A primeira é que em matéria de aves de arribação de patos e narcejas o número de exemplares que arribaram nos Açores foram muito poucos, e isto deve-se principalmente a mudanças extraordinárias do clima.
Estas aves tocavam nos Açores de Outubro a Fevereiro quase sempre no seguimento de grandes temporais (fenómeno de dispersão) quando atravessavam o Atlântico, e este ano não tivemos ainda grandes tempestades. Depois nos países onde se inicia este movimento de arribação o clima também está a mudar provocando incertezas num processo que por exemplo no séc. passado era quase constante.
Outro factor comum a todas as Ilhas mas com especial gravidade nas Ilhas de São Miguel, Terceira, Pico e São Jorge são os furtivos, sendo que no Pico e em São Jorge as grandes vítimas são as Galinholas. Sem resolvermos este problema dificilmente a caça nos Açores terá sustentabilidade.
Aspecto muito negativo na Região é o facto da grande maioria dos caçadores açorianos não estarem inseridos no movimento associativo e se encontrarem de costas voltadas para o Departamento do Governo dos Açores (Direcção Regional dos Recursos Florestais) que gere a caça e fixa os Calendários Venatórios.
De realçar ainda que esta época venatória marca o fim do Santo Huberto com cães de parar nos Açores, sobretudo se compararmos o panorama actual com o que existia há meia dúzia de anos atrás, com dezenas de praticantes, dezenas de provas, com campeões nacionais, várias participações no campeonato do mundo e até campeões do mundo! As causas são sempre as mesmas, Caçadores de costas voltadas à Direcção Regional das Florestas, o preço exorbitante a que chegam as perdizes aos Açores, muita burocracia, o consequente desinteresse de novos participantes e o preço proibitivo no transporte dos cães de caça inter-ilhas, para e do Continente.
Indo agora às espécies de caça mais significativas indígenas em todas as Ilhas, pode-se dizer que em São Miguel e no Pico a densidade do coelho bravo é baixa, razão porque o número de capturas foi fixado em São Miguel em 2 coelhos por caçador e 10 por grupo de caça. Quem tem bons cães e teve a sorte de calhar numa zona em que o furtivismo foi menor e foi menos afectada pela hemorrágica fez a conta no curto período de caça que foi apenas de meia dúzia de jornadas nesta temporada. Por outro lado a construção da Scut da Ilha de São Miguel destruiu excelentes locais de caça ao coelho bravo (dizem que é o preço do “progresso”).
Nas restantes Ilhas a época ao coelho bravo foi razoável. De referir que depois das “grandes caçadas “ ao coelho bravo na Ilha de São Jorge a sua população apresenta-se controlada não se justificando agora medidas extraordinárias. Como nota muito positiva nesta época de caça refiro uma caçada ao coelho bravo na Ilha de Santa Maria na companhia dos irmãos Bragas e do Pedro Miguel Silveira, simplesmente inesquecível, pela amizade e pelo trabalho dos nossos cães.
A caça às codornizes desenvolve-se principalmente nas Ilhas de São Miguel, Terceira e Graciosa, sendo que em todas elas a sua população selvagem está a diminuir, fruto da agricultura intensiva, do uso de químicos e pesticidas e de maquinaria. Quem tem bons cães de parar, boas pernas e conhece todos os cantos das Ilhas ainda conseguiu fazer a conta que era de 5 aves por caçador em cada um dos 4 domingos em que se podia caçar a esta espécie. De referir como positivo a reprodução de codornizes em cativeiro pelos Serviços Florestais a partir de ovos geneticamente selvagens.
Quanto às Galinholas parece-me que tiveram também um ligeiro decréscimo e a sua principal ameaça é a caça clandestina e principalmente aquela cujo produto é para vender.
Os Caçadores e as Autoridades terão de estar muito atentos à caça furtiva!
Foi possível termos magníficas jornadas de caça a esta espécie em que o número de abates foi o que menos contou tendo sido valorizado muito mais o número de paragens, levantes e a forte componente social e gastronómica que está sempre associada a uma caçada às Galinholas, principalmente na Ilha do Pico com o nosso amigo Cremildo a receber-nos principescamente.
Finalmente os pombos-das-rochas, que é a espécie mais abundante nas Ilhas, possibilitou boas jornadas e pratos de gastronomia muito apetitosos.
Texto e foto da autoria de Gualter Furtado