Vasco Bensaude nasceu em Lisboa, no ano de 1896, filho de Pais
Açorianos. Era descendente de uma família Judia que chegou aos Açores nos
inícios do Século XIX e viria a falecer no Pico Salomão, em Ponta Delgada, em
1967. O Senhor Vasco Bensaude, como era conhecido nos Açores, foi o líder, durante algumas décadas, do mais importante Grupo Económico dos Açores e com
posições muito relevantes em setores de atividade no plano nacional, como
aconteceu na pesca do bacalhau e mesmo nos transportes marítimos. A presença da
Casa Bensaude, no século passado e na economia açoriana, está fortemente ligada
ao nome e à gestão do Senhor Vasco Bensaude. O comércio, os serviços de
navegação marítima, a pesca do bacalhau, os transportes aéreos (SATA), a
Companhia de Seguros Açoriana, o Banco Micaelense, a Fábrica de Tabaco
Micaelense, a Fábrica do Açúcar e a Fábrica do Álcool tiveram todas a mão do
Senhor Vasco Bensaude. Mas foi no turismo que o Senhor Vasco Bensaude deixou
uma marca verdadeiramente histórica ao associar-se, nos anos 30 do século XX, a
outros açorianos na criação da Sociedade Terra Nostra e que esteve na origem da
construção, precisamente há 80 anos, do Hotel Terra Nostra das Furnas, na Ilha
de São Miguel, e que é, indiscutivelmente, um dos melhores hotéis de Portugal,
a que o Senhor Vasco Bensaude anexou, por compra, o famoso parque Terra Nostra
das Furnas, com a sua piscina de águas quentes e árvores de grande porte vindas
de todos os Continentes. O Parque Jardim Terra Nostra é hoje considerado pelos
especialistas um dos 250 Jardins mais Belos do Mundo. O senhor Vasco Bensaude
era um empresário bem conhecido no País, mas também no estrangeiro,
designadamente em Inglaterra, onde estudou em jovem, e nos Estados Unidos da
América. Também é conhecido o interesse do Senhor Vasco Bensaude pela arte,
cultura e desenvolvimento social, sendo inúmeros os exemplos, o que é menos
conhecido, ou mesmo desconhecido, é o seu interesse pelo mundo dos cães e pela
cinegética.
Começando pelos cães, Portugal e a canicultura ficaram a
dever ao Senhor Vasco Bensaude todo o seu empenhamento e reconhecimento da raça
portuguesa dos Cães de Água. Como me confidenciou recentemente a D.ª Patricia
Bensaude Fernandes, filha do Senhor Vasco Bensaude, foi o seu grande amigo,
como ela diz “o melhor amigo do meu Pai”, o Senhor Renato Pinto Soares que o
despertou para os cães e a caça. Vasco Bensaude, com a perseverança que lhe era
conhecida, levou nos anos 30 os cães de água dos barcos de pesca e das
traineiras para os ringues das exposições e para as primeiras classificações,
tendo-se tornado mesmo como criador da raça, a par de outras como a dos Clumber
Spaniel que utilizava na caça às Galinholas. A este propósito, são hoje
conhecidas histórias fantásticas do relacionamento do Senhor Vasco Bensaude com
os seus cães e em especial com o LEÂO. Mas a sua passagem pelo mundo dos cães
não se ficou apenas por aquela raça, já que se juntou à equipe que realizou em
1931 a 2ª exposição internacional de canicultura em Lisboa, que estaria na base
da Secção de Canicultura do Clube de Caçadores Portugueses (origem do Clube
Português de Canicultura), sempre na companhia do seu amigo Renato Pinto Soares
e grande entusiasta e fundador daquela Secção. Esta iniciativa viria
posteriormente a revelar-se um valioso contributo para o apuramento e registo
de algumas raças Portuguesas, como a do nosso magnifico Perdigueiro Português /
Nacional.
No mundo da caça, permito-me destacar o contributo e
sugestões do Senhor Vasco Bensaude nos anos 30 e seguintes do século passado
que, se seguidas pelos poderes públicos e caçadores, poderíamos ter hoje um setor da caça
sustentável, moderno e amigo da natureza. A este propósito refiro a carta que
dirigiu à “Comissão Venatória Districtal” da Ilha de São Miguel e publicada no
dia 1 de Dezembro de 1936, no Jornal Mensário Caça, nº 7, e que era distribuído
juntamente com o Açoriano Oriental (pode ser consultado na Biblioteca Púbica e
Arquivo Regional de Ponta Delgada). Neste documento extraordinário e fruto da
sua experiência internacional, para além das propostas que faz para garantir a
perenidade das espécies cinegéticas autóctones, com especial ênfase para as
Galinholas, cuja evolução demográfica o preocupava muito, ele sugere que devia
ser estudada a introdução de novas espécies venatórias, como a perdiz vermelha,
a perdiz cinzenta, a codorniz da Califórnia e o pombo de São Tomé. Nesta mesma
carta disponibiliza terrenos e meios para serem efetuados estes ensaios. Refere
que os terrenos em questão têm muita comida para as aves, água com fartura, e
estão protegidos dos ventos dominantes, exigindo apenas que estes terrenos
deveriam ficar salvaguardados da prática cinegética para não se comprometer
esta experiência que seria depois utilizada para o repovoamento.
Aqui fica a minha Homenagem a um visionário e companheiro de
Santo Huberto.
Gualter Furtado
Abril de 2015
Foto: Vasco Bensaude ao centro, nos anos 30, do séc. XX, na Ilha de São Jorge
Abril de 2015
Foto: Vasco Bensaude ao centro, nos anos 30, do séc. XX, na Ilha de São Jorge