28 de fevereiro de 2011

Apresentação do Livro - Um Contributo para a Defesa da Caça

Decorreu no passado dia 26 de Fevereiro, pelas 17H00, na Academia da Juventude da Ilha Terceira, na Praia da Vitória, o lançamento do livro UM CONTRIBUTO PARA A DEFESA DA CAÇA.

O evento, que contou com a presença surpresa do humorista Fernando Mendes, foi também acompanhado por  cerca de 90 pessoas, e presidido pelo Exmo. Senhor Juiz Conselheiro Dr. José António Mesquita, Representante da República para a Região Autónoma dos Açores.

No final foi servido um repasto, digno da ocasião, que contou com onze pratos de caça, confeccionados pela Confraria de Gastronomia Cinegética dos Açores, dos quais saliento - apenas para nomear três, Galinholas à Clube Cinegético e Cinófilo, Alcatra de Coelho e Feijoada de Lebre.

Na fotografia, da esquerda para a direita:
Sr. Dr. Gualter Furtado, o autor deste blogue, Senhor Juiz Conselheiro Dr. José António Mesquita, Sr. Eng.º Joaquim Pires, Sr. Vereador Messias e o Sr. Olívio Ourique.

Deixo-vos o texto da apresentação do livro.

Exmo. Sr. Presidente, Juiz Conselheiro Dr. José António Mesquita, Exmos. Srs. Eng.º Joaquim Pires, em representação do Secretário da Agricultura e Florestas; Vereador Messias, em representação do presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória; Olívio Ourique, presidente do Clube Cinegético e Cinófilo e da Confraria de Gastronomia Cinegética dos Açores, Dr. Gualter Furtado, ilustres convidados, minhas Senhoras e meus Senhores, é com enorme prazer, que tenho a honra de vos apresentar o mais recente trabalho, da autoria do Dr. Gualter Furtado, editado pela Gráfica Açoreana, Lda., intitulado “UM CONTRIBUTO PARA A DEFESA DA CAÇA”.

Gualter Furtado nasceu no mês de Fevereiro de 1953, no formoso Vale das Furnas, na Ilha de São Miguel, neste Arquipélago dos Açores.
Lugar edílico e pátria de flores, é ladeado por imponentes montanhas e por uma Lagoa que já foi uma das mais belas do mundo.
Nas suas margens e aproveitando o calor da Terra, confeccionam-se os deliciosos cozidos das Furnas.
Com as suas manifestações vulcânicas, variadas e ricas águas, o Vale é o cenário ideal para uma grande cumplicidade com a natureza e com a caça.

Foi aceite na escola primária com cinco anos de idade, situação que colocava alguns riscos à sua professora, de tal forma que sempre que batiam à porta da sala de aulas, tinha de se refugiar debaixo da secretária para não ser detectado.
Este comportamento revelou-se de muita utilidade aquando da ocorrência dum grande sismo que danificou seriamente o estabelecimento de ensino que frequentava.

Felizmente não sofreu qualquer ferimento, graças ao treino intensivo que, entretanto, tinha acumulado.

Aos 12 anos publicou pela primeira vez um trabalho escrito, desta feita no Açoriano Oriental, a defender a constituição de uma casa museu do Armando Côrtes-Rodrigues, distinto escritor, poeta, dramaturgo, cronista e etnólogo açoriano que, por sinal, foi inaugurada em Janeiro de 2007.

Profissionalmente é economista e, entre outras actividades, já foi Monitor e Assistente no Instituto Superior de Economia da Universidade Técnica de Lisboa, tendo também leccionado na Universidade dos Açores. Paralelamente tem desenvolvido um intenso trabalho na Banca. Primeiro na Caixa Económica da Misericórdia de Ponta Delgada e mais recentemente no Banco Espírito Santo dos Açores. Participou no Governo dos Açores como Secretário Regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública.
Ao longo dos anos tem colaborado com artigos e comunicações relacionadas com a manifestação social e cultural que é a caça, com os cães de caça, as armas de caça e a sustentabilidade do meio ambiente e das espécies cinegéticas.
Nesse âmbito publicou em 2006 “Um Caçador Açoriano”.
No Mundo da Caça esteve ligado à fundação da Federação de Caçadores dos Açores e é actualmente o Presidente da Assembleia-geral da Associação Nacional dos Caçadores de Galinholas e da Confraria de Gastronomia Cinegética dos Açores.
É caçador desde que se conhece, prática que considera uma paixão, muito influenciada que foi pelo meio ambiente que o viu crescer, pelo seu avô paterno e por alguns dos seus companheiros da escola primária.
Foi homenageado nos Estados Unidos da América pela Associação dos Amigos das Furnas.
A Câmara Municipal da Povoação também o distinguiu com uma condecoração de Mérito Profissional.
Na Ilha do Pico já foi várias vezes homenageado como Homem e como Caçador, realizando-se todos os anos naquela singular ilha açoriana um Troféu de Santo Huberto que ostenta o seu nome.

Dos Açores, poucos são os trabalhos publicados sobre a tradicional e envolvente temática da actividade venatória desenvolvida neste Arquipélago Açoriano, dos quais destaco os mais importantes:
Os primeiros de que há memória datam do séc. XVI e são provenientes da pena de Gaspar Frutuoso, narrados que se encontram n’ AS SAUDADES DA TERRA.
Mais tarde, em meados da década de trinta, do séc. XX, podemos encontrar o jornal mensário “CAÇA”, cujo redactor, editor e proprietário se tratou de Eduíno Botelho.
No início deste novo milénio, mais concretamente em 2002, foi publicado “RECORDAÇÕES” da autoria do Sr. João Gago da Câmara, sendo seguido em 2006 pela edição d’ UM CAÇADOR AÇORIANO, escrito pelo Dr. Gualter Furtado.

De carácter científico, constam os estudos “A GALINHOLA NOS AÇORES – ILHAS DO PICO E SÃO MIGUEL”, editado em 2004, pela Direcção Regional dos Recursos Florestais, e a “GESTÃO DOS RECURSOS CINEGÉTICOS NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES – A GALINHOLA”, datado de 2008, realizado pela Direcção Regional dos Recursos Florestais em parceria com o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, da Universidade do Porto.

O livro “UM CONTRIBUTO PARA A DEFESA DA CAÇA”, da autoria do Dr. Gualter Furtado, editado pela Gráfica Açoreana, Lda., numa tiragem de 500 exemplares, apresenta uma capa ilustrada, assinada pela artista plástica Maria José Cardoso de Souza, autora reconhecida internacionalmente pela arte animalística que produz, com especial relevo para a cinegética, sendo mesmo uma criadora preferida por muitos coleccionadores de diversos países da Europa, Estados Unidos e Brasil.
Retrata uma jornada de caça à galinhola na Ilha do Pico, tendo, como pano de fundo, a imponente Montanha que lhe caracteriza e dá o nome.
Além da visível cumplicidade existente entre o caçador e o seu cão, nela também constatamos a profunda relação com a natureza e com a biodiversidade, representada através da figura do caçador, parcialmente coberta pela vegetação, e da presença do coelho, da codorniz e da própria galinhola, símbolos incontestáveis da fauna bravia açoriana.
Encerra o fruto da enorme paixão que o autor sente pela natureza, retratada através de 215 páginas ilustradas por mais de 150 fotografias.
Trata-se, porém, de uma análise bastante racional e objectiva sobre o estado da actividade cinegética nos Açores, no continente português e nalguns países do mundo.

Transmite-nos a mensagem que a caça quando praticada com amizade, espírito de entreajuda, respeito pelo próximo, pela natureza e pelos animais é um acto social valioso, de cultura e muito importante.

Demonstra-nos que o caçador é um defensor leal da natureza, um respeitador das espécies cinegéticas, que possui uma grande relação de proximidade e de cumplicidade com os seus cães, os quais trata muito bem e não abandona como alguns teimam em afirmar.

Que o caçador colabora e promove na recuperação dos habitats, de tal forma que, se não fosse a prática venatória e este intenso empenhamento que só os caçadores conseguem demonstrar e realizar, muitas das espécies animais, cinegéticas e não cinegéticas, com particular destaque para as aquáticas e migratórias, já estariam, há muito, extintas.

Numa altura em que a actividade venatória foi novamente escolhida como alvo por um conjunto de gente da nova doutrina urbana e civilizacional, que pretende julgar como selvagens a caça e os caçadores ou mesmo bani-los face à lei; Pessoas essas que desprezam os campos e os seus costumes face ao brilho multicolorido, distante e insensível das cidades, que falam do que não sabem e do que não percebem.

Como disse a grande poetisa Sophia de Mello Breyner, “são pessoas sensíveis que detestam ver matar galinhas, mas que adoram canja de galinha”!

Num momento da história em que se apela teimosamente contra a caça, e mais do que nunca, valendo-se essas petições de quase tudo - até de meias verdades, e da mentira gratuita se necessário, como se não existisse pensamento critico que as distinguisse da verdade, em que o objectivo não é outro senão o da manutenção de emoções fortes e excitadas, a necessidade de manterem um agente catalisador e um alvo para o¬nde possam direccionar e arremessar alguns dos sentimentos que os alimentam, como a angústia, a frustração ou mesmo o ódio.

O propósito é manterem o caldeirão em permanente ebulição, porque fazem dos conflitos que criam um modo de vida, de projecção social e política, mais uma maneira de pagarem as contas do mês.

Não é a destruição do ambiente e das espécies animais que realmente temem, mas sim a liberdade, a liberdade que caracteriza os verdadeiros Caçadores.

O Caçador autêntico … é LIVRE!

O facto de ser livre não significa que infrinja os códigos existentes, bem pelo contrário, são cidadãos de pleno direito. Alguns com enormes responsabilidades sociais!
Quando se verifica o surgimento de medidas cada vez mais restritivas da prática da caça, em que até surge um partido politico que se assume frontalmente contra a caça e contra os caçadores, numa manifestação sem paralelo na sociedade portuguesa; em que a caça foi seleccionada como alvo a abater, a publicação deste livro, do que ele contém e transmite, é um chamamento aos homens de boa vontade e um contributo inegável para a afirmação dos elevados valores que só a caça pode proporcionar.

É comum dizer-se que raramente se vêm dois Caçadores de acordo sobre os seus problemas, e é bem verdade, mas porque têm opinião e discutem-na com a sinceridade e a frontalidade que caracteriza quem nada tem a esconder.
Que se desengane aquele que pensa que não chegam a consenso e muito menos que não se conseguem mobilizar por uma causa nobre ou justa.

Os caçadores numa tentativa de melhor explicarem porque caçam, optam por reduzir os seus motivos ao que é tangível para o cidadão comum, como o trabalho dos cães, o contacto com a natureza ou simplesmente ao sentimento de aventura, apesar de saberem perfeitamente que as causas que os estimulam e os levam a caçar são muito mais complexas do que as que escolheram para transmitir porque caçam.

Por outro lado, os críticos da caça, apesar de serem mais objectivos, são totalmente incapazes de compreender a existência da profunda ligação pessoal que o caçador possui com o mundo e com as espécies que caça, cujo sentimento advém do desenvolvimento da relação entre este e a presa, fruto da experiência acumulada e da reflexão.
Preferem eles, por oposição, observar a natureza de bem longe e sem a tocar, de preferência através de binóculos, delegando nos outros as suas responsabilidades, enquanto o Caçador procura integrar-se e deixar-se absorver.

Tal e qual um mergulho solitário, numa lagoa isolada, de águas calmas, em que depois do impacto e do estrondo fica o corpo totalmente submerso e se formam à superfície círculos que se afastam e que afectam a tranquilidade do local. Nestas circunstâncias, mesmo parados e depois de algum tempo, a presença do caçador continua a ser anunciada através da projecção dessa ondulação, até que cessa finalmente e as águas regressam à sua tranquilidade original.
Nessa altura o caçador ou é aceite ou recusado e dessa dúvida nunca estará seguro até sentir que a caçada tem finalmente o seu início, através do reaparecimento dessa ondulação misteriosa, mas desta vez na parte de trás do pescoço, através da garganta seca e da tomada de consciência de que não está só.

A Caça coloca em confronto emoções intensas e profundas, desperta-nos o intelecto para o mistério que envolve a nossa existência!

Poderá afirmar-se que a caça é criticada na base emocional e que é nesse mesmo alicerce que é geralmente defendida.
Melhor será se for escolhida uma postura bem mais firme!

Não podem os caçadores ser condenados, quando demonstram que a actividade cinegética assenta na gestão racional dos recursos, na sustentabilidade das espécies e do meio ambiente, numa elevada demonstração de ética e de respeito pela Terra.

O que mais deseja o Caçador é tornar ao que é natural e verdadeiro e dar o seu válido contributo para o equilíbrio do ecossistema o¬nde todos existimos e nos relacionamos.

Pergunta-se, porque é que o Homem caça?
Que resposta se há-de dar ao inexplicável?

Porém, poder-se-á afirmar que a caça é intrínseca e que se encontra gravada bem fundo na génese e na formação inicial do ser humano, impossível de ser clinicamente identificada e examinada, mas que é afortunado e feliz aquele que a pratica.

É neste contexto, de ofensiva sem paralelo contra os caçadores e contra a actividade venatória, que surge “UM CONTRIBUTO PARA A DEFESA DA CAÇA”!

Do livro em referência seleccionei e realço as seguintes passagens que constam da sua Nota Introdutória, sintomáticas que são da estimulante leitura que precedem:

Diz-nos então Gualter Furtado:

“ Nos últimos anos tenho publicado dezenas de artigos no blogue Ribeira Seca, no Portal Santo Huberto, no sítio da Associação Nacional de Caçadores de Galinholas, na revista Calibre 12, na revista Caça & Cães de Caça, nos jornais Correio dos Açores, Diário Insular e Açoriano Oriental.
Outros trabalhos apresentei em fóruns, nos quais a caça e as armas de caça foram o tema central, com especial relevo para o seminário promovido pelo Comando Regional dos Açores e Direcção Nacional da PSP sobre o novo regime jurídico das armas e suas munições.
Animado pelo acolhimento dado a “Um Caçador Açoriano”, incentivado por alguns amigos e tendo consciência da necessidade de se escrever a favor da caça com ética e desportivismo decidi outorgar mais este contributo, seleccionando para isso uma parte dos artigos publicados por mim nos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010, bem como algumas das entrevistas concedidas.
Numa fase em que o movimento associativo está muito mal nos açores e a nova lei da caça e do ordenamento cinegético regional marca passo, gostaria que esta publicação fosse percebida como um incentivo ao debate construtivo, de que o sector da caça muito carece, e um válido contributo para o surgimento de caçadores esclarecidos e mais exigentes.
A sustentabilidade e a defesa das espécies cinegéticas bravias dos açores deveria e deverá ser uma tarefa partilhada entre as entidades oficiais, científicas e de caçadores.
As causas para o declínio das espécies cinegéticas são as mais variadas, com destaque para as alterações climáticas, erosão dos solos, mudanças nos habitats, incêndios florestais, práticas agrícolas agressivas com recurso intensivo ao uso de químicos e pesticidas altamente tóxicos, falta de gestão cinegética.
A caça produzida em cativeiro apresenta-se como uma alternativa e é cada vez mais utilizada. Coelhos, perdizes e codornizes com esta origem são a regra, sendo a excepção a caça bravia. Esta é uma realidade que se vive por toda a Europa e se assim não fosse o sector da caça já tinha acabado em muitos lugares.
Nos Açores a caça a espécies indígenas e sedentárias resume-se ao coelho bravo, codorniz, pombo da rocha e galinhola. É uma variedade muito reduzida quando comparada com outras regiões europeias que chegam a ter trinta e mais espécies cinegéticas de caça menor e maior, mas os Açores possuem uma riqueza extraordinária quando se compara o estado de bravura destas espécies cinegéticas. É neste campo que se exige por parte dos Serviços Oficiais e dos Caçadores um trabalho sério para a sustentabilidade deste extraordinário património natural, de enorme qualidade, mas limitado na sua quantidade.
Em alguns dos artigos que seleccionei neste trabalho chamo a atenção para o pântano em que nos encontramos. Mas a caça não se resume apenas a estes aspectos sombrios e, apesar de tudo, tem características muito positivas.
Faço questão em evidencia-las também para atrair para o mundo da caça novos caçadores e caçadoras.
A nova lei das armas e o contexto em que nos encontramos jogam a favor da expulsão e redução dos caçadores actuais e da limitação da entrada de novos praticantes. Bem sei que não é uma tarefa fácil, mas compete-nos tudo fazer para contrariarmos esta tendência.
A caça encerra uma componente formativa, cívica, social e gastronómica muito importante que devemos enaltecer e divulgar ao resto da sociedade.
Os valores do mundo urbano, certamente importantes, não podem anular as virtudes e a grandeza do mundo rural, por afinidade mais relacionado com a actividade venatória.
A caça não é só dar tiros e a qualidade do atirador nem sequer deve ser a mais importante no caçador, porque a plenitude da caça também pode ser praticada e vivida sem armas. Através de um passeio pedestre na companhia dos nossos cães e o seu treino, de uma visita a um museu de caça, na degustação de um bom prato de gastronomia cinegética na companhia dos nossos amigos, de um lance ganho ou perdido, são todos momentos altos na vida do caçador.
A perenidade da caça exige organização, diálogo, participação activa dos caçadores, cooperação com os Serviços Oficiais, auxílio da ciência, trabalho, combate ao furtivismo e uma forte componente social e gastronómica.
É esta forma de encarar a caça que procurarei transmitir nestes meus artigos e que seleccionei para este trabalho.”

“UM CONTRIBUTO PARA A DEFESA DA CAÇA” alerta para a necessidade da participação activa dos caçadores nas associações do sector, no fomento de parcerias entre as mesmas e para a possibilidade da realização de alianças com entidades externas relacionadas com a agricultura, com a criação de animais ou com a investigação científica, entre outras. As possibilidades são imensas.

Sugere que, em vez dos caçadores optarem pelas mesmas vias de acção dos seus acusadores, correndo o risco de serem identificados pela sociedade como “anti-direitos-dos-animais”, devem antes pugnar pelo debate aberto e frontal; que o recurso aos meios de informação e à internet, não deve fazer-se apenas para narrar histórias de caça ou divulgar artigos técnicos, mas também para ajudar o caçador e a população em geral a desenvolver um pensamento crítico sobre esta temática e confrontar pela mesma via os responsáveis por notícias e artigos de opinião que têm por objectivo denegrir a imagem do caçador e desacreditar o papel que este deve assumir na sociedade moderna;

Propõe o desenvolvimento de actividades na natureza, concursos e demonstrações abertas à comunidade para, desta forma, dar a conhecer as diferentes vertentes que compõem a actividade cinegética e assim despertar a curiosidade e o interesse dos visitantes;

Alude para a recepção dos homens e das mulheres que tenham gosto em aprender sobre a caça e para a sua orientação nas boas práticas cinegéticas, ajudando-os no acesso aos meios e na prática, permitindo igualmente a participação adequada dos seus filhos e para a necessidade de se trabalhar com as escolas no desenvolvimento de actividades didácticas conjuntas, sobre a preservação do meio ambiente e a importância da gestão dos recursos naturais;

Evidencia a partilha, a amizade e o convívio como características próprias do caçador e encoraja a promoção destas qualidades, que poderá ser através de campanhas de solidariedade ou de angariação de fundos com objectivos sociais, tão necessárias nestes tempos atribulados.

E tudo isto nos demonstra o autor que é possível realizar.

Concluo esta apresentação com a leitura do prefácio de “UM CONTRIBUTO PARA A DEFESA DA CAÇA”.
Poderão pensar que se trata de um paradoxo terminar esta exposição, precisamente com a narrativa do começo, mas asseguro-vos do contrário.
Trata-se antes de mais de uma sugestão, sobretudo de um convite que vos faço, para que partam à descoberta desta obra singular.

“Um livro pode ser considerado um conjunto de folhas de papel ordenado, escritas ou impressas, soltas ou cosidas, em brochura ou encadernadas, mas um livro de Caça é muito mais do que isso, é diferente!
Não por abordar o especial tema da arte venatória, mas por ter sido escrito por um Caçador, por aquele que viveu e sentiu o momento preciso que descreve e não por uma terceira pessoa que o concebe na imaginação.
Este é um livro sobre Caça, sobre o que ela é e sobre o que representa nas suas múltiplas facetas.
Integra e exprime uma corrente de opinião cada vez mais sólida, extensa e poderosa.
O homem é um comunicador e um ser social por natureza, tendo essa habilidade nascido e sido desenvolvida na caça e para a caça, na definição de estratégias para actuar em grupo, para subsistir e para poder deixar uma herança preciosa aos vindouros, sendo as pinturas rupestres um valioso testemunho dos ritos, dos animais, das caçadas, de uma ligação cultural tão poderosa e tão natural que ainda hoje nelas nos situamos e revemos sem esforço.
Na leitura deste livro estamos perante um Caçador esclarecido, que lê, que se preocupa, que pensa sobre a caça e que permanece disposto a aprender, a partilhar e a evoluir, que sabe o que faz, como deve faze-lo e porquê, e que tudo isso assume sem preconceitos.
Encontramos um comunicador nato que nos descreve experiências e sensações numa obra digna de um letrado, mas sem adornos ou prosas buriladas e através de um discurso despretensioso e directo.
Exprime-nos que a caça necessita de impulso, de gente nova, da participação activa de homens e de mulheres nos mais diversos eventos que a integram, diversificam, enriquecem e que fortalecem os laços de união e de amizade entre as pessoas.
Que o adequado aproveitamento dos meios de comunicação e da internet é fundamental para formar os caçadores, para informar uma sociedade cada vez
mais distante dos valores ancestrais da partilha e da confraternização, para sensibilizar os governantes para a necessidade da sustentabilidade das espécies cinegéticas e para a importância da actividade venatória como condições indispensáveis na promoção de um meio ambiente sadio e vigoroso.
Que o ordenamento cinegético é essencial para a valorização desta região insular, mas pouco representará se não for disponibilizada informação actual e rigorosa sobre as espécies cinegéticas e os seus habitats e se não houver alterações no modelo regional de combate à caça furtiva, pelo que insiste numa maior intervenção e participação dos responsáveis governativos, mas também dos caçadores, salvaguardando sempre a realidade e as necessidades das diferentes ilhas do Arquipélago dos Açores.
Que o caçador é um cidadão de pleno direito, participativo e empreendedor, consciente e responsável que merece respeito e atenção.
À semelhança do que fizeram os nossos antepassados nas paredes das grutas que lhes davam abrigo, as páginas que se seguem encerram e transportam o registo do nosso tempo, um legado de inestimável valor.
Por tudo isto o Gualter Furtado está de parabéns, porque nos soube transmitir exactamente o que pretendia, porque veio partilhar com quem com ele outrora repartiu e porque a todos nos tocou por igual, na esteira da mais nobre e genuína tradição da arte venatória e dos homens de bem.”


Bibliografia:

AGUILAR, António (1935). Aventuras de Caça. Tipografia Artes & Letras.
ANDRADE, Francisco (1983). Geada no Restolho.
BARREIROS, Eduardo Montufar (1900). Caça – Memento Venator. A Liberal Officina Typographica.
BARROSO, Padre Domingos. Conselhos Velhos para Caçadores Novos. Edição do coordenador (Silva, Sérgio Paulo).
BOTELHO, Eduíno G. (1936). Caça. Tipografia “O Açoriano Oriental”.
BRAVO, João Maria (1965). Caça – Elementos para uma futura lei. Tipografia Mourão, Lda.
BRAVO, João Maria. Caça Coutos Caçadores. Dinapress.
CÂMARA, João Gago da (2002). Recordações. Gráfica Açoriana, Lda.
DUARTE, Francisco (1969). Caça e Caçadores. Atlântida Editora S.A.R.L.
FERREIRA, Fernando de Araújo (1949). Galinholas. A Gráfica.
FLORES, Francisco Moita (2010). Em Defesa da Festa Brava. Petição Pública.
FURTADO, Gualter (2006). Um Caçador Açoriano. Gráfica Açoriana, Lda.
GASSET, José Ortega y (1989). Sobre a Caça e os Touros. Edições Cotovia, Lda.
KARASOTE, Ted (1994). Bloodties. Kodansha.
LEOPOLD, Aldo (2001). A Sand County Almanac. Oxford
PETERSEN, David (2000). Heartsblood. Island Press.
PETERSEN, David (1997). A Hunter’s Heart. Holt.
SEQUEIRA, Ângelo (2009). Passo a passo, Tiro a tiro. Mil@ Editores (de prosas e tradições, Lda).
SHEPARD, Paul (1998). Coming Home to the Pleistocene. Island Press.
SHEPARD, Paul (1996). The Only World We’ve Got. Sierra Club Books.
SHEPARD, Paul (1973). The Tender Carnivore & the Sacred Game. Georgia.
SWAN, James A. (1994). In Defense of Hunting. Harper One.
SWAN, James A. (1999). The Sacred Art of Hunting. Willow Creek.
TAVARES, Miguel Sousa (2009). Outono - Elogio da Caça. Expresso
VIDAL, Marques (1998). Estórias bem Caçadas. Joartes – Artes Gráficas, Lda.

9 de fevereiro de 2011

Manifestação em Fátima - Opinião

Opinião de António Luiz Pacheco, sobre manifestação em Fátima, por alegados maus tratos a animais no Santuário.

"Há agora um grupo de pessoas que se dizem partido político… dos animais! Bem, de facto ele há muita besta na política… mas um partido dos animais é daquelas coisas que custam um bocado a perceber cá ao meu bestunto de barrão, inculto e ao que parece incivilizado… pelo menos segundo os padrões daqueles.
Este partido, julgo que a evolução da “senhora dos gatos” passada do acto de dar milho aos pombos na praça à acção política, pretende tornar melhor o nosso país por via desta política dita dos animais! Na minha pobreza de espírito, não vislumbro como, pois francamente não vejo o “timpanas” presidente da junta, nem o “fandango” deputado…
Bom, na minha assumida ignorância destas coisas da governação, seja ela animal ou humana, me pergunto se para o país ser deveras melhor não seria antes de olhar para as pessoas e a forma como são tratadas? Eles afirmam que um país pode ser avaliado pela forma como trata seus animais… é capaz… mas e a forma como trata dos velhos? Dos doentes? Das crianças? Dos contribuintes e cidadãos em geral… não seria melhor começar primeiro por aí? Enfim, creio que teríamos depois tempo e oportunidade de se chegar aos animais… e falo daqueles de 4 patas, como costuma dizer-se!
Se calhar eu até sou um dos tais rústicos que segundo eles precisamos de facto de ser educados, civilizados e ajudados a evoluir, aceito que sim! Julgar que não, seria fazer como eles que se presumem o topo da evolução humana, e o demonstram aliás na sua cuidada apresentação, de barbas e cabelos artisticamente do mais ou menos desgrenhado ao totalmente pelado (neste caso sempre dificulta a proliferação dos ectoparasitas, vulgo pulgas e piolhos…), através de estéticos piercings e tatuagens, naquelas roupas do mais puro bom-gosto e fino corte de costureira de sacas, e nas idéias elevadas advindas do consumo de alucinogénios, não se coibindo de desejar mal, a punição física ou mesmo a morte aos que como eles não pensam! Verdadeiros modelos e exemplo da cultura e civilidade que pretendem possuir, só igualadas pela tolerância demonstrada…
Esta a forma em que julgo se consubstancia, à primeira vista, a afirmação absoluta dessa sua superioridade civilizacional. Assim sendo, reconheço totalmente o meu atraso e a minha incultura, que me levam a aparar a barba e a pentear o cabelo, a vestir-me de modo a que as pessoas não se sintam tentadas a dar-me esmola quando se cruzam comigo, que justifico assim não fora e provávelmente a minha mulher me mandaria dormir lá para fora com a malta canina! Seria sem dúvida muito bem-recebido por todos eles, mas confesso que se arriscava a ser incómodo… para mim que não sou animal!
E por isso, sendo apenas humano e um barrão embrutecido não me posso impedir de perguntar, nessa ignorância destas coisas e causas elevadas:
- Então e vão fazer uma manifestação para o Santuário de Fátima? Coisa que nem os comunistas mais ímpios ou empedernidos se atreveram a fazer nunca… uma manifestação pelos animais num local sagrado e de fé? Onde vibram e foram depositados os sentimentos mais profundos de milhares de pessoas por várias dezenas de anos, as suas mágoas e esperanças? Pode nem se acreditar ou mesmo não se sentir, mas num local de fé… uma manifestação pelos animais?
Esta gente será boa da cabeça? Ou sou eu que estou de facto cego por 55 anos de viver sob princípios falsos… Ou terão eles já passado ao estatuto de besta, directamente?
Aquilo não é afinal prova de insensibilidade profunda e desrespeito total pelos outros humanos, de tão devotados aos animais? Acaso algum deles será capaz de ao menos respeitar, já nem digo sentir, o desespero de uma mãe que tenha prometido dar voltas de joelhos pela salvação dum filho e que num extremo de fé e dor o vai cumprir… ao lado de alguém que está ali a marcar presença por causa da captura de cães vadios? Algum deles alguma vez conheceu uma aflição verdadeira, que não seja a falta de cigarros…
Ainda por cima exigem que a Igreja Católica dê o exemplo… e manifestam-se ali, livremente… pergunto-me o que aconteceria se fossem fazer o mesmo, lá num local sagrado para os muçulmanos? Querem prova maior de civilidade e tolerância do que o não terem sido logo ali e sumariamente apedrejados até à morte?
Ou seja, serei mesmo eu, barrão, inculto e ignorante, com princípios que me levam a respeitar as crenças alheias, quem precisa dessa “civilidade”? Francamente, não me parece… e julgo que à “binga”, ao “panda”, à “lola” e à “pigui” tal não faça diferença. Ali a “gatilda”, boceja e espreguiça-se… é, acho que ela tem razão!
A fechar e se me derem a oportunidade, aproveitando a paciência deste jornal e a benevolência de quem me leia, atrevia-me nessa minha enorme ignorância quiçá ingenuidade aldeã de barrão, a propor algo que de facto melhorasse o nosso país e fizesse dele um lugar mais evoluído. Algo que está ao alcance de todos nós, e é apenas uma questão de atitude, de percebermos que não viémos ao Mundo para dificultar a vida aos outros… e que se corra esse risco de embora podendo parecer “totós”, sermos um bocadinho melhores, no nosso dia-a-dia, em pequeninas coisas… boa-vontade, diria!
Quando estacionamos o carro, o façamos de modo a deixar espaço para que outro que venha a seguir possa estacionar também! Demos um minuto do nosso dia para deixar passar o velhote que arranca hesitante e com o carro aos soluços… aliviemos o pé do acelerador para diminuir a marcha e deixemos entrar na bicha aquele carro que está ali à espera… de ceder a nossa vez na fila do supermercado a duas pessoas que estão atrás de nós com poucos artigos, quando temos o carrinho cheio com as compras do mês!
Porque não havemos de nos dirigir com delicadeza e urbanidade ao funcionário no balcão dos correios ou das finanças? Desculpar alguma lentidão ao atendimento no café? Sorrir para a caixa que tenta desesperadamente registar a nossa compra num sistema informático criado por um tresloucado que nunca esteve atrás de uma registadora?
Que tal ajudar um idoso a descer o passeio ou a sair do carro? Dar um telefonema àquela tia viúva que vive sózinha e de quem nada sabemos faz meses… ajudar a vizinha antipática e feia a carregar o saco das compras, pensando que já lhe basta o fardo de ser assim… Ir ao hospital saber daquele conhecido que até nem tem muita gente… oferecermo-nos para trazer da escola o miúdo vizinho cujos pais trabalham até tarde e têm de se desdobrar… ou levá-lo ao hóquei com o nosso?
Não comprar artigos feitos em países e regimes que exploram e oprimem outro seres humanos, produtos esses tornados baratos pelo desrespeito dos seus direitos mais elementares, que têm como garantia o nosso egoísmo consumista de democratas evoluídos e ciosos desses direitos…
Há MILHARES destes pequenos gestos que podíamos experimentar praticar de modo espontâneo, sem esperar nada em troca salvo a felicidade de nos irmos tornando aos poucos em pessoas melhores, e então sim o país se tornaria melhor… porque umas coisas levam às outras!
Enfim, fica o desafio, sejam criativos… arranjem essas pequeninas formas, gestos e acções que os farão sentir melhor e verão que também o Mundo melhora! Para todos, incluindo os animais… até as vizinhas ficando mais simpáticas serão menos feias!
E deixem Fátima para as manifestações de fé…"


Texto da autoria de António Luiz Pacheco

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