30 de setembro de 2013

A Agricultura e a Caça

A caça nos Açores só tem futuro sustentável se houver uma forte aliança entre os Agricultores, os Caçadores e as entidades públicas por forma a articularem ações que sejam benéficas para todos. E tenham sempre presente que o rendimento dos Agricultores tem de ser preservado.
Com um rolo de erva a servir de abrigo e posteriormente de mesa, com uma vista deslumbrante, assim se passou uma manhã  de caça muito agradável ao Pombo-da-rocha  na Ilha de São Miguel  e sempre acompanhados da simpatia do Lavrador que recentemente tinha semeado os terrenos onde improvisamos o nosso abrigo. 
A caça ao Pombo-da-rocha na Ilha de São Miguel, de 22 de Setembro a 3 de Novembro, só é permitida apenas aos Domingos, das 9 horas  às 15 horas e 12 Pombas por caçador. 
De 10 de Novembro a 26 de Janeiro é permitida a caça a esta espécie do nascer do sol até às 15 horas, permanecendo inalteradas as outras  condições .
Uma boa caçada ao Pombo-da-rocha exige  um local de comida onde esta espécie esteja fixada, vento de sentido contrário à rocha onde vivem as Pombas, por exemplo, se estivermos a caçar na costa Norte o ideal é estarmos com vento Sul, boas negaças, um abrigo para nos escondermos com boa visão, sendo preferível um que seja natural ou os rolos de relva, uma vez que já fazem parte da paisagem Açoriana, uma arma de caça com cargas adequadas (usamos sempre as calibres 20, com  71 cm de cano, com 2 estrelas no cano esquerdo e 4 estrelas no cano direito e cargas de chumbo nº 7 e 6) e  que garantem tiros desportivos.
O Pombo-da-rocha permite a confeção de pratos de gastronomia cinegética extraordinários e está o segredo na cozedura prévia das pombas para ficarem tenras e depois é dar azo à imaginação com os temperos adequados. 
O Pombo-da-rocha bem confecionado não fica nada atrás  da Perdiz vermelha.


Texto e fotos da autoria de Gualter Furtado

26 de setembro de 2013

Calendário Venatório para Santa Maria - Época 2013/2014

Data de 26 de Junho de 2013, o edital emanado da Direcção Regional dos Recursos Florestais (DRRF), serviço dependente da Secretaria Regional dos Recursos Naturais (SRRN), que veio regulamentar a caça na Ilha de Santa Maria para a presente época (2013/2014).
Este documento entrou em vigor a 01 de Julho de 2013 e terminará o seu prazo a 30 de Junho de 2014.
À semelhança do decretado nas anteriores, divide a ilha em duas partes sensivelmente iguais e define duas zonas de caça, nomeadamente uma “zona alta” e uma “zona baixa”, através de uma linha traçada de Sul/Norte.
Para oriente nos deparamos com a “zona alta”, que se distingue por ser montanhosa, de terrenos irregulares, rasgados por vales verdejantes e cursos de água, sendo marcada pela prática da agricultura e pecuária.
Para ocidente vislumbramos a “zona baixa”, mais plana e seca, com escassa cobertura vegetal, onde as pastagens se sobrepõem aos terrenos agrícolas.

Permite a caça ao Coelho (Oryctolagus cuniculus), Pombo-da-rocha (Columba livia), Pato-real (Anas platyrhynchos), Marrequinha (Anas crecca) e Piadeira (Anas penelope).
Interdita a caça à Codorniz (Coturnix coturnix) e à Perdiz-vermelha (Alectoris rufa).
Relativamente a estas duas últimas espécies, se são poucos os exemplares de codorniz observados, a Perdiz-vermelha é praticamente inexistente. A haver, serão mesmo muito poucos indivíduos e provenientes das provas de Santo Huberto, realizadas no passado, no entanto será mais adequado dá-los por extintos do que por sobreviventes.
Relativamente ao uso da foice na caça ao coelho, que se trata de um utensílio com enorme tradição na caça desta Ilha, o diploma apresenta uma evolução bastante positiva, pois, ao contrário do precedente, que impedia totalmente o uso de quaisquer instrumentos cortantes para a limpeza da vegetação onde a caça se pudesse refugiar, este já não o faz, situação que vem evitar a perda de coelhos mortalmente feridos no interior de silvados impenetráveis ou noutros locais de densa vegetação onde o trabalho da foice se apresenta de extrema utilidade.

Quanto às aves, apenas se permite a sua caça na “zona baixa”, de 6 de Outubro a 12 de Janeiro, somente aos domingos, do nascer-do-sol às 12H00, pelo processo de Espera e de Salto e num limite diário de 3 peças por caçador. 
Exceção feita para a caça ao Pombo-da-rocha, que decorre de 4 de Agosto a 23 de Fevereiro, em ambas as zonas, aos domingos e feriados, no mesmo horário que as restantes, pelo processo de Espera e num limite diário de 20 peças por caçador.
Relativamente ao edital anterior mantém-se inalterável o estabelecido para o Pombo-da-rocha e aumenta-se um dia de caça aos patos.

Por sua vez a caça ao coelho se estende por três períodos:
O primeiro na “zona alta”, pelo processo de Corricão e Cetraria, de 4 de Agosto a 15 de Setembro, apenas no 1º e 3º domingo de cada mês, das 08H00 às 12H00, no limite de 2 peças por caçador;
O segundo decorre nas duas zonas, pelos processos de Salto, Espera, Espreita, Batida e Corricão, de 6 de Outubro a 8 de Dezembro, apenas aos domingos, do nascer-do-sol às 12H00, no limite diário de 4 peças por caçador;
O terceiro período apenas na “zona alta”, pelo processo de Corricão e Cetraria, de 15 de dezembro a 19 de Janeiro, apenas no 1º e 3º domingo de cada mês, das 08H00 às 12H00, no limite de 2 peças por caçador.
Comparativamente ao calendário da época passada, veio este antecipar o término da caça ao coelho, uma vez que o anterior permitia a realização de jornadas até ao final da época, na “zona alta”, pelo processo de corricão, o que facultava exercício físico e treinamento aos cães.

Retirando esta interdição, e na globalidade, me parece um documento adequado à realidade da caça na Ilha de Santa Maria, pois veio corrigir uma falha, relativamente ao uso da tradicional foice, e se mantém compreensivelmente conservador em todos os seus limites, na medida em que fomos fustigados, no final de 2011 e inícios de 2012, pela Doença Hemorrágica Viral (DHV), no entanto urge descortinar uma solução para a paragem dos cães a partir de meados de Janeiro.

Com base no exposto foi contactada a DRRF, que nos remeteu a seguinte consideração:

A ocorrência de um surto da Doença Hemorrágica Viral (DHV) na ilha de Santa Maria, em finais de 2011, teve como repercussão uma expressiva redução da densidade populacional do coelho-bravo.
A monitorização da população do coelho-bravo, a partir da realização mensal de censos populacionais, realizados pelo serviço florestal local, permitiu constatar uma fraca capacidade de recuperação da espécie, a partir da época de reprodução de 2012, o que, de certa forma, terá sido natural, se tivermos em conta que o efetivo reprodutor disponível para essa época de reprodução havia sido fortemente afetado pelo surto da DHV.
Deste modo, aquando do equacionamento do calendário venatório para a época de 2013/2014, para a ilha de Santa Maria, entendeu-se que seria importante que a época de reprodução do coelho-bravo, relativa ao ano de 2013, decorresse sem a pressão da atividade cinegética, por forma a promover a recuperação da espécie, pelo que se procedeu à interdição do exercício da caça ao coelho-bravo, em toda a ilha, do dia 19 de janeiro até ao final da época venatória de 2013/2014. A análise do impacto desta medida, ao nível da evolução populacional do coelho-bravo na “zona alta” da ilha de Santa Maria, será naturalmente tida em conta no equacionamento do calendário venatório para a próxima época.
Relativamente aos cães de caça, a legislação da caça prevê duas formas para a sua utilização, nomeadamente para o exercício da caça ou para o treino em campos de treino devidamente constituídos para o efeito e que permitem o treino dos cães durante todo o ano, possibilitando deste modo que os cães sejam exercitados ou treinados fora do período venatório. Como tal, seria importante que os caçadores locais tentassem promover a criação de um campo de treino de caça, a partir de um movimento associativo. Fim

Por se apresentar pertinente a solução proposta pela DRRF, consultei o Decreto Regulamentar Regional n.º 4/2009/A, onde a existência e funcionalidade do Campo de treino de caça se encontram preconizadas no Art.º 36.º, do aludido diploma e nos números que se transcrevem:

1 – Por portaria do membro do Governo com competência em matéria cinegética, pode ser autorizada a concessão a associações de caçadores, a clubes de canicultores, clubes de tiro e a entidades titulares de zonas de caça a instalação de campos de treino de caça destinados ao exercício de tiro com armas de caça, treino de cães de caça e provas de caça, nos termos a definir por portaria.
2 – Nos campos de treino de caça apenas é permitida, mediante autorização do dirigente do serviço operativo de ilha com competência em matéria cinegética, a largada de espécies cinegéticas criadas em cativeiro.
3 – Nos campos de treino de caça pode ser autorizada a formação ou avaliação de indivíduos inscritos para exame de carta de caçador, quando inseridas em curso aprovado pelo serviço do departamento do Governo com competência na matéria.
4 – Sem prejuízo do estabelecido no n.º 2, a prática das actividades de carácter venatório em campos de treino de caça só é permitida a caçadores titulares dos documentos legalmente exigidos para o exercício da caça, com excepção da licença de caça.
5 – As entidades gestoras de campos de treino de caça devem assegurar a recolha dos resíduos resultantes das actividades neles desenvolvidas, após o seu término.
6 – A instalação de campos de treino de caça em áreas classificadas carece de parecer favorável do departamento do Governo com competência em matéria de ambiente.
7 – Os campos de treino de caça devem estar devidamente sinalizados, nos termos de portaria do membro do Governo com competência em matéria cinegética.

Finalizo reafirmando que me afigura estarmos perante um calendário venatório ajustado à realidade da Ilha de Santa Maria e concluindo que o Campo de treino de caça, se apresenta como uma solução viável e de extrema utilidade, pelo que mais não nos restará do que assumir a responsabilidade que nos cabe e diligenciar nesse sentido.

25 de setembro de 2013

A "caça" em São Miguel

No dia 22 de Setembro, na ilha de São Miguel, abriu a "caça" ao Coelho bravo, sem espingarda e só com cães, e ao pombo-da-rocha, das 9 horas  às 15 horas. Sem o brilho de outros tempos em que havia caça na Ilha de São Miguel, a data da abertura, apesar de tudo, permanece um dia de festa, mesmo que esta celebração ocorra em crise e sem foguetes.

Como factor muito positivo, saliento a mobilização de alguns jovens para um desporto e um acto de cultura que, quando praticado com ética e segurança, é amigo da sustentabilidade das espécies cinegéticas, já que não fora a acção dos caçadores e muitas delas já se tinham extinguido.

Como factores negativos, permanece a opção de muitos indivíduos em persistirem “caçar” aos  pombos-da-rocha praticamente nos quintais das pessoas, como acontece para as bandas da Rua da Piedade,  na freguesia dos Arrifes. Que se cuidem os torcazes e os doentes do Hospital de Ponta Delgada!
Outro factor menos abonatório advém da escolha recorrente de matilhas numerosas para se “caçar” em zonas muito fraquinhas, em que bastava um cão ou dois para se fazer aquele papel. Enfim!

Texto e foto da autoria de Gualter Furtado

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