"Impulsionados pela paixão que nos anima pela caça em geral e em especial pela caça da Galinhola, aproveitando umas passagens aéreas acessíveis, um programa de caça e de estadia na Bulgária que nos pareceu equilibrado, lá nos decidimos a fazer esta viagem.
Tudo foi programado ao pormenor, excepto a densidade de galinholas.
Optamos em boa hora pela companhia aérea Lufthansa, um símbolo de eficiência e de tratamento exemplar para com os nossos dois Setters Ingleses, indo ao ponto de, numa escala de 03h00 que tivemos de fazer em Frankfurt, ter realizado uma limpeza às caixas de transporte dos cães, colocado no fundo das mesmas um papelão absorvente e ainda de ter dado de beber aos animais.
Foi realmente um tratamento excelente e por um preço mais baixo quando comparado com os custos praticados pelas companhias de aviação nacionais e por outras estrangeiras.
Voltando ao nosso percurso, partimos de Ponta Delgada com passagem por Lisboa e Frankfurt até ao destino final Sofia.
De Ponta Delgada a Varna, ida e volta, são cerca de 12 000 Kms.
Chegados à capital Búlgara, dirigimo-nos de carro, num trajecto de 06h00, até Varna, que se situa mesmo junto do Mar Negro e em cujos bosques se encontra a nossa famosa Galinhola, que nesta época do ano chega àquelas paragens fugida dos rigores do Inverno Russo e, sobretudo, do Siberiano.
É realmente necessário sentir muita paixão pela caça para se empreender uma viagem desta magnitude e com algumas noites sem dormir à mistura.
A Bulgária é um país dos Balcãs, com cerca de 7,7 milhões de habitantes e que integra hoje a NATO, sendo, desde 2007, também membro da União Europeia.
Cerca de 84 % da sua população é Búlgara e a restante advém de outras comunidades, com destaque para a Turca e Cigana.
Após a II Guerra Mundial e até 1990, esteve sob domínio da União Soviética, o que explica o facto da maioria esmagadora da população falar apenas o Búlgaro e entender o Russo.
É também um país com muitos problemas, com uma grave crise demográfica, com uma base produtiva baseada na Agricultura e Floresta, nalguma reparação Naval e com dois produtos de excelência que são os iogurtes e o óleo de rosas, o que é muito pouco para fazer face ao atraso estrutural que apresenta, olhando, por isso, para a Senhora Merkel e para a poderosa Alemanha à espera de um milagre.
Caçamos 4 dias às Galinholas, num terreno com uma cobertura muito forte de carvalhos e estes eram de tal forma densos que tínhamos, por vezes, dificuldades em nos deslocarmos em tais condições.
Paralelamente fizemos ainda umas caçadas às Codornizes bravas e a umas Perdizes Cinzentas, estas últimas, na sua maioria, reproduzidas em cativeiro.
Eu, o José Carlos, o Carlos Pedro Jorge e o Jorge da Benedita, andamos cerca de 60 Kms atrás das Galinholas e vivemos lances extraordinários, sobretudo protagonizados pelo Setter Inglês Hudin, que o José Carlos e o Jorge souberam concretizar com o aproveitamento máximo.
A primeira Galinhola foi abatida pelo Carlos Pedro Jorge e cobrada pela Setter Inglesa Madona. Se eu a deixasse fazer tudo o que desejava teria de ir busca-la a Moscovo, dada a intensa Paixão que a movia.
Acresce a emoção das paragens feitas pelos cães a corços no interior dos bosques, a que se seguiam os gritos de alerta do guia a dizer: não, não, não… que nós respeitávamos, obviamente.
Tirando estes momentos extraordinários, e em termos gerais, esta caçada às Galinholas na Bulgária ficou aquém das nossas expectativas já que fomos traídos pelo Clima, o único factor que não chegamos a programar na elaboração desta empresa. É que ao contrário dos anos anteriores, o tempo na Rússia e naquela parte da Europa em particular, estava mais quente para o que seria normal nesta época do ano, alterando assim a rota de emigração das Galinholas.
Em síntese, as Galinholas com que nos deparamos foram em menor número do que aquele que esperávamos encontrar.
O clima está mudar; os incêndios sucedem-se com resultados terríveis para as Galinholas e todo este cenário merece uma reflexão muito profunda. Incluindo nos Açores e no que diz respeito às Galinholas endémicas deste arquipélago.
O que podemos concluir nesta fase é que as condições climatéricas são determinantes na caça às aves de arribação e que o clima está a mudar brutalmente.
Não obstante o esforço da nossa tradutora e dos dois guias que conheciam bem os terrenos de caça, a Organização também ficou abaixo das nossas melhores expectativas.
As condições de alojamento eram sóbrias, rigorosas e com uma lareira poderosa que as condições atmosféricas exteriores infelizmente não justificavam.
A comida era razoável, tal como a Grapa, uma espécie de água ardente que os Búlgaros bebem como aperitivo e a acompanhar as entradas compostas por saladas e massas.
Como curiosidades desta aventura búlgara, junto a capa de uma revista de caça búlgara, uma foto de uma Lebre enorme atirada pelo José Carlos e uma ave cobrada pelo Carlos Pedro Jorge que julgo ser um macho de codorniz albino, mas quanto a isso aguardo a confirmação do Carlos Pereira."
Texto e fotografias da autoria de Gualter Furtado