9 de outubro de 2009

Escritos da Caça Açoriana

São documentos das nossas Gentes, da nossa História, da nossa Cultura, registos das características, daquelas que nos diferenciam e distinguem dos demais, que nos identificam, que manifestam aspirações, desejos, temores e receios, virtudes e defeitos, que nos fazem iguais e diferentes, mas sempre Açorianos!

Na fotografia que ilustra este pequeno texto estão presentes três bons exemplos do que acabo de mencionar e cuja leitura vos aconselho.

Em primeiro plano está "Recordações", de João Gago da Câmara.
Trata-se de uma obra editada em 2002, da qual apenas foi efectuada uma tiragem de 500exemplares e cuja paginação, montagem e impressão esteve a cargo da Gráfica Açoriana, Lda.
No livro, entre outras recordações que a pessoa de grande qualidade que é seu autor nos narra ao longo da sua prosa, está uma referência ao Sargento Soares, do qual refere o seguinte: "foi talvez o melhor caçador que conheci e um inesquecível amigo e companheiro de muitas caçadas. Homem valentíssimo, de estrutura maciça, face extremamente rosada, olhar oblíquo, ombros largos e forte pescoço, faziam dele aquela inconfundível pessoa" e continua por mais algumas páginas.
Nesta ilha encontram-se alguns familiares do Sargento Soares que formam porventura o mais antigo grupo de caça a praticar a actividade venatória em Santa Maria.

Mais recente temos "Um Caçador Açoriano", da autoria de Gualter Furtado, editado que foi em 2006, também pela Gráfica Açoriana, Lda e numa tiragem de 500 exemplares.
A ele já me referi anteriormente e tanto este livro como o "Recordações" possuem inúmeras fotografias que complementam a informação publicada, a qual é de inestimável valor, enriquecendo de sobremaneira o património de qualquer biblioteca cinegética.

Por fim, mas nem por isso menos importante, estão 4 fotocópias retiradas dos exemplares originais do mensário denominado de "Caça", composto e impresso na tipografia d'O Açoriano Oriental, ao longo de 11 números, distribuídos que foram gratuitamente aos caçadores do distrito de Ponta Delgada (o qual ainda engloba o concelho de Vila do Porto) nos anos de 1936 e 1937, cujo redactor, editor e proprietário se tratou de Eduíno G. Botelho.

Numa breve deslocação que fiz à ilha de São Miguel, no passado mês de Setembro, aproveitei para ir à Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada a fim de visitar esse espaço e de matar o pouco tempo livre que me restava, pelo que indaguei sobre a existência desse jornal, um autêntico documento histórico e de muito valor.
A instituição é possuidora de todos os números e poderá cedê-los em formato digital, bastanto para isso, apenas solicita-los.

Uma curiosidade que achei deliciosa na leitura deste jornal, encontra-se na coluna designada por "Receitas uteis aos caçadores". A do primeiro número reza as seguintes, transcritas tal e qual se lêem: "UMA BOA GRAXA PARA BOTAS - Oleo de linhaça cru (bôa qualidade) 1/2 litro; Cebo de Holanda ... 30 grs; Cêra bela ... 23 grs; Resina ... 16 grs. MODO DE FAZER - Derrete-se ao calor o sebo, a cêra e a resina (podendo coar-se para ficar mais pura) e junta-se aquecendo sempre, o oleo a pouco e pouco mexendo sempre; quando se tem tudo misturado mexe-se sempre até arrefecer, podendo-se pôr a vasilha em agua fria para ser mais rapido; uma vez arrefecida aplica-se nas botas com um pincel ou escova branda.
Ferrugem dos canos das ESPINGARDAS
Indicam como sendo muito bôa a seguinte receita: Petroleo ... 1/2 litro; Parafina solida ... 50 gra. Faz-se dissolver a parafina no petroleo. Untam-se os canos e mais a ferragem com esta solução e passadas 24 horas limpam-se muito bem com pano seco."

A este mensário voltarei mais à frente, pois é demonstrativo de excelentes exemplos de associação e participação activa para o desenvolvimento da caça neste distrito, dos quais nos sentiríamos muito envergonhados se fossemos contemporâneos de tais promotores, pois apesar de antigos demonstraram que muito souberam fazer em tempos de grandes dificuldades e que, ainda hoje, passados tantos anos, revelam possuir a nobre capacidade para ensinar.

Concluo com o meu reconhecido e profundo agradecimento a todos estes Açorianos que um dia tiveram a ousadia e a amabilidade de partilhar comigo recordações, vivências e as tão estimadas receitas que tanto enriquecem os escritos da caça Açoriana e nos tornam melhores Caçadores.

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