A caça à Galinhola é o expoente máximo da “caça menor”. É o
ponto mais alto da complementaridade do caçador com os seus cães de parar, com
a mítica galinhola e o meio ambiente.
Prefiro caça-la naqueles terrenos cuja vegetação se aproxima mais da que existia
nos Açores nos primeiros tempos do povoamento, isto é, com muitas turfeiras,
cedro do mato, urze, fetos e ribeiras. Acresce que próximo deste habitat é
muito importante existir gado e de preferência bovino, pois as galinholas
gostam muito da proximidade das vacas, porque estas fornecem alguns elementos
importantes para a sua alimentação. Paralelamente aprecio muito a paisagem
envolvente.
A minha setter inglesa Smart, parada a uma galinhola, tendo por pano
fundo as águas do Atlântico e as escarpas das ilhas vizinhas, é um cenário
indescritível e uma boa desculpa para um tiro errado.
No Continente cacei pouco às galinholas, mas das vezes que o fiz, o que mais retenho é o cheiro dos pinheiros, um terreno bem mais seco e
fácil de progredir, a ausência do mar, muitas estevas e lenhas secas e ribeiras
ou valados sem água. Em síntese, é um habitat bastante diferente do nosso,
certamente com as suas belezas e encantos, mas muito diferente daquele que
desfrutamos nestas paradisíacas Ilhas.
Sobre os cães, a minha primeira paixão foi o epagneul bretão. É um cão
fantástico, mas depois de conhecer e caçar com o setter inglês cheguei à
conclusão que esta raça é o “Rolls Royce” das galinholas, é uma raça que se
adapta bem ao tipo de habitat que as galinholas preferem, tem uma busca ampla e
muito eficiente, é firme na paragem, fura silvados quando é preciso, anda no
fundo das ribeiras e valados de forma ordenada e destemida, tem uma grande
resistência e cobra de uma forma que às vezes nos corta a respiração.
Naturalmente, existem outros cães e de outras raças que
também foram ou são muito bons, mas em média a minha preferência vai para o setter inglês, embora continue a ter também cães da raça epagneul bretão e que
me têm dado muitas alegrias em jornadas cinegéticas fabulosas.
Relativamente ao tipo de espingarda, utilizo na caça à galinhola normalmente 2 armas de caça, sendo uma de calibre 20, da marca Arrieta, "paralela", de 71 cm de cano, com choques fixos e com
três e quatro estrelas, 2 gatilhos, com coronha de madeira papo de rola não
adaptada, e a outra é uma semiautomática Browning Maxus, de 66 cm de cano,
mono gatilho, sempre com o choque cilíndrico, e com coronha de madeira meia pistola
não adaptada.
O uso de cada uma depende dos terrenos, do
tempo que estimo caçar, do cão que levo, do meu estado de espírito e também
do companheiro humano que me acompanha. É que por vezes os parceiros ditam as
regras e as opções.
Quanto aos cartuchos, na calibre 20, utilizo o chumbo 8 ou 9 e com cargas de 28
gramas. Era um grande apreciador da marca Mellior. Em relação ao calibre 12, a
minha indiscutível preferência vai para o B&P Especial Galinholas, que é um
cartucho com chumbo 8,5, com cargas de 34 gramas.
Respeitante ao equipamento, refiro que, antes, só usava chocalhos nos cães. Era um preciosismo da
minha parte, por ignorância ou talvez porque era mais novo e andava mais e os
cães caçavam mais curto. Hoje sou um adepto dos colares com "beeper" e os meus cães adaptaram-se bem a estas modernices. Trata-se de uma solução que me permite acompanhar as buscas e as paragens mais longas, bem como localizar o cão mais
facilmente, sendo certo que à maneira que os anos passam as minhas
dificuldades de progressão no terreno vão aumentando, pelo que a necessidade de arranjar novas
artimanhas também aumenta.
O que sabe tudo em matéria de caça à galinhola ainda está por
nascer e, por exemplo, tenho uma dúvida que se prende com o porquê de, em
certos dias, as galinholas não darem paragem aos cães; isto já me aconteceu.
Será resultado do barulho a mais do "beeper" ou do chocalho, das galinholas já
terem sido atiradas, das condições climatéricas, da posição no terreno ou de
outras causas?
O vestuário é o mais leve possível, uma capa para a chuva,
um chapéu e um colete de cores fluorescentes e botas de borracha. Como caço sempre com bornal, isto permite-me levar uma ou duas garrafas de água para mim e para os
cães, embora nos Açores tenhamos água por todos os lados, menos por cima; a não
ser quando chove. Os documentos da caça, uma lanterna para os imprevistos, umas
trelas suplentes e uma ou outra peça de fruta. Levo também sempre comigo uma
boa navalha. Caçador sem navalha não é caçador, já que faz muita falta no terreno e principalmente para a componente social.
Caçar nos dias
de hoje à galinhola é um privilégio e uma honra, logo temos que saber
aproveitar bem, e responsavelmente, estes momentos sublimes.
Gualter Furtado
PERFIL
Nome: Gualter Furtado
Idade: 62 anos
Natural de: Vale das Furnas na Ilha de São Miguel, Açores
Residente em: Arrifes, Ponta Delgada - Açores
Caçador desde: Os 7 anos de idade
Trabalho publicado no nº 218. Dezembro 2015. Revista Caça e cães de Caça