É uma questão que nos apresenta Gualter Furtado e cujo texto publico abaixo e convido à leitura.
Para onde vai a caça nos Açores?
Em jeito de antecipação de conclusões diria o seguinte : Assim, Assim, já que estamos em presença de uma política cinegética oficial que é um misto de avanços e recuos e de esperança e desilusão .
Pontos positivos :
-A aprovação do decreto Legislativo Regional nº 17/ 2007 /A de 9 de Julho que aprova o novo regime jurídico da caça nos Açores pode-se considerar um avanço já que pela primeira vez se abre a possibilidade de introdução do ordenamento cinegético ainda que numa parte limitada do território da Região Autónoma dos Açores ( até 25 %) . Evidentemente , que neste diploma muitos dos contributos da Federação dos Caçadores dos Açores e precisamente na área do Ordenamento Cinegético foram pura e simplesmente ignorados pelo Departamento Governamental que tutela a Caça nos Açores que é a Secretaria Regional da Agricultura e Florestas. Não obstante , este reparo , considera-se esta iniciativa positiva já que o estado em que se encontra actualmente a gestão do território cinegético só pode conduzir ao desaparecimento de algumas espécies cinegéticas na nossa Região.
- Um outro ponto positivo foi a realização de um protocolo entre a Direcção Regional e o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Cinegéticos da Universidade do Porto que tem como objectivo o estudo das espécies cinegéticas indígenas e migradoras . É um ponto muito positivo já que a Caça hoje mais do que nunca sem ter aliada uma forte componente científica e ambiental está condenada ao fracasso . Embora também aqui esteja ainda por esclarecer a forma e as razões que levaram ao afastamento do projecto do investigador Carlos Pereira , e cuja capacidade e mais valia para o estudo das aves nos Açores é inquestionável .
-A reprodução em cativeiro de codornizes no posto cinegético das Furnas e a partir de ovos de codornizes selvagens poderia representar um grande contributo para a perenidade desta espécie nobre e rainha dos Açores.
- A participação da Dra Lurdes Lindo e Engª Flor de Lima numa Conferência na Ilha de Santa Maria sobre a nova Lei da Caça é um exemplo positivo do que também pode ser uma função pedagógica e positiva dos Serviços Florestais no diálogo com os Caçadores e sociedade civil.
- A apresentação dos Resultados do estudo da Gestão de espécies cinegéticas no Arquipélago dos Açores também é positiva, embora devesse ser feita com mais frequência e em diferentes Ilhas. A sessão realizada para este efeito em Ponta Delgada no passado dia 7 de Março e com a participação de investigadores do CIBIO da Universidade do Porto e da Direcção Regional dos Recursos Florestais produziu uma informação muito primária e a maioria das questões colocadas pelos representantes dos caçadores ficaram sem resposta ( a galinhola em São Jorge, a perdiz cinzenta, etc) . Sinceramente espera-se que esta situação venha a ser corrigida .
Pontos Fracos :
-O primeiro à cabeça é a desunião existente entre os caçadores , dando razão ao ditado muito antigo “ que em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”, é certo e sabido que os primeiros prejudicados deste triste quadro são os próprios Caçadores, situação bem aproveitada pelo poder e por todos os que são contra a caça .
- Uns Serviços Oficiais responsáveis pelo Sector que dialogam e trabalham pouco com os Representantes dos Caçadores , e em nada contribuindo para ultrapassar o que descrevi no ponto anterior .
-Uma política de combate aos furtivos desactualizada , levando mesmo muitos Caçadores dos Açores a advogarem a adopção do modelo que presentemente existe no Continente Português de uma maior intervenção da GNR na prevenção e
combate aos Clandestinos .
-Uma Gestão da caça que é incompleta e ineficiente. Tomemos o exemplo positivo de criação das codornizes no posto cinegético das Furnas , na fase da criação tudo bem , mas depois fazem-se os lançamentos no terreno , e a partir daí as aves ficam por sua conta e risco, não existindo acompanhamento ao nível da alimentação e muito menos o controlo de predadores . Resultado as que escapam às espingardas , às máquinas agrícolas e aos adubos , não tem hipótese de sobrevivência nem contribuem para a sustentabilidade desta espécie rainha e que no passado existia aos milhares nos campos de trigo e nas terras de produtos agrícolas ( tremoço , etc).
- A proposta de Regulamentação da nova Lei da Caça que o Departamento do Governo que tutela o Sector apresentou à Federação dos Caçadores dos Açores e às Associações de Caçadores não agoira nada de bom ao introduzir o Direito à não caça ( que respeitamos) , já que a forma como é apresentado e proposta a sua regulamentação arreda totalmente os Caçadores deste processo e no limite pode conduzir a que todo o território da Região possa ser afecto a este Regime , isto é ,não se possa caçar, evidentemente que tanto quanto sabemos os Representantes dos Caçadores vão dar nesta matéria o seu parecer, resta saber se serão tidos em conta .
- Como se não bastasse o anteriormente descrito , estão a preparar-se Parques Naturais em muitas zonas do Arquipélago , e designadamente na Ilha do Pico , e nas quais é interdita o direito à caça , como se fossem os Caçadores os responsáveis pela degradação do meio ambiente , esta é de bradar aos Céus .
-Total desprezo pelo Santo Huberto com cão de parar , quando poderia ser aproveitado como escola de caçadores , e aqui refiro explicitamente o excelente trabalho desenvolvido na Ilha Terceira, com diversos campeões Nacionais e com títulos Mundiais , e apesar de não terem nenhum poio oficial continuam a trabalhar como é o caso do Ricardo Rodrigues. É pena…e é ver muito curto , já que não colhe o argumento de que são muito poucos e quase uma elite a praticar esta modalidade, quantas coisas no Mundo não começaram por ser uma iniciativa de poucos…?, e se não fosse o contributo destes muito poucos ainda hoje estávamos na idade da pedra.
- Finalmente , também aqui nos Açores a introdução da nova Lei das Armas começa a afastar muitos caçadores e principalmente os mais jovens e os com mais idade, minando assim uma possibilidade de sustentabilidade do exercício Venatório.
Termino como comecei : Para onde vai a caça nos Açores ? respondo : “Assim , Assim”, embora e em coerência me apetecesse dizer : “ Não Sei”.
Gualter Furtado, Março 2008