7 de julho de 2013

Aos Javardos pela Força do Calor - Que Saudades!

Há muitos anos, quando a idade era outra e o entusiasmo maior, havia cá neste cantinho do Alentejo um grupo que gostava de caçar javardos, mas gostavam mesmo de caçar porcos esta gente! 
Gostavam tanto que aproveitavam estes dias assim mais quentes, para cima dos 40º, e juntavam-se dois ou três, por vezes com um canito daqueles escolhidos, bem rijos, e iam-se aos porcos...
Caçar com estes calores é duro, muito duro, mas esta rapaziada malina fazia ainda questão de esperar que o dia aquecesse mais, que o chão e as sombras ficassem abrasando e depois lá iam pé ante pé bater barrancos com silvados ou nos acamadoiros do mato, onde poderiam estar os porcos. É claro que era uma temeridade, mas um cantil com água, um chapéu largo e umas polainas chegavam para se sentirem estes jovens caçadores preparados para enfrentar até o inferno... o que faz a juventude!
Os bichos, amagados, esmagados com o calor tremendo, nem acreditavam que ali viesse nada nem ninguém apoquentá-los e saiam mesmo pelas últimas, de mau humor, olhando e escutando tão inusitadas visitas. Saiam-nos debaixo dos pés, de contra vontade, andavam um bocado e paravam na barreira incrédulos. Até as raposas e gatos monteses quase se deixavam apanhar à mão! 
Que saudades! Que saudades do meu valente Dom Brás e dos pequenos Pantufas, que saudades do Rufia e do Farrusco!
Que saudades de após termos um ou dois porcos, cansados, exaustos, nos pormos a pensar então como os iríamos carregar e tirar daqueles infernos...
Que saudades de tais tempos e de tais companheiros!

Texto e foto de João Acabado