A República do Uruguai situa-se na América do Sul e tem como fronteira o Brasil e a Argentina. O País possui 3,3 milhões de habitantes sendo que cerca de 60% da sua população reside na capital que é Montevideu. O seu território apresenta uma área de 176 mil km quadrados isto é quase o dobro do território Português. Os terrenos agrícolas e os pastos são a paisagem dominante, sendo a economia Uruguaia profundamente agrária com predominância para as produções do sorgo, girassol, soja, milho, trigo e gado.
A estrutura agrária assenta em grandes propriedades e por enquanto as técnicas e o maneio utilizado nas produções facilitam a forte reprodução das rolas, perdizes e lebres. Os campos também têm muitas pequenas lagoas e lagoeiros que garantem o habitat adequado às narcejas e fixação dos patos embora sem a expressão que estes têm na Argentina e no Brasil, principalmente nos braços do rio da Prata (Paraná).
As espécies cinegéticas pertencem aos proprietários da terra e só se pode caçar nestes terrenos com a autorização dos donos das mesmas. Não existem Associações de Caçadores nem Zonas de Caça tal qual estão organizadas em Portugal (Continental).
Por conseguinte, para se caçar no Uruguai é indispensável a participação de parceiros locais e conhecedores das extremas das propriedades, caso contrário, arrisca-se a ser autuado e passar um mau bocado. Para um caçador estrangeiro caçar no Uruguai também necessita de uma autorização especial e uma guia provisória de utilização de arma de caça válida para as diferentes espécies cinegéticas a caçar, e por um período determinado (atenção a este pormenor). Esta autorização é passada pelo Chefe de Departamento do Registo de Armas da Republica Oriental do Uruguai que é a autoridade competente no Departamento que caçamos, de nome Flores (a capital é Trinidad).
Munidos das respectivas licenças e autorizações, com guias locais e bons companheiros de caça temos os requisitos mínimos para desfrutarmos de uma semana de caça a sério e muito agradável. A espécie cinegética mais abundante é a rola que existe aos milhões nos campos de sorgo e de girassol, bem como nas dormidas, sendo mesmo considerada uma praga. É pois natural que em 8 dias de caça e apenas em algumas horas (2 a 3 horas) um grupo de 7 caçadores tenha dado 17200 tiros e cobrado 12000 rolas! Este número é extraordinário e pode ser mesmo considerado “ um atentado”, mas garanto que não representa nada, mas mesmo nada, na população de rolas que tem o Uruguai.
Eu que sou um caçador que só sabe caçar com um cão ou cães, não resisti nos intervalos das perdizes e lebres em 6 dias de caça também a ter dado 900 tiros às rolas e cobrado aproximadamente 700 rolas, muito longe dos meus companheiros e em especial do amigo Henrique que foi capaz de numa semana dar 8200 tiros numa recente viagem que fez ao Uruguai e com uma eficácia muito próxima dos 90%, nunca vi ninguém atirar tão rápido. Para quem gosta de atirar e caçar às rolas o Uruguai é um paraíso.
O meu grande Objectivo ao concretizar este sonho de caçar no Uruguai eram as perdizes e as grandes lebres e com o meu próprio cão (foi uma decisão difícil a escolha do cão a levar...), e este foi atingido em pleno. A escolha foi a minha jovem cadela E. Bretão de nome Pipoca (embora no registo conste Flores) com quase 2 anos. Fui o único do nosso grupo de caçadores que levou cão.
Era grande a expectativa que tinha quanto ao seu comportamento na presença das perdizes do Uruguai (parecem-se com codornizes grandes) e das lebres que atingem mais de 6 Kgs de peso, sendo algumas delas quase do tamanho da Pipoca. A Pipoca teve de vencer uma dura viagem de avião de 32 horas (ida e volta com inicio em Ponta Delgada), embora tivesse tido um treino especial e natural para debelar este sacrifício. Chegada ao destino não caçou no primeiro dia pois fazia parte do plano um dia de descanso, mas já no segundo dia e a caçar para 7 espingardas deu para perceber a sua qualidade superior, fruto de muito trabalho, carinho e carga genética dos seus antepassados. Foi extraordinário verificar como aquela cadela fora do seu meio ambiente, com cheiros estranhos, terrenos diferentes, espécies cinegéticas desconhecidas com comportamentos novos, e em pouco tempo se apercebeu da forma como as perdizes utilizavam “artimanhas” para se protegerem dos seus predadores, como fugiam a patas, o mesmo se passando em relação às lebres que enlouqueceram por completo a Pipoca.
A caçar comigo ou na companhia dos outros companheiros caçadores a Pipoca portou-se muito bem, de tal forma que chegou ao Uruguai como Estudante e regressou com um Doutoramento com Distinção. Atenção que nem todos os cães que lá vão se portam desta maneira, foram vários os relatos de cães que em outras ocasiões, no Uruguai, vindos de Portugal, do Brasil e da França que ao ouvirem os primeiros tiros nunca mais apareceram.
De referir que em épocas anteriores, a E. Bretão de nome Carpa a caçar com o José Carlos também já tinha tido um excelente comportamento, de tal forma que me perguntavam se a Pipoca era filha da Carpa.
Em síntese, ver trabalhar a Pipoca, os seus cobros em terra e na água foi uma excelente compensação para uma ida às terras do Outro Mundo e que dificilmente se repetirá.
O balanço cinegético foi positivo, a comida com muitos grelhados também, o alojamento muito aceitável, até porque uma Residencial por mais modesta que seja desde que permita que os meus cães durmam no meu quarto passa logo a hotel de 5 estrelas, como foi o caso.
O “Hotel Campo” é uma pequena aldeia turística localizada muito próximo de Trinidad que serve de base aos caçadores, servido por pessoal muito dedicado e com muita higiene. Quem vai à procura de coisas Luxuosas aconselho-o a não fazer o nosso programa, mas se procurar dignidade e a eficiência possível então siga este caminho. Os Companheiros do Grupo garantiram uma forte componente social indispensável na caça, depois rimo-nos muito, o que é excelente para esfrangalhar este stress que vivemos no dia a dia.
Uma palavra de apreço para os representantes Portugueses da organização responsável que nos levou ao Uruguai, os Senhores Ferreira e Celestino, pois esforçaram-se ao máximo para que tivéssemos uma semana com caça e com um bom ambiente.
Quanto aos Guias locais portaram-se muito bem e muito do bom resultado das Caçadas deve-se a eles.
Um outro aspecto foi o que fazer com toda esta caça?
Uma parte importante foi para os nossos Guias, outra era oferecida a pessoas locais que se aproximavam de nós e nos pediam caça, e fizemos também alguns petiscos.
Para as perdizes e lebres tínhamos sempre procura, mas confesso que para as rolas a oferta excedia a procura.
O futuro da caça no Uruguai está muito dependente do que será o futuro da agricultura naquele País e principalmente do comportamento dos proprietários das terras, cuja estrutura tende para uma maior concentração, mais mecanização, utilização de produtos e monda química.
Existe hoje já uma forte presença estrangeira no mundo rural, com uma participação crescente dos Argentinos que vão para o Uruguai ao que me disseram para fugirem da politica fiscal que o governo Argentino está a desenvolver em relação às produções agrícolas e negócio de terras na Argentina, inflacionando o preço da terra no Uruguai o que constitui uma tentação para os locais venderem a estrangeiros este meio de produção, tudo se conjuga pois para uma industrialização da terra com as usuais consequências negativas para as espécies cinegéticas.
Pergunto-me até quando os produtores agrícolas estão dispostos, neste novo cenário, a “ sustentarem “ os milhões de rolas?
É uma interrogação que pode ter várias e antagónicas respostas.
O que eu não tenho dúvida é que a caça tal qual é praticada hoje no Uruguai dificilmente dentro de meia dúzia de anos manterá a mesma quantidade e qualidade que tem hoje.
Ainda que de uma forma informal a caça já representa hoje para o mundo rural e Trinidad em particular uma importância interessante, contribuindo para a criação sazonal de muitos postos de trabalho e receitas para a hotelaria, restauração, aluguer de viaturas, etc.
Finalmente, duas notas que não resisto a relatar.
A primeira diz respeito ao Brasil, e conta-se em poucas palavras: no local onde estávamos a residir tínhamos a companhia de um grupo de caçadores Brasileiros amantes dos cães de parar e que foram ao Uruguai só para caçar perdizes. Perguntei a um deles como é que se encontrava organizada a caça no Brasil, e ele respondeu-me que legalmente não se podia caçar em nenhum Estado do Brasil, já que a caça estava proibida e contou-me que em meados da década de 80 do Século passado o Governo proibiu a caça em todo o Brasil com o argumento que ia proceder a um levantamento exaustivo de todas as espécies cinegéticas e a um Censo que serviria de base a uma nova Lei da Caça no Brasil, resultado foi que o estudo nunca chegou a ser feito (segundo me disse o amigo brasileiro) e que a caça continuava proibida legalmente. E disse-me legalmente, porque todos os anos os caçadores brasileiros continuam religiosamente a fazer as suas aberturas e fecho do período venatório como faziam há 30, 40 ou 50 anos. Mais, fazem todos os anos quase 2000 Kms para irem caçar o Perdigão ao Nordeste brasileiro com os seus pointers e bracos alemães debaixo de uma temperatura de mais de 40 graus centigrados! Aqui fica a minha homenagem aos verdadeiros caçadores Brasileiros que não podem nem devem ser confundidos com outros indivíduos que andam com armas na mão com comportamentos desviantes e que podem ser tudo menos caçadores.
A última nota vai para os estudiosos e amantes das aves. Nunca vi na minha vida tanta variedade de aves e pássaros como no Uruguai!
As suas cores e tamanhos impressionam e mereciam um levantamento e estudo profundo, o que parece não estar concluído. Estas aves mereciam uma atenção e protecção especial pois fazem parte e são Património da Humanidade.
Gualter Furtado, Maio de 2009
26 de maio de 2009
A Caça no Uruguai
14 de maio de 2009
Passo a PassoTiro a Tiro
Recentemente o Dr Ângelo Sequeira editou um Livro sobre a Vida e a Caça com o Titulo “Passo a passo, tiro a tiro".
Trata-se de uma obra de leitura obrigatória pela forma genuína como este Médico e Caçador nascido em Trás-os-Montes descreve a sua paixão.
É importante que relatos como este sejam publicados para que os mais novos e a nossa sociedade compreendam que a caça quando praticada com amizade, amor pelos nossos companheiros cães, respeito pelas espécies cinegéticas e meio ambiente é uma arte nobre que vale a pena viver.
O autor é possuidor de uma das maiores Bibliotecas de Cinegética do País e atrevo-me a dizer do Mundo, demonstrativo da forma como vive a Caça.
Obrigado pois, por mais este contributo para a defesa da Caça.
Texto e fotos enviados por Gualter Furtado
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