam em Trinidad, pelo 1 de Maio, para fazerem a abertura de caça no
Uruguai. Eu próprio tive a oportunidade de demonstrar ao cozinheiro chefe da
unidade hoteleira como é que se podiam preparar alguns pratos com estas
espécies cinegéticas.
Finalmente, e não me canso de referir, é
impressionante a quantidade e variedade de aves (cerca de 450) que podem ser
observadas no Uruguai, um autêntico paraíso para os aficionados do birdwatching,
e que também me parece ser uma actividade muito pouco estudada e divulgada.
Saliento, com especial destaque, o exímio trabalho de arquitectura realizado
pelos Los Horneros, aquando da feitura dos seus ninhos no topo das varas que suportam
as vedações dos terrenos. São uma autêntica obra de arte!
A par desta vivência e de tudo isto que vos descrevi,
os animais como o Peludo, o Tatú (símbolo do Uruguai) e mesmo o Carpincho (Capivara)
dão à paisagem Uruguaia uma marca única, distintiva e inesquecível, que vale a
pena experimentar e que já me levou a regressar por algumas vezes.
Texto e fotos da autoria de Gualter Furtado